ROMANCE DE 30: ÉRICO VERÍSSIMO

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ÉRICO 
VERÍSSIMO

Érico Veríssimo nasceu em Cruz Alta (RS), em 1905, e faleceu em Porto Alegre (RS), no ano de 1975. Filho de uma rica família, que se arruinou financeiramente, foi obrigado a trabalhar ainda jovem como bancário.
Em 1931, mudou-se.para Porto Alegre, onde foi secretário, redator e, mais tarde, diretor da Revista do Globo.
Estreou, em 1932, com Fantoches, mas o marco inicial de seu êxito como romancista aconteceu no ano seguinte, com Clarissa. A partir daí, iniciou uma intensa atividade literária, indo várias vezes aos Estados Unidos, em missões culturais, tendo também dado um curso de Literatura Brasileira na Universidade de Berkley.
É o representante do romance modernista da Região Sul do Brasil e seus temas abordam os problemas sociais e humanos decorrentes Do empobrecimento das famílias latifundiárias e da imigração italiana no Rio Grande do Sul e a crise moral e espiritual da sociedade urbana moderna, cujo cenário é Porto Alegre.
Podemos dividir a obra de Veríssimo em três fases:
Primeira fase: Romances que tratam da sociedade urbana moderna: Fantoches, Clarissa, Caminhos Cruzados, Música ao Longe, Um Lugar ao Sol, Olhai os Lírios do Campo, O Resto é Silêncio e Saga.
Segunda fase: O Tempo e o Vento - trilogia épica que narra a saga de uma família, desde o século XVIII até o século XX, retratando o passado histórico e a formação social e política do Estado do Rio Grande do Sul. Compreende três volumes: O Continente (o passado), O Retrato (início do século XX) e O Arquipélago (narrativa que chega até 1945, no governo de Getúlio Vargas).
Terceira fase: O Senhor  Embaixador; O Prisioneiro e Incidente em Antares. Fase de postura universalista, crítica e comprometida com os problemas políticos e sociais.
Outras obras: Gato Preto em Campo de Neve, A Volta do Gato Preto e México (narrativas de viagem); A Vida de Joana D'Arc (biografia); Solo de Clarineta (memórias). As Aventuras de Tibicuera, Viagem à Aurora do Mundo, Os Três Porquinhos Pobres, Rosa Maria no Castelo Encantado, Aventuras do Avião Vermelho, O Elefante Basílio, Outra Vez os Três Porquinhos, O Urso com Música na Barriga (obras infantis)

                      Biografia  mais detalhada  de  Erico Verissimo

Em geral quando termino um livro encontro-me numa confusão de sentimentos, um misto de alegria, alívio e vaga tristeza. Relendo a obra
mais tarde, quase sempre penso ‘Não era bem isto o que queria dizer’.” 

(O escritor diante do espelho)

     Erico Lopes Verissimo nasceu em Cruz Alta (RS) no dia 17 de dezembro de 1905, filho de Sebastião Verissimo da Fonseca e Abegahy Lopes Verissimo.
Em 1909, com menos de 4 anos, vítima de meningite, agravada por uma broncopneumonia, quase vem a falecer. Salva-se graças à interferência do Dr. Olinto de Oliveira, renomado pediatra, que veio de Porto Alegre especialmente para cuidar de seu problema.
    Inicia seus estudos em 1912, frequentando, simultaneamente, o Colégio Elementar Venâncio Aires, daquela cidade, e a Aula Mista Particular, da professora Margarida Pardelhas. Nas horas vagas vai o cinema Biógrafo Ideal ou vê passar o tempo na Farmácia Brasileira, de seu pai. Aos 13 anos, lê autores nacionais — Coelho Neto, Aluísio Azevedo, Joaquim Manoel de Macedo, Afrânio Peixoto e Afonso Arinos. Com tempo livre, tendo em vista o recesso escolar devido à gripe espanhola, dedica-se, também, aos autores estrangeiros, lendo Walter Scott, Tolstoi, Eça de Queirós, Émile Zola e Dostoievski.
Em 1920, vai estudar, em regime de internato, no Colégio Cruzeiro do Sul, de orientação protestante, localizado no bairro de Teresópolis, em Porto Alegre. Tem bom desempenho nas aulas de literatura, inglês, francês e no estudo da Bíblia.
   Seus pais separam-se em dezembro de 1922. Vão — sua mãe, o irmão e a filha adotiva do casal, Maria, morar na casa da avó materna. Para ajudar no orçamento doméstico, torna-se balconista no armazém do tio Americano Lopes. Os tempos difíceis não o separam dos livros: lê Euclides da Cunha, faz traduções de trechos de escritores ingleses e franceses e começa a escrever, escondido, seus primeiros textos. Vai trabalhar no Banco Nacional do Comércio. Continua devorando livros. Em 1923. Lê Monteiro Lobato, Oswald e Mário de Andrade. Incentivado pelo tio materno João Raymundo, dedica-se à leitura das obras de Stuart Mill, Nietzsche, Omar Khayyam, Ibsen, Verhaeren e Rabindranath Tagore.
   No ano seguinte, a família da mãe muda-se para Porto Alegre, a fim de que seu irmão, Ênio, faça o ginásio no Colégio Cruzeiro do Sul. Infelizmente a mudança não dá certo. O autor, que havia conseguido um lugar na matriz do Banco do Comércio, tem problemas de saúde e perde o emprego. Após tratar-se, emprega-se numa seguradora mas, por problemas de relacionamento com seus superiores, passa por maus momentos. Morando num pequeno quarto de uma casa de cômodos e diante de tantos insucessos, a família resolve voltar a Cruz Alta.
    Erico volta a trabalhar no Banco do Comércio, como chefe da Carteira de Descontos, em 1925. Toma gosto pela música lírica, que passa a ouvir na casa de seus tios Catarino e Maria Augusta. Seus primos, Adriana e Rafael, filhos do casal, seriam os primeiros a ler seus escritos. Logo percebe que a vida de bancário não o satisfaz. Mesmo sem muita certeza de sucesso, aceita a proposta de Lotário Muller, amigo de seu pai, de tornar-se sócio da Pharmacia Central, naquela cidade, em 1926. 
   Em 1927, além dos afazeres de dono de botica, dá aulas particulares de literatura e inglês. Lê Oscar Wilde e Bernard Shaw. Começa a sedimentar seus conhecimentos da literatura mundial lendo, também, Anatole France, Katherine Mansfield, Margareth Kennedy, Francis James, Norman Douglas e muitos outros mais. Começa a namorar sua vizinha, Mafalda Halfen Volpe, de 15 anos.
   O mensário “Cruz Alta em Revista” publica, em 1929, “Chico: um conto de Natal” que, por insistência do jornalista Prado Júnior, Erico havia consentido. O colega de boticário e escritor Manoelito de Ornellas envia ao editor da “Revista do Globo”, em Porto Alegre, os contos “Ladrão de gado” e “A tragédia dum homem gordo”, onde, aprovadas, foram publicadas.
   Erico remete a De Souza Júnior, diretor do suplemento literário “Correio do Povo”, o conto “A lâmpada mágica”. Esse, segundo testemunhas, o publica sem ler, o que dá ao autor notoriedade no meio literário local.
   Com a falência da farmácia, em 1930, o autor muda-se para Porto Alegre disposto a viver de seus escritos. Passa a conviver com escritores já renomados, como Mario Quintana, Augusto Meyer, Guilhermino César e outros. No final do ano é contratado para ocupar o cargo de secretário de redação da “Revista do Globo”, cargo que ocupa no início do ano seguinte.
   Em 1931 casa-se, em Cruz Alta, com Mafalda Halfen Volpe. Lança sua primeira tradução, “O sineiro”, de Edgar Wallace, pela Seção Editora da Livraria do Globo. No mesmo ano traduz desse escritor “O círculo vermelho” e “A porta das sete chaves”. Colabora na página dominical dos jornais “Diário de Notícias” e “Correio do Povo”.
   Em 1932, é promovido a Diretor da “Revista do Globo”, ocasião em que é convidado por Henrique Bertaso, gerente do departamento editorial da “Livraria do Globo”, a atuar naquela seção, indicando livros para tradução e publicação. Sua obra de estréia, “Fantoches”, uma coletânea de histórias em sua maior parte na forma de peças de teatro. Foram vendidos 400 exemplares dos 1.500 publicados. A sobra, um incêndio queimou.
  Traduz, em 1933, “Contraponto”, de Aldous Huxley, que só seria editado em 1935. Seu primeiro romance, “Clarissa”, é lançado com tiragem de 7.000 exemplares.
   Seu romance “Música ao longe” o faz ser agraciado com o Prêmio Machado de Assis, da Cia. Editora Nacional, em 1934. No ano seguinte, nasce sua filha Clarissa. Outro romance, “Caminhos cruzados”, recebe o Prêmio Fundação Graça Aranha. O autor admite a associação desse romance a “Contraponto”, de Aldo Huxley, o que faz com que seja mal recebido pela direita e atice a curiosidade e a vigilância do Departamento de Ordem Política e Social do Rio Grande do Sul, que chegou a chamá-lo a depor, sob a acusação de comunismo. São publicados, ainda nesse ano, “Música ao longe” e “A vida de Joana d’Arc”. Realiza sua primeira viagem ao Rio de Janeiro (RJ), onde faz contato com Jorge Amado, Murilo Mendes, Augusto Frederico Schmidt, Carlos Drummond de Andrade, José Lins do Rego e outros mais. Seu pai falece.
   Em 1936, publica seu primeiro livro infantil, “As aventuras do avião vermelho”. Lança, também, “Um lugar ao sol”. Cria o programa de auditório para crianças, “Clube dos três porquinhos”, na Rádio Farroupilha, a pedido de Arnaldo Balvé. Dessa idéia surge a “Coleção Nanquinote”, com os livros “Os três porquinhos pobres”, “Rosa Maria no castelo encantado” e “Meu ABC”. Lança a revista “A novela”, que oferecia textos canônicos ao lado de outros, de puro entretenimento. Nasce seu filho Luis Fernando. É eleito presidente da Associação Rio-Grandense de Imprensa.
   O DIP - Departamento de Imprensa e Propaganda do Estado Novo, exige que o autor submeta previamente àquele órgão as histórias apresentadas no programa de rádio por ele criado, em 1937. Resistindo à censura prévia, encerra o programa. Outra reação ao nacionalismo ufanista da ditadura Vargas se faz sentir na versão para didática da história do Brasil em “As aventuras de Tibicuera”.
   Um de seus maiores sucessos, “Olhai os lírios do campo”, é lançado em 1938. Publica, nesse mesmo ano, “O urso com música na barriga”, da “Coleção Nanquinote”.
   Erico passa a dedicar a maior parte de seu tempo ao departamento editorial da Globo, em 1939. Em companhia de seus companheiros Henrique Bertaso e Maurício Rosenblatt, é responsável pelo sucesso estrondoso de coleções como a Nobel” e da “Biblioteca dos Séculos”, nas quais eram encontrados traduções de textos de Virginia Wolf, Thomas Mann, Balzac e Proust. Mesmo assim, com todo esse trabalho, arranja tempo para lançar, ainda da série infantil, “A vida do elefante Basílio” e “Outra vez os três porquinhos”, e o livro de ficção científica “Viagem à aurora do mundo”.
    Em 1940, lança “Saga”. Pronuncia conferências em São Paulo (SP). Traduz “Ratos e homens”, de John Steinbeck; “Adeus Mr. Chips” e “Não estamos sós”, de James Hilton; “Felicidade” e “O meu primeiro baile”, de Katherine Mansfield. Faz sua primeira noite de autógrafos na Livraria Saraiva. 
    Passa três meses nos Estados Unidos, a convite do Departamento de Estado americano, em 1941, proferindo conferências. As impressões dessa temporada estão em seu livro “Gato preto em campo de neve”. Ele e seu irmão Enio são testemunhas de um suicídio: uma mulher se atira do alto de um edifício quando conversavam na praça da Alfândega, em Porto Alegre. Esse acontecimento é aproveitado em seu livro “O resto é silêncio”.
    A censura no estado novo continuava atenta. A Globo cria a Editora Meridiano, uma subsidiária secreta para lançar obras que pudessem desagradar ao governo. Essa editora publica “As mãos de meu filho”, reunião de contos e outros textos, em 1942.
   No ano seguinte, publica “O resto é silêncio”, livro que merece críticas pesadas do clero local. Temendo que a ditadura Vargas viesse a causar-lhe danos e á sua família, aceita o convite para lecionar Literatura Brasileira na Universidade da Califórnia feito pelo Departamento de Estado americano. Muda-se para Berkley com toda a família.
   O Mills College, de Oakland, Califórnia, onde dava aulas de Literatura e História do Brasil, confere-lhe o título de doutor Honoris Causa, em 1944. É publicado o compêndio “Brazilian Literature: An Outline”, baseado em palestras e cursos ministrados durante sua estada na Califórnia. Esse livro foi publicado no Brasil, em 1955, com o título “Breve história da literatura brasileira”. Passa o ano de 1945 fazendo conferências em diversos estados americanos. Retorna ao Brasil. 
  Em 1946, publica “A volta do gato preto”, sobre sua vida nos Estados Unidos.
Inicia, em 1947, a escrever “O tempo e o vento”. Previsto para ter um só volume, com aproximadamente 800 páginas, e ser escrito em três anos, acabou ultrapassando as 2.200 páginas, sob a forma de trilogia, consumindo quinze anos de trabalho.  Traduz “Mas não se mata cavalo”, de Horace McCoy. Faz a primeira adaptação para o cinema de uma obra de sua autoria: “Mirad los lírios Del campo”, produção argentina  dirigida por Ernesto Arancibia que tinha em seu elenco Mauricio Jouvet e Jose Olarra.
    No ano seguinte, dedica-se a ordenar as anotações que vinha guardando há tempos e dar forma ao romance “O continente”. Traduz “Maquiavel e a dama”, de Somerset Maugham.
    ”O continente”, primeiro volume de “O tempo e o vento”, é finalmente publicado, em 1949, recebendo muitos elogios da crítica. Recebe o escritor franco-argelino Albert Camus, autor de “A peste”, em sua passagem por Porto Alegre.
    No ano de 1951, é lançado o segundo livro da trilogia “O tempo e o vento”: “O retrato”. O trabalho não tão bem recebido pela crítica como o primeiro livro.
  Assume, em 1953, a convite do governo brasileiro, em Washington, E.U.A., a direção do Departamento de Assuntos Culturais da União Pan-Americana, na Secretaria da Organização dos Estados Americanos, substituindo a Alceu Amoroso Lima.
   No ano seguinte, é agraciado com o prêmio Machado de Assis, concedido pela Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto de sua obra. Lança “Noite”, novela que é traduzida na Noruega, França, Estados Unidos e Inglaterra. Visita, face às funções assumidas junto à OEA, diversos países da América Latina, proferindo palestras e conferências.
    De volta ao Brasil, em 1956, lança “Gente e bichos”, coleção de livros para crianças. Sua filha casa-se com David Jaffe e vai morar nos Estados Unidos. Dessa união nasceriam seus netos Michael, Paul e Eddie.
   Em 1957, publica “México”, onde conta as impressões da viagem que fizera àquele país.
   ”O arquipélago”, terceiro livro da trilogia “O tempo e o vento”, começa a ser escrito em 1958. Tem um mal-estar ao discursar na abertura de um congresso em Porto Alegre. Consegue se refazer e disfarçar o ocorrido.
    Acompanhado de sua mulher e do filho Luis Fernando, faz sua primeira viagem à Europa, em 1959. Expõe sua defesa à democracia em palestras proferidas em Portugal e entra em choque com a ditadura salazarista. Lança “O ataque”, que reunia três contos: “Sonata”, “Esquilos de outono” e “A ponte”, além de um capítulo inédito de “O arquipélago”. Passa uma temporada na casa de sua filha, em Washington.
Dedica-se, em 1960, a escrever “O arquipélago”.
    Em 1961, sofre o primeiro infarto do miocárdio. Após dois meses de repouso absoluto, volta aos Estados Unidos com sua mulher. Saem os primeiros tomos de “O arquipélago”.
  O terceiro tomo de “O Arquipélago” é publicado em 1962, concluindo o projeto de “O tempo e o vento”. O volume é considerado uma obra-prima. Visita a França, Itália e a Grécia. A mãe do biografado falece em 1963.
    Em 1964, seu filho Luis Fernando casa-se com Lúcia Helena Massa, no Rio de Janeiro, cidade para a qual ele se mudara em 1962. Dessa união nasceriam Fernanda, Mariana e Pedro. Insurge-se contra o golpe militar e dirige manifesto a seus leitores em defesa das instituições democráticas. Recebe o título de “Cidadão de Porto Alegre”, conferido pela Câmara de Vereadores daquela cidade.
    Ganha o Prêmio Jabuti – Categoria “Romance”, da Câmara Brasileira de Livros, em 1965, com o livro “O senhor embaixador”. Volta aos Estados Unidos.
     A convite do governo de Israel, visita aquele país em 1966. Vai aos Estados Unidos, mais uma vez, visitar seus familiares. Escreve “O prisioneiro”, que seria lançado em 1967. A Editora José Aguilar, do Rio de Janeiro, publica, em cinco volumes, o conjunto de sua ficção completa. Desse conjunto faz parte uma pequena autobiografia do autor, sob o título “O escritor diante do espelho”. 
   ”O tempo e o vento”, sob a direção de Dionísio Azevedo, com adaptação de Teixeira Filho, estréia na TV Excelsior, em 1967. No elenco, Carlos Zara, Geórgia Gomide e Walter Avancini. 
    É agraciado com o prêmio “Intelectual do ano” (Troféu Juca Pato”), em 1968, em concurso promovido pela “Folha de São Paulo” e pela “União Brasileira de Escritores”.
    No ano seguinte, a casa onde Erico nascera, em Cruz Alta, é transformada em Museu Casa de Erico Verissimo. Lança “Israel em abril”.
    Em 1971, é editado o livro “Incidente em Antares”. 
    Em 1972, comemorando os 40 anos de lançamento de seu primeiro livro, relança “Fantoches”, onde o autor acrescentou notas e desenhos de sua autoria.
    Amplia sua autobiografia, publicada em 1966, fazendo surgir suas memórias — sob o título de “Solo de clarineta” — cujo primeiro volume é publicado em 1973.
   O escritor falece subitamente no dia 28 de novembro de 1975, deixando inacabada a segunda parte do segundo volume de suas memórias, além de esboços de um romance que se chamaria “A hora do sétimo anjo”.
   Carlos Drummond de Andrade faz homenagem ao amigo fazendo publicar o seguinte poema:

A falta de Erico Verissimo 
Falta alguma coisa no Brasil
depois da noite de sexta-feira.
Falta aquele homem no escritório
a tirar da máquina elétrica
o destino dos seres,
a explicação antiga da terra.
Falta uma tristeza de menino bom
caminhando entre adultos
na esperança da justiça
que tarda - como tarda!
a clarear o mundo.
Falta um boné, aquele jeito manso,
aquela ternura contida, óleo
a derramar-se lentamente.
Falta o casal passeando no trigal.
Falta um solo de clarineta.

     Postumamente, é lançado, em 1976, “Solo de clarineta – Memória 2”, organizada por Flávio Loureiro Chaves.
    ”Olhai os lírios do campo”, com adaptação de Geraldo Vietri e Wilson Aguiar Filho, é a novela apresentada pela TV Globo, em 1980, sob a direção de Herval Rossano. No elenco, Cláudio Marzo e Nívea Maria. 
    A esposa do autor, Mafalda, e a professora Maria da Glória Bordini, da PUC-RS, iniciam a organização dos documentos por ele deixados, em 1982.
    É instalado, no programa de Pós-Graduação em Letras da PUC-RS — como projeto de pesquisa do CNpQ, o Acervo Literário de Erico Verissimo, em 1984. A coordenação fica a cargo da professora Maria da Glória Bordini.
   No ano seguinte, a Rede Globo leva ao ar a série “O tempo e o vento”, adaptação de Doc Comparato e Regina Braga, direção de Paulo José, com Glória Pires, Armando Bogus, Tarcísio Meira e Lima Duarte, entre outros. 
Em 1986, o Museu de Cruz Alta torna-se Fundação Erico Verissimo.
   O índice de toda a obra de Erico é informatizado através do Projeto Integrado CNpQ – Fontes da Literatura Brasileira, que o disponibiliza para consulta, em 1991.
    Em 1994, seu filho Luis Fernando assume a presidência da Associação Cultural Acervo Literário de Erico Verissimo, entidade encarregada de cuidar de toda a documentação literária do escritor. “Incidente em Antares”, adaptado por Charles Peixoto e Nelson Nadotti, com direção de Paulo José e constando de seu elenco Fernanda Montenegro,e Paulo Betti, é apresentada pela Rede Globo.
     A UFRS homenageia o autor, pela passagem dos 90 anos de seu nascimento, com uma mostra documental no salão de sua Reitoria. A PUC-RS realiza seminário internacional, coordenado por seu Programa de Pós-Graduação em Letras, em 1995.
   Organizada por Maria da Glória Bordini, publica-se, em 1997, “A liberdade de escrever”, coletânea de entrevistas do autor sobre política e literatura.
    Em 2002, a Globo inicia a edição definitiva da obra completa do autor. É inaugurado o Centro Cultural Erico Verissimo, destinado à preservação do Acervo Literário e da memória literária do Rio Grande do Sul. 
   Morre Mafalda Verissimo, viúva do escritor, em 2003.

www.releituras.com/everissimo_bio.asp

Professora explica a importância da obra de Erico Veríssimo
Por Elisa Marconi e Francisco Bicudo
   Aconteceu uma grande festa no último sábado, dia 17 de dezembro. Ou melhor: a festa na verdade acontece desde o ano passado. E a boa notícia é que todos os brasileiros foram convidados. O motivo de comemoração tão extensa e intensa é o aniversário do escritor gaúcho Erico Veríssimo, que estaria completando cem anos, caso estivesse vivo. O governo do estado do Rio Grande do Sul, por exemplo, empenhou-se para que cada escola pública de ensino fundamental e médio tivesse pelo menos um dia de homenagens e atividades comemorativas ao centenário de Veríssimo. Também as faculdades públicas e particulares do estado aderiram ao esforço e promoveram seminários, colóquios, debates e até uma espécie de olimpíada literária entre seus alunos, o que acabou envolvendo não só professores e estudantes, mas também as famílias e as comunidades locais, oferecendo aos festejos uma dimensão e simbologia muito maiores. No resto do Brasil, comemorações também aconteceram. Afinal, é mais do que justo resgatar a memória do autor de clássicos como “O Tempo e o Vento” ou “Incidente em Antares”, só para citar algumas obras.
    Para a professora de “Teoria Literária” da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Maria da Glória Bordini, existem duas razões para Erico Veríssimo gozar desse prestígio público. “E não é uma questão de mídia. Seus livros não são os da moda, não aparecem no topo da lista de mais vendidos, nem são os queridinhos das TVs”. Segundo a professora, a primeira faceta seria o compromisso, evidente em todas as obras do autor, com os direitos do homem, com a liberdade, além da crítica a questões sociais, mazelas que ainda hoje precisam ser revistas. “São problemas permanentes que, ao ler Veríssimo, o leitor reencontra. Os problemas retratados há 60 ou 70 anos continuam atuais, como o desemprego, a luta de classes, as injustiças sociais”, conta. A atualidade dos temas abordados pode ser encontrada até mesmo nos romances históricos, porque lá está a representação do que o país é contemporaneamente e do que foi no passado. A segunda razão para o prestígio do criador de personagens como Ana Terra é uma característica de sua arte. “Erico não escreve para si mesmo, como se a obra fosse um canal de expressão de problemas que o escritor quer expurgar. Ele também não escreve para a crítica, literária, acadêmica, ou altamente especializada, para ser aclamado e tido como imortal”. Maria da Glória explica que também não é um texto para um leitor qualquer, uma diversão efêmera, onde o leitor sequer seria levado a pensar depois de terminar a aventura literária. O público buscado por Veríssimo é um público universal, mas que se deixa tocar pelos problemas ali expostos. “Ou seja, são obras que associam a arte do romance a um forte traço de comunicabilidade. Resumindo: ele escreve de maneira acessível, mas sem abrir mão da sofisticação narrativa”, arremata a professora.

Narrativa romanesca
    Essa preocupação com a comunicação é o que explica também a razão do sucesso das adaptações das obras de Veríssimo para a televisão. Nos anos 1980, a Rede Globo exibiu a mini-série “O Tempo e o Vento”, com a participação de nomes importantes da dramaturgia televisiva, como Tarcísio Meira, Glória Pires, Julia Lemmertz, Diogo Vilela, dentre outros. Na década seguinte, a mesma emissora levou ao ar a micro-série “Incidente em Antares”, novamente com a participação de outros grandes, como Fernanda Montenegro e Paulo Betti. A professora da PUC-RS e especialista em Erico Veríssimo conta que o escritor era um apaixonado por cinema e assistia em larga escala a filmes franceses, italianos e americanos. Desse convívio tão intenso com a sétima arte, Veríssimo conquistou a possibilidade de uma narrativa mais visual. Essa narrativa romanesca, afinada com as características de visualidade dos meios eletrônicos, deu origem a um casamento muito adequado. Para ela, as duas séries citadas e outros programas já realizados por outras emissoras costumam ser bem fiéis não só às obras, mas também às propostas de Veríssimo. “O curioso é que o cinema ainda não tenha nos presenteado com nenhuma adaptação generosa como foram as de TV, mas ainda está em tempo”, brinca Maria da Glória.
    Apesar de as mini-séries sobre as obras de Veríssimo terem alcançado sucesso nacional, vale lembrar seus aspectos locais, já que o escritor invariavelmente é chamado de “pai da literatura gaúcha” ou mesmo de “fundador da literatura gaúcha”. Questionada sobre essa característica, Maria da Glória ri e confessa que adora quando a pergunta aparece. “Ele é sim o fundador, porque foi o primeiro escritor do Rio Grande a falar sobre o homem e a mulher do Rio Grande, contar sua história e sua saga, a ter projeção nacional”. E completa: “Mas sua obra está longe de ser uma obra regionalista, ele não enfoca em momento algum o exotismo das personagens gaúchas, ele fala é do povo brasileiro”. A grande preocupação de Erico Veríssimo, ainda de acordo com Maria da Glória, era retratar as relações humanas dentro das cidades, os jogos, as movimentações e as relações de poder que acontecem num ambiente urbano. E isso acontece de maneira muito parecida nas capitais e no interior das cinco regiões brasileiras, não só no sul. Ou seja, para ela, “o Brasil se reconhece e se espelha nos romances de Erico, sejam os históricos, sejam os urbanos”.
    Em “O Tempo e o Vento”, por exemplo, o autor mostra um país agrário, em que o poder estava nas mãos dos proprietários de terras, que vai, aos poucos, se modernizando, ou tentando se modernizar, procurando ganhar ares de uma sociedade industrial, mas que não chega a completar o ciclo. Acaba ficando no meio do caminho, porque a nova classe que ascende ao poder se corrompe. Na opinião da especialista, esse é o foco central da obra, que não deixa de ser uma história muito semelhante ao que aconteceu – e quiçá ainda acontece – no Brasil todo. “Rodrigo Terra Cambará é o retrato de boa parte da classe política brasileira. Veja só, ele é um homem preparado, foi estudar na Europa, volta para ocupar um lugar de poder e quando chega lá, o que acontece? Ele se corrompe. Você não já viu essa história um milhão de vezes antes?”, propõe a professora da PUC-RS.

Relatos de viagem
    Mas ainda melhor que as obras de caráter nacional de Veríssimo são seus relatos de viagem. Também nesses livros o perfil cosmopolita do escritor fica reforçado. Ele viajou pelas três Américas, pela Europa e escreveu até sobre o Oriente Médio, a partir de uma passagem por Israel; em todas as obras desse gênero, aparece claramente um Erico Veríssimo observador e pesquisador. De acordo com Maria da Glória, essas obras, pouco conhecidas, são tidas como umas das melhores do gênero. “Os mexicanos, por exemplo, consideram o relato de Erico sobre sua viagem àquele país, na década de 1960, a melhor descrição do México feita por um estrangeiro”, conta. Nos anos 1930 e 1940, Veríssimo escreveu apaixonadamente sobre a democracia norte-americana. “Embora isso pareça meio dissonante em tempos atuais, temos que lembrar que ele comparava a democracia americana ao Estado Novo de Getúlio Vargas, que vivíamos aqui no Brasil. E mais, também opunha a democracia dos Estados Unidos ao fascismo e ao nazismo que assolavam a Europa”, explica a especialista. Em relação a Israel, não faltam escritos curiosos, explicando o país como um mundo de vida coletiva, em que bens e trabalhos eram divididos, e sugerindo que isso poderia ser exemplo para o mundo. E toda essa experiência, é claro, acaba vazando para os romances. Maria da Glória conta que “O Senhor Embaixador” só poderia ter sido escrito por alguém que viveu e conheceu muito de perto a realidade diplomática de Washington e também as realidades das repúblicas ditatoriais das Américas Central e do Sul.

Convite à leitura
   E é nesse ponto que Maria da Glória acha que a educação deixa a desejar. Hoje, ainda é a escola a grande responsável pela introdução às obras do escritor gaúcho. Normalmente, é a partir da leitura recomendada por professores que adolescentes e jovens travam seu primeiro contato com os livros de Veríssimo. Portanto, essa mesma escola não deveria focar seus trabalhos apenas nos romances do autor. Eles são muito ricos e cheios de características que possibilitam muita discussão e produção em sala de aula, é verdade. Mas a trajetória criativa do autor é também recheada de obras que nascem a partir dos relatos de viagem. E esses relatos, segundo a professora, podem servir de subsídio para várias disciplinas, não apenas para a Literatura. “História, Geografia e, mais recentemente, História do Cotidiano, das Mentalidades e Geografia Cultural podem se apoiar nos romances e nos relatos, porque lá há informação valiosa, revelada pelos olhos de um observador curioso”, sugere. Ela entende que uma das razões para que esse exercício não aconteça é a falta de conhecimento e de domínio dessas obras pelos professores. E, apoiada nisso, faz o convite: “A vida de um escritor depende da leitura de suas obras. Leiam primeiro. Antes de qualquer crítica ou comentário. Porque a literatura dá subsídios para que o leitor a compreenda. E a compreensão da obra é que a faz interessante, prazerosa. Essa experiência, quando vivida pelo professor, é transmitida naturalmente para os alunos”

www.sinprosp.org.br/reportagens_entrevistas.asp?especial=100






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