3ª FASE MODERNISTA - O  TEATRO  MODERNO

- Marco: Peça “VESTIDO DE Noiva”, Nelson Rodrigues, dirigida por Ziembinski (1943).
-Teatro de Arena:  “Eles não usam black tie”, Gianfrancesco Guarnieri (1958).
    O teatro foi a forma de expressão artística que maior renovação apresentou nesse período. Surgem nomes como Ariano Suassuna, Jorge de Andrade, Guarnieri, Augusto Boal, para citar alguns. Em 1943, já se pressentia essa renovação no plano cênico, quando Ziembinski dirigiu a montagem de Vestido de Noiva de Nélson Rodrigues. É importante assinalar ainda, a partir de 1950, o trabalho desenvolvido pelo Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) e pelo Teatro de Arena, responsáveis por uma mudança radical no teatro brasileiro. Nesse período de luta ideológica aguda, a palavra passou a ter grande destaque. Cresce o valor do copy-desk. O título da revista mais importante surgida no período é “Manchete”.
                                      
NELSON RODRIGUES
“ Véu  de  Noiva”
   Foi a primeira peça de Nelson Rodrigues a ter grande sucesso; sendo considerada o marco da dramaturgia moderna. Introduz uma série de inovações, não obedecendo regras de tempo e espaço padronizado.
   O cenário é dividido em três planos, cada um caracterizando um tipo de espaço no qual se passa a ação: o plano da realidade, o plano da alucinação e o plano da memória. A. ação dramática é a resultante do entrelaçamento desses três planos, através do qual o autor mostra claramente a fragmentação da mente humana e a busca da própria identidade.
   A peça começa com o acidente de automóvel sofrido por ALAIDE, apresentado por ruídos de buzinas, derrapagens, vidros quebrados e sirenes e ambulância.
   No plano da realidade, Alaíde é levada para o hospital e submetida a uma cirurgia para salvar sua vida; repórteres noticiam o acidente, a cirurgia e, após, a sua morte e enterro.
   No plano da alucinação, Alaíde procura e encontra MADAME CLESSI, uma mundana que fora famosa em outras épocas e que morrera assassinada por um amante. Clessi fora a dona da casa onde Alaíde morara antes de casar. Percebendo que Alaíde tem um conflito emocional que perturba suas relações com o mundo real, Madame Clessi instiga-a a relembrar sua vida até descobrir que esse conflito envolve sua irmã LÚCIA e PEDRO (marido de Alaíde). O problema remonta a um passado remoto, época em que Alaíde rou- bara Pedro de LÚCia e esta reprimira sua dor e agressividade para uma futura vingança, que acontece no dia do casamento, quando Alaíde está se vestindo para a cerimônia: Lúcia revela que Pedro continua tentando conquistá-l e ameaça sua irmã de morte. Apesar de se casar com Pedro, Alaíde vive preocupada com as revelações de Lúcia, o que prejudica a harmonia com o narido. Daí surge sua obsessão por Madame Clessi em forma
de alucinação: presa a um casamento condenado desde o início e às convenções sociais de uma família burguesa, Alaíde sente-se atraída por Madame Clessi, uma figura que simboliza uma vida mais livre, principalmente no terreno sexual. Suas alucinações e fantasias lhe permitem fugir de uma realidade mesquinha e de um futuro negro. O desenrolar confirma o prognóstico: morta Alaíde, Lúcia e Pedra se casam.  
    O que maiss perturba. na peça não são os intensos conflitos interiores descritos. É, principalmente, o tipo de relação humana estabelecida entre as pessoas da família (marido, mulher, pais, filhos, irmos), relações que mostram uma extrema frieza, numa família burguesa, onde só há lugar para convenções e luta, numa só palavra: solidão.

    No primeiro ato é apresentada a situação real (morte de Alaíde) e sua alucinação (busca e encontro com Madame Clessi).
    No segundo ato   vê-se MAdame Clessi influenciando Alaíde a lembrar o dia do de seu seu casamento,  sua discussão com a mulher do véu (LÚCia). A revelação desta de que tem um namoro com Pedro.
    No terceiro ato continua a conversa de Alaíde com Madame Clessi, comentando sobre como madame morrera e, também, no plano da memória, a discussão entre a irmã e a mãe de Alaíde no dia do casamento dela. No  plano da realidade, vê-se a notícia da morte de Alaíde, a discussão e as acusações entre Pedro e Lúcia durante o período do velório. E, no final, a cena de Lúcia se vestindo para o casamento com Pedro. Quando pede o buquê Alaíde e Madame Clessi (fantasmas) se adiantam para entregá-lo a ela.

“A  Vida  como ela é”
    Além de ter sido o grande inovador da dramaturgia brasileira, Nelson Rodrigues deixou sua marca inconfundível  no jornalismo brasileiro, através das crônicas e colunas que manteve durante toda a vida em jornais e revistas, principalmente no Rio de Janeiro e são Paulo. Marcaram época sua série de crônicas “A Vida como Ela é”   e seus comentários esportivos publicados na imprensa. -
    Em "A Vida como Ela é", Nelson fala sobre o dia a dia da cidade grande, os dramas humanos da pequena burguesia de uma sociedade em decomposição. Capta as frustrações e traições que se transformam em mola propulsora do comportamento neurótico e doentio que torna a aventura um terrível e desolador deserto de afeição e solidariedade.
    A temática dessas crônicas é bastante semelhante à utilizada de modo mais desenvolvido nas peças “A Falecida", "Os Sete Gatinhos", "Boca de Ouro", "Beijo no Asfalto", "Bonitinha, mas Ordinária", "Toda Nudez Será Castigada". Aparentemente, as crônicas são simples quadros de costumes: retratos da sociedade carioca cujos personagens principais são pequenos funcionários, cartomantes, torcedores fanáticos, milionários empedernidos, jornalistas, médicos assassinos, maridos traídos, políticos, grã-finas, bicheiros e outros figurantes da vasta fauna brasileira. No entanto, tratam também do amor e da morte. tema abordado vezes sem conta na obra de Nelson. Essas obras foram, mais tarde, transformadas em filmes que obtiveram grande sucesso no cinema nacional.

                                         QUESTÕES  DE  PROVAS

1. (F. Objetivo-SlP) Sobre Guimarães Rosa podemos afirmar que:
a) foi autor regionalista, seguindo a linha do regionalismo romântico.
b) inovou sobretudo nos temas, explorando tipos inéditos.
c) escreveu obra política de contestação à sociedade de consumo.
d) sua obra se revela intimista com raízes surrealistas.
e) inovou sobretudo o aspecto linguístico, revelando trabalho criativo na exploração do potencial da língua.

2. (UFPR) A obra Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa:           
a) continua o regionalismo dos fins do século passado, sem grandes inovações.
b) exprime problemas humanos, em estilo próprio, baseado na contribuição linguística regional.
c) descreve tipos de várias regiões do Brasil, na tentativa de documentar a realidade brasileira.
d) fixa os tipos regionais, com precisão científica.
e) idealiza o tipo sertanejo, continuando a tradição de Alencar.

3. (FUVEST-SP) As ações do romance acima referido se passam:
a) nos sertões do Ceará.
b) nó sertão da Bahia,
c) no interior de Pernambuco.
d) nos sertões de Minas Gerais.
e) no interior do Estado do Rio de Janeiro.

4. (1998)  Sobre Guimarães Rosa, pode-se afirmar que:
a) seguiu a linha do regionalismo romântico, idealizando o homem e a paisagem.
b) escreveu uma obra política, de revolta contra a sociedade capitalista.
c) retratou os costumes e valores dos grandes proprietários do interior do Estado da Bahia.
d) escreveu Sagarana e São Bernardo, romances de tema urbano.
e) promoveu inovações no aspecto linguístico, criando textos com grande criatividade de linguagem.

5. Sobre Grande Sertão; Veredas, obra de João Guimarães Rosa, é INCORRETO afirmar que
a) tem por narrado  um ex-jaqunço, Riobaldo, que conta as suas histórias para um homem da cidade.
b) o enredo está centrado na disputa pela posse das terras entre cangaceiros e imigrantes alemães.
c) um dos temas centrais do. texto é a dúvida de Riobaldo quanto à existência ou não do demônio.
d) está presente no texto afigura. de Diadorim, jagunço-mulher que tem a sua identidade revelada depois de morta.      .

Texto para as questões de 28  a  31:
"( ...) - Escuta, Miguilim, urna coisa você me perdoa? Eu tive inveja de você, porque o Papaco-o-Paco fala Miguilim me dá um beijim ... e não aprendeu a falar meu nome ... " O Dito estava com jeito: as pernas duras, dobradas nos joelhos, a cabeça dura na nuca, só para cima ele olhava. O pior era que o corte do pé ainda estava doente, mesmo pondo cataplasma doía muito demorado. Mas o papagaio tinha de aprender a falar o nome do Dito! - "Rosa, Rosa, você ensina Papaco-o-Paco a chamar alto o nome do Dito?" "- Eu já pelejei, Miguilim, porque o Dito mesmo me pediu. Mas ele não quer falar, não fala nenhum, tem certos nomes assim eles teimam de não entender ... " (Guimarães Rosa)

6.(FUVEST-SP) Os diminutivos e a pontuação, no texto de Guimarães Rosa, contribuem para criar uma linguagem:
      a) descuidada.     b) lógica.       c) erudita.          d) afetiva.           e) enxuta.

7. (FUVEST-SP) De acordo com o texto:
a ) a Rosa pelejou para ensinar o papagaio a falar o nome dela.
b) o papagaio não conseguia falar nome algum porque estava doente.
c) o Dito tinha jeito para ensinar o papagaio a falar.
d) a Rosa tinha inveja do Miguilim porque o papagaio falava o nome dele.
e) o Dito e o Miguilim pediram à Rosa que ensinasse o papagaio a falar o nome do Dito.

8. (FUVEST-SP) O texto reproduz uma cena de convívio familiar, onde se evidencia:

a) a indiferença do Miguilim.
b) o remorso do Dito.
c) a docilidade do Papaco-o-Paco.
d) a preguiça da Rosa.
e) a insensibilidade do autor.

9. (UFPA) Sobre o aspecto das obras literárias:

Coluna A
( 1) Grande sertão: veredas
(2) Senhora
(3) Vidas secas
(4) O Ateneu
(5) Fogo morto

Coluna B
(  ) Romance de cunho psicológico, que narra a vida da personagem principal dentro de um internato.
( ) Obra de cunho social, escrita em linguagem cuidada que reflete a influência de Machado de Assis.            
(  ) Romance de caráter urbano, que retrata aspectos da sociedade da época, tendo, como exemplo, o casamento convencional.
(  ) Obra-prima de seu autor, que focaliza a vida do engenho e sua decadência.
(  ) Romance de tensão transfigurada, em que o autor procura constituir uma outra realidade, de caráter universal, sem esquecer, porém, os problemas do homem da região. Sua linguagem é original.
      a) 5,4,1,3,2       b) 4,3,2,5, I      c) 3, 1,4,2,5      d) 2, 3, 4, 5, 1      e) 1,3,2,5,4

10. (FUVEST-SP)"O romance é narrado na primeira pessoa, em monólogo ininterrupto, por Riobaldo, velho fazendeiro do norte de Minas, antigo jagunço, que conta a sua vida e as suas angústias. Primeiro bandido, depois chefe de bando, a sua tarefa principal é vingar a morte do grande chefe loca Ramiro, assassinado à traição. Para isso estabelece um pacto com o diabo, que não sabe se foi realmente feito, mas que depois o atormenta pelo resto da vida, numa dúvida insanável." (A. Candido & 1. A. CastelIo)
O autor do romance a que se refere o texto acima é também o de:
a) Chapadão do Bugre.
b) O garimpeiro.
c) O coronel e o lobisomem.
d) Vila dos confins.
e) Sagarana.

 11.Todos os escritores abaixo são pós-modernistas. Assinale o nome daquele cujos escritos (contos, crônicas, novelas, peças de teatro), com frequência, enfatizam as tragédias familiares, as infidelidades conjugais.
 a) Ledo Ivo                   b) Nelson Rodrigues               c) Ariano Suassuna
                             d) Ferreira Gullar         e) João  Cabral  de Melo Neto

12. Considere as afirmações que seguem:
I) Josué Guimarães, romancista gaúcho, retratou a realidade dos imigrantes italianos no Rio Grande de Sul, na trilogia "A ferro e fogo".
II) Um dos maiores poetas brasileiros, Carlos Drummond de Andrade, escreveu entre outras coletâneas, "A rosa do povo".
III) Poetisa brasileira que transformou a história da  Inconfidência Mineira em versos: Cecília Meireles.
 Assinale a opção correta:
    a) Somente I está certa.                         d) II e  III estão corretas.
    b) Somente II é correta.                         e)  I e II  estão certas.
    c) Apenas III está correta.

13.(UFRGS-RS) o romance de Clarice Lispector:
a) filia-se à ficção romântica do século XIX, ao criar heroínas idealizadas e mitificar a figura da mulher.
b)define-se como literatura feminista por excelência, ao propor uma visão da mulher oprimida num universo masculino.
c) prende-se à critica de costumes, ao analisar com grande senso de humor uma sociedade urbana em transformação.
d) explora até as últimas consequências, utilizando embora a temática urbana, a linha do romance neonaturalista da geração de 30.
e) renova, define e intensifica a tendência introspectiva de determinada corrente de ficção da segunda geração moderna.

14. Leia as afirmações abaixo:
I) Nelson Rodrigues retrata a classe média brasileira. com todas as suas hipocrisias e falsos moralismos.
II) As peças de Nelson Rodrigues tinham como terna incestos, suicídios, adultérios e lou-cura.
III).Nelson Rodrigues sempre buscava um final feliz para as suas peças.
(a) somente a I está correta;
(b) somente a I e II estão corretas;
(c) somente a II está correta;
(d) I, II e III estão corretas;
(e) somente a I e III estão corretas.

15.(FUVEST-SP) Fazendo um paralelo entre Os sertões, de Euclides da Cunha, e Grande sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, pode-se afirmar:
a) em ambas as obras predomina o espírito cientí
fico, sendo analisados aspectos da realidade brasileira.
b) ambas têm por cenário o sertão do Brasil setentrional, sendo numerosas as referências à flora e à fauna.
c) ambas as obras, criações de autores dotados de gênio, muito enriquecem nossa literatura regional de ficção.
d) ambas têm como principal objetivo denunciar nosso subdesenvolvimento, revelando a miséria física e moral do homem do sertão.
e) tendo cada uma suas peculiaridades estilísticas, são ambas produto de intensa elaboração da linguagem.
.
16. (FUVEST-SP) "Diadorim me chamou, fomos caminhando, no meio da queleléia do povo. Mesmo eu vi o Hermógenes: ele se amargou engulindo de boca fechada. - Diadorim - eu; disse - esse Hermógenes está em verde, nas portas da inveja ...” Mas Diadorim por certo não me ouviu bem, pelo que começou dizendo: - “Deus é servido ... '"
No texto acima há elementos que permitem .identificar o romance do qual foi extraído. O romance é:
      a) Os sertões.       b) Grande sertão: Veredas.        c) O coronel e o lobisomem.
                                  d) O Quinze. :                   e) Vidas secas.

17.(CESESP-PE) A partir de 1945, segundo um critério histórico, as tendências da literatura brasileira estruturam-se, configurando um quadro diferente daquele advindo de 1922 (Semana de Arte Moderna). Dentre as opções apresentadas, quais as que definem a nova tendência?
1.Anarquismo estético, justificado pela Segunda Guerra Mundial.
2.Preocupação existencial e metafísica que se aliava ao protesto às circunstâncias históricas.
3.Volta ao metro e à rima tradicionais, ao lado de novas invenções do verso.
4.Busca de originalidade a qualquer preço.
            a) 1, 2                 b) 2,3          c) 3,4           d) 4, 1            e) 4,2

18.Em relação ao romance A hora da estrela, de Clarice Lispector, é incorreto afirmar que:
a-(   ) O narrador elegeu o espaço social urbano, o Rio de Jneiro, para contar a história de Macabéa, Nesse espaço, a personagem se revela um ser carente, destituído de autoestima.
b-(  ) Macabéa vive miseravelmente. Divide o quarto com as três Marias. Conhece Olímpico de Jesus, diretor de cinema, que a humilha, mas proporciona-lhe a chance de participar de um filme onde teria lugar de destaque: seria Marylin Monroe, aquela que, na vida real, gostaria de ter sido.
c-(   ) A cartomante é uma personagem importante na obra, pois ela dá a Macabéa a possibilidade de sonhar com o futuro.
d-(   ) O título da obra remete o leitor para o desfecho. A morte da personagem foi o seu instante de glória.
e-(  ) Rodrigo S. M. identifica-se com Macabéa e aprofunda-se análise introspectiva, revelando inquietação e angústia existencial.

"BISPO. Quanto ao senhor, senhor João Grilo, vai ver agora o que é administrar. O senhor vai se arrepender de suas brincadeiras, jogando a Igreja contra Antônio Morais.
JOÃO GRILO. É mesmo, é uma vergonha. Um cachorro. Quatro para o padre e seis para o bispo, é demais.
BISPO, mão em concha no ouvido. Como?
JOÃO GRILO. Ah! E o senhor não sabe da história do testamento ainda não?
BISPO. Do testamento? Que testamento?
CHICÓ. O testamento do cachorro.
BISPO. Testamento do cachorro?
PADRE, animando-se. Sim. O cachorro tinha um testamento. Maluquice de sua dona. Deixou três contos de réis para o sacristão, quatro para a paróquia e seis para a diocese.
BISPO. É por isso que eu vivo dizendo que os animais também são criaturas de Deus. Que animal interessante! Que sentimento nobre!
PADRE, arriscando. Para atender à vontade da dona, deixei que o sacristão  acompanhasse o ... "

19.O excerto  acima pertence a O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna. Considere as afirmações abaixo a respeito dessa obra:
I-Estão presentes nessa obra diversos artifícios propiciadores do riso. Entre esses avulta a quebra de hierarquia social e religiosa; a subversão de valores e a presença do absurdo e do ridículo. .
II - O Diabo, uma das personagens do texto, por nunca ter sido homem, entende bem o que é o medo da fome, do sofrimento, da solidão e da morte.
III - Há dois julgamentos: o primeiro é feito pelo Encourado (Diabo) e o segundo, por Manuel ( Jesus Cristo).
IV-Um dos pontos importantes é o fato de, ao lado dos dois bons padres, ser colocado um mau, e a peça inicia e termina com a fala da mesma personagem, ou seja, com a fala de A Compadecida ( Nossa Senhora).
V- O Palhaço, encerrando a história da Compadecida, diz estas palavras: "E se não há quem queira pagar, peço pelo menos uma recompensa que custa nada e é sempre eficiente: seu aplauso."
                                                       São verdadeiras:
a.(  ) I, II e III.      b.( ) I, III e IV.        c) I, III e V.         d.( ) III  e  IV.  e.(  ) II, IV e V .

20.A respeito d obra Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, são feitas três afirmativas:
I - Alaíde, Madame Clessi, Pedro e Lúcia são as principais personagens da obra em questão.  
II -O autor utiliza, no texto, expressões por vezes rudes e outras pitorescas, caracterizando
urna linguagem de certa forma, grosseira, representativa das personagens e do ambiente
retratados.
III - Pode-se dizer que a obra apresenta um sentido moralizante expresso através de uma
visão cristã da vida, denotadora da simplicidade do espírito popular.
                                                    Está(ão) correta(s):

a.(   ) Apenas a I.                                d.(   ) Apenas a I e a II.
b. ( ) Apenas a II e a III.                      e.(   ) Todas as alternativas.
c. (   ) Apenas a I e a III.



GABARITO:  1-e, 2-b, 3-d, 4-e, 5-b, 6-d, 7-e, 8-d, 9-b, 10-e, 11-b, 12-d, 13-e, 14-b, 15-e, 16-b, 17-e, 18-b, 19-e, 20-b.
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2.CLARICE  LISPECTOR



(1925-1977) Nascida na Ucrânia, veio ara o Brasil com dois meses de idade, vivendo até os 12 anos no Nordeste. Desde pequena lia muito, interessando-se por autores nacionais e estrangeiro. Formou-se em Direito e trabalhou como jornalista. Casou-se com um colega e morou em diversos países estrangeiros, devido à profissão do marido, do qual se separou em 1950, voltando pra o Brasil. Continuou a escrever sempre, além de fazer traduções e crônicas para jornais e revistas, a fim de sobreviver.
É considerada uma das maiores cronistas do Brasil e, estilisticamente, está no primeiro plano dos escritores Brasileiros. Ela mesma nunca soube explicar seu processo de criação. Dizia-se mais uma “sentidora” do que uma escritora.De feto, as histórias de Clarice raramente têm um enredo (começo meio e fim). Por isso, seus livros, mais do que histórias, contêm impressões.
Seus romances são introspectivos (voltam-se para o íntimo de seus personagens), sem se preocupar com o enredo, mas com o seu EU. A linguagem contém como que uma armadilha enganosa. Como sua narrativa segue o fluxo da consciência, importa é contar a vivencia interior dos personagens e a complexidade de seu aspecto psicológico. Cria figuras insólitas e altamente poéticas, pelas observações em linguagem dissertativa pelo narrador , que se intromete e julga comportamentos das personagens ou justifica seus atos.
Obras:
ESCRITOS NO EXTERIOR: O LUSTRE, A CIDADE SITIADA, A MAÇÃ, NO ESCURO, LAÇOS DE FAMÍLIA. INFANTIS: O MISTÉRIO DO COELHO PENSANTE, A MULHER QUE MATOU OS PEIXES, A VIIDA ÍNTIMA DE LAURA, QUASE VERDADE.
NO BRASIL: A HORA DA ESTRELA, A LEGIÃ ESTRANGEIRA, A PAIXÃO SEGUNDO G.H., UM SOPRO DE VIDA, FELICIDADE CLANDESTINA, UMA APRENDIZAGEM OU O LIVRO DOS PRAZERES, ÁGUA VIVA, IMITAÇÃO DA ROSA, A VIA-CRUCIS DO CORPO, ONDE ESTIVESTE DE NOITE, O OVO E A GALINHA. 

                                    A  HORA  DA  ESTRELA
    É um dos romances mais conhecidos de Clarice Lispector. Trata-se de uma narrativa que vai se construindo pelo entrelaçamento de 3 histórias:
    • A história de Rodrigo S. M. - um escritor' em crise que se questiona sobre sua profis-são, seu estilo, e se propõe a mudar seu modo de escrever. Resolve escrever uma história tendo por personagem uma pobre moça nordestina, MACABÉA, que vai para o Rio de Janei-ro. RodrIgo , será, portanto, o escritor-narrador da história de Macabéa.
A história da narração: O escritor Rodrigo vai dialogando com o futuro leitor para expor o seu processo criador, mostrando, passo a passo, como está costruindo a sua história sobre Macabéa. Portanto, é a história de como está escrevendo uma história.
A história de MACABÉA - É a história de uma pobre moça alagoana que, sem ter nin-guém na vida, muda-se para o Rio de Janeiro, onde trabalha corno datilógrafa num escritório do qual está sendo mandada embora, por incompetência. Mora num quarto compartilhado por mais quatro moças, leva uma vida sem expressão, incolor, sem objetivos e horizontes. Seu primeiro e único namorado, Olímpico de Jesus, troca-a por uma colega de escritório. Macabéa vai consultar uma cartomante que, com pena dela, prediz-lhe um futuro melhor: namorado, emprego e muito dinheiro. Macabéa sai de lá feliz, esperançosa e, quando vai atravessar a rua, é mortalmente atropelada. É essa a sua “ hora da estrela”, seus 15 minutos de fama numa notícia de jornal ou canal de televisão.

MODERNISMO - A OBRA DE CLARICE LISPECTOR
    Em 1942, Clarice Lispector começou a escrever seu primeiro romance, Perto do coração selvagem e o publicou em 1943.

O romance introspectivo

     Esse primeiro romance fez certo alarde entre os críticos brasileiros. Alguns acharam a obra intolerável e estranha; diziam que "essa escritora de nome esquisito" queria se exibir. Outros, como Antonio Cândido, apesar de não verem na obra a perfeição, reconheceram a coragem dessa escritora desconhecida em usar nossa língua para criar frases introspectivas originais, metáforas extravagantes e enredos muito diferentes dos que os romancistas regionalistas (Jorge Amado, Érico Veríssimo, Graciliano Ramo, José Lins do Rego) criavam na época, cujas obras engajadas politicamente todos gostavam.
    Clarice estava introduzindo na literatura brasileira um novo modo de narrar, semelhante ao das escritoras de língua inglesa Katherine Mansfield e Virginia Woolf: o romance introspectivo, cujo enredo (a história) importa bem menos que o "mergulho" do narrador no fluxo de pensamento do personagem.
Esse mergulho é tão abrupto que o leitor depara-se com ele sem aviso do narrador. Joana, sua primeira protagonista, aparece no romance já capturada em meio a seus pensamentos. Veja os dois parágrafos iniciais de Perto do coração selvagem:
    A máquina do papai batia tac-tac... tac-tac-tac... O relógio acordou em tin-dlen sem poeira. O silêncio arrastou-se zzzzzz. O guarda-roupa dizia o quê? roupa-roupa-roupa. Não, não. Entre o relógio, a máquina e o silêncio havia uma orelha à escuta, grande, cor-de-rosa e morta. Os três sons estavam ligados pela luz do dia e pelo ranger das folhinhas da árvore que se esfregavam umas nas outras radiantes.
    Encostando a testa na vidraça brilhante e fria olhava para o quintal do vizinho, para o grande mundo das galinhas-que-não-sabiam-que-iam-morrer. E podia sentir como se estivesse bem próxima de seu nariz a terra quente, socada, tão cheirosa e seca, onde bem sabia, bem sabia uma ou outra minhoca se espreguiçava antes de ser comida pela galinha que as pessoas iam comer.

Um modo diferente de narrar

    Percebe-se que o narrador captura o pensamento da personagem (que não se sabe ainda chamar-se Joana) e mostra isso através do discurso indireto livre. Tal estratégia de criar não foi inventada por Clarice Lispector, mas ela a usou como aspecto central de seu estilo em todas as suas obras.
Nota-se também que a máquina de escrever é "do papai", portanto, logo de início, é a filha que tem seus pensamentos revelados - em total intimidade, pois ela está pensando apenas. Essa menina vai olhar com piedade para as galinhas "que não sabiam que iam morrer" e pensa nas minhocas que essas galinhas iam comer. Ou seja, nada é dito por Joana, para ninguém. É o narrador que a captura, e por isso cria um monólogo interior.
    E nota-se as onomatopéias usadas (tac-tac... tac-tac-tac... O relógio acordou em tin-dlen sem poeira. O silêncio arrastou-se zzzzzz). Não era habitual na literatura vigente usar esses recursos.
Além disso a escritora cria suas metáforas: "uma orelha grande, cor-de-rosa e morta". O que será isso? O que ela quer dizer? Não se sabe ao certo, mas a essas construções esquisitas Antonio Candido deu o nome de "metáforas insólitas", ou seja, metáforas muito inesperadas e bastante originais.
Toda a obra posterior de Clarice (contos e romances) "persegue" esse modo de narrar. A partir de 1960, depois de escrever mais alguns romances, Clarice volta ao Rio de Janeiro e consolida sua grande carreira de contista.
  Quando mudou-se para Nápoles, começou a escrever outro romance, O Lustre, publicado em 1946.
  Em 1949, foi publicado outro romance, A Cidade Sitiada, cujos personagens são mais corpos que consciência, mais objetos que suspeitos, o mal aparece e se faz presente. Depois, foi publicado, um livro de contos chamado Alguns Contos, no ano de 1952.
 No ano de 1960, foi publicado Laços de Família, livro de literatura brasileira absolutamente renovado, que também atingiu o mais alto patamar da arte da escrita ficcional.
  Em 1961, foi publicado A maçã no escuro, um romance.
 Em 1964 foi publicado o livro de contos A Legião estrangeira e o romance A paixão segundo G. H..
 No ano de 1967 recebeu o prêmio Calunga, da Campanha Nacional de Criança, pela publicação de O Mistério do Coelho Pensante, publicado no mesmo ano.
 Em 1969, foi publicado Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, um romance, e A mulher que matou os peixes, um livro infantil.
 Foram publicados também Água Viva, em 1973, onde Lispector leva a extremos a insurreição formal e a desestruturação da forma romancesca, criando um gênero híbrico, marcado pela fluidez, pela aparência inacabada e inconclusa, produto da liberdade. Ainda em 73, teve publicação A vida íntima da Laura, um livro infantil.
 Entre 1974 e 1977, foram publicados A via-crucis do corpoOnde estiveste de noiteDe corpo inteiro, um livro de entrevistas, Visão do Esplendor e o seu último livro publicado no ano de sua morte A hora da estrela, uma novela.
 Clarice Lispector tem um estilo literário inconfundível, presente em toda sua obra. A renovação da linguagem se encontra constante num grau que aproxima a prosa da poesia. Seus textos, apenas narram histórias, mas também apresentam a síntese e a força expressiva típicas da poesia. Além da linguagem, outro aspecto inovador na obra de Clarice é a visão do mundo que surge de suas histórias.
Mesmo tendo se iniciado como escritura numa época em que os romancistas brasileiros estavam voltados para a literatura regionalista ou de denúncia social, Clarice enfocou em seus textos o ser humano em suas angústias e questionamentos existenciais. Em suas narrativas, o enredo, bem como as personagens, as referências de tempo e espaço ganham novos significados: o enredo é quase sempre psicológico. O tempo e o espaço, por sua vez tem pouca influência sobre o comportamento das personagens; o tempo é psicológico e espaço é quase acidental.
  A indiscutível originalidade e a perturbadora percepção da validade presentes na obra de Lispector a tornam única dentro da literatura brasileira. É impossível ficar-se indiferente diante do texto de Clarice, pois a força da sua linguagem, a intensidade das emoções das suas personagens atingem em cheio o leitor, provocando no mínimo um incômodo estranhamento. É como se o texto convidasse o leitor à desvendá-lo e, desvendando-o, descobrisse um pouco mais do ser humano.

Autores: 2. Modernismo - A obra de Clarice Lispector - Passeiweb
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A  PROSA  MODERNISTA   -   O  PÓS-MODERNISMO

- Romance  introspectivo; a psicologia  dos  personagens;
- Sem  compromisso  com  a “realidade  real”;
- Conflito  do  indivíduo  com  a  sociedade;
- Realismo fantástico: fusão da realidade com a ficção;
- Prosa regionalista: o meio e o homem rural brasileiro

1.JOÃO  GUIMARÃES  ROSA

Nasceu em 1908 e faleceu em 1967. Formado em Medicina, foi médico em seu estado, Minas Gerais e, depois, diplomata em vários países. Recebeu inúmeros prêmios pelas suas obras literárias.
Seu estilo era absolutamente novo:
. Regionalismo universalista: suas obras, embora voltadas para espaços rurais, transcendem o puro regionalismo e dão à obra um caráter universal, pois são cheias de indagações metafísicas.
. Recriação da linguagem:   estiliza o linguajar sertanejo, inventando novas palavras, recriando palavras misturadas com arcaísmos, linguagem erudita, latim, grego. A sintaxe da frase é bastante original.
As obra é, sem dúvida, a mais complexa que apareceu depois de 1945. A flora e a fauna são magistralmente apresentadas e, às vezes, humanizadas, como em Conversa de Bois.
É o mundo do sertão a desfilar suas tradições, traições, ledas, coragens e aventuras.
Obras  principais:
SAGARANA – Contos e novelas regionalistas, mas de um regionalismo diferente, baseado nas pesquisas e elaboração artística da linguagem, incluindo o linguajar nacional. Entre eles se encontra o famoso A Hora e a Vez de Augusto Matraga. O próprio título do livro (sagarana) já exemplifica a revolução idiomática literária, pois saga significa lenda não escrita, propriamente o que se diz ou conta apenas.
CORPO DE BAILE – Nele o novelista leva seus processos estilíisticos às últimas consequências. É um corpo de novelas distribuídas em dois volumes.
GRANDE SERTÃO: VEREDAS -   Pode ser considerada a sua grande obra, pois ela rompe com todas as convenções, é um romance mítico, uma obra-prima para as nossas letras. Nele o autor criou uma linguagem inventiva, cheia de novas construções sintáticas, tais como “a bala beija-florou”, “os passarinhos bem-me-viam”, “os cavalos aiando gritos”.
Guimarães Rosa criou nesse romance uma galeria de personagens que habitam mundos mágicos, procurando traçar  a história do sertão de Minas.
O principal personagem é RIOBALDO, que narra a história da época em que fora jagunço e vingador de JOCA RAMIRO, sua longa travessia pelo sertão mineiro em busca da sonhada vingança contra HERMÓGENES, que havia  Joca. Também faz parte dobando DIADORIM, um jovem companheiro por quem Riobaldo tem afeição especial. Na realidade, Diadorim é Deodorina, a filha de Joca Ramiro que ingressara no bando disfarçada de homem para poder participar da caçada e vingança contra o homem que matara seu pai. Entre as angústias de Riobaldo estão o amor por Diadorim( que julga impossível, pois pensa que ela é um homem), a ânsia que sente pelo absoluto, a necessidade de explicar a razão dos acontecimentos e de uma existência que o coloca entre Deus e o Diabo, o bem e o mal, o ser  e o não ser.
Além desses personagens, temos ainda:
O  SERTÃO – Espaço físico onde decorre a ação, é usado como elemento simbólico, querendo significar o ‘subconsciente humano”
HERMÓGENES– È um jagunço-demônio, chefe do bando rival e que mata o chefe do outro bando, Joca Ramiro, ocasionando  a perseguição do bando, agora chefiado por Riobaldo, na tentativa de vingar o líder morto.
Esta obra se insere dentro da corrente denominada REALISO MÁGICO.
                        Modernismo - A obra de Guimarães Rosa

Rosa e o Modernismo

   O início da carreira literária de Guimarães Rosa aconteceu oficialmente em 1946, com a publicação do livro de contos Sagarana, ao qual se sucederam a reportagem "Com o vaqueiro Mariano", em 1952, (incluída depois em Estas Estórias), o volume de novelas Corpo de Baile e o romance Grande Sertão: Veredas, em 1956; Primeiras Estórias, em 1962, Tutaméia (Terceiras Estórias), em 1967. Em 1969, após a morte do escritor, foram publicados os contos de Estas Estórias, que ele vinha preparando antes de morrer. Em 1970, foram reunidos em Ave, Palavra, textos de diversas naturezas (crônicas, discursos etc) escritos durante toda a sua vida.
 O livro Corpo de Baile é publicado atualmente em três volumes independentes: Manuelzão e MiguilimNo Urubuquaquá, no Pinhém e Noites do Sertão.
   Como já visto, a obra de Guimarães Rosa tem início na terceira fase do Modernismo e se impõe como um marco na evolução da literatura brasileira. Os textos regionalistas até então costumavam abordar os problemas brasileiros de uma maneira superficial, transportando para a literatura diversos preconceitos. Nesse aspecto, além de Guimarães Rosa, são também exceções Graciliano Ramos e José Lins do Rego.
    O regionalismo de Guimarães Rosa deixa de dar ênfase à paisagem para focalizar o ser humano em conflito com o ambiente e consigo próprio. Dessa maneira, as personagens revelam tanto suas particularidades regionais como sua dimensão universal, ou seja, o que elas têm em comum com o restante da humanidade.
    A valorização da cultura sertaneja num momento histórico em que predominava um discurso desenvolvimentista coloca o escritor na contramão da literatura brasileira que, praticamente desde seu início, defendeu a modernização do país. Por trás da atitude de Guimarães Rosa está a percepção de que o progresso condenaria ao silêncio o mundo dos contadores de histórias.
    "Está no nosso sangue narrar estórias; já no berço recebemos esse dom para toda a vida. Desde pequenos, estamos constantemente escutando as narrativas multicoloridas dos velhos, os contos e lendas, e também nos criamos em um mundo que às vezes pode se assemelhar a uma lenda cruel. Deste modo a gente se habitua, e narrar estórias corre por nossas veias e penetra em nosso corpo, em nossa alma, porque o sertão é a alma de seus homens."
    É possível comparar as diferentes relações que Guimarães Rosa e Graciliano Ramos têm com suas personagens e com o ambiente que elas habitam. Graciliano Ramos aparece como uma consciência crítica, ajudando as personagens a enxergar a miséria de sua condição material e a exploração a que estão sujeitas. Guimarães Rosa tem uma relação de simpatia e identificação com as personagens e a paisagem.
   Na obra de Guimarães Rosa, as dualidades e antíteses são comuns para que o conflito do sentimento seja enfatizado. Desse modo, homem e mundo, realidade e devaneio, mundano e divino aparecem sempre em contraste e nos colocam diante de muita angústia, aridez e ceticismo; mas a poesia que perpassa tal obra nos remete a momentos do próprio mundo interior daquelas personagens que, por vezes, retratam nosso desejo de lutas, perdas e glórias.

O sertão e o mundo

   Os contos e romances escritos por João Guimarães Rosa ambientam-se quase todos no chamado sertão brasileiro. A sua obra destaca-se sobretudo pelas inovações de linguagem, sendo marcada pela influência de falares populares e regionais. Tudo isso, unindo à sua erudição, permitiu a criação de inúmeros vocábulos a partir de arcaísmos e palavras populares, invenções e intervenções semânticas e sintáticas.
   Em Guimarães Rosa transparece todo o misticismo do sertão, uma religiosidade quase medieval, baseada apenas nos dois extremos e marcada pelo medo, pelo pavor, em que há até mesmo a preocupação de não invocar o demo, para que ele não "forme forma"; daí o diabo ser tratado por "o que não existe" ou "o que não é mas finge ser" e expressões semelhantes.
   Assim é o sertão de Rosa: ora particular, pequeno e próximo; ora universal e infinito, pois "o sertão é o mundo" ou, melhor ainda, "o sertão é dentro da gente". Por isso, logo na abertura de Grande sertão: veredas, o autor nos situa diante do problema:
   "O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja: que situado sertão é por os campos-gerais a fora a dentro, eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do Urucúia. Toleima. Para os de Corinto e do Curvelo, então, o aqui não é dito sertão? Ah, que tem maior! Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; e onde criminoso vive seu cristo Jesus, arredado do arrocho de autoridade. O Urucúia vem dos montões oestes. Mas, hoje, que na beira dele, tudo dá - fazendões de fazendas, almargem de vargens de bom render, as vazantes; culturas que vão de mata em mata, madeiras de grossura, até ainda virgens dessas lá há. O gerais corre em volta. Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniões... O sertão está em toda a parte."
    O sertão aparece como um lugar político e econômico, mas também como um lugar metafórico e metafísico, refletindo as perturbações interiores das personagens e seus grandes questionamentos. Mais do que um lugar no espaço, entretanto, o sertão rosiano é uma região criada na linguagem, como observou o crítico Antonio Candido.
    "Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos [...] O gerais corre em volta. Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães... O sertão está em toda parte."
    Em Guimarães Rosa, os elementos próprios do sertão são apenas condutores para uma abordagem dos grandes problemas do homem. Suas estórias extraem do regional a elaboração de temas universais, revelando uma visão global da existência: indagações sobre o destino, o significado da vida e da morte, a existência ou não de Deus etc.
    As disputas de terra, a utilização de mão-de-obra escrava ou semi-escrava, as gritantes diferenças sócioeconômicas e culturais permeiam toda a obra de Rosa, contemporânea a questões sobretudo relativas a meio-ambiente e sustentabilidade. Em Grande sertão: veredas, Riobaldo, narrador do romance, explica a seu entrevistador que, se ele foi conhecer as potencialidades ambientais e culturais do sertão, havia chegado tarde, pois, naquele momento, tudo já se achava em estado de degradação, em vias de desaparecimento.

Revolução na linguagem

    "A música da linguagem deve expressar o que a lógica da linguagem obriga a crer [...]. O melhor dos conteúdos de nada vale, se a linguagem não lhe faz justiça."
A maior inovação nos livros de Guimarães Rosa é a linguagem: criativa, que explora a sonoridade das palavras, incorpora a fala regional, cria termos adaptando expressões de outras línguas. Essa novidade obriga o leitor a refletir sobre o significado das palavras para compreender a nova dimensão dada a conteúdos já conhecidos.
    Sobre esse aspecto da obra de Rosa, o professor Eduardo Coutinho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, esclarece: "Como tudo na vida, as formas da linguagem também envelhecem e se tornam completamente inexpressivas após uso prolongado: palavras perdem o seu significado originário, expressões se tornam obsoletas, construções sintáticas inteiras caem em desuso e são substituídas por outras. Cabe, então, ao escritor, consciente de sua missão, refletir sobre cada palavra ou construção que utiliza e fazê-la recobrar sua energia primitiva, desgastada pelo uso. Em outras palavras, ele tem que revitalizar a linguagem".
    A fala do povo é utilizada na obra de Guimarães Rosa como linguagem literária, aparecendo não só na fala do sertanejo, mas na própria voz do narrador. Assim, o autor rompe com a tradição em que o narrador escreve "certo" e as personagens falam "errado".
    "Escrevo, e creio que este é o meu aparelho de controle: o idioma português, tal como o usamos no Brasil; entretanto, no fundo, enquanto vou escrevendo, eu traduzo, extraio de muitos outros idiomas. Disso resultam meus livros, escritos em um estilo próprio, meu, e pode-se deduzir daí que não me submeto à tirania da gramática e dos dicionários dos outros."
    A princípio, percebe-se uma revalorização da linguagem; a seguir, a universalização do regional. O valor da linguagem particular de Guimarães Rosa não está no rebuscamento das palavras no uso de arcaísmos, mas sim nos neologismos, na recriação, na invenção das palavras, sempre tendo como ponto de partida a fala dos sertanejos, suas expressões, suas particularidades. Com isso, as palavras recriadas ganham força e significado novos, como afirma o crítico português Oscar Lopes:
    "As metáforas de Guimarães Rosa são tantas e tão originais que produzem um efeito poético radical: o efeito de ressaca do significado novo sobre o significado corrente. A gente lê, por exemplo, que `o sabiá veio molhar o pio no poço, que é bom ressoador', e não fica apenas com uma admirável vocação acústica; as palavras `molhar' e `poço' descongelam-se, libertam-se da sua hibernação dicionarística ou corrente, e perturbam como um reachado todavia surpreendente."
    O mesmo estranhamento que a linguagem de Guimarães Rosa provocou no crítico lusitano, podemos perceber em passagens como:
"Joãozinho Bem-Bem se sentia preso a Nhô Augusto por uma simpatia poderosa, e ele nesse ponto era bem-assistido, sabendo prever a viragem dos climas e conhecendo por instinto as grandes coisas. Mas Teófilo Sussuarana era bronco excessivamente bronco, e caminhou para cima de Nhô Augusto. Na sua voz:
    - Êpa! Nomopadrofilhospritossantamêin! Avança, cambada de filhos-da-mãe, que chegou minha vez! ...
E a casa matraqueou que nem panela de assar pipocas, escurecida à fumaça dos tiros, com os cabras saltando e miando de maracajás, e Nhô Augusto gritando qual um demônio preso e pulando como dez demônios soltos.
    - O gostosura de fim-de-mundo!..."

Trânsito livre da prosa à poesia

    Guimarães Rosa aboliu as fronteiras entre prosa e poesia: seus textos são sempre em prosa, mas apresentam inúmeras características que se costumam considerar próprias da poesia, como as rimas, aliterações, eetc. É certamente reflexo disso o fato de que as duas narrativas que constituem o livro Manuelzão e Miguilim (Campo geral e Uma estória de amor) são anunciadas no índice como poemas, porque para Guimarães Rosa importa tanto o que é dito (conteúdo) quanto como é dito (forma).
    Mesmo a pontuação em seus textos não desempenha uma função ortográfica, mas estética, procurando fazer a escrita se aproximar do ritmo da fala, com travessões, reticências, exclamações, interrogações e, muitas vezes, vírgulas que separam sujeito e predicado, o que evidencia o rompimento do autor com os padrões gramaticais tradicionais, para aderir a uma estética da liberdade.
    É importante ressaltar, no entanto, ainda com Eduardo Coutinho, que criando novas formas para a língua portuguesa, Guimarães Rosa "não ultrapassa, em momento algum, as barreiras impostas pela sua estrutura".
    Trabalhador detalhista, Rosa estava atento a cada palavra que compunha suas criações e um testemunho de seu processo criativo são os inúmeros cadernos, cadernetas e diários em que anotava fragmentos de realidade que depois usaria na ficção: nomes de animais e plantas, expressões, nomes de lugares e pessoas, tudo.
    "Você conhece os meus cadernos, não conhece? Quando eu saio montado num cavalo, por Minas Gerais, vou tomando nota de coisas. O caderno fica impregnado de sangue de boi, suor de cavalo, folha machucada. Cada pássaro que voa, cada espécie, tem vôo diferente. Quero descobrir o que caracteriza o vôo de cada pássaro, em cada momento."
Todo esse trabalho com a linguagem confere mais força ao imaginário mágico criado em suas "estórias". Aproximando-se do que está além da realidade, o contista explora os mistérios do pré-consciente e dos mitos inseridos no ser humano. A linguagem – recriada – do sertão ajuda a revelar esse espaço como um espelho do mundo. Partindo da fala peculiar do sertanejo, o autor a submete a um processo de reelaboração e invenção que a leva a atingir significados absolutamente inesperados. Sem dúvida, identifica-se como matéria-prima o sertão brasileiro com sua fauna, flora, o sertanejo e sua cultura. Mas a magia que desabrocha desse espaço é o que garante a universalidade. O espaço torna-se uma extensão das personagens, que estão sob minuciosa investigação psicológica do autor.
    Vale lembrar que João Guimarães Rosa juntamente com Clarice Lispector foram dois grandes destaques da prosa na terceira fase do Modernismo. Extremamente preocupados com a elaboração da linguagem em seu grau máximo de expressão, são chamados pela crítica de romancistas instrumentalistas. Une-os ainda o caráter de sondagem psicológica que insere suas obras entre outras grandes de cunho universalista – isto é, de abordagem de temas atemporais, que refletem a alma humana. Mas as aproximações param por aí: enquanto Clarice Lispector intensificava a abordagem psicológica, afastando seus personagens de um enredo tradicional, Guimarães Rosa preocupou-se em trabalhar enredo e suspense, descobrindo o místico em acontecimentos do cotidiano.
A musicalidade na obra de Guimarães Rosa

G
“Sou precisamente um escritor que cultiva a idéia antiga, porém sempre moderna, de que o som e o sentido de uma palavra pertencem um ao outro. Vão juntos. A música da língua deve expressar o que a lógica da língua obriga a crer”, afirmou João Guimarães Rosa, dialogando com o crítico alemão Günter Lorenz. As confissões de Rosa a Lorenz evidenciam como o escritor pensava (e sentia) a tensão dinâmica que rege a musicalidade das palavras. O que quer dizer essa musicalidade? Todos os seus significados apresentados pelo Dicionário Houaiss – “caráter, qualidade ou estado do que é musical”; “talento ou sensibilidade para criar ou executar música”; “sensibilidade para apreciar música; conhecimento musical”; “expressão do talento musical de alguém”; e “cadência harmoniosa; ritmo” (Houaiss, 2001) – se mostram oportunos para motivar uma leitura original da obra de Guimarães Rosa.
    A prosa do Corpo de Baile, ao encontrar-se tão próxima da poesia em sua essência e origem, contém uma disposição musical que transparece e faz soar sentidos inauditos. Quase desnecessário afirmar que é preciso gostar para dar um acolhimento amoroso. Gostar, verbo que vem da mesma raiz do grego geúo, quer dizer provar ou experimentar. Ler em voz alta ou silenciosamente. Circular na tríade que envolve o leitor, a leitura e o ato de ler. Musicar a obra literária na medida em que o ritmo da leitura venha trazer inevitáveis sugestões melódicas e harmônicas. Aproximar-se da sonoridade de cada palavra.
    O encadeamento, a abertura das vogais e a alternância consonantal, por si sós, são elementos que têm como propriedade dar ao leitor a musicalidade do texto. No entanto, a obra de Rosa oferece mais. Faz vibrar a celebração poética dos sons constituídos nas palavras. Sons que prescindem da apreensão representacional do mundo. Palavras que confluem “na alegria de tudo, como quando tudo era falante, no inteiro dos campos-gerais...” (Rosa, 1965, p. 67). Poética no transe de sua sagração sonora, onde o nome e a coisa nomeada se fundem. Unificam-se concomitantemente no mesmo destino cósmico a presença e o som. Consagram-se.

O papel de Guimarães Rosa na Literatura Brasileira

    Críticos como Antônio Cândido, Cavalcanti Proença e Benedito Nunes perceberam, desde as primeiras publicações de Rosa, a exuberante e inovadadora riqueza temática, linguística e estrutural das obras do escritor. Em Grande sertão: veredas, a narrativa radicalmente inovadora se estrutura como um grande diálogo resultante da entrevista concedida pelo ex-jagunço Riobaldo a um homem culto que vem de fora para saber notícias do sertão no tempo da jagunçagem, de suas guerras geradas pelas truculentas disputas de poder e terras. Trata-se de diálogo, ou monodiálogo, em que se houve apenas a voz do entrevistado, como se essa fosse a hora e a vez de um sujeito subalterno pronunciar sua versão da história.
    Do ponto de vista linguístico, Guimarães Rosa operou grandes transformações na sintaxe, na morfologia, nos usos literários em geral, tendo em vista a forma como tais padrões eram empregados até então na literatura brasileira. Além de fragmentar a linearidade das frases para, por exemplo, sugerir a descontinuidade do tempo ou da linguagem oral, ele cria neologismos ou recupera arcaísmos já esquecidos da língua portuguesa. Vale-se, ainda, de construções de palavras que implicam a aglutinação de dois ou mais idiomas no sentido de obrigar sua língua literária a dizer e significar mais do que o habitual, de criar situações inusitadas, de instituir uma espécie de princípio, de inteligibilidade universal, não apenas para sua língua, mas também para os espaços e contextos em que personagens estrangeiros conseguem interagir.

Fonte: José Vinícius Pessoa, Mestre e doutorando em Letras pela UFRJ


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