MANUEL
BANDEIRA SE PREOCUPAVA MAIS EM DEIXAR AFLORAR SUAS EMOÇÕES DO QUE EM SE ADEQUAR
A ESTA OU ÀQUELA TENDÊNCIA.
Manuel Carneiro de Souza Bandeira nasceu em 1886,
em Recife. Em 1890 sua família se transferiu para Petrópolis (RJ), e aos seis
anos de idade Bandeira regressou à cidade de Recife, por lá permanecendo até os
dez anos. De volta ao Rio, cursou o ginásio, no Colégio Dom Pedro II.
Com 16 anos partiu para São Paulo no intento de
cursar a faculdade de Arquitetura na Escola Politécnica, porém, ao contrair
tuberculose, precisou interromper sues estudos. Assim, retornou ao Rio de
Janeiro à procura de cidades que oferecessem um clima mais propício à cura da
doença que o acometera, mas em 1913 foi internado no Sanatório de Clavadel, ficando
lá por 16 meses.
Em 1917 publicou seu primeiro livro, “A cinza das
horas”. A partir de então deu continuidade à sua produção literária, publicando
outra obra em 1919, dessa vez, “Carnaval”. Passando a estabelecer contato com o
grupo paulista que participara da Semana de Arte Moderna, conheceu Guilherme de
Almeida, responsável por indicar suas obras aos demais. A participação do autor
no evento em questão foi de forma indireta, mesmo porque decidiu não criticar
publicamente aqueles que consideravam os mestres parnasianos e simbolistas,
razão pela qual jamais abandonara o lirismo. Nem tampouco se juntara com
veemência àqueles adeptos do tom revolucionário, proposto pelos modernistas
natos. Dessa forma, podemos afirmar que suas criações são revestidas por apenas
ligeiros aspectos modernistas, como a habilidade de abordar temas cotidianos e
a liberdade de expressão, manifestada pelo uso de versos livres.
Permanecendo no Rio de Janeiro, além de dar
continuidade à sua hábil carreira de artista, tornou-se professor de Literatura
no Colégio onde estudou (Dom Pedro II). Em 1940 foi eleito para a Academia
Brasileira de Letras. Faleceu em 1968, naquela mesma cidade.
Em virtude de ter se formado com base nas
referências literárias do Parnasianismo e Simbolismo, Bandeira não se mostrou
preocupado em se adequar a esta ou àquela tendência, mas sim em proferir de
maneira magistral as emoções que desejava transmitir por meio de suas criações.
Assim sendo, podemos afirmar que sua criação se subdivide em três vertentes
básicas:
A fase pós-simbolista, na qual deixa escapar traços
ainda ligados ao espírito decadentista do Simbolismo, como também à
musicalidade formal. Vejamos, pois, uma criação que bem retrata tais aspectos:
Desencanto
Eu faço versos como quem chora
De desalento. . . de desencanto. . .
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente. . .
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca,
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
- Eu faço versos como quem morre.
A fase modernista, na qual ele “direciona” seus
versos para uma linguagem envolta por um tom coloquialista (fazendo uso dos
versos livres e brancos). Constatemos outro exemplo:
Poética
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto
expediente protocolo e manifestações de apreço ao
sr. diretor
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no
dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo
Abaixo os
puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos
universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de
exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo.
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do
amante exemplar
com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras
de agradar
às mulheres, etc.
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare
- Não quero mais saber do lirismo que não é
libertação.
A fase pós-modernista, na qual ele faz uma espécie
de mesclagem entre o uso dos versos rimados e tradicionais com o uso de versos
livres e brancos, bem como as formas populares, como o rondó – caracterizado
por um poema com apenas duas rimas e formado de três estrofes, totalizando
quinze versos. Constatemos, portanto, um exemplo:
Rondó dos
Cavalinhos
Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
Tua beleza, Esmeralda,
Acabou me enlouquecendo.
Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
O sol tão claro lá fora
E em minhalma — anoitecendo!
Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
Alfonso Reys partindo,
E tanta gente ficando...
Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
A Itália falando grosso,
A Europa se avacalhando...
Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
O Brasil politicando,
Nossa! A poesia morrendo...
O sol tão claro lá fora,
O sol tão claro, Esmeralda,
E em minhalma — anoitecendo!
Em todas as fases aqui retratadas há ainda aspectos
dignos de menção, entre os quais o fato de nelas prevalecerem três temas dos
quais o poeta fez constante uso: a infância, o amor e a morte.
Por Vânia
Duarte
Graduada em Letras
Manuel Bandeira. Trajetória artística de Manuel ... - Brasil Escolawww.brasilescola.com › Literatura › Escritores
GLAMOUR
LITERÁRIO
A LITERATURA
EM SUA MAIS ENCANTADORA MANIFESTAÇÃO
Análise
Crítica: Vou-me embora pra Pasárgada, Manuel Bandeira
“Vou-me embora pra Pasárgada” foi o poema de mais
longa gestação em toda minha obra. Vi pela primeira vez esse nome de Pasárgada
quando tinha os meus dezesseis anos e foi num autor grego. [...] Esse nome de
Pasárgada, que significa “campo dos persas”, suscitou na minha imaginação uma
paisagem fabulosa, um país de delícias [...]. Mais de vinte anos depois, quando
eu morava só na minha casa da Rua do Curvelo, num momento de fundo desânimo, da
mais aguda doença, saltou-me de súbito do subconsciente esse grito
estapafúrdio: “Vou-me embora pra Pasárgada!”.
(Manuel Bandeira)
VOU-ME
EMBORA PRA PASÁRGADA
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa e demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
- Lá sou amigo do rei –
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
A evasão para uma outra realidade da diferente do
poeta é uma das temáticas de “Vou-me embora pra Pasárgada”, poema de Manuel
Bandeira em que o poeta busca uma espécie de paraíso para vivenciar os atos
comuns da vida , os quais não puderem ser vivenciados devido à doença. Este
poema tem um caráter biográfico a partir do momento que é influenciado pelas
aspirações do poeta em buscar a felicidade, que foi impedida devido às dores
pessoais. Pasárgada é uma alegoria do paraíso, representante do mito da
felicidade no qual Manuel Bandeira tem liberdade de escolher a mulher que quer,
na cama que desejar.
Novamente são dois extremos que são abordados pelo
poeta: a realidade de dois mundos distintos, o presente e o imaginário; o que
se nega e o que se deseja.
Um recurso utilizado neste poema é a
intertextualidade; aqui utilizada em forma de paródia, burlesca. A retomada de
um poema romântico com intenção sarcástica.
O poema aproxima-se de Canção de Exílio de
Gonçalves Dias no sentido de oposição entre o cá e o lá, um cá hostil e um lá
acolhedor; no entanto em Gonçalves Dias o poema corresponde a uma idealização
do Brasil em oposição a Portugal, devido ao exílio. Bandeira constrói esta
oposição entre cá e lá de modo a projetar um futuro que se torna real; uma
Pasárgada construída em razão da necessidade de um espírito que busca liberdade
e que também prega uma liberdade ao leitor, pois a Pasárgada apresenta – se
desprovida de significado na língua. O significado vago permite que a
imaginação crie um espaço psicologicamente ideal, livre de qualquer carga
social.
A liberdade dada pelo poeta já é observada na
primeira estrofe:
“Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei...”
Bandeira coloca o sofrimento de lado e resolver ser
feliz, agindo inconseqüentemente, livre de obrigações. Neste reino, ele é amigo
do rei e pode escolher aleatoriamente a mulher e a cama. Um das características
da poesia de Manuel Bandeira é a manifestação do amor, do erotismo, da mulher,
da beleza, do desejo que transcendem até mesmo o espiritual como no belo poema
Arte de amar “... Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo/ Porque os
corpos se entendem, mas as almas não”. A tônica forte do amor como ato físico,
que dispensa até a interferência da alma que “... só em Deus (...) pode
encontrar satisfação...” Em Vou –me embora pra Pasárgada, o amor e o desejo
apresentam-se consideravelmente, despidos de qualquer inibição imposta pela
sociedade. Bandeira pode escolher qualquer mulher e qualquer cama. O sexo
aparece de forma liberada em oposição ao cerceamento causado pelos valores
morais, religiosos e sociais. Na Pasárgada de Bandeira “... tem prostitutas
bonitas para a gente namorar”. Neste paraíso, as imagens são colocadas de modo
a delimitar o mundo que não traz felicidade ao poeta (“Aqui não sou feliz”)
daquele na qual a “existência é uma aventura /de tal modo inconseqüente”.
Recomendo este livro de David Arrigucci Jr :
uma crítica literária à altura de sua inspiração
Bandeirense
Este poema retoma elementos diversos da obra
poética de Manuel Bandeira – como relatado por Davi Arrigucci “... o
confessional, da memória biográfica; o poético-crítico, intelectual e
imaginativo, a que não falta o caráter visionário ou onírico da consideração da
poesia enquanto transe ou alumbramento – fundindo tudo numa forma especial de
balanço de uma experiência poética”.[1]
Com relação à memória biográfica, Bandeira
apresenta de forma latente o retorno à infância, que aparece no poema como
tempos felizes, tempos no qual o poeta anda de bicicleta, monta em burro brabo,
sobe no pau de sebo e toma banho de mar. A Pasárgada de Bandeira alinha todos
os tipos de liberdade: a amorosa, a sexual e até mesmo a liberdade de voltar à infância.
Considerando a vida de Manuel Bandeira e o convívio que o poeta teve com o tema
da morte e da doença, que o fez até mesmo a abandonar os estudos; o poema
retrata o tema da infância como um anseio de recuperar o tempo perdido, de
reviver a ternura o mito que ficou arquivado na memória. A evasão é a
recuperação da infância, pois a qualquer momento o poeta pode parar de brincar
e chamar a mãe – d ´ água para lhe contar as historias da infância :
“... e quando tiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-dágua
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou – me embora pra Pasárgada
A nostalgia da infância é tema que ressurge sempre
na poesia de Manuel Bandeira. Em poemas como “Profundamente”, “Evocação do
Recife” e “Infância”, o poeta relembra os tempos de infância e a família. A
oposição entre criança e adulto, tempo presente e tempo passado é reconstruída
como modalidade de fuga, a ponto de se questionar que o tempo passado pode ter
sido bem melhor que o tempo presente, por isso a necessidade de evasão e
recuperação destes momentos.
O humor modernista e a retomada de termos tidos
como “modernos” são empregados por Bandeira para caracterizar a completude do
paraíso chamado Pasárgada. O poeta afirma que lá tem de tudo; uma civilização
que tem até mesmo um processo seguro que evita a concepção e telefone
automático; ou seja, elementos caracterizadores da vida moderna. A incorporação
do cotidiano, tão freqüente no movimento modernista, é utilizada pelo poeta com
grande carga poética. Manuel Bandeira é um dos poetas modernistas mais
reconhecidos por ter uma temática capaz de transformar temas “triviais” em
matéria – prima de sua obra poética.
“... o ideal da poética de Bandeira é o de uma
mescla estilística inovadora e moderna, uma vez que persegue uma elevada emoção
poética através das palavras mais simples de todo dia. Para o poeta, o
alumbramento, revelação poética da poesia, pode dar-se no chão do mais “humilde
cotidiano”, de onde o poético pode ser desentranhado , à força da depuração e
condensação da linguagem, na forma simples e natural do poema.”[2]
Na última estrofe do poema, Bandeira dá aos versos
um caráter de amargura e desespero extremo, cujo campo semântico nos recorda
temas como a morte, tristeza e suicídio (“E quando eu estiver mais triste/ mas
triste de não ter jeito/ quando de noite me der/ vontade de me matar”). Este
recurso serve para destacar a oposição que segue nos versos seguintes, nos
quais a Pasárgada é o único local no qual o poeta pode ir e libertar-se deste
sofrimento; a Pasárgada que é a solução para as tristezas humanas; quando o
poeta estiver no extremo de desespero e tristeza, até mesmo a ponto de se
matar; lá ele encontrará a amizade, o amor, o prazer. Na Pasárgada de Manuel
Bandeira há liberdade estética e libertinagem.
Análise Crítica: Vou-me embora pra Pasárgada, Manuel Bandeiraglamourliterario.blogspot.com/.../analise-critica-vo..
LIBERTINAGEM
"Libertinagem contém os poemas que escrevi de
1924 a 1930 - os anos de maior força e calor do movimento modernista. Não
admira pois que seja entre os meus livros o que está mais dentro da técnica e
da estética do modernismo". (Manuel Bandeira)
Síntese
Obra publicada em 1930, Libertinagem é composta por
trinta e oito poemas. Embora comporte características da primeira geração
modernista, como o humor, os versos livres e brancos, a linguagem mais
coloquial e o cotidiano, o toque especial do poeta faz-se presente em todos os
poemas: a simplicidade.
A simplicidade é um elemento importante no estilo
de Bandeira. Ela é responsável pelo refinamento dos poemas - abordar o simples
é que é difícil - e chega ao primarismo sentimental, sem resvalar na
vulgaridade ou no pieguismo.
Libertinagem é, portanto, a novidade, o erotismo, a
musicalidade, a força de imagens, o cunho biográfico, a paixão pela vida e a
visão da morte, a infância, a pureza, a crítica, a liberdade, a saudade, o
amor, a alegria, a tristeza, a evasão, a solidão.
Análise do
livro "Libertinagem"
Entre os 38 poemas de "Libertinagem", 14
foram escolhidos pelos professores do Stockler Vestibulares como os mais
representativos. Leia os comentários:
1) "Porquinho-da-Índia" - Poema de tom
narrativo e memorialista, destaca a pureza, a inocência de uma criança que dedica
todo seu afeto a um bicho de estimação. O toque de humor fica por conta do
verso final, espécie de conclusão em que se introduz a fala do eu lírico.
2) "Teresa" - Poema-paródia do texto
lírico de Castro Alves chamado "O 'adeus' de Teresa". Antilírico, o
poeta revela distância da idealização, confirmando, na última estrofe, a
presença das transformações seja no plano físico, seja no sentimental.
O texto de Castro Alves é uma exaltação à beleza e
ao erotismo da mulher amada, contudo, a última estrofe, acompanhada do tom
grandiloquente do poeta, revela traição:
(fragmentos)
A vez primeira que eu fitei Teresa
Como as plantas que arrasta a correnteza
A valsa nos levou nos gritos seus...
E amamos juntos... E depois na sala
"Adeus" eu disse-lhe a tremer co'a
fala...
E ela, corando, murmurou-me: "adeus!"
(...)
Quando voltei... era o palácio em festa!...
E a voz d'Ela e de um homem lá na orquestra
Preenchiam de amor o azul dos céus.
Entrei!... Ela me olhou branca... surpresa!
Foi a última vez que eu vi Teresa!...
E ela, arquejando, murmurou-me: "adeus"!
(Castro Alves)
3) "Madrigal tão engraçadinho" -
"Madrigal" é uma pequena composição poética. Esse poema de Bandeira
apresenta três versos e um tema que contraria o anterior: o lirismo amoroso do
ponto de vista de uma criança que exalta o ser amado, porém por meio de uma
comparação inusitada: o porquinho-da-Índia.
O grande momento do poema está nessa comparação,
porque ela é sinônimo de sinceridade e alto valor, visto que, para a criança, o
Porquinho-da-Índia marcara sua vida. É uma celebração à vida.
4) "A Virgem Maria" - As figuras que
aparecem na primeira estrofe revelam a realidade opressora e a morte se
pronunciando. Ansiedade, ira e hipocrisia compõem o quadro do enterro até que,
em oposição à escuridão e à morte, surge a imagem da Virgem Maria, da qual o
poeta só ouve a voz dizendo-lhe que "fazia sol lá fora". É a vida, a
liberdade. O termo insistentemente foi grafado de forma especial no poema para
enfatizar o seu significado.
5) "Oração no Saco de Mangaratiba" - O
pedido do poeta a Nossa Senhora se dá em Mangaratiba, no Rio de Janeiro, e
refere-se à vida. Enfadado, opõe a morte que o espreita à vida que, apesar de
comprida, lhe parece tão mal cumprida. O poeta ainda tinha pela frente mais
quarenta e dois anos!
6) "Poema tirado de uma notícia de
jornal" - A morte é o grande tema. Ela é anunciada. Trata-se de uma
notícia de jornal sobre a morte de mais um favelado. A miséria anônima e
irônica (vem do alto, no morro da Babilônia, como o jardim suspenso da
Babilônia) desce e chega à Lagoa Rodrigo de Freitas (lugar da classe alta no
Rio de Janeiro). O drama e o elemento narrativo unem-se ao ritmo: versos longos
na introdução e no desfecho. Versos curtos, dissílabos, quando se trata do
prazer.
7) "Andorinha" - A vida, simbolizada pelo
pássaro, é o exterior, o mundo, o cotidiano, todas as "coisas" que
contrastam com o sofrimento, a tristeza do poeta que constata: não pôde viver o
que queria, passou a vida à toa e, agora, só a morte o aguarda.
8) "Evocação do Recife" - A
subjetividade, o memorialismo, a infância, o folclore e a cultura popular
caracterizam esse famoso poema de Manuel Bandeira.
O eu lírico revive cenas do passado, como se fosse
menino outra vez.
Ao lado das brincadeiras de infância, surgem
pessoas com as quais conviveu: parentes, vizinhos, amigos. Até os nomes das
ruas eram líricos: Rua da União, do Sol, da Aurora.
O poema alude ao erotismo, à força das águas, aos
pregões e à exaltação do falar popular: "(...) língua errada do povo/
Língua certa do povo".
O ataque ao artificialismo linguístico, no tom da
primeira geração modernista, está em: "Ao passo que nós/ O que fazemos/ É
macaquear/ A sintaxe lusíada". Leia-se por nós, pessoas cultas -
escritores, professores, leitores...
A morte, tema fundamental em Bandeira, surge nas
últimas estrofes, reforçando que a cidade de Recife de seu passado fora-se como
seu avô, restou-lhe apenas a memória.
9) "Não sei dançar" - Poema que abre o
livro Libertinagem e traz elementos típicos da primeira geração modernista: os
versos livres e brancos, aproximação do surrealismo, referência ao carnaval e à
mistura de raças, às doenças "tropicais" e à crítica irônica à
indiferença. Observe o título e a relação com os animados seres dos bailes. O
poeta não sabe e não quer ser como eles! Porém, os prazeres escapistas acenam
para o poeta.
10) "Pneumotórax" - Refere-se à doença de
Manuel Bandeira - a tuberculose. A morte, novamente em evidência, é tratada em
tom jocoso da primeira geração modernista: humor negro, coloquialismos,
autoironia, além da técnica de marcação teatral com o emprego do diálogo.
Repare na linha pontilhada que quebra a narrativa
dialogada, remetendo-nos também a uma quebra na respiração, e no verso 2 -
célebre.
11) "Irene no Céu" - Embora o poema
refira-se à imagem de uma pessoa querida pelo poeta, presente em sua infância,
Irene representa também a mulher escrava, submissa, inferiorizada. O poeta
sutilmente opõe branco e negro na segunda estrofe, onde Irene pede licença a
São Pedro, chamando-o de meu branco.
Há ainda a exaltação à linguagem coloquial. A fala
de São Pedro ordena: "- Entra, Irene. Você não precisa pedir
licença". Na linguagem normativa, o correto seria conservar o tu ou
empregar o verbo na 3ª pessoa do singular. Assim, teríamos:
- Entra, Irene. Tu não precisas pedir licença
- Entre, Irene. Você não precisa pedir licença
12) "Vou-me Embora Pra Pasárgada" - Nesse
poema, Bandeira busca a utopia, a evasão, o lugar onde possa realizar-se, onde
fuja da morte (Quando de noite me der / vontade de me matar), onde se mesclem
os elementos reais e o nonsense, onde a doença não será empecilho porque
simplesmente não existirá, onde a infância será revivida e os homens e mulheres
que participaram de sua vida, presentes, representados por Rosa.
O coloquialismo, os versos em redondilha maior e a
repetição do verso "Vou-me Embora Pra Pasárgada" remetem-nos à poesia
popular.
O termo Pasárgada ocorreu ao poeta num momento de
desânimo devido à doença. Ouvira no colégio algo sobre uma civilização ideal,
antiga, fundada por Ciro, na Pérsia.
13) "Poema de Finados" - A morte a
autocomiseração. Na primeira estrofe, o poeta dirige-se a um interlocutor - tu
-, refere-se a cemitério e à sepultura do pai; na segunda, ao ritual de se
colocar flores na sepultura e orar, porém alerta que o filho é quem necessita
de oração. Na terceira estrofe, a explicação: o sofrimento, a amargura, já não
há mais nada. Sente-se um morto vivo.
14) "Poética" - Espécie de plataforma
teórica da poesia modernista, "Poética" é um texto de propostas e
críticas. Propostas modernistas e críticas ao tradicionalismo, representado
pela estética parnasiana.
São sete estrofes, sendo que a 1ª, 2ª, 4ª e 5ª
criticam o formalismo, a burocracia e a falta de espontaneidade dos poetas
parnasianos. Já a 3ª, 6ª e 7ª propõem a liberdade de expressão, a
autenticidade, rompendo com o parnasiano tanto no plano do significante quanto
do significado.
Trata-se, portanto, de um poema metalinguístico.
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