Na literatura e
no jornalismo,
uma crônica é uma narração curta,
produzida essencial-mente para ser veiculada na imprensa,
seja nas páginas de uma revista, seja nas páginas de um jornal ou
mesmo na rádio. Possui assim uma finalidade
utilitária e pré-determinada: agradar aos leitores dentro de um espaço sempre igual
e com a mesma localização, crian-do-se assim, no transcurso dos dias ou das semanas,
uma familiaridade entre o escritor e aqueles que o leem.
Origem
A
palavra crônica deriva do Latim chronica que significava, no início do Cristianismo,
o relato de acontecimentos em sua ordem temporal (cronológica). Era, portanto,
um registro cronológico de eventos. ,
No
século XIX, com o desenvolvimento da imprensa, a crônica passou a fazer parte
dos jornais. Ela apareceu pela primeira vez em 1799, no Journal
des Débats, publicado em Paris.
A
crônica literária, surgida a partir do folhetim,
na França, tomou características próprias no Brasil.
Características
-
Narrativa curta e direta;
-
Estrutura em dois suportes: fato e comentário;
-
O fato pode ser real ou ficcional, o comentário são
considerações do mais variado teor (humorísticas, filosóficas, líricas,
sociológicas, morais, psicológicas...);
-
Origem jornalísticas (jornais e revistas), podem ser reunidas em livros após;
-
Principais características: circunstancialidade (fato do momento) e linguagem coloquial (leitor cúmplice ou confidente);
-
Maior destaca.do cronista do Modernismo: Alcântara Machado;
-Contemporâneos: Rubem Braga, Paulo Mendes· Campos, Fernando Sabino, Luís
Fernando Veríssimo.
No
formato que a crônica tem hoje, ela é um gênero recente. A temática aborda
alguma situação cotidiana, a partir da qual o cronista desenvolve algumas
reflexões, no geral, sem grande comprometimento, podendo ser críticas,
filosóficas ou humorísticas.
A
linguagem adotada também é despojada, sendo comum o emprego do coloquial.
Confunde-se com o conto moderno não só pelo tamanho, mas também porque a
crônica merece estudos mais detidos para ter seu perfil mais bem enquadrado;
Uma
diferença significativa é que na crônica não deve haver ninguém com
caracterização própria de personagem, no sentido ficcional, como ter perfil
psicológico, personalidade e participação em ações que caracterizem um enredo.
Durante
as décadas de cinquenta, sessenta e setenta, surgiram alguns dos melhores
cronistas brasileiros até hoje, entre eles, Rubem Braga, Paulo Mendes Campos,
Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta), Fernando Sabino, Carlos Eduardo Novaes.
1. A origem da
crônica
Já nas mais antigas civilizações conhecidas
(Egito, Suméria, Assíria) aparece uma curiosa figura: o escriba. Sua função?
Escrever, é evidente. Escrever o que e para quem? Estava a serviço do rei,
faraó, ou pessoa de grande destaque na hierarquia dirigente.
Fazia
o registro de operações de compra e venda, uma contabilidade rudimentar,
preparava dados biográficos de nobres e aristocratas, mas, principalmente,
acompanhava seus chefes nas campanhas guerreiras, fazendo relatos de cada
etapa, vitória, derrota ou conquista. Tais registros seriam lidos, ao retorno
das andanças bélicas, pelos sacerdotes, para encantamento da população que
mandara seus filhos ao sacrifício pela glória do supremo dirigente.
O que se pode deduzir de tais registros é
que não passavam de uma espécie de “diário de campanha”, cuja fidelidade aos fatos
era bastante duvidosa, já que se destinavam a elogiar e enaltecer o chefe. Essa
tendência de muitos escritores se mantém até os dias atuais, refletindo o que
diz esta antiga máxima: “Aos reis, como às crianças, é preciso enganá-los, para
seu próprio bem”. Sintomaticamente, José de Alencar colocou esse provérbio na
introdução de seu livro Crônica dos Tempos Coloniais, debaixo de um subtítulo:
Advertência.
Aí está, com todos os seus vícios de
origem, a primeira manifestação de um gênero que, depois, derivou para a
crônica, ou para o diário e até para a autobiografia.
O
que mais se aproxima, hoje, da atividade dos antigos escribas é, certamente, o
noticiarista, encarregado de relatar os fatos do dia-a-dia, para jornais,
rádios e televisões, sem acrescentar-lhes comentários.
O cronista de si
mesmo
Outro tipo de cronista é o que dispensa o
escriba e passa a relatar seus próprios feitos gloriosos. Exemplo típico foi
Júlio César que, no livro De Beilo Galico (sobre a Guerra nas Gálias), contou
sua saga para a posteridade. Foi bastante imitado, tanto assim que relatos
desse tipo, assinados por grandes personalidades históricas, como o marechal
Montgomery, o general von Rommell e outros, são freqüentes.
Se,
por um lado, isso pode levar a distorções quanto à veracidade dos fatos, por
outro, o receio de parecer ridículo, exagerado ou. até mentiroso deve ter
contido, em muitos desses relatos autobiográficos, os impulsos de
auto-exaltação. Pelo menos uma constatação tem sido feita: os historiadores não
encontraram muitos fatos a contestar em tais crônicas de campanha.
O cronista à distância
O cronista pode também manter-se a
distância dos fatos. É bem antiga essa forma de relatar. Já a encontramos em
Homero que, com certeza, não esteve presente nos episódios que relatou. Mas sua
forma de dizê-lo, embora em versos, é típica da crônica:
Fomos
aí ter a magnífico porto, cercado ele todo de pedras íngremes, que nuas se
erguem por ambos os lados.
Dois promontórios, em frente postados um
ao outro, se encontram logo na entrada, salientes…
A linguagem é a mesma do cronista
“testemunha ocular da História”, mas, evidentemente, muito de imaginação e de
visão poética entrou na composição da Odisséia
e da Ilíada.
Porém, um fato bem posterior e até
recente comprova que, mesmo a distância, Homero procurava a fidelidade
histórica. Tanto assim, que foi pela sua obra que se localizou o sítio onde
outrora existiu a cidade de Tróia.
Cronista à distância também foi Fernão
Lopes, o mais importante dos relatores portugueses da passagem da época medieval
para a renascentista, pois ele escreveu e recompôs, com base em documentos
pesquisados, a vida e os feitos de diversos reis de Portugal.
O fato de fazerem crônicas a distância
aproxima-os muito do historiador, pois o fato histórico e sua análise se
mantêm, perpetuando seus protagonistas.
É ainda José de Alencar quem nos conta
como concebeu o livro Guerra dos
Mascates:
Tornando ao gabinete, depois de uma manhã
perdida, deu-me a curiosidade de examinar as antigualhas do embrulho (que lá
fora deixado por um sacristão…) antes de mandá-las para o lixo. (…) Era o
manuscrito de uma crônica inédita sobre a Guerra dos Mascates.
E assim nasceu o livro de Alencar, a
partir de antigos alfarrábios deixados por algum cronista anônimo…
A
crônica moderna
Na verdade, a crônica que chamaremos de
moderna não é tão moderna e talvez não seja tão crônica…
Por exemplo: a carta de Pero Vaz de
Caminha ao rei de Portugal, relatando a descoberta do Brasil, não é uma carta.
E uma crônica, no melhor dos estilos de “testemunha ocular da História”.
Respeitou todas as técnicas da cronologia, com datas e até horários,
descrevendo passo a passo os acontecimentos. Por outro lado, o autor faz
comentários, aconselha, sugere, critica, tudo ao mesmo tempo.
Ora, essa miscelânea, quer de assuntos,
quer de posições assumidas pelo cronista, é bem típica de uma vertente da
crônica atual. Ela começa com pequenos tópicos, baseados em acontecimentos do
dia e analisados ora jocosa, ora humoristicamente. Quase sempre mordaz, de vez
em quando é poética, intimista, porque vai à intimidade do autor, geralmente
personalidade famosa do mundo das letras, sobre quem o leitor quer sempre saber
mais alguma coisa, de preferência íntima, particular, secreta. Um exemplo bem
marcante é a crônica “Meu filho”, em que Vargas Llosa revela pormenores de sua
vida familiar, de roldão com sua atividade mundana como integrante de júris
cinematográficos.
Cronistas modernos
No Brasil, tal tipo de miscelânea teve
grandes figuras: Viriato Correia, Humberto de Campos e seu Conselheiro XX,
Álvaro Moreyra, João do Rio e, bem mais modernamente, Rubem Braga, Fernando
Sabino, Rachei de Queiroz, Paulo Francis, Carlos Drummond de Andrade, Otto Lara
Resende, Carlos Heitor Cony, João Ubaldo Ribeiro, Luís Fernando Veríssimo.
Mas há também tipos de crônica que se
especializaram: a crônica política, como a que faz Carlos Heitor Cony e
Alexandre Garcia; a esportiva, como a que fazia João Saldanha; a humorística,
de Luís Fernando Veríssimo; a social, de Jacinto de Thormes; a gastronômica, de
Sylvio Lancellotti; a econômica, de Joelmir Betting; e tantas outras.
A crônica, hoje, é abrangente,
envolvente: abarca memória e profecia, presente e passado, literatura e
polêmica, exaltação e condenação. Está livre dos senhores e mecenas, cada vez
mais personalizada, refletindo muito mais o subjetivismo do autor do que o
objetivismo dos fatos. E o cronista transforma-se em testemunha ocular de si
mesmo.
2.
Tipos de crônica
Como classificar uma modalidade tão
maleável como a crônica? O que os textos geralmente têm em comum é a brevidade,
a abordagem reflexiva e subjetiva do autor. Apenas a crônica narrativa pode não
apresentar um posicionamento impressionista do narrador, atendo-se tão-somente
aos fatos, à história criada.
Por isso, na classificação que ora
apresentamos, as crônicas foram divididas considerando-se o procedimento
textual predominante — o comentário, a narração, o lirismo e outros —, o que
não elimina a mescla de procedimentos nem a impressão subjetiva exteriorizada
pelo autor.
a. Crônica descritiva
Quando uma crônica explora a caracterização
de seres animados e inanimados num espaço, viva como uma pintura, precisa como
uma fotografia ou dinâmica como um filme, temos uma crônica descritiva. A
captação impressionista, particularizada e conotativa dos elementos define a
descrição subjetiva; a captação referencial, impessoal e denotativa define a
descrição objetiva. O descritivismo é sempre veículo para reflexões numa
crônica centrada na descrição.
b. Crônica narrativa
Menor que um conto e maior que uma piada,
a crônica narrativa conta um episódio cativante cuja trama é leve e digestiva,
envolvendo muita ação, poucas personagens e uma conclusão inusitada. O humor
anedótico ou a crítica mordaz são os traços mais comuns da crônica narrativa.
Geralmente, não há intromissão do narrador (digressões, comentários,
apontamentos dissertativos).
c. Crônica
narrativo-descritiva
Quando um texto alterna momentos narrativos
com flagrantes descritivos, temos uma abordagem narrativo- descritiva. Dessa
forma, as ações detêm-se para que o leitor visualize, mentalmente, as imagens
que a sensibilidade do autor registra com palavras. O que se observa no texto
assim qualificado é a predominância da sucessão de ações sobre as inserções
descritivas.
d. Crônica lírica
Quando a nostalgia, a saudade e a emoção
predominam, tentando traduzir poeticamente a linguagem dos sentimentos, a crônica
é lírica.
e. Crônica reflexiva
Se a interioridade do autor projeta-se
sobre a realidade que o cerca, interpretando-a e registrando-a através de
conjecturas, inferências e associações de idéias, temos a crônica reflexiva.
f. Crônica metalinguística
Na crônica metalinguística, o autor
volta-se para o ato de escrever, sob a forma de uma reflexão despretensiosa, de
uma retrospectiva das primeiras experiências com as letras, de uma análise da
palavra.
g. Crônica-comentário
Cercando-se de impressões críticas, com
ironia, sarcasmo ou humor, a crônica-comentário resulta num texto cujo ponto
forte são as interpretações do autor sobre um determinado assunto, numa visão
quase jornalística.
muito obrigadoo, ajudou muito
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