1. GRACILIANO    RAMOS
 
   Graciliano Ramos nasceu em Quebrângulo (AL), em 1892, e faleceu no Rio de Janeiro, em 1953. Viveu durante muito tempo nos sertões do Nordeste, que conheceu profundamente, tendo sido prefeito da cidade alagoana de Palmeira dos Índios. Data desse período sua estreia na literatura, com o romance Caetés (1933), e a amizade com escritores da vanguarda nordestina: Rachel de Queiroz, José Lins do Rego e Jorge Amado. Em março de 1936, foi preso como comunista, passando por diversos presídios e submetido a todo o tipo de humilhações. Sem provas formais de acusação, foi libertado em janeiro do ano seguinte. Dessa dolorosa fase de sua vida resultou Memórias do Cárcere, um impressionante depoimento sobre a realidade brasileira relacionada com o comunismo e sobre o sofrimento dos prisioneiros políticos.    
   Graciliano Ramos é considerado um dos maiores romancistas modernos e seus romances tidos como romances de tensão crítica, isto é, o herói opõe-se e resiste ao meio natural e ao social, meios que o ferem e marcam de modo irreversível.
   Seus romances têm como temas: a seca do Nordeste, o cangaço, a morte, o trágico, as injustiças sociais, o misticismo, os códigos primitivos de honra, a constante luta pela sobrevivência.
   Antonio Candido classifica a obra de Graciliano Ramos em:
romances em primeira pessoa: Caetés, São Bernardo e Angústia.
romance em terceira pessoa: Vidas Secas - considerada a grande obra do romance modernista brasileiro, retrata as subfiguras humanas, vítimas do fatalismo irredutível da região nordestina das secas.
romances autobiográficos: Infância e Memórias do Cárcere.
Outras obras: Viventes das Alagoas, Alexandre e outros heróis, Linhas Tortas, Insônia.
 . VIDAS SECAS: Enfoca o problema da divisão agrária.Apresenta a trajetória de Fabiano, Sinhá Vitória, os dois filhos do casal e a cachorra Baleia. Fabiano é um camponês sem terra, para quem a seca apenas intensifica a miséria permanente. Seu drama está vinculado à divisão injusta da terra. É um romance formado por capítulos independentes, mas que constituem um todo.

Graciliano Ramos e a Segunda Geração do Modernismo
  Já em seu romance de estréia, Caetés, de 1933, percebem-se as duas diretrizes principais da obra de Ramos: a preocupação social e a angústia existencial. Com São Bernardo, não é diferente. Nesta obra, há um aprofundamento dessas duas vertentes. O trabalho artístico, entretanto, alcança aqui um nível mais elaborado, o que levou vários críticos a classificarem o romance em questão como uma obra à parte na literatura, na medida em que neste livro encontra-se um grau de estranheza que o torna quase ímpar na literatura brasileira.
 A Primeira Geração do Modernismo Brasileiro [1922-1930] renovou os mecanismos de expressão de nossa literatura. Graciliano Ramos, que começa a publicar na década de 1930 – estando, portanto, ligado ao segundo momento do modernismo –, não comunga de tal “renovação”.
 Pode-se dizer que sua narrativa é bastante tradicional, na medida em que nela não se notam rupturas verbais, tampouco malabarismos lingüísticos. Sua obra se preocupa mais com a denúncia de situações de opressão vivenciadas pelo homem nordestino.
 O romance praticado pelos escritores da Segunda Geração do Modernismo Brasileiro apresenta duas grandes vertentes – uma social e outra psicológica. Tradicionalmente, os manuais de literatura classificam a obra de Graciliano como “social” [ou regional, ou nordestina]. São Bernardo apresenta todos os elementos do dito romance regional [social], mas também desenvolve magistralmente o que se convencionou chamar de “tensão interiorizada” [ou romance psicológico].
 Outra classificação utilizada para a obra de Graciliano é a de “neo-realista”. Esse termo pode ser utilizado sem prejuízo algum porque ela retoma procedimentos bastante utilizados pelo realismo-naturalismo, tais como a denúncia social, a análise psicológica e uma forte tendência à objetividade.

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Graciliano Ramos – Características da Obra: aspectos bibliográficos e bibliófilos
 Graciliano Ramos foi um escritor extremamente cuidadoso, quanto à forma de seus livros. Rescrevia os seus livros sem cessar, procurando retirar deles tudo àquilo que considerasse excesso. De estilo delicado Graciliano sempre foi considerado como exemplo de elegância e de elaboração.O estilo formal de escrita e a caracterização do eu em constante conflito (até mesmo violento) com o mundo, a opressão e a dor são as marcas das suas obras
De maneira geral, os seus romances caracterizam-se pelo inter-relacionamento entre as condições sociais e a psicologia das personagens; ao que se soma uma linguagem precisa , “enxuta” e despojada, de períodos curtos mas de grande força expressiva. 
Cahetes
O seu romance de estreia, “Caetés” (1933), gira em torno de um caso de adultério ocorrido numa pequena cidade do interior nordestino e não está à altura das obras subsequentes. 
S. Bernardo
“São Bernardo” (1934), uma de suas obras-primas, narra a ascensão de Paulo Honório, rico proprietário da fazenda São Bernardo. Com o objectivo de ter um herdeiro Paulo Honório casa-se com Madalena, uma professora de ideias progressistas. Incapaz de entender a forma humanitária pela qual a mulher vê o mundo, ele tenta anulá-la com seu autoritarismo. O ciúme e a incompreensão de Paulo Honório levam-na ao suicídio. Com este personagem, Graciliano Ramos traça o perfil da vida e do carácter de um homem rude e egoísta, do jogo de poder e do vazio da solidão, em que não há espaço nem para a amizade, nem para o amor. Trata-se de um romance admirável, não só pela caracterização da personagem, mas também pelo tratamento dado à problemática da “coisificação” dos indivíduos.
 Angústia
 “Angústia”, é a história de uma só personagem, que vive a remoer a sua angústia por ter cometido um crime passional.

Vidas Secas
O livro “Vidas Secas”  mantém uma estrutura descontinua não-linear, como que reafirmando o isolamento, a instabilidade da família de retirantes. Fabiano, Sinhá Vitória, o menino mais velho, o menino mais novo e a cachorra Baleia.
 Formado por treze capítulos que sem nexo lógico, o enredo de “Vidas Secas” organiza-se principalmente pela proximidade, pelo primeiro: Mudanças – a chegada da família de retirantes a uma velha fazenda abandonada arruinada – e o último, Fuga – a saída da família, que diante de um novo período de seca, foge para o sul.Além da tortura gerada pela lembrança do passado e pelo medo do futuro, o romancefocaoutras faces da opressão que se exerce sobre os membros da família.
A questão central do romance não está nos acontecimentos, mas nas criaturas que o povoam nas gravuras de madeira. O narrador vai revelando a sua humanidade embotada, confundida com a paisagem áspera do sertão, neste romance transcende o regionalismo e seu contexto específico – a seca do Nordeste, a opressão dos pobres, a condição animalesca em que vivem e para esculpir o ser humano e universal.

Memórias Do Cárcere: I – Viagens
 Entre suas obras auto-biográficas, destaca-se “Memórias do Cárcere” (1953), depoimento sobre as condições dramáticas de sua prisão durante o governo do ditador Getúlio Vargas. Num dos seus outros livros autobiográficos "Infância"refere-se assim a seus pais: "Um homem sério, de testa larga (...), dentes fortes, queixo rijo, fala tremenda; uma senhora enfezada, agressiva, ranzinza (...), olhos maus que em momentos de cólera se inflamavam com um brilho de loucura"

Memórias Do Cárcere: II – Pavilhão dos Primários
 O crítico António Cândido divide a obra de Graciliano em três categorias: 
a) Romances narrados em primeira pessoa (“Caetés”“São Bernardo” e “Angústia”), nos quais se evidencia a pesquisa progressiva da alma humana, ao lado do retrato e da análise social.
·b) Romance narrado em terceira pessoa (“Vidas Secas”), no qual se enfocam os modos de ser e as condições de existência, segundo uma visão distanciada da realidade.
c) Autobiografias (“Infância” e “Memórias do Cárcere”), em que o autor se coloca como problema e como caso humano; nelas transparece uma irresistível necessidade de depor.  
Numa análise final este crítico afirma:

"(...) no âmago da sua arte, há um desejo intenso de testemunhar sobre o homem, é que tanto os personagens criados quanto, em seguida, ele próprio, são projecções deste impulso fundamental, que constitui a unidade profunda dos seus livros."
Graciliano Ramos é autor de enredos que envolvem a seca, o latifúndio, o drama dos retirantes, a caatinga, a cidade. Seus personagens são seres oprimidos, moldados pelo meio - Luís da Silva, pela cidade; Paulo Honório e Fabiano, pelo sertão.
E, dentro das estruturas vigentes, não há nada a fazer a não ser aceitar a força do "inevitável". DaíRolando Morel Pinto, em brilhante tese sobre o autor, afirmar que as construções de Graciliano Ramos acabam sempre em palavras de sentido negativo e, principalmente, na palavra inútil:
"Parece que, dentro da posição pessimista e negativista do autor, segundo a qual as pessoas nunca fazem o que desejam, mas o que as circunstâncias impõem, gestos, intenções, desejos e esforços, tudo se torna inútil."
"A única saída seria mudar as estruturas e o sistema que geram Paulo Honório e sua ambição, o burguês Julião Tavares e os prepotentes soldados amarelos, estes últimos símbolo da ditadura de Vargas. "
   Do ponto de vista formal, Graciliano Ramos talvez seja o escritor brasileiro de linguagem mais sintética. Em seus textos enxutos, a concisão atinge seu clímax: não há uma palavra a mais ou a menos. Trabalha a narração com a mesma mestria, tanto em primeira como em terceira pessoa.

Memórias Do Cárcere: III – Colónia Correcional
Finalmente, vamos tentar uma abordagem dos livros de Graciliano Ramos na perspectiva do bibliófilo, ou seja, pela sua procura, como autor de colecção, e raridade  das suas obras, pois quanto às suas características literárias já se deu alguma noticia.
 No que concerne às edições de Graciliano Ramos, apenas as primeiras edições de cada obra dele atingem cifras altas e mesmo alguma outra edição com características extrínsecas distintas.
Isto deve-se ao facto de ele ainda ser um autor muito lido no Brasil. Os seus livros fazem parte, há anos. de bibliografias de concursos de ingressos nas universidades e ainda fazem parte de currículos de várias disciplinas. Razão pela qual as edições se têm multiplicado ao longo dos anos.

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Graça antes do mito.
Autor que considerava sua escrita medíocre, ainda que “mais ou menos aceitável”, Graciliano Ramos sempre foi seu maior crítico
Qualquer tentativa de definir o estilo literário de Graciliano Ramos (1892-1953) pode passar longe do alvo. Reconhecido como um dos luminares do modernismo, a rigor o autor de obras-primas da literatura brasileira como São Bernardo, Angústia e Vidas Secas não caberia na representação de nenhum movimento específico, muito menos em designações reducionistas. Ainda assim, foi tomado diversas vezes como autor regionalista, classificação tão imprecisa quanto injusta, uma vez que o escritor, jornalista e político alagoano legou para a posteridade uma obra original e influente, cuja perenidade dos temas associados ao universo nordestino se processa numa abordagem absolutamente inédita, que parte do âmbito local para significações mais amplas, tendo em vista questões voltadas recorrentemente para aspectos universais da condição humana, sempre descritos em linguagem mordaz, crua e concisa.
“Esse homem seco e difícil, seco de carnes, econômico em sua literatura da qual eliminou qualquer gordura, cuja amizade era moeda de câmbio alto, reservada para alguns, que começou a escrever já maduro (aos quarenta e poucos anos de idade) e que morreu cedo, em plena força criadora. Esse Graciliano Ramos […] foi um dos homens mais doces e ternos que conheci, um dos mais fiéis amigos. A lealdade era sua virtude fundamental”, escreveu o romancista Jorge Amado no prefácio de uma edição portuguesa de Vidas Secas.
Avesso à autopromoção e bastante crítico em relação à própria obra, Graciliano provavelmente não aceitaria de bom grado a enxurrada de celebrações dedicadas a ele este ano, por conta dos 120 anos de seu nascimento, completados ontem. Além, claro, da recente divulgação de seu nome como homenageado da próxima edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), em 2013. A efeméride é coroada ainda pelo relançamento, em edição ampliada, da biografia O Velho Graça, de Dênis de Moraes, e pela publicação de Garranchos, antologia de textos inéditos organizada pelo pesquisador paulista Thiago Mio Salla.
TRAJETÓRIA
Primeiro dos 16 filhos do comerciante Sebastião Ramos de Oliveira e de Maria Amélia Ramos, Graciliano nasceu no município de Quebrangulo, no dia 27 de outubro de 1892. Dois anos após seu nascimento, a família do futuro escritor deixou a pequena cidade do agreste alagoano para morar na Fazenda Pintadinho, em Buíque, no sertão de Pernambuco. De volta a Alagoas, em meados de 1904 o jovem Graciliano Ramos passa a residir na cidade de Viçosa, onde com apenas 12 anos começa a escrever para periódicos locais de tiragem e circulação restritas. Em agosto de 1914, aos 22 anos, embarca para o Rio de Janeiro, onde vai trabalhar como revisor dos jornais cariocas Correio da Manhã e A Tarde. Regressa a Alagoas e, usando diversos pseudônimos, colabora como cronista do jornal O Índio, no município de Palmeira dos Índios. Consta ainda que o escritor só passou a assinar com o nome com o qual ficou conhecido em meados da década de 1930.
Antes de tornar-se efetivamente um romancista de renome, Graciliano assumiu o cargo de prefeito de Palmeira dos Índios (1928-1930). Seu famoso relatório de prestação de contas, enviado ao então governador Álvaro Pereira Paes, chamou a atenção do editor Augusto Schmidt, que publicou seu primeiro romance, Caetés (1933). Seu segundo livro, São Bernardo, foi lançado em 1934. Perseguido pela ditadura de Getúlio Vargas, Graciliano Ramos foi preso em 1936, acusado de suposto envolvimento com o comunismo. Permaneceu encarcerado por dez meses, mesmo sem nenhuma acusação formal contra ele.
Libertado, decide se estabelecer definitivamente no Rio de Janeiro, passando a escrever crônicas, contos e artigos para jornais e revistas, e lança mais alguns livros, a exemplo do infantil A Terra dos Meninos Pelados, Vidas Secas e Memórias do Cárcere. Em 1945, filia-se ao Partido Comunista Brasileiro, convidado por Luiz Carlos Prestes, a quem dedicou uma crônica despindo-o da imagem do mito, retratando o líder comunista como uma figura de carne e osso. Todas essas facetas e as mais diversas fases da vida e da obra de Graciliano Ramos estão presentes em Garranchos, antologia que reúne 81 textos inéditos escritos entre os anos de 1910 e 1952. Além de crônicas, críticas e discursos, o pesquisador Thiago Mio Salla também encontrou verdadeiras pepitas, entre elas o conto O Ladrão, de 1915, e o primeiro ato de uma peça nunca concluída, Ideias Novas.
Garimpados com esmero e agrupados em ordem cronológica, os textos que compõem a coletânea permitem ao leitor acompanhar diferentes nuances da trajetória intelectual de Graciliano e as questões políticas em que ele esteve envolvido. Entre os escritos compilados, pelo menos cinco jamais haviam sido publicados em livro – o já mencionado conto O Ladrão e os ensaios A Literatura de 30, Jorge Amado, O Negro no Brasil e Revolução Russa. A atuação de Graciliano no Partido Comunista também aparece em uma série de textos, bem como crônicas altamente satíricas e dotadas da mais fina ironia.
Na entrevista elucidativa que você confere nesta edição, o organizador de Garranchos admite à Gazeta que Graciliano Ramos, tão crítico em relação a tudo que escrevia, talvez não gostasse de ver alguns desses textos publicados, ainda que ressalte o valor histórico do material. “Possivelmente ele não gostasse de alguns dos textos. Mas justamente os estudiosos de Graciliano, e quem se interessa por cultura brasileira da primeira metade do século 20, esses podem gostar bastante do material reunido”.

. Graça antes do mito - Graciliano Ramos

graciliano.com.br/site/2012/10/graca-antes-do-mito/


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Leia Mais
 O ROMANCE DE 30
  
  Na Segunda Fase do Modernismo Brasileiro, a prosa assumiu uma importância bem mais significativa do que a poesia, tanto pelo momento político vivido, quanto pelas obras produzidas pelos escritores do momento.
  Em 1926, ocorre um congresso em Recife e nele se encontram escritores do Nordeste; estes se dispõem, aos poucos, a fazer uma prosa regional consistente e participativa. É dessas primeiras manifestações que surgirá um dos momentos mais autênticos da literatura brasileira, o Romance de 30.
   O romance de 30, teve como marco inicial a publicação do romance “A Bagaceira” (1928), do escritor José Américo de Almeida. Para tanto, os escritores dessa geração estavam preocupados em denunciar as desigualdades e injustiças sociais no país, sobretudo na região do Nordeste, criando uma literatura ficcional crítica e revolucionária cujo tema era a vida rural, agrária.
    A data de 1930 é marcante porque consolida a renovação do gênero romance no Brasil, ou seja, traz novos rumos à prosa. Depois de tanta arruaça intelectual dos primeiros modernistas no Sudeste do país, procura-se atingir equilíbrio e estabilidade, que, aos poucos, vai aparecendo em obras e mais obras: O quinze, de Rachel de Queiroz(1930); O país do Carnaval, de Jorge Amado (1931); Menino de engenho, de José Lins do Rego (1932); São Bernardo, de Graciliano Ramos (1934); e Capitães da areia, de Jorge Amado (1937).
    Esta nova literatura em prosa será antifascista e anticapitalista, extremamente vigorosa e crítica. Os livros didáticos a chamam com vários nomes: "Romance de 30" (porque é o início cronológico da nova literatura); romance neo-realista(porque essas obras conseguiram renovar e modernizar o realismo/naturalismo do século 19, enriquecendo-o com preocupações psicológicas e sociais) ou romance regionalista moderno (porque escapa das metrópoles e vai ao Brasil regional, preso ainda a antinomias dos séculos    anteriores).
      Lembremos, inclusive, que algumas obras sociológicas fundamentais surgem nessa mesma época: Casa-grande & senzala, de Gilberto Freyre, é de 1933, e Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Hollanda, de 1936.
     De todos os nomes para essa época, o melhor parece ser o do título deste artigo. Por quê? Porque os romances de Rachel de Queiroz, Jorge Amado, José Lins do Rego, Érico Verissimo, Graciliano Ramos e outros escritores criaram um estilo novo, completamente moderno, totalmente liberto da linguagem tradicional, nos quais puderam incorporar a real linguagem regional, as gírias locais.
     Os romances dessa época procuravam refletir o drama vivido pelos trabalhadores nos chamados “ciclos econômicos” das épocas e das regiões. Há os que retratam o ciclo da cana-de–açúcar (José Lins do Rego), ciclo do cacau (Jorge Amado), ciclo da seca(Graciliano Ramos), Rachel de Queiroz)...

A consciência crítica
     No  romance de 30, as personagens são integrantes de estruturas sociais perfeitamente identificáveis;  assim, tais estruturas serão aceitas ou  as personagens lutarão  para transformá-las. No  romance do  século 19, era preciso  interpretar o  texto para reconhecer os padrões culturais e sociais abordados;  no  romance de 30, eles estão abordados explicitamente.  Em Capitães da Areia, publicado  por  Jorge Amado em 1937, encontramos uma narrativa de denúncia social: são  abordadas questões como a diferença de classe, injustiças sociais, miséria, o  sincretismo  religioso e o problema grave dos meninos  de rua  em  Salvador.
    Mais do que tudo, através dessa "fala", consolidaram em suas obras questões sociais bastante graves: a desigualdade social, a vida cruel dos retirantes, os resquícios de escravidão, o coronelismo, apoiado na posse das terras - todos problemas sociopolíticos que se sobreporiam ao lado pitoresco das várias regiões retratadas.
   Leia, por exemplo, um trecho de Vidas secas, de Graciliano Ramos:

     Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos

[...]

    Arrastaram-se para lá, devagar, Sinhá Vitória com o filho mais novo escanhacado no quarto e o baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada numa correia presa ao cinturão, a espingarda de pederneira no ombro. O menino mais velho e a cachorra Baleia iam atrás.


    Perceba a força narrativa com que o narrador descreve a cena cruel, de retirantes exaustos sob o sol, a família silenciosa e triste, com a qual ele se solidariza ("os infelizes"); ele e nós, os leitores. A lentidão proposital da narrativa é a superação difícil do caminho sob o sol (para onde vai quem não tem terras?) e a secura descritiva reproduz o silêncio dos que estão exaustos. Essa é a seca vida do herói - agora um anti-herói -, humilhado e vencido pelo meio hostil.
      Esses romances foram fundamentais para o amadurecimento da consciência crítica e social do leitor brasileiro. Com eles, encontramos formas de compreensão do homem em várias faixas da sociedade brasileira e do determinismo que o persegue em situações adversas. É injusto pensarmos que esses romances mostraram apenas as "mulatas gabrielas" para o mundo exterior. As formas de narrar o cotidiano ficaram mais complexas e tensas.
      Leia mais um trecho de Graciliano Ramos, não da história de Fabiano, mas da de Paulo Honório, que foi guia de cego e trabalhador de enxada, mas conseguiu conquistar, com violência e determinação, além da fazenda de São Bernardo, respeito, dinheiro e prestígio: virou um coronel. Teria sido um Fabiano que deu certo? Parece que não:

Cinquenta anos perdidos, cinquenta anos gastos sem objetivo, a maltratar-me e a maltratar os outros. O resultado é que endureci, calejei
[...]

Creio que nem sempre fui egoísta e brutal. A profissão é que me deu qualidades tão ruins.

[...]

Não consigo modificar-me, é o que aflige.
[...]

A culpa foi minha, ou antes, a culpa foi desta vida agreste que me deu uma alma agreste.


     A adesão ao socialismo impôs aos escritores da época, às vezes de forma radical, fórmulas de compreensão do homem em sociedade. Os romancistas, imbuídos do sentimento de missão política, queriam mostrar as tensões que transformavam ou destruíam os homens - aliás, um tema universal e sempre vivo na literatura.
     Mas o fato é que sem os modernistas de 1922 (1ª geração), dificilmente os modernistas de 1930 (2ª geração) teriam conseguido o feito literário e social que obtiveram, porque aqueles foram os primeiros que provocaram a atualização da "inteligência" brasileira, foram eles que trouxeram para a literatura o fato não-literário e a oralidade, que tanto beneficiou o realismo seco dos escritores regionalistas, dando-lhes maior autenticidade.
      Por outro lado, mesmo com os romances mais pitorescos e menos brutais, os leitores aprenderam, como nos ensina Alfredo Bosi (História concisa da literatura brasileira), que o velho mundo dos homens poderosos não acaba tão facilmente: as estruturas das oligarquias regionais se mantêm através do poder e da força, e é contra eles que se tem de lutar. Como nos conta Jorge Amado, ao final de Capitães da areia:

       No ano em que todas as bocas foram impedidas de falar, no ano que foi todo ele uma noite de terror, esses jornais (únicas bocas que ainda falavam) clamavam pela liberdade de Pedro Bala, líder da sua classe, que se encontrava preso numa colônia.

[...] E no dia em que ele fugiu..., em inúmeros lares, na hora pobre do jantar, rostos se iluminaram ao saber da notícia. [...] Qualquer daqueles lares se abriria para Pedro Bala, fugitivo da polícia. Porque a revolução é uma pátria e uma família.


Características
     Veja abaixo as principais caraterísticas do Romance de 30:
·         Regionalismo romântico
·         Romance social
·         Diversidade cultural brasileira
·         Retomada do romantismo e do realismo
·         Perspectiva determinista
·         Narrativa linear
 Autores e Obras
     Segue abaixo alguns autores que fizeram parte da segunda fase modernista e exploraram temas como a miséria, desigualdade social e econômica, além das dores e sofrimentos humanos:
·         José Américo de Almeida (1887-1980): escritor, professor, político e sociólogo paraibano, foi quem introduziu o romance regionalista no Brasil, com a publicação de “A Bagaceira” (1928), romance que aborda o tema da seca de 1898 e da fuga dos retirantes nordestinos.
·         Rachel de Queiroz (1910-2003): escritora, jornalista, dramaturga e militante política cearense foi uma das mais proeminentes artistas do momento, com sua ficção social nordestina retratada na obra “O Quinze” (1930). O título faz referência ao ano em que a seca assolou o Nordeste: 1915.
·         Graciliano Ramos (1892-1953): escritor, jornalista e político alagoano. Sem dúvida sua obra mais emblemática do período é “Vidas Secas” (1938) donde autor aborda o tema da seca que assola o Nordeste e a vida de uma família de retirantes que foge do sertão e da miséria.
·         José Lins do Rego (1901-1957): escritor paraibano, explorou temas regionalistas apontando aspectos, políticos, sociais e econômicos do país. Sua obra mais emblemática do período é intitulada “Menino de Engenho” (1932), donde denuncia a realidade social ao mesmo tempo que apresenta a decadência do ciclo de açúcar nos engenhos nordestinos.
·         Jorge Amado (1912-2001): escritor baiano considerado um dos maiores nomes da literatura regionalista brasileira do século XX. Em suas obras explorou a diversidade étnica e social brasileira, da qual se destaca “Capitães de Areia” (1937), romance urbano ambientado na cidade de Salvador na década de 30, cujos protagonistas formavam um grupo de menores abandonados chamados de “Capitães da Areia”.

    Fonte: Vários sites da internet.










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