RACHEL DE
QUEIROZ
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Rachel de Queiro nasceu em Fortaleza (CE) em
1910. Teve uma infância itinerante, devido à grande seca de 1915, vivendo
entre sua terra natal, a fazenda de sua família (no interior do Ceará), em
Belém (PA) e, mais tarde, no Rio de Janeiro, onde se fixou definitivamente.
Tradutora, cronista, teatróloga, romancista,
estreou na literatura em 1930, com o romance O Quinze, escrevendo em seguida João Miguel, obras acentuadamente regionalistas, de acordo com os
padrões dos romances modernistas brasileiros e que retratam a paisagem
nordestina: a seca, o flagelo, a miséria, a fome, o cangaço e o coronelismo.
Participou de atividades políticas em 1937
(início do Estado Novo de Getúlio Vargas), tendo sido presa por suas ideias
esquerdistas. É dessa época Caminho de
pedras, romance social e politicamente engajado.
As três Marias, no entanto, foge ao
regionalismo, ao contar as experiências de algumas adolescentes num internato
religioso, que se veem, depois, diante da realidade da vida. E um romance que
fala de problemas psicológicos.
Rachel de Queiroz foi a primeira mulher a
ser admitida, em 1977, na Academia Brasileira de Letras.
Suas obras:
• romances
- O Quinze, João Miguel, Caminho de
pedras, As tr~es Marias, O galo de ouro, Memorial de Maria Moura.
• teatro
- Lampião, A beata Maria do Egito, A
sereia voadora.
• crônicas
- A donzela e a moura torta, Cem
crônicas escolhidas, O brasileiro perplexo, Ocaçador de tatu.
• literatura
infantil - O menino mágico.
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RAQUEL DE QUEIROZ:
EXPOENTE DA LITERATURA SERTANEJA E DAS NOVAS NARRATIVAS DO BRASIL
Mulher e nordestina. Raquel de
Queiroz tinha duas características para ficar à margem de qualquer movimento
intelectual e pioneiro no Brasil, nas primeiras décadas do século XX, se não
fosse um detalhe: foi ela a pioneira. Isso tem um dimensão de maior importância
quando esse espaço se dá na literatura, tradicionalmente dominado por escritores,
ainda com suas narrativas europeizadas, onde as raízes do Brasil nordestino
praticamente inexistiam.
de e inaugura na literatura brasileira, um
narrativa de um Brasil pouco - ou nada- encontrado nas linhas e entre linhas de
até então. Um Brasil excluído dos enredos de grandes escritores. Um Brasil
sertanejo, peculiar e especial sob a ótica e a pena de uma mulher, nordestina,
intelectual e sertaneja. Foi a primeira mulher cronista na impresa brasileira;
a única mulher escritora aceita como representante no movimento modernista
brasileiro e a primeira mulher eleita a ocupar a cadeira imortal da Academia
Brasileira de Letras, também denominada de Grande Dama da Literatura
Brasileira.
Raquel de Queiroz fixou um
marco na história literária e social brasileira. Em seu romance de estreia, O
quinze, cuja temática escolhida foi a grande seca que assolou o Ceará de 1915,
sua prosa regionalista retrata, numa linguagem enxuta e expressiva, o nordeste
brasileiro, onde consegue amalgamar a preocupação social à preocupação com
traços psicológicos dos personagens, inaugurando no Brasil a vanguarda do
romance sertanejo, que trouxe para nossa literatura um olhar sobre o Brasil,
através de sua sensibilidade de mulher sertaneja, tornando-se a primeira porta
voz do sertanejo em nossa literatura, mostrando sua preocupação com a temática
social e política, como escritora nacionalista.
A importância e contribuição
dessa escritora cearense extrapolam o ambiente literário. Nesse, sua importância
se traduz como pioneira e vanguardista de uma nova literatura, para formação
das narrativas sobre o Brasil. Narrativas, cuja estética e valores tem no homem
nordestino e sertanejo, novos significados e interpretações, revelando sua
cultura, agruras e toda problemática que cerca o homem do sertão do nordeste
brasileiro.
No campo sociológico, sua
importância não é menos relevante, pois contribuiu no sentido de resistir e
enfrentar as disposições canônicas e a dominação masculina na literatura
brasileira, onde a mulher praticamente esteve ausente, abrindo campo para
atuação feminina em novos espaços de atuação no cenário intelectual do país,
numa construção das relações sociais e de gênero.
Raquel não foi apenas uma
escritora; foi uma escritora de vanguarda no movimento modernista brasileiro e
pioneira na literatura regionalista sertaneja. Sua importância na literatura
brasileira é incomensurável, por sua autenticidade e ineditismo na forma de
escrever o Brasil desde então, estabelecendo um limiar na história literária
nacional. Trata-se de uma eminente escritora, professora, cronista, poeta,
romancista, jornalista e teatróloga, cuja importância será lembrada nos
próximos séculos ao se discutir literatura de vanguarda, ruptura de padrões
masculinos e, principalmente, o sertão do nordeste brasileiro. Talveaz as
palavras que melhor traduzam a importância de Raquel sejam de Carlos Heitor
Cony:" a literatura regional nasceu com Raquel de Queiroz, sozinha,
sem padrinhos, no serão do Ceará".
renanentrelinhas.blogspot.com/2010/04/raquel-de-queiroz-expoente-da.html
RACHEL
DE QUEIROZ
Rachel de Queiróz (Fortaleza CE 1910 - Rio
de Janeiro 2003). Romancista, cronista, contista e dramaturga. As raízes
literárias da autora estão na própria origem familiar. Descende de José de Alencar (1829
- 1877), por parte materna, Rachel de Queiróz
pertence a família tradicional de Quixadá (Ceará), embora ela tenha
nascido, na cidade de Fortaleza. Em 1917, muda para o Rio de Janeiro, onde
a família procura desvencilhar-se do evento traumático da seca de 1915, mas
retorna anos depois à cidade natal. A partir de 1927, colabora para o jornal O
Ceará. Em 1930, com apenas 20 anos, publica o romance O
Quinze, rapidamente considerado pela crítica como um divisor de
águas na literatura regionalista, como salienta o crítico Otto Maria Carpeaux
(1900 - 1978). Por sua primeira incursão
literária, recebe, no ano seguinte, o prêmio da Fundação Graça Aranha.
Nessa época, vincula-se ao Partido Comunista, experiência que a frustra,
sobretudo quando tem seu segundo romance, João Miguel (1932), censurado pelo partido.
Participa, em 1933, do grupo trotskista liderado pelo crítico de arte Mário
Pedrosa (1900 - 1981). Quatro anos depois é detida em Fortaleza, sob a acusação
de subversão. Do ocorrido, resulta o romance Caminho das Pedras (1937), narrando a trajetória de um
casal de ativistas políticos. Após a publicação do intimista e quase
autobiográfico As Três Marias(1939), e já
residindo no Rio de Janeiro, passa a dedicar-se principalmente à crônica
jornalística, colaborando, inicialmente, com o Diário
de Notícias e, mais
tarde, com o Última Hora e o Jornal do Commercio. Em
1950, escreve um folhetim intitulado O Galo de Ouro, publicado
em capítulos na revista O Cruzeiro. No ano de
1953, faz sua primeira incursão no gênero dramático, e recebe o Prêmio Saci,
pela peça Lampião. Em 1957, outra peça
da autora,Maria do Egito,
é premiada. No campo literário, Rachel volta ao gênero romance somente em 1975,
com Dora Doralinda. Até esse ano, no entanto,
muitas de suas crônicas são publicadas em volumes. Em 1977, torna-se a primeira
mulher a integrar a Academia Brasileira de Letras (ABL). No início da década de
1990, lança Memorial de Maria Moura (1993), saga que se torna bastante
conhecida em sua adaptação para TV. No mesmo ano da publicação, recebe o Prêmio
Camões, conferido pelos governos de Portugal e do Brasil, por sua contribuição
à literatura.
Comentário Crítico
A autora é considerada, juntamente com José
Américo de Almeida, autor de A Bagaceira (1928), uma entre os precursores do
romance regionalista de temática social, que também passa a ser denominado, por
alguns críticos, como "romance de tese". Diferentemente da
ingenuidade e da idealização românticas, e do determinismo redutor e
preconceituoso naturalista, esse novo tipo de romance não trata o sertanejo de
modo pitoresco nem como objeto de análise científica, mas sim a partir de uma
perspectiva próxima de sua realidade e favorável à sua causa.
Esse é o caso de
O Quinze (1930),
primeiro romance, escrito quando ainda é uma jovem de 20 anos, sobre a forte
seca que se abate no Nordeste brasileiro, no ano de 1915. Trata-se de uma
narrativa em terceira pessoa, repleta de descrições bem vívidas, basicamente
composta de dois planos, que, como nota o crítico português Casais Monteiro, se
cruzam próximo do término: o primeiro é de um grupo de pequenos proprietários
(a professora Conceição e a sua avó dona Inácia, assim como Vicente e sua mãe,
dona Idalina); o segundo, uma família de retirantes, liderada pelo sertanejo
Chico Bento, que, após passar por diversas agruras em sua viagem para a
capital, resolve migrar para São Paulo.
A linguagem, ao contrário da retórica exagerada e do sentimentalismo presentes em A Bagaceira, é simples e crua: traços de oralidade salpicam na medida certa o português culto no qual se tece a prosa, ao mesmo tempo que são construídas metáforas e comparações com base em elementos pertencentes ao campo semântico do universo sertanejo (os "cotos de galhos como membros amputados" ou o comboio que, na curva, "era como uma cobra que fugisse sobre o borralho ainda quente de uma coivara"). As cenas, na maior parte das vezes curtas, sucedem-se como pequenas crônicas, algumas das quais até podem ser lidas de maneira independente, um expediente que, mais tarde, Graciliano Ramos (1892 - 1953) utiliza para escrever Vidas Secas (1938).
Outro ponto forte do romance, ainda aproveitando os argumentos de Casais Monteiro, é justamente a ausência de certo maniqueísmo ingênuo, bastante comum em algumas obras realistas da década de 1930. Em O Quinze, nem todos os proprietários são vistos como "personagens maldosos", indiferentes ao sofrimento dos retirantes, Conceição, prima de Vicente, por exemplo, costuma distribuir mantimentos e cuidar dos retirantes que chegam à capital; no entanto, sua própria condição social e seu trabalho intelectual, de certo modo, funcionam como elemento diferenciador em relação aos flagelados e trabalhadores rurais com quem ela convive.
A linguagem, ao contrário da retórica exagerada e do sentimentalismo presentes em A Bagaceira, é simples e crua: traços de oralidade salpicam na medida certa o português culto no qual se tece a prosa, ao mesmo tempo que são construídas metáforas e comparações com base em elementos pertencentes ao campo semântico do universo sertanejo (os "cotos de galhos como membros amputados" ou o comboio que, na curva, "era como uma cobra que fugisse sobre o borralho ainda quente de uma coivara"). As cenas, na maior parte das vezes curtas, sucedem-se como pequenas crônicas, algumas das quais até podem ser lidas de maneira independente, um expediente que, mais tarde, Graciliano Ramos (1892 - 1953) utiliza para escrever Vidas Secas (1938).
Outro ponto forte do romance, ainda aproveitando os argumentos de Casais Monteiro, é justamente a ausência de certo maniqueísmo ingênuo, bastante comum em algumas obras realistas da década de 1930. Em O Quinze, nem todos os proprietários são vistos como "personagens maldosos", indiferentes ao sofrimento dos retirantes, Conceição, prima de Vicente, por exemplo, costuma distribuir mantimentos e cuidar dos retirantes que chegam à capital; no entanto, sua própria condição social e seu trabalho intelectual, de certo modo, funcionam como elemento diferenciador em relação aos flagelados e trabalhadores rurais com quem ela convive.
Essa distância entre o trabalho intelectual
e o mundo sertanejo reflete uma contradição inerente aos escritores
regionalistas do período: apesar de desejarem abordar o universo peculiar às
suas origens, do ponto de vista regional e cultural, estão ao mesmo tempo
apartados dessa perspectiva, pois são oriundos de uma formação sociocultural
muito distinta. É o caso da prosa de autores como José Lins do Rego e das
primeiras obras de Jorge Amado, escritas com a objetividade de um narrador
realista, sem, todavia, participar do cientificismo redutor dos pensadores
naturalistas. Essa contradição só será mais bem resolvida na obra de Guimarães Rosa (1908 - 1967), pois
mesmo em Graciliano Ramos, é possível detectar esse tipo de afastamento
intelectual, como nota Alfredo Bosi (1936), em artigo
no qual compara os dois escritores.
No caso de O
Quinze, é Conceição que encarna em si esse dilema: de acordo com
Davi Arrigucci Jr., a personagem encontra-se dividida entre sua
subjetividade, calcada principalmente em seus estudos, leituras e ideias, e o
mundo exterior, deformado pela miséria que se alastra por conta da seca que
invade o sertão. Não à toa, sua escolha é por permanecer solteira, renegando a
possibilidade de casar-se com o vaqueiro Vicente, o que constituiria um elo
entre os dois mundos. Por outro lado, Benjamin Abdala Junior (1940) lê essa escolha da personagem como reflexo das ideias de
emancipação feminina presentes nos textos por ela lidos.
No romance seguinte, João
Miguel (1932), Rachel
de Queiroz procura utilizar-se de recursos semelhantes aos de sua obra de
estreia: uma subjetividade que precisa lidar com uma situação adversa (no caso,
o protagonista e o seu cotidiano na cadeia, após cometer um assassinato).
Contudo, como aponta o crítico Massaud Moisés, o resultado não é semelhante: há
diálogos por demais longos e a narrativa transcorre "sem clímax nem cenas
dramaticamente significativas". Nos romances seguintes, a escritora aposta
cada vez mais na introspecção, como se percebe, sobretudo, em As
Três Marias (1939),
romance de tendência proustiana, com forte acento autobiográfico, que narra a
história de três moças em um internato religioso.
No entanto, é nas crônicas publicadas em jornais
que as características mais interessantes de seu romance de estreia comparecem:
nelas, a simplicidade da linguagem soma-se a uma percepção bastante aguda dos
acontecimentos cotidianos. Não à toa, a própria Rachel, em entrevistas, afirma
considerar-se uma cronista que se aventura na escrita de romances.
Sua última grande obra, Memorial
de Maria Moura (1992),
recupera a "tradição da donzela guerreira" (presente em romances como Luzia-Homem,
1903, de Domingos Olímpio, e Grande Sertão: Veredas,
1956, de Guimarães Rosa): uma personagem feminina, vestida como homem, parte em
busca de vingança contra criminosos que assassinam seus familiares. Como uma
longa saga, esse texto tem grande repercussão, em parte pelo sucesso de sua
adaptação para a televisão.
enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa1140/rachel-de-queiroz
O Quinze, de Rachel de Queiroz
Análise da obra
Publicado em 1930, o
romance O Quinze, de Rachel de Queiroz, renovou a ficção
regionalista. Possui cenas e episódios característicos da região, com a
procissão de pedir chuva, são traços descritivos da condição do retirante. O
sentido reivindicatório, entretanto não traz soluções prontas, preferindo apontar
os males da região através de observação narrativa.
Em O Quinze, primeiro e mais popular romance de Rachel de Queiroz, a autora exprime intensa preocupação social, apoiada, contudo, na análise psicológica das personagens, especialmente o homem nordestino, sob pressão de forças atávicas que o impelem à aceitação fatalista do destino. Há uma tomada de posição temática da seca, do coronelismo e dos impulsos passionais, em que o psicológico se harmoniza com o social.
A obra apresenta a seca do nordeste e a fome como consequência, não trazendo ou tentando dar uma lição, mas como imagem da vida.
Em O Quinze, primeiro e mais popular romance de Rachel de Queiroz, a autora exprime intensa preocupação social, apoiada, contudo, na análise psicológica das personagens, especialmente o homem nordestino, sob pressão de forças atávicas que o impelem à aceitação fatalista do destino. Há uma tomada de posição temática da seca, do coronelismo e dos impulsos passionais, em que o psicológico se harmoniza com o social.
A obra apresenta a seca do nordeste e a fome como consequência, não trazendo ou tentando dar uma lição, mas como imagem da vida.
Não percebe-se uma total
separação entre ricos e pobres, e esta fusão é feita através da personagem
Conceição que pertence realmente aos dois mundos. Evitando assim o perigo dos
romances sociais na divisão entre "bons pobres" e "maus
ricos", não condicionando inocentes ou culpados.
Estrutura da obra
O título do livro evoca a
terrível seca do Ceará de 1915. A própria família de Rachel foi obrigada a
fugir do Ceará: foi para o Rio de Janeiro, depois para Belém do Pará. Compõe-se
de 26 capítulos, sem títulos, enumerados.
A classificação de O
Quinze é, sem dúvida, de romance regionalista de temática
social. Mas com uma visão que foge ao clichê tradicional. Não há, na
história, a divisão batida de \"pessoas boas e pobres\" e de
\"pessoas más e ricas\". A autora registrou no papel a sua emoção,
sem condicionar o romance a uma tese ou à preocupação de procurar inocentes e culpado pela
desgraça de cada um ou mesmo do grupo envolvido na história.
A história é recheada de amarguras. Bastaria a saga da família de Chico Bento para marcar o romance com as cores negras da desgraça. A morte está por toda parte. Está no calvário da família de retirantes, está em cada parada da caminhada fatigante, está no Campo de Concentração. Morte de gente e de bichos.
A história é recheada de amarguras. Bastaria a saga da família de Chico Bento para marcar o romance com as cores negras da desgraça. A morte está por toda parte. Está no calvário da família de retirantes, está em cada parada da caminhada fatigante, está no Campo de Concentração. Morte de gente e de bichos.
A história de amor entre
Vicente e Conceição poderia ser o lado bom e humano da história. Não é. A falta
de comunicação entre os dois, o desnível cultural que os separa constituem
ingredientes amargos para um desfecho infeliz. É como se a seca, responsável
por tantos infortúnios, fosse causadora de mais um: a impossibilidade de ser
feliz para quem tem consciência da miséria.
Romance de profundidade
psicológica. A análise exterior dos personagens existe, mas sem relevo especial
dentro do livro. A autora vai soltando uma característica aqui, outra além, sem
interromper a narrativa para minúcias. O lado introspectivo, psicológico é uma
constante em toda a narrativa. Ao mesmo tempo em que o narrador informa as
ações dos personagens, introduz interrogações e dúvidas que teriam passado por
sua cabeça, por seu espírito.
Tempo
A autora situa a história do romance no Ceará de 1915. O fato histórico importante da época era a própria seca, obrigando os filhos da terra, principalmente do sertão, a migrarem para o Amazonas ou para São Paulo, à procura de vida melhor. Não há avanços nem recuos. A história é contada em linha reta, valorizando o presente, o cotidiano das pessoas. O passado é evocado raramente, muito mais por Conceição. A passagem do tempo dentro do romance é marcada de maneira tradicional, obedecendo à seqüência de início, meio e fim.
A autora situa a história do romance no Ceará de 1915. O fato histórico importante da época era a própria seca, obrigando os filhos da terra, principalmente do sertão, a migrarem para o Amazonas ou para São Paulo, à procura de vida melhor. Não há avanços nem recuos. A história é contada em linha reta, valorizando o presente, o cotidiano das pessoas. O passado é evocado raramente, muito mais por Conceição. A passagem do tempo dentro do romance é marcada de maneira tradicional, obedecendo à seqüência de início, meio e fim.
Cenário
O cenário do romance é o Ceará. Especificamente, a região de Quixadá, onde se situam as fazendas de Dona Inácia (avó de Conceição), do Capitão (pai de Vicente) e de Dona Maroca (patroa de Chico Bento).
O cenário do romance é o Ceará. Especificamente, a região de Quixadá, onde se situam as fazendas de Dona Inácia (avó de Conceição), do Capitão (pai de Vicente) e de Dona Maroca (patroa de Chico Bento).
Há também, em menor escala, o cenário urbano, destacando a capital,
Fortaleza, para onde migram os retirantes e onde mora Conceição.
Linguagem
O sucesso do livro está atrelado à simplicidade da linguagem (a mais difícil das virtudes literárias!). Não há exibicionismo da autora no uso de palavreado erudito. Mesmo quando a dona da palavra é uma professora (Conceição), o diálogo flui espontâneo, normal, cotidiano.
Sua linguagem é natural, direta, coloquial, simples, sóbria, condicionada ao assunto e á região, própria da linguagem moderna brasileira. A estas características deve-se ao não envelhecimento da obra, pois sua matéria está isenta do peso da idade. Em O Quinze, Rachel usa o que lhe deu fama imediata: uma linguagem regionalista sem afetação, sem pretensão literária e sem vínculo obrigatório a um falar específico (modismo comum na tendência regionalista).
O sucesso do livro está atrelado à simplicidade da linguagem (a mais difícil das virtudes literárias!). Não há exibicionismo da autora no uso de palavreado erudito. Mesmo quando a dona da palavra é uma professora (Conceição), o diálogo flui espontâneo, normal, cotidiano.
Sua linguagem é natural, direta, coloquial, simples, sóbria, condicionada ao assunto e á região, própria da linguagem moderna brasileira. A estas características deve-se ao não envelhecimento da obra, pois sua matéria está isenta do peso da idade. Em O Quinze, Rachel usa o que lhe deu fama imediata: uma linguagem regionalista sem afetação, sem pretensão literária e sem vínculo obrigatório a um falar específico (modismo comum na tendência regionalista).
A sobriedade da construção, a
nitidez das formas, a emoção sem grandiloquência, a economia de adjetivos são
recursos perceptíveis em todo o livro.
Foco narrativo
O Quinze é romance narrado na terceira pessoa, ou seja, o narrador é a
própria autora. O narrador é onisciente. Estando fora da história, o narrador
vai penetrando na intimidade dos personagens como se fosse Deus. Sabe tudo
sobre eles, por dentro e por fora. Conhece-lhes os desejos e adivinha-lhes o
pensamento.
Discurso livre indireto. Em vez de apresentar o personagem em sua fala
própria, marcada pelas aspas e pelos travessões (discurso direto), o narrador
funde-se ao personagem, dando a impressão de que os dois falam juntos. Isto faz
com que o narrador penetre na vida do personagem, no seu íntimo,
adivinhando-lhe os anseios e dúvidas.
Personagens
Conceição - Não com os alunos, mas com a própria vida. Conceição é forte de espírito, culta, humana e com idéias um tanto avançadas sobre a condição feminina. O único homem que lhe despertou desejos é o primo Vicente. Conceição tem uma admiração antiga e especial pelo rapaz, talvez porque ele é real, sem as falsidades comuns dos moços bem-educados. Ao descobrir que ele não é tão puro, a admiração esfria, criando uma barreira intransponível para a realização plena do seu amor. Tinha vocação para solteirona: "Conceição tinha vinte e dois anos e não falava em casar. As suas poucas tentativas de namoro tinham-se ido embora com os dezoito anos e o tempo de normalista; dizia alegremente que nascera solteirona". Conceição sente-se realizada ao criar Duquinha, o afilhado que lhe doaram Chico Bento e Cordulina. É uma realização íntima, preenchendo o vazio da decepção amorosa.
Personagens
Conceição - Não com os alunos, mas com a própria vida. Conceição é forte de espírito, culta, humana e com idéias um tanto avançadas sobre a condição feminina. O único homem que lhe despertou desejos é o primo Vicente. Conceição tem uma admiração antiga e especial pelo rapaz, talvez porque ele é real, sem as falsidades comuns dos moços bem-educados. Ao descobrir que ele não é tão puro, a admiração esfria, criando uma barreira intransponível para a realização plena do seu amor. Tinha vocação para solteirona: "Conceição tinha vinte e dois anos e não falava em casar. As suas poucas tentativas de namoro tinham-se ido embora com os dezoito anos e o tempo de normalista; dizia alegremente que nascera solteirona". Conceição sente-se realizada ao criar Duquinha, o afilhado que lhe doaram Chico Bento e Cordulina. É uma realização íntima, preenchendo o vazio da decepção amorosa.
Vicente - Filho de fazendeiro rico, com condições de mandar os filhos para
a escola, Vicente, desde menino, quis ser vaqueiro. No início, isso causava
tristeza e desgosto à família, principalmente à mãe, Dona Idalina. Com o tempo,
todos passaram a admirar o rapaz. Vicente é o vaqueiro não-tradicional da
região. Cuida do gado com um desvelo incomum, mas cuida do que é seu, ao
contrário dos outros (Chico Bento é o exemplo) que cuidam de gado alheio. Tem
boas condições financeiras, mas é humano em relação à família e aos empregados.
Vicente tinha dentes brancos com um ponto de ouro. Na intimidade, quando se põe
a pensar na vida e na felicidade, associa tais coisas à Conceição. Tem uma
admiração superior por ela. Gradualmente, à medida que vai notando a maneira
fria com que ela passa a tratá-lo, Vicente começa a descrer no amor e na
possibilidade de casar e ser feliz.
Chico Bento - Chico Bento é o protótipo do vaqueiro pobre, cuidando do rebanho
dos outros. Ele é o vaqueiro de Dona Maroca, da fazenda das Aroeiras, na região
de Quixadá. Ele e Vicente são compadres e vizinhos. Como é peculiar da pobreza
brasileira e nordestina, Chico Bento tem a mulher (Cordulina) e cinco filhos,
todos ainda pequenos. Pedro, o mais velho, tem doze anos. Expulso pela seca e
pela dona da fazenda, Chico Bento e família empreendem uma caminhada desastrosa
em direção a Fortaleza. Perde dois filhos no caminho: um morre envenenado
(Josias), o outro desaparece (Pedro). Antes de embarcar para São Paulo, é
obrigado a dar o mais novo (Duquinha) para a madrinha, Conceição. De Fortaleza,
Chico Bento e parte da família vão, de navio, para São Paulo. É o exílio
forçado, é a esperança de vida melhor e, quem sabe, de riqueza para quem só
conheceu miséria no Ceará.
Cordulina - É a esposa de Chico Bento. Personifica a mulher submissa,
analfabeta, sofredora, com o destino atrelado ao destino do marido. É o exemplo
da miséria como conseqüência da falta de instrução.
Josias - Filho de Chico Bento e Cordulina, tem cerca de dez anos de
idade. Comeu mandioca crua e morreu envenenado na estrada.
Pedro - Filho de Chico Bento e Cordulina, é o mais velho, tem doze anos
de idade. Desapareceu quando o grupo ia chegando a Acarape.
Manuel (Duquinha) - É o filho caçula de Chico Bento e
Cordulina; tem dois anos anos de idade. Foi doado à madrinha, Conceição.
Paulo - Irmão mais velho de Vicente, ele é o orgulho dos pais (pelo
menos no início). Estudou, fez-se doutor (promotor) e casou-se na cidade com
uma moça branca. Depois de casado, passou a dedicar o seu tempo à família, quase
não se interessando mais pelos pais e pelos irmãos. Só então os pais deram
valor a Vicente.
Mocinha - Irmã de Cordulina, ficou como empregada doméstica em Castro, na
casa de sinhá Eugênia. Arranjou um filho sem pai e tudo indica que vai viver da
prostituição.
Lourdinha - Irmã mais velha de Vicente. Casou-se com Clóvis Garcia em Quixadá. No final, têm uma filha, símbolo da felicidade que as pessoas simples e descomplicadas conseguem conquistar.
Lourdinha - Irmã mais velha de Vicente. Casou-se com Clóvis Garcia em Quixadá. No final, têm uma filha, símbolo da felicidade que as pessoas simples e descomplicadas conseguem conquistar.
Alice - Irmã mais nova de Vicente. Mora na fazenda com os pais e os
irmãos.
Dona Inácia - Avó de Conceição, espécie de mãe, pois foi quem a criou depois que a mãe verdadeira morreu. É dona da fazenda Logradouro, na região de Quixadá. Não aprova as idéias liberais da neta, principalmente no que diz respeito a ficar solteirona.
Dona Idalina - Prima de Dona Inácia. Idalina é a mãe de Vicente, Paulo, Alice e Lourdinha. Vive com o marido, Major, na fazenda perto de Quixadá.
Dona Inácia - Avó de Conceição, espécie de mãe, pois foi quem a criou depois que a mãe verdadeira morreu. É dona da fazenda Logradouro, na região de Quixadá. Não aprova as idéias liberais da neta, principalmente no que diz respeito a ficar solteirona.
Dona Idalina - Prima de Dona Inácia. Idalina é a mãe de Vicente, Paulo, Alice e Lourdinha. Vive com o marido, Major, na fazenda perto de Quixadá.
Major - Fazendeiro rico na região de Quixadá. Entrega a administração da
fazenda ao filho Vicente. Orgulha-se de ter um filho doutor: o Paulo, promotor
em uma cidade do interior do Ceará.
Dona Maroca - Fazendeira, dona da fazenda Aroeiras na região de Quixadá. Na época da seca, mandou o vaqueiro, Chico Bento, soltar o gado e procurar, por conta própria, meios para sobreviver.
Dona Maroca - Fazendeira, dona da fazenda Aroeiras na região de Quixadá. Na época da seca, mandou o vaqueiro, Chico Bento, soltar o gado e procurar, por conta própria, meios para sobreviver.
Mariinha Garcia - Moça bonita, de família rica, moradora de
Quixadá. Com auxílio de Lourdinha e Alice, faz tudo para conquistar Vicente,
mas as tentativas resultam inúteis.
Luís Bezerra - Compadre de Chico Bento e Cordulina. Trabalhara também nas Aroeiras sob o comando de Dona Maroca. Agora, é delegado em Acarape, povoado do interior do Ceará. Foi ele quem conseguiu passagens de trem para que a família do compadre chegasse a Fortaleza.
Luís Bezerra - Compadre de Chico Bento e Cordulina. Trabalhara também nas Aroeiras sob o comando de Dona Maroca. Agora, é delegado em Acarape, povoado do interior do Ceará. Foi ele quem conseguiu passagens de trem para que a família do compadre chegasse a Fortaleza.
Doninha - Esposa de Luís Bezerra, madrinha do Josias, o filho de Chico
Bento que morreu envenenado na estrada.
Zefinha - Filha do vaqueiro Zé Bernardo. Conceição, acreditando numa
conversa que tivera com Chiquinha Boa, acha que Vicente tem um caso com
Zefinha.
Chiquinha Boa - Trabalhava na fazenda de Vicente. Na época da seca, achando que
o governo do Ceará estava ajudando os pobres que migravam para a capital,
deixou a zona rural.
Enredo
A obra O Quinze aborda a seca de 1915, descreve alguns aspectos da vida do interior do Ceará durante um dos períodos mais dramáticos que o povo atravessou. O enredo é interessante, dramático, mostrando a realidade do Nordeste Brasileiro e se dá em dois planos.
No primeiro plano enfoca o vaqueiro Chico Bento e sua família, o outro a relação afetiva de Vicente, rude proprietário e criador de gado, e Conceição, sua prima culta e professora. Conceição é apresentada como uma moça que gosta de ler vários livros, inclusive de tendências feministas e socialistas o que estranha a sua avó, Mãe Nácia que é representante das velhas tradições. No período de férias, Conceição passava na fazenda da família, no Logradouro, perto do Quixadá. Apesar de ter 22 anos, não dizia pensar em casar, mas sempre se "engraçava" à seu primo Vicente. Ele era o proprietário que cuidava do gado, era rude e até mesmo selvagem. Com o advento da seca, a família de Mãe Nácia decide ir para cidade e deixar Vicente cuidando de tudo, resistindo. Trabalhava incessantemente para manter os animais vivos. Conceição, trabalhava agora no campo de concentração onde ficavam alojados os retirantes, e descobre que seu primo estava "de caso" com "uma caboclinha qualquer". Enquanto ela se revolta, Mãe Nácia à consola dizendo:
"Minha filha, a vida é assim mesmo... Desde hoje que o mundo é mundo... Eu até acho os homens de hoje melhores."
Enredo
A obra O Quinze aborda a seca de 1915, descreve alguns aspectos da vida do interior do Ceará durante um dos períodos mais dramáticos que o povo atravessou. O enredo é interessante, dramático, mostrando a realidade do Nordeste Brasileiro e se dá em dois planos.
No primeiro plano enfoca o vaqueiro Chico Bento e sua família, o outro a relação afetiva de Vicente, rude proprietário e criador de gado, e Conceição, sua prima culta e professora. Conceição é apresentada como uma moça que gosta de ler vários livros, inclusive de tendências feministas e socialistas o que estranha a sua avó, Mãe Nácia que é representante das velhas tradições. No período de férias, Conceição passava na fazenda da família, no Logradouro, perto do Quixadá. Apesar de ter 22 anos, não dizia pensar em casar, mas sempre se "engraçava" à seu primo Vicente. Ele era o proprietário que cuidava do gado, era rude e até mesmo selvagem. Com o advento da seca, a família de Mãe Nácia decide ir para cidade e deixar Vicente cuidando de tudo, resistindo. Trabalhava incessantemente para manter os animais vivos. Conceição, trabalhava agora no campo de concentração onde ficavam alojados os retirantes, e descobre que seu primo estava "de caso" com "uma caboclinha qualquer". Enquanto ela se revolta, Mãe Nácia à consola dizendo:
"Minha filha, a vida é assim mesmo... Desde hoje que o mundo é mundo... Eu até acho os homens de hoje melhores."
Vicente se encontra com
Conceição e sem perceber confessa as temerosidades dela. Ela começa a tratá-lo
de modo indiferente. Vicente se ressente disso e não consegue entender a razão.
As irmã de Vicente armam um namoro entre ele e uma amiga, a Mariinha Garcia.
Ele porém se espanta ao "saber" que estava namorando, dizendo que
apenas era solícito para com ela e não tinha a menor intenção de
comprometimento. Conceição percebe a diferença de vida entre ela e seu primo e
a quase impossibilidade de comunicação. A seca termina e eles voltam para o
Logradouro.
O segundo plano é, sem dúvida,
a parte mais importante do livro. Apresenta a marcha trágica e penosa do
vaqueiro Chico Bento com sua mulher e seus 5 filhos, representando os
retirantes. Ele é forçado a abandonar a fazenda onde trabalhara. Junta algum
dinheiro, compra mantimentos e uma burra para atravessar o sertão. Tinham o
intuito de trabalhar no Norte, extraindo borracha. No percurso, em momento de
grande fome, Josias, o filho mais novo, come mandioca crua, envenenando-se.
Agonizou até a morte. O seu fim está bem descrito nessa passagem:
"Lá se tinha ficado o Josias, na sua cova à beira da estrada, com
uma cruz de dois paus amarrados, feita pelo pai. Ficou em paz. Não tinha mais
que chorar de fome, estrada afora. Não tinha mais alguns anos de miséria à
frente da vida, para cair depois no mesmo buraco, à sombra das mesma
cruz."
Uma cena marcante na vida do
vaqueiro foi a de matar uma cabra e depois descobrir que tinha dono. Este o
chamou de ladrão, e levou o resto da cabra para sua casa, dando-lhes apenas as
tripas para saciarem. Léguas após, Chico Bento dá falta do seu filho mais velho
Pedro. Chegando ao Aracape, lugar onde supunha que ele pudesse ser encontrado,
avista um compadre que era o delegado. Recebem alguns mantimentos mas não é
possível encontrar o filho. Ficam sabendo que o menino tinha fugido com
comboeiros de cachaça. Notem:
"Talvez fosse até para a felicidade do menino. Onde poderia estar em maior desgraça do que ficando com o pai?"
"Talvez fosse até para a felicidade do menino. Onde poderia estar em maior desgraça do que ficando com o pai?"
Ao chegarem no campo de
concentração, são reconhecidos por Conceição, sua comadre. Ela arranja um
emprego para Chico Bento e passa a viver com um de seus filhos. Conseguem
também uma passagem de trem e viajam para São Paulo, desistindo de trabalhar
com a borracha.
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