1. GRACILIANO RAMOS
|
Graciliano
Ramos nasceu em Quebrângulo (AL), em 1892, e faleceu no Rio de Janeiro, em
1953. Viveu durante muito tempo nos sertões do Nordeste, que conheceu
profundamente, tendo sido prefeito da cidade alagoana de Palmeira dos Índios.
Data desse período sua estreia na literatura, com o romance Caetés (1933), e a amizade com
escritores da vanguarda nordestina: Rachel de Queiroz, José Lins do Rego e
Jorge Amado. Em março de 1936, foi preso como comunista, passando por
diversos presídios e submetido a todo o tipo de humilhações. Sem provas
formais de acusação, foi libertado em janeiro do ano seguinte. Dessa dolorosa
fase de sua vida resultou Memórias do
Cárcere, um impressionante depoimento sobre a realidade brasileira
relacionada com o comunismo e sobre o sofrimento dos prisioneiros
políticos.
Graciliano
Ramos é considerado um dos maiores romancistas modernos e seus romances tidos
como romances de tensão crítica, isto é, o herói opõe-se e resiste ao meio
natural e ao social, meios que o ferem e marcam de modo irreversível.
Seus
romances têm como temas: a seca do Nordeste, o cangaço, a morte, o trágico,
as injustiças sociais, o misticismo, os códigos primitivos de honra, a
constante luta pela sobrevivência.
Antonio
Candido classifica a obra de Graciliano Ramos em:
• romances
em primeira pessoa: Caetés, São
Bernardo e Angústia.
• romance
em terceira pessoa: Vidas Secas
- considerada a grande obra do romance modernista brasileiro, retrata as
subfiguras humanas, vítimas do fatalismo irredutível da região nordestina das
secas.
• romances
autobiográficos: Infância e Memórias do Cárcere.
Outras
obras: Viventes
das Alagoas, Alexandre e outros heróis, Linhas Tortas, Insônia.
. VIDAS SECAS: Enfoca o problema da
divisão agrária.Apresenta a trajetória de Fabiano, Sinhá Vitória, os dois
filhos do casal e a cachorra Baleia. Fabiano é um camponês sem terra, para
quem a seca apenas intensifica a miséria permanente. Seu drama está vinculado
à divisão injusta da terra. É um romance formado por capítulos independentes,
mas que constituem um todo.
|
Graciliano Ramos e a Segunda Geração do Modernismo
Já em seu romance de estréia, Caetés, de 1933, percebem-se
as duas diretrizes principais da obra de Ramos: a preocupação social e a
angústia existencial. Com São Bernardo, não é diferente. Nesta
obra, há um aprofundamento dessas duas vertentes. O trabalho artístico,
entretanto, alcança aqui um nível mais elaborado, o que levou vários críticos a
classificarem o romance em questão como uma obra à parte na literatura, na
medida em que neste livro encontra-se um grau de estranheza que o torna quase
ímpar na literatura brasileira.
A Primeira Geração do Modernismo Brasileiro [1922-1930] renovou os
mecanismos de expressão de nossa literatura. Graciliano Ramos, que começa a
publicar na década de 1930 – estando, portanto, ligado ao segundo momento do
modernismo –, não comunga de tal “renovação”.
Pode-se dizer que sua narrativa é bastante tradicional, na medida em que
nela não se notam rupturas verbais, tampouco malabarismos lingüísticos. Sua
obra se preocupa mais com a denúncia de situações de opressão vivenciadas pelo
homem nordestino.
O romance praticado pelos escritores da Segunda Geração do Modernismo
Brasileiro apresenta duas grandes vertentes – uma social e outra psicológica.
Tradicionalmente, os manuais de literatura classificam a obra de Graciliano
como “social” [ou regional, ou nordestina]. São Bernardo apresenta
todos os elementos do dito romance regional [social], mas também desenvolve
magistralmente o que se convencionou chamar de “tensão interiorizada” [ou
romance psicológico].
Outra classificação utilizada para a obra de Graciliano é a de
“neo-realista”. Esse termo pode ser utilizado sem prejuízo algum porque ela
retoma procedimentos bastante utilizados pelo realismo-naturalismo, tais como a
denúncia social, a análise psicológica e uma forte tendência à objetividade.
manoelneves.com › ... › Modernismo: 2ª. geração › Graciliano Ramos
Graciliano Ramos – Características da Obra: aspectos bibliográficos e
bibliófilos
Graciliano
Ramos foi um escritor extremamente cuidadoso, quanto à forma de seus livros.
Rescrevia os seus livros sem cessar, procurando retirar deles tudo àquilo que
considerasse excesso. De estilo delicado Graciliano sempre foi considerado como
exemplo de elegância e de elaboração.O estilo formal de escrita e a caracterização do eu
em constante conflito (até mesmo violento) com o mundo, a opressão e a dor são
as marcas das suas obras
De maneira geral, os seus romances caracterizam-se
pelo inter-relacionamento entre as condições sociais e a psicologia das
personagens; ao que se soma uma linguagem precisa , “enxuta” e despojada, de
períodos curtos mas de grande força expressiva.
Cahetes
O seu romance de estreia, “Caetés” (1933), gira em torno de um caso de
adultério ocorrido numa pequena cidade do interior nordestino e não está à
altura das obras subsequentes.
S.
Bernardo
“São Bernardo” (1934),
uma de suas obras-primas, narra a ascensão de Paulo Honório, rico proprietário
da fazenda São Bernardo. Com o objectivo de ter um herdeiro Paulo Honório
casa-se com Madalena, uma professora de ideias progressistas. Incapaz de
entender a forma humanitária pela qual a mulher vê o mundo, ele tenta anulá-la
com seu autoritarismo. O ciúme e a incompreensão de Paulo Honório levam-na ao
suicídio. Com este personagem, Graciliano Ramos traça o perfil da vida e do carácter
de um homem rude e egoísta, do jogo de poder e do vazio da solidão, em que não
há espaço nem para a amizade, nem para o amor. Trata-se de um romance
admirável, não só pela caracterização da personagem, mas também pelo tratamento
dado à problemática da “coisificação” dos indivíduos.
Angústia
“Angústia”, é a
história de uma só personagem, que vive a remoer a sua angústia por ter
cometido um crime passional.
Vidas Secas
O livro “Vidas Secas” mantém uma estrutura descontinua
não-linear, como que reafirmando o isolamento, a instabilidade da família de
retirantes. Fabiano, Sinhá Vitória, o menino mais velho, o menino mais novo e a
cachorra Baleia.
Formado por treze capítulos que sem nexo lógico, o
enredo de “Vidas Secas” organiza-se
principalmente pela proximidade, pelo primeiro: Mudanças – a chegada da família
de retirantes a uma velha fazenda abandonada arruinada – e o último, Fuga – a
saída da família, que diante de um novo período de seca, foge para o sul.Além da
tortura gerada pela lembrança do passado e pelo medo do futuro, o romancefocaoutras faces da opressão que se exerce sobre os membros da família.
A questão
central do romance não está nos acontecimentos, mas nas criaturas que o povoam
nas gravuras de madeira. O narrador vai revelando a sua humanidade embotada,
confundida com a paisagem áspera do sertão, neste romance transcende o
regionalismo e seu contexto específico – a seca do Nordeste, a opressão dos
pobres, a condição animalesca em que vivem e para esculpir o ser humano e universal.
Memórias
Do Cárcere: I – Viagens
Entre
suas obras auto-biográficas, destaca-se “Memórias
do Cárcere” (1953), depoimento sobre as condições dramáticas de sua
prisão durante o governo do ditador Getúlio Vargas. Num dos seus outros livros autobiográficos "Infância", refere-se
assim a seus pais: "Um homem sério, de
testa larga (...), dentes fortes, queixo rijo, fala tremenda; uma senhora
enfezada, agressiva, ranzinza (...), olhos maus que em momentos de cólera se
inflamavam com um brilho de loucura".
Memórias Do Cárcere: II – Pavilhão dos Primários
O crítico António
Cândido divide a obra de Graciliano em três categorias:
a) Romances narrados em primeira pessoa (“Caetés”, “São Bernardo” e “Angústia”), nos quais se evidencia a pesquisa progressiva da
alma humana, ao lado do retrato e da análise social.
·b) Romance narrado em terceira pessoa (“Vidas Secas”), no qual se enfocam os modos de ser
e as condições de existência, segundo uma visão distanciada da realidade.
c) Autobiografias (“Infância” e “Memórias do Cárcere”), em que o autor se coloca
como problema e como caso humano; nelas transparece uma irresistível
necessidade de depor.
Numa
análise final este crítico afirma:
"(...)
no âmago da sua arte, há um desejo intenso de testemunhar sobre o homem, é que
tanto os personagens criados quanto, em seguida, ele próprio, são projecções
deste impulso fundamental, que constitui a unidade profunda dos seus
livros."
Graciliano
Ramos é autor de enredos que envolvem a seca, o latifúndio, o drama dos
retirantes, a caatinga, a cidade. Seus personagens são seres oprimidos,
moldados pelo meio - Luís da Silva, pela cidade; Paulo Honório e Fabiano, pelo
sertão.
E, dentro
das estruturas vigentes, não há nada a fazer a não ser aceitar a força do
"inevitável". DaíRolando Morel Pinto, em brilhante tese
sobre o autor, afirmar que as construções de Graciliano Ramos acabam sempre em
palavras de sentido negativo e, principalmente, na palavra inútil:
"Parece
que, dentro da posição pessimista e negativista do autor, segundo a qual as
pessoas nunca fazem o que desejam, mas o que as circunstâncias impõem, gestos,
intenções, desejos e esforços, tudo se torna inútil."
"A única saída seria mudar as estruturas e o
sistema que geram Paulo Honório e sua ambição, o burguês Julião Tavares e os
prepotentes soldados amarelos, estes últimos símbolo da ditadura de
Vargas. "
Do ponto
de vista formal, Graciliano Ramos talvez seja o escritor brasileiro de
linguagem mais sintética. Em seus textos enxutos, a concisão atinge seu clímax:
não há uma palavra a mais ou a menos. Trabalha a narração com a mesma mestria,
tanto em primeira como em terceira pessoa.
Memórias Do Cárcere: III – Colónia Correcional
Finalmente,
vamos tentar uma abordagem dos livros de Graciliano Ramos na perspectiva do
bibliófilo, ou seja, pela sua procura, como autor de colecção, e raridade das suas obras, pois quanto às suas
características literárias já se deu alguma noticia.
No que
concerne às edições de Graciliano Ramos, apenas as primeiras edições de cada
obra dele atingem cifras altas e mesmo alguma outra edição com características
extrínsecas distintas.
Isto
deve-se ao facto de ele ainda ser um autor muito lido no Brasil. Os seus livros
fazem parte, há anos. de bibliografias de concursos de ingressos nas
universidades e ainda fazem parte de currículos de várias disciplinas. Razão
pela qual as edições se têm multiplicado ao longo dos anos.
tertuliabibliofila.blogspot.com/.../graciliano-ramos-caracteristicas-da.html
Graça antes do
mito.
Autor que considerava sua escrita
medíocre, ainda que “mais ou menos aceitável”, Graciliano Ramos sempre foi seu
maior crítico
Qualquer tentativa de definir o estilo literário de Graciliano Ramos
(1892-1953) pode passar longe do alvo. Reconhecido como um dos luminares do
modernismo, a rigor o autor de obras-primas da literatura brasileira como São
Bernardo, Angústia e Vidas Secas não caberia na representação de nenhum
movimento específico, muito menos em designações reducionistas. Ainda assim,
foi tomado diversas vezes como autor regionalista, classificação tão imprecisa
quanto injusta, uma vez que o escritor, jornalista e político alagoano legou
para a posteridade uma obra original e influente, cuja perenidade dos temas
associados ao universo nordestino se processa numa abordagem absolutamente
inédita, que parte do âmbito local para significações mais amplas, tendo em
vista questões voltadas recorrentemente para aspectos universais da condição
humana, sempre descritos em linguagem mordaz, crua e concisa.
“Esse homem seco e difícil, seco de carnes, econômico em sua literatura
da qual eliminou qualquer gordura, cuja amizade era moeda de câmbio alto,
reservada para alguns, que começou a escrever já maduro (aos quarenta e poucos
anos de idade) e que morreu cedo, em plena força criadora. Esse Graciliano
Ramos […] foi um dos homens mais doces e ternos que conheci, um dos mais fiéis
amigos. A lealdade era sua virtude fundamental”, escreveu o romancista Jorge
Amado no prefácio de uma edição portuguesa de Vidas Secas.
Avesso à autopromoção e bastante crítico em relação à própria obra,
Graciliano provavelmente não aceitaria de bom grado a enxurrada de celebrações
dedicadas a ele este ano, por conta dos 120 anos de seu nascimento, completados
ontem. Além, claro, da recente divulgação de seu nome como homenageado da
próxima edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), em 2013. A
efeméride é coroada ainda pelo relançamento, em edição ampliada, da biografia O
Velho Graça, de Dênis de Moraes, e pela publicação de Garranchos, antologia de
textos inéditos organizada pelo pesquisador paulista Thiago Mio Salla.
TRAJETÓRIA
Primeiro dos 16 filhos do comerciante Sebastião Ramos de Oliveira e de
Maria Amélia Ramos, Graciliano nasceu no município de Quebrangulo, no dia 27 de
outubro de 1892. Dois anos após seu nascimento, a família do futuro escritor
deixou a pequena cidade do agreste alagoano para morar na Fazenda Pintadinho,
em Buíque, no sertão de Pernambuco. De volta a Alagoas, em meados de 1904 o
jovem Graciliano Ramos passa a residir na cidade de Viçosa, onde com apenas 12
anos começa a escrever para periódicos locais de tiragem e circulação
restritas. Em agosto de 1914, aos 22 anos, embarca para o Rio de Janeiro, onde
vai trabalhar como revisor dos jornais cariocas Correio da Manhã e A Tarde.
Regressa a Alagoas e, usando diversos pseudônimos, colabora como cronista do
jornal O Índio, no município de Palmeira dos Índios. Consta ainda que o
escritor só passou a assinar com o nome com o qual ficou conhecido em meados da
década de 1930.
Antes de tornar-se efetivamente um romancista de renome, Graciliano
assumiu o cargo de prefeito de Palmeira dos Índios (1928-1930). Seu famoso
relatório de prestação de contas, enviado ao então governador Álvaro Pereira
Paes, chamou a atenção do editor Augusto Schmidt, que publicou seu primeiro
romance, Caetés (1933). Seu segundo livro, São Bernardo, foi lançado em 1934.
Perseguido pela ditadura de Getúlio Vargas, Graciliano Ramos foi preso em 1936,
acusado de suposto envolvimento com o comunismo. Permaneceu encarcerado por dez
meses, mesmo sem nenhuma acusação formal contra ele.
Libertado, decide se estabelecer definitivamente no Rio de Janeiro,
passando a escrever crônicas, contos e artigos para jornais e revistas, e lança
mais alguns livros, a exemplo do infantil A Terra dos Meninos Pelados, Vidas
Secas e Memórias do Cárcere. Em 1945, filia-se ao Partido Comunista Brasileiro,
convidado por Luiz Carlos Prestes, a quem dedicou uma crônica despindo-o da
imagem do mito, retratando o líder comunista como uma figura de carne e osso.
Todas essas facetas e as mais diversas fases da vida e da obra de Graciliano
Ramos estão presentes em Garranchos, antologia que reúne 81 textos inéditos
escritos entre os anos de 1910 e 1952. Além de crônicas, críticas e discursos,
o pesquisador Thiago Mio Salla também encontrou verdadeiras pepitas, entre elas
o conto O Ladrão, de 1915, e o primeiro ato de uma peça nunca concluída, Ideias
Novas.
Garimpados com esmero e agrupados em ordem cronológica, os textos que
compõem a coletânea permitem ao leitor acompanhar diferentes nuances da
trajetória intelectual de Graciliano e as questões políticas em que ele esteve
envolvido. Entre os escritos compilados, pelo menos cinco jamais haviam sido
publicados em livro – o já mencionado conto O Ladrão e os ensaios A Literatura
de 30, Jorge Amado, O Negro no Brasil e Revolução Russa. A atuação de
Graciliano no Partido Comunista também aparece em uma série de textos, bem como
crônicas altamente satíricas e dotadas da mais fina ironia.
Na entrevista elucidativa que
você confere nesta edição, o organizador de Garranchos admite à
Gazeta que Graciliano Ramos, tão crítico em relação a tudo que escrevia, talvez
não gostasse de ver alguns desses textos publicados, ainda que ressalte o valor
histórico do material. “Possivelmente ele não gostasse de alguns dos textos.
Mas justamente os estudiosos de Graciliano, e quem se interessa por cultura
brasileira da primeira metade do século 20, esses podem gostar bastante do
material reunido”.
0 comentários
Postar um comentário