Características:
- Narrativa de modo fragmentado, mistura, de presente e passado;
- Atmosfera abstrata, fantástica e mitológica;
- Microvisão do mundo real ou imaginário do narrador.

1.RUBEM  FONSECA

José Rubem Fonseca (Juiz de Fora11 de maio de 1925) é um contistaromancistaensaísta e roteirista brasileiro. Ele precisou publicar dois ou três livros para ser consagrado como um dos mais originais prosadores brasileiros contemporâneos. Com suas narrativas velozes e sofisticadamente cosmopolitas, cheias de violência, erotismo, irreverência e construídas em estilo contido, elíptico, cinematográfico, reinventou entre nós uma literatura noir, ao mesmo tempo clássica e pop, brutalista e sutil.
    É formado em Direito, tendo exercido várias atividades antes de dedicar-se inteiramente à literatura. Em 2003, venceu o Prémio Camões[1], o mais prestigiado galardão literário para a língua portuguesa.
Biografia
    Rubem Fonseca nasceu em Juiz de ForaMinas Gerais, em 1925. É filho de portugueses transmontanos, emigrados para o Brasil. Reside desde a infância no Rio de Janeiro.
    Graduou-se em Ciências Jurídicas e Sociais na Faculdade Nacional de Direito da então Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).Em 31 de dezembro de 1952 iniciou sua carreira na polícia, como comissário, no 16º Distrito Policial, em São Cristóvão, no Rio de Janeiro. Muitos dos fatos vividos naquela época e dos seus companheiros de trabalho estão imortalizados em seus livros.    
   Aluno brilhante da Escola de Polícia, não demonstrava, então, pendores literários. Ficou pouco tempo nas ruas. Foi, na maior parte do tempo em que trabalhou, até ser exonerado em 6 de fevereiro de 1958, um policial de gabinete. Cuidava do serviço de relações públicas da polícia.
   Na Escola de Polícia destacou-se em Psicologia. Em julho de 1954 recebeu uma licença para estudar e depois dar aulas desta disciplina na Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro.
   Contemporâneos de Rubem Fonseca dizem que, naquela época, os policiais eram mais juízes de paz, apartadores de briga, do que autoridades. Rubem Fonseca via, debaixo das definições legais, as tragédias humanas e conseguia resolvê-las. Nesse aspecto, afirmam[, ele era admirável. Escolhido, com mais nove policiais cariocas, para se aperfeiçoar nos Estados Unidos, entre setembro de 1953 e março de 1954, aproveitou a oportunidade para estudar administração de empresas na New York University. Após sair da polícia, Rubem Fonseca trabalhou na Light até se dedicar integralmente à literatura.
    Reconhecidamente uma pessoa que, como Dalton Trevisan, adora o anonimato, é descrito por amigos como pessoa simples, afável e de ótimo humor.
    As obras de Rubem Fonseca geralmente retratam, em estilo seco e direto, a luxúria e a violência urbana, em um mundo onde marginais, assassinos, prostitutas, miseráveis e delegados se misturam. A história através da ficção é também uma marca de Rubem Fonseca, como nos romances Agosto (seu livro mais famoso) em que retratou as conspirações que resultaram no suicídio de Getúlio Vargas, e em O Selvagem da Ópera em que retrata a vida de Carlos Gomes, ou ainda A Cavalaria Vermelha, livro de Isaac Babel retratado em Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos.
    Criou, para protagonizar alguns de seus contos e romances, um personagem antológico: o advogado Mandrake, mulherengo, cínico e imoral, além de profundo conhecedor do submundo carioca. Mandrake foi transformado em série para a rede de televisão HBO, com roteiros de José Henrique Fonseca, filho de Rubem, e o ator Marcos Palmeira no papel-título.
    É viúvo de Théa Maud e tem três filhos: Maria Beatriz, José Alberto e o cineasta José Henrique Fonseca.
Obras
Romances
O Caso Morel (1973)
A grande arte (1983)
Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos (1988)
Agosto (1990)
E do meio do mundo prostituto só amores guardei ao meu charuto (1997)
Diário de um Fescenino (2003)
Mandrake, a Bíblia e a Bengala (2005)
O Seminarista (2009)
José (2011)
Contos
.Os prisioneiros (1963
A coleira do cão (1965)
O homem de fevereiro ou março (1973)
O cobrador (1979)
Romance negro e outras histórias (1992)
O buraco na parede (1995)
Histórias de amor (1997)
A confraria dos espadas (1998)
Secreções, excreções e desatinos (2001)
Pequenas criaturas (2002)
64 Contos de Rubem Fonseca (2004)
Ela e outras mulheres (2006)
Axilas e Outras Histórias Indecorosas (2011)
Amálgama (2013)
Histórias Curtas (2015)
Outros
O romance morreu (crônicas, 2007)
Prêmios
Coruja de Ouro pelo roteiro de Relatório de um homem casado, filme dirigido por Flávio Tambellini
Kikito do Festival de Gramado, pelo roteiro de Stelinha, dirigido por Miguel Faria Jr.
Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte pelo roteiro de A grande arte, filme dirigido por Walter Salles Jr.
1970 - Categoria "Contos/Crônicas/Novelas", pelo livro Lucia McCartney
1984 - Categoria "Romance", pelo livro A Grande Arte
2002    - Categoria "Contos/Crônicas/Novelas", pelo livro Buraco na Parede
2003- Categoria "Contos e Crônicas", pelo livro Secreções, Excreções e Desatinos
2003- Categoria "Contos e Crônicas", pelo livro Pequenas Criaturas
2014    - Categoria "Contos e Crônicas", pelo livro Amálgama
Prêmio Camôes (2003)
Correntes de Escrita (2012) - Póvoa de Varzim – Portugal
Prêmio Machado de Assis (2015) - Concedido pela Academia Brasileira de Letras pelo conjunto de sua obra

                          ALGUMAS OBRAS DE RUBEM FONSECA
Literatura policial, investigação sobre os limites do desejo, experimento narrativo. O primeiro romance de Fonseca parece um jogo de espelhos, em que os personagens se desdobram em dois, e também a história e o próprio narrador se dividem, sem que saibamos quais são os originais e quais são os reflexos.
Em sua obra mais recente, Rubem Fonseca escreveu quarenta histórias, em que trata de assuntos já recorrentes, como a velhice, a gordura e todo tipo de decadência humana, mas agora com uma ênfase especial na loucura
Aqui residem todos os elementos clássicos de Rubem: o erotismo, a violência, a velocidade narrativa e o clima noir. Uma narrativa que se desenha ao longo dos contos e, ineditamente, das poesias. Personagens e situações unidos pela tristeza, pela dor, pela raiva, pelo fracasso, pela ternura e pelo amor, um verdadeiro amálgama de vidas que se constroem e se destroem num instante.
O livro apresenta o personagem Mandrake, advogado charmoso e de prestígio, que se envolve em uma misteriosa trama no submundo carioca e no deserto boliviano ao juntar-se a um matador profissional, especialista em facas, na tentativa de desvendar o misterioso assassinato de uma prostituta.
Mais conhecido por ter sido minissérie na TV Globo. 1º de agosto de 1954, Rio de Janeiro, capital da República. No plano ficcional, o comissário ALBERTO MATTOS  investiga um assassinato ocorrido no Edifício Deauville, em que um famoso empresário foi morto no dia 12 de agosto de 1954. No plano real e histórico, destaca o Crime da Rua Toneleros, .tentativa de assassinato do jornalista Carlos Lacerda (inimigo declarado do presidente Getúlio Vargas), em que morreu seu segurança pessoal, o major da Aeronáutica Rubem - Vaz, e todo o consequente escândalo político da época. O autor entrelaça os dois planos através de personagens fictícios que se relacionam com os reais.

Um livro que mescla as aventuras de uma investigação de assassinato com as dificuldades de um escritor em desenvolver a sua arte, inclusive sendo adaptado pelo cinema nacional. O personagem principal é Ivan Canabrava, detetive da Companhia Panamericana de Se-guros. Ele investiga o caso de um fazendeiro que morreu pouco após fazer um seguro de um milhão de dólares. Bufo & Spallanzani é um romance repleto de citações de e sobre outros autores e livros, além de muitas digressões sobre a arte de escrever narrativas

Uma reunião de contos repletos de violência com uma linguagem precisa e contundente que veio a se tornar a mais significativa marca autoral do escritor. Uma dura crítica social numa obra que há quase quatro décadas se mantém atual e relevante, mostrando o motivo pelo qual Rubem Fonseca se tornou inigualável.
Terceiro livro de Rubem Fonseca. São dezenove histórias que têm o vigor das manchetes de jornais e a consagrada verve ficcional de Rubem Fonseca.
Com histórias carregadas de mistério e suspense, Rubem Fonseca dá vida a personagens enigmáticos, diferentes dos anteriores, que expressavam suas angústias com violência física, motivo pelo qual sua literatura foi chamada de “brutalista” por Alfredo Bosi. Em Romance negro e outras histórias há um fio condutor sombrio, um sentimento de desilusão e de aceitação dos fatos que percorre os contos como uma espinha dorsal.

Diário de um fescenino
Rufus, um escritor de sucesso, carioca e solteirão decide se aventurar a escrever algo que afirma que nunca publicaria: um diário em que registra suas aventuras amorosas com diversas mulheres. Diário de um fescenino, palavra que define algo de caráter obsceno e devasso, promove uma reflexão sobre as relações erótico-afetivas e também sobre o processo de criação literária.

A Coleira do Cão
As oito histórias desse volume são consideradas pela crítica o segundo degrau na construção de uma das obras literárias mais complexas e ricas de nosso tempo, que põe cada leitor diante de sua própria imagem em meio à beleza e à violência do mundo... 

 O Cobrador
 Publicado em 1979, era aguardado não apenas por ser o quinto livro de contos de Rubem Fonseca, já então considerado um dos mais importantes e inovadores escritores do gênero no Brasil. Era também o primeiro livro após Feliz ano novo, de 1975, ter sido recolhido por ordem da censura, sob a alegação de ter conteúdo contrário à "moral e aos bons costumes"... 

O Seminarista
Ex-seminarista que vive lembrando frases latinas, o matador de aluguel José gosta de ler poesia e de assistir filmes, e recebe os serviços de um personagem misterioso chamado Despachante. Disposto a iniciar uma vida nova, ele começa a receber dicas de que seria alvo de um antigo cliente... 

Os Prisioneiros
O livro marca a estreia de Rubem Fonseca como autor, em 1963. Ele foi saudado pelo crítico Wilson Martins como "um escritor que traz a literatura no sangue". Com domínio da escrita, inaugurava uma nova maneira de fazer literatura no Brasil, ao falar do homem da metrópole com seus vícios e virtudes.


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1. Assinale a alternativa correta em relação à obra A Sentinela, de Lya Luft: 
a. (  ) Pode ser caracterizada como um romance psicológico, oportunizando ao leitor uma reflexão sobre a própria vida, tentando desvendar a alma humana através das ações e dos pensamentos das personagens.
b. (  ) Caracteriza-se como uma narrativa regionalista, uma vez que a ação desencadeia-se numa fazenda, em Minas Gerais, na década de 60.
c. (  ) É uma obra autobiográfica, onde Lya Luft repassa ao leitor suas experiências en-quanto funcionária de uma fábrica de tecidos, desempenhando a função de guarda-notur-no.
d. (  ) É composta por nove contos, apresentando poucas personagens e um narrador onis-ciente.
e. (  ) O personagem-narrador João conversa com pessoas que já morreram, para espanto de Lilith, Telma e Elsa, que o observam atentamente.

2.Considere as seguintes afirmações a respeito de ficcionistas contemporâneos gaú-chos.
I - Luiz Antônio de Assis Brasil, em obras como Um quarto de légua em quadro e A prole do corvo,romances de temática histórica,expõe um retrato do passado de Rio Grande do Sul.

II- Josué Guimarães, no romance A ferro e fogo, aborda o tema da imigração alemã em nosso estado.

III - Lya Luft, em romances como As parceiras e A asa esquerda do anjo, centrados na condição feminina, desenvolve temáticas intimistas.

             Quais estão corretas ?
 (A) Apenas I.
 (B) Apenas II.
 (C) Apenas III.                                     .
(E) I, II e III.
(D) Apenas II e III.

3.Considere as seguintes afirmativas sobre as características da prosa atual:
I- Na prosa contemporânea o importante é a psicologia dos personagens, o enredo é de importância secundária.
II-A prosa urbana dá enfoque ao conflito do indivíduo com a. sociedade e usa o tempo psi-cológico.
III-O importante são as características psicológicas da personagem e não as físicas,  não ·há compromisso com a "realidade real”.
IV- Os romancistas e contistas contemporâneas dão muita importância à introspecção e à sondagem subjetiva.
                                                 Estão corretas:
            (A)Apenas I e II.            (C) Apenas III e IV.         (E) I, II, III e IV.
            (B)Apenas II e III.          (D) Apenas I, II e III.

4.Pelas  descrições abaixo, identifique qual a tendência da prosa contemporânea que está sendo comentada:
a)Focaliza o homem brasileiro do interior e o meio onde ele vive,  seus mitos, seus im-pulsos mais íntimos:____________________________________________
b)Cria situação incríveis, fundindo o real e o irreal, o humano e o fantástico por uma influ-ência do Surrealismo. São metáforas da realidade: ________________________________
c )Tem como ambiente os grandes centros urbanos e procura denunciar a  violência,  a marginalização e a solidão de seus habitantes: ___________________________________
d).Cria obras de sondagem psicológica, em que os personagens vivem mergulhados em si mesmos e através dos quais o autor procura vasculhar a interior do ser humano:_______
________________________________
e)São obras que denunciam a violência  politica  a que o Brasil foi submetido  após a Re-volução de 1964:__________________________________________________________
f)Seus adeptos  são jornalistas que se tornaram romancistas; por isso também é chamado de Jornalismo Literário. Numa linguagem crua e objetiva, seus temas denunciam  a cor-rupção, a imoralidade , a marginalidade , dentro das nossas instituições sociais e das elites detentoras do poder econômico e social: _______________________________________

5.Iden!itique o autor pelas características descritas:
    .  João Guimarães Rosa                          .  Moacyr Scl1ar
    .  Josué Guimarães                                  .  Lia Luft
    .  Clarice Lispector                                     . Luiz Antônio de Assis Brasil
a) Seus temas são fantásticos, usando linguagem direta e cortante, humor e ironia, para criticar e satirizar a condição humana . Manipula a fábula e tem forte influência judaica nos seus t:re.balhos: _____________________________________________
b) Suas obras caracterizam-se pelo regionalismo universal e pela recriação da linguagem toda especial: estiliza o faIar do sertanejo, cria palavras novas,, recria outras, misturando-as entre si. É o mundo do sertão que desfila as suas tradições, lendas, coragens, aventu-ras:_________________________________________________
c) Suas histórias focalizam lances polêmicos da história do  nosso  Estado, os mitos rio-grandenses, buscando resgatar em profundidade a alma humana:___________________
_________________________________
d) Seus livros refletem não só uma grande preocupação social como também  seu inte-resse pela história do Rio Grande do Sul e do Brasil. Numa linguagem simples, direta, universal, mistura fantasia e realidade, traçando um perfil  preciso de seus personagens:
___________________________________
e) Seu tema predileto é condição feminina, numa literatura intimista,  focalizando a mulher dentro da família (seus problemas, suas dúvidas e angústias). São mulheres buscando seu caminho e suas frases são breves e tensas,  seu ritmo é medido e controlado:_______
___________________________________
f)Seus contos e romances são bastante introspectivos, dando mais ênfase aos pensa-mentos, reações e sentimentos dos personagens do que a um enredo propriamente dito (começo, meio, fim).Na sua visão de escritora, importa mais captar a vivência interior dos personagens e a complexidade do seu aspecto psicológico do que contar uma história:

6. Associe  a obra com o assunto de que trata:
-  UM QUARTO DE LÉGUA EM QUADRO
-   A PROLE DO CORVO
-  BACIA DAS ALMAS
a) A decadência da dinastia do Coronel Trajano, senhor de santa Flora e prefeito de Águas Claras: ___________________________________________________________
b) Narre a vinda dos  imigrantes açorianos para o Rio Grande do Sul e Santa Catarina  e suas  inúmeras dificuldades:_________________________________________________
c)Fala sobre o último ano  da Revolução Farroupilha, a falta de  sentido da guerra para um jovem soldado  levado a ela pelos interesses do pai e do chefe das tropas rebeldes:______
_____________________________________

GABARITO

1-a, 2-e, 3-e, 4-a)romance regionalista, b)realismo fantástico, c)romance urbano-social, d)romance intimista, e)romance político, f) romance policial    5-a)Moacyr Scliar, b)João Guimarães Rosa, c)Luiz Antônio de Assis Brasil, d) Josué Guimarães, e) Lya Luft, f) Clarice Lispector       6- a) Bacia das Almas,  b) Um Quarto de Légua em Quadro, c) A Prole do Corvo
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2.LYA  LUFT

Lya Fett Luft (Santa Cruz do Sul, 15 de setembro de 1938) é uma escritora e tradutora brasileira. É colunista mensal da revista Veja e professora aposentada da UFRGS.
Biografia
     Lya Fett nasceu em Santa Cruz do Sul, cidade gaúcha, de colonização alemã, filha do advogado e juiz Arthur Germano Fett. A sua família tinha muito orgulho de suas raízes germânicas e, por isso, considerava-se superior aos "brasileiros", embora seus integrantes tivessem chegado ao Brasil em 1825. Durante sua juventude, Lya foi tida como uma menina desobediente e contestadora: não gostava de aprender a cozinhar nem a bordar e chegou a ser mandada para um internato durante dois meses. Porém, desde cedo foi uma ávida leitora — aos onze anos, já recitava poemas de Göethe e Schiller — e tinha um relacionamento mais natural com o pai, um homem culto a quem idolatrava, do que com a mãe. Aos dezenove anos, ela se converteu ao catolicismo, espantando aos pais, ambos luteranos.
     A partir de 1959, Lya Luft passou a residir em Porto Alegre, onde se diplomou em Pedagogia e em Letras Anglo-Germânicas pela  PUC-RS. Passou a trabalhar então como tradutora de literaturas em alemão e inglês. Em 1963, aos vinte e cinco anos, Lya se casou com Celso Pedro Luft, então um irmão marista, dezenove anos mais velho do que ela.. O casal teve três filhos: Susana (1965), André (1966) e Eduardo (1969).
     De 1970 a 1982, ela trabalhou como professora titular de Linguística na Faculdade Porto-Alegrense (FAPA) e obteve o grau de mestra em Linguística e em Literatura Brasileira.
     Em 1985, Lya Luft anulou seu casamento com Celso para viver com o psicanalista e também escritor Hélio Pellegrino, no Rio de Janeiro. Eles haviam sido apresentados um ao outro por Nélida Piñon. Em 1992, quatro anos após a morte de Pellegrino, Lya voltou a viver com Celso Luft, de quem ficou viúva em 1995.

Carreira literária
     No início de seu primeiro casamento, Lya Luft começou a escrever poemas, reunidos no livro Canções de limiar (1964). Em 1972, foi publicado seu segundo livro de poemas, intitulado Flauta doce. Quatro anos mais tarde, escreveu alguns contos e mandou-os para um editor da Nova Fronteira, Pedro Paulo Sena Madureira, que os considerou "publicáveis". Em 1978, foi lançada sua primeira coletânea de contos, Matéria do Cotidiano.
     O mesmo editor da Nova Fronteira tinha aconselhado Lya a escrever romances. Daí surgiu As parceiras, publicado em 1980. No ano seguinte veio A asa esquerda do anjo. Tais livros foram influenciados por uma visão de morte que a autora teve depois de sofrer um acidente automobilístico quase fatal em 1979.
     Em 1982, publicou Reunião de Família e, em 1984, outras duas obras: O Quarto Fechado e Mulher no Palco. O primeiro foi lançado nos Estados Unidos sob o título The Island of the Dead. Em 1987, lançou Exílio; em 1989, o livro de poemas O Lado Fatal; e, em 1996, o premiado O Rio do Meio (ensaios), considerado a melhor obra de ficção daquele ano.
     Em 2001, Luft recebeu o prêmio União Latina de melhor tradução técnica e científica, pela obra Lete: Arte e crítica do esquecimento, de Harald Weinrich.
Em 2013, recebeu o Prêmio ABL, na categoria Ficção, Romance, Teatro e Conto, pela obra O tigre na sombra.
No total, já escreveu e publicou 23 livros, entre romances, coletâneas de poemas, crônicas, ensaios e livros infantis.
Os livros de Lya Luft continuam sendo traduzidos para diversos idiomas

Seu estilo
     Sou fascinada pelo lado complicado. Tenho um olho alegre que vive: sou uma pessoa despachada, adoro família, adoro a natureza. Mas eu tenho um outro olho que observa o lado difícil, sombrio. A minha literatura nunca vai ser "aí casaram e foram felizes para sempre". Minha literatura sempre nasceu do conflito, da dificuldade, do isolamento.
—Lya Luft

Obras
•          Canções de Limiar, 1964
•          Flauta Doce, 1972
•          Matéria do Cotidiano, 1978
•          As Parceiras, 1980
•          A Asa Esquerda do Anjo, 1981
•          Reunião de Família, 1982
•          O Quarto Fechado, 1984
•          Mulher no Palco, 1984
•          Exílio, 1987
•          O Lado Fatal, 1989
•          A Sentinela, 1994
•          O Rio do Meio, 1996
•          Secreta Mirada,1997
•          O Ponto Cego, 1999
•          Histórias do Tempo, 2000
•          Mar de Dentro, 2000
•          Perdas e Ganhos, 2003
•          Histórias de Bruxa Boa, 2004
•          Pensar é Transgredir, 2004
•          Para não Dizer Adeus, 2005
•          Em outras Palavras, 2006
•          A Volta da Bruxa Boa, 2007
•          O Silêncio dos Amantes, 2008
•          Criança Pensa, 2009
•          Múltipla Escolha, 2010
•          A Riqueza do Mundo, 2011
•          O Tigre Na Sombra, 2012
•          O Tempo é um Rio que Corre, 2013
•          Paisagem Brasileira, 2015


                                 RESUMOS  DOS TEMAS DE SUAS OBRAS


REUNIÃO DE FAMÍLIA

Criados de forma severa por um pai repressor e violento, Alice, Evelyn e Renato cresceram marcados pela insegurança, submissão, desconfiança, desunião e, acima de tudo, pela falta de amor. Quando o filho de Evelyn morre em um trágico acidente e ela passa a se comportar de forma estranha, acreditando que o menino ainda está vivo, a família decide se reunir para ajudar a irmã caçula. Mas nada acontece como esperado: o fim de semana que deveria servir para unir transforma-se numa catarse de culpas e segredos, um terrível jogo da verdade no qual os papéis de vítima e algoz se invertem. "Reunião de Família", terceiro romance de Lya Luft, compõe com "As Parceiras" e "A Asa Esquerda do Anjo" o que alguns críticos consideram a "trilogia da família". Neles são dissecados alguns dos valores que dão sustentáculo a nossa sociedade e são destruídas as falsas aparências que, em detrimento de todos os impulsos de vida e autenticidade, se constroem a partir de uma opressão mutiladora. Neste livro, o leitor encontrará, em uma linguagem sóbria e refinada, os conflitos familiares dramáticos diante de situações extremas que tanto fascinam a autora: a incomunicabilidade e amor, solidão, morte, mistério e busca de sentido.

AS PARCEIRAS

"Por que não morremos num período assim? Antes que tudo comece a esboroar. Nem sei se é no fundo ou na superfície que começa a erosão. A primeira tristeza não partilhada. A primeira solidão em que se vira as costas e, ao voltar, não se encontra mais a presença reconfortante. Apenas outra solidão, de costas. A consciência está alerta: está acabando. O resto vem depois. Todo o cortejo." Lya Luft Lançado originalmente em 1980, AS PARCEIRAS é o primeiro romance de Lya Luft, uma das mais premiadas e consagradas escritoras brasileiras. Recebido com críticas elogiosas pela imprensa - um livro raro e perfeito; acontecimento intelectual do ano - o livro é tema de estudos em diferentes universidades, já foi publicado na Alemanha e marca a chegada da obra de Lya na Editora Record. Com mais de 15 edições, AS PARCEIRAS aborda, principalmente, a contestação aos valores patriarcais. Uma visão feminina sobre uma família marcada pela morte, pela loucura, por um mundo decadente que a envolve e a desagrega. Nesta obra de estréia, Lya ensaia o mistério, o encantamento de narrativas onde a virulência atravessa o veio das emoções humanas. Uma lembrança dos contos de fadas que a escritora devorava quando menina. As doses maciças de fantasia - princesas, bruxas e magia - a marcaram, forjando os elementos predominantes em suas obras.

A SENTINELA

Em A sentinela, publicado originalmente em 1994, Lya mais uma vez usa uma casa como cenário; uma casa-labirinto, na qual uma mulher procura a saída, mas também tenta se decifrar ao longo do caminho e acaba se encontrando. “É um livro esperançoso: alguém renasce em si e de si mesmo e, ainda que guarde um último mistério indecifrável na gruta de seu pantanoso jardim (o interno e o externo), lança-se na vida e recria o mundo”, explica a autora.

O SILÊNCIO DOS AMANTES

Em O silêncio dos amantes, as histórias são pontuadas por conflitos familiares, solidão, a busca de um sentido da vida, rancores, incompreensão, mas também magia e amor nos relacionamentos. A incomunicabilidade entre pessoas que se amam resulta em tragédias e vidas assombradas pela culpa, mas também faz com que se abram os olhos para novos caminhos possíveis. “Aqui sim, é a linha que une as narrativas. A incomunicabilidade, o silêncio quando deveríamos falar e a palavra quando deveríamos ter calado: mas a gente não sabia. É parte do drama humano”, explica a autora. Com coragem e delicadeza, Lya Luft nos provoca a vermos sob um novo prisma o nosso cotidiano, pressentindo a imprevisibilidade, que o torna mais rico. “Ser humano, com toda a miséria e grandeza que isso significa, não é apenas precisar de amparo e consolo, mas também enxergar, abaixo da superfície e atrás das paredes, novas possibilidades de viver e se relacionar”, diz Lya.

PERDAS E GANHOS

“Entendi que a vida não tece apenas uma teia de perdas mas nos proporciona uma sucessão de ganhos. O equilíbrio da balança depende muito do que soubermos e quisermos enxergar.” — Lya Luft Lya Luft é uma mulher de seu tempo, e sobre ele dá seu testemunho em tudo o que escreve, especialmente neste novo livro. Neste primeiro livro seu publicado pela Record, a romancista, cronista e poeta convida o leitor para refletir ao seu lado, indagar, contemplar e admirar o mundo. "Não somos apenas vítimas de fatalidades", diz. "Somos também senhores de nossa vida." Num misto de ensaio e memórias, em PERDAS & GANHOS, Lya retoma diversos temas de O rio do meio — livro publicado em 1996, vencedor do prêmio de melhor livro da Associação Paulista de Críticos de Arte. Considera o ser humano ao mesmo tempo bom e capaz, fútil, medíocre e até cruel. Embarcado numa vida que é um dom, um mistério, e uma conquista a cada momento. Lya acredita que “a felicidade é possível, que não existe só desencontro e traição, mas ternura, amizade, compaixão, ética e delicadeza.” Sobre isso dialoga, aqui, com seu leitor. Entre alegrias, descobertas, decepções e buscas, em PERDAS & GANHOS — primeiro inédito desde as memórias de infância Mar de dentro, publicado em 2002 — a autora busca dar um testemunho pessoal sobre a experiência do amadurecimento. Convoca o leitor para ser seu amigo imaginário: cúmplice e companheiro de reflexões que vão da infância à solidão e à morte, ao valor da vida e à transcendência de tudo. Lya divaga, discute e versa, com ímpeto, compaixão, e muitas vezes bom humor, sobre velhice, amor, infância, educação, família, liberdade, homens e mulheres, gente de verdade... e conclui que o tempo passa mas as emoções humanas não mudam, revelando que é preciso reaprender o que é ser feliz. Um livro sensível, delicado e inquietante de uma das mais importantes escritoras brasileiras da atualidade, premiada pela crítica e consagrada pelos leitores.

A RIQUEZA DO MUNDO

A RIQUEZA DO MUNDO é um livro a um tempo áspero e poético, sempre questionador — do jeito da autora. Como lhe é de costume, ela aborda o drama existencial humano, nossas comuns perplexidades, educação, família, autoridade, moralidade versus moralismo, e alguns dos problemas mais pungentes da nossa sociedade, como guerras, miséria, política e outros. Fala também de como vemos, usamos ou criamos a riqueza do mundo, seja natural, intelectual ou artística, afetiva, econômica. Do que conquistamos ou nos é concedido: os delírios da arte, as aventuras da ciência, os campos lavrados, os mares e céus que sondamos. Mas fala também do que desperdiçamos ou matamos, da pobreza advinda do desinteresse, da dor nascida da traição, das crenças que se digladiam."Escrevo sobre o que não sei direito", ela costuma dizer, "escrevo para entender melhor e para dividir meus assombramentos com meu leitor." A RIQUEZA DO MUNDO é uma espécie de "livro das indagações", com críticas, dúvidas, momentos de fria lucidez e outros de grande delicadeza. Que nos trazem, cara a cara, alguns de nossos fantasmas, para que, se pronunciarmos o seu nome, eles se tornem menos assustadores.

A ASA ESQUERDA DO ANJO

Gisele é uma mulher frustrada e deprimida que trilha um caminho de autodestruiçăo ao longo do qual revela o orgulho, a hipocrisia e o ressentimento de seu universo social e familiar.

O LADO FATAL

O lado fatal foi composto a partir de uma grande perda. Um desabafo, um modo de renascer e sair de um momento sombrio. Lançado pela primeira vez em 1988, foi sucesso editorial por anos a fio, até que, a pedido da autora, teve sua publicação interrompida. Vinte e três anos depois, o distanciamento que o tempo trouxe e o novo olhar sobre sua obra deram à autora a compreensão de que O lado fatal não pertencia apenas a ela: ele pertence ao leitor.

EM OUTRAS PALAVRAS

Com Em outras palavras Lya Luft conduz o leitor, mais uma vez, a refletir sobre o cotidiano, a política, a vida e o amadurecimento. Aqui estão reunidas as melhores crônicas da autora publicadas de 2004 a 2006. Mas os 54 textos selecionados por ela aparecem com algumas alterações: “Faz parte de meus vícios, burilar meus textos enquanto for possível: pelo prazer, e pelo respeito a mim mesma e ao meu leitor — não importa se é em romance ou ensaio, poema ou crônica

O RIO DO MEIO

"Há um duelo permanente entre duas personalidades que habitam, talvez, todo mundo: uma, a convencional, que faz tudo 'direito'; a outra, a estranha, agachada no porão da alma ou num sótão penumbroso; que é louca, assustadora, quer rasgar as tábuas da lei, transgredir, voar com as bruxas, romper com o cotidiano. E, interfere naquela, 'boazinha', que todos pensam conhecer tão bem. Quando escrevi meu primeiro romance, descobri meu jeito de tentar reunir todas as sombras que se remexiam e chamavam, e de mergulhar, já sem medo, nesse rio do meio que tudo carrega para o mar definitivo." Lya Luft Lançado originalmente em 1996, O RIO DO MEIO, de Lya Luft, foi um dos pioneiros em um gênero indefinido e inusitado na literatura brasileira: nem ficção, nem relato jornalístico. Original, o livro foi vencedor do prêmio de melhor obra do ano da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA).

PENSAR É TRANSGREDIR

Pensar é transgredir vai da preocupação com o social à inquietação pelo mistério da vida. Mas nele Lya Luft também deixa entrever um pouco do cotidiano em sua casa, revela coisas de sua infância e mostra seu lado bem-humorado, seguidamente comentado por quem a conhece pessoalmente. Fala do desafio que é podermos escrever uma parte da nossa história pessoal, e da dificuldade de sermos responsáveis por nossas escolhas; mas também escreve sobre ternura, alegria e perplexidade.

EXÍLIO

Publicado originalmente em 1987, em EXÍLIO, Lya Luft narra a saga de uma mulher que tenta resgatar a imagem da mãe suicida. Partindo desse doloroso universo, a consagrada autora de Perdas & ganhos e Pensar é transgredir constrói uma história repleta de conflitos e ensinamentos. Nesta tragédia contemporânea, Lya Luft, desnuda mais uma vez os mais profundos sentimentos humanos: a solidão, a morte, o amor, o vício, o assombramento e o desencontro.

PARA NÃO DIZER ADEUS


Em Para não dizer adeus Lya Luft desnuda — desta vez em versos — os mais profundos sentimentos humanos: a solidão, a morte, o amor, o vício, o assombramento e o desencontro. Entre poemas antigos e inéditos (em sua maioria), Lya Luft mostra algumas de suas várias faces e retoma, com extrema delicadeza, alguns dos principais temas de sua prosa.


O QUARTO FECHADO

Neste romance, Lya constrói uma trama de cenário sombrio. Um casal separado volta a se reunir dos dois lados do caixão de seu filho morto, revendo cada um a sua vida e o que os conduziu àquela trágica situação. Em meio a forças demoníacas e cenas com delicadeza comovente, o leitor assiste em flash-back o sofrimento de um adolescente suicida e sua irmã gêmea, um ser repulsivo trancado num quarto, uma velha e outros personagens que retratam as inquietudes do ser humano.


MÚLTIPLA ESCOLHA

Em Múltipla Escolha, Lya indaga, debate e transgride com o fervor de alguém que refuta a mediocridade e escolhe a vida. Como se sobre um palco, cercada de portas simbólicas, o complexo mundo contemporâneo à frente, a autora convoca sua “tribo” para o necessário ritual de pensar. Em foco, questões fundamentais, como a velhice e a juventude, os novos dilemas e tabus da sexualidade, a comunicação virtual, as fronteiras entre o privado e o público, drogas, violência, bondade e perversidade, o mal-estar social: elementos-chave da nossa rotina diária. Fala sobre esses “mitos modernos” que criamos para se tornarem senhores de nossa vontade e sobre os quais pondera num diálogo aberto com o leitor. “Gosto desse jeito mais direto de falar com meu leitor sobre, no fundo, partes do drama existencial humano, e algumas loucuras da nossa sociedade, nossa cultura. Sobre nadar contra a correnteza para não naufragar no espírito de manada destes nossos tempos. Enfim, esse tipo de ensaio, no sentido mais original da palavra, ‘ensaiar — discorrer sobre algum tema’, é mais um modo de me expressar. Simples assim”, argumenta Lya.

O PONTO CEGO

Romance de amor e mistério — trata de assuntos universais e pessoais como dores, sonhos e vivências —, no qual a história de uma família é contada do ponto de vista de uma criança.

SECRETA MIRADA

O livro fala sobre o sentimento humano, família, arte e coisas simples da vida. Entre os poemas, foram intercalados pequenos textos em prosa. O resultado final assemelha-se a uma bela história, quase um romance, com princípio, meio e fim.

O TIGRE NA SOMBRA

O tigre na sombra é um romance impactante no qual Lya Luft, de maneira surpreendente cria um universo de mistério, magia e dramas humanos muito reais, com os quais qualquer leitor é capaz de se identificar e se emocionar. Apresentando personagens marcantes e um final completamente inesperado, a veterana Lya Luft consegue aqui se renovar mantendo intacta sua magistral capacidade de contar histórias.

MAR DE DENTRO

'Mar de dentro' é leve, mas irônico, delicado, mas intenso, dono de uma criatividade que pode até incomodar. Igualzinho à criança que Lya Luft foi. Mais do que relembrar suas próprias histórias, a autora desperta no leitor memórias sensoriais, como o cheiro da chuva na terra quente, o vento nas folhas, o perfume da mãe, o som do mar, o silêncio das dunas de areia. Um texto repleto de delicadeza, mas de uma forte humanidade.


HISTÓRIAS DE BRUXA BOA
A menina Tatinha morava no andar de cima de uma casa com papai e mamãe. No térreo morava sua avó, que, poucos sabiam, era uma bruxa boa chamada Lilibeth. Como toda bruxa boa, ela só fazia feitiço para proteger as pessoas e assustar as bruxas más que moravam num buraco feio, sujo e cheio de ratos, na esquina da rua. As bruxas más eram irmãs. A gordinha chamava-se Cara-de-Panela, a magra era a Cara-de-Janela. Tatinha era aprendiz de bruxa, ajudante de Lilibeth nessas histórias em que dois mais dois podem não ser quatro, o claro pode ser escuro e o sol pode virar lua.
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