Vinicius de Moraes, nascido Marcus
Vinicius de Moraes (Rio de Janeiro, 19 de outubro de 1913 —Rio de Janeiro, 9 de julho de 1980) foi um diplomata , dramaturgo, jornalista, poeta e compositor brasileiro.
Poeta essencialmente lírico, o que lhe renderia a alcunha "poetinha",[5] que
lhe teria atribuído Tom Jobim, notabilizou-se
pelos seus sonetos.
Conhecido como um boêmio inveterado, fumante e
apreciador do uísque, era também conhecido por ser um grande conquistador. O poetinha casou-se
por nove vezes ao longo de sua vida e suas esposas foram, respectivamente:Beatriz Azevedo
de Melo (mais conhecida como Tati de
Moraes), Regina Pederneiras, Lila Bôscoli, Maria Lúcia Proença,
Nelita de Abreu, Cristina Gurjão, Gesse Gessy, Marta Rodrigues Santamaria (a
Martita) e Gilda de Queirós Mattoso.
Sua obra é vasta, passando pela literatura, teatro, cinema e música.
Ainda assim, sempre considerou que a poesia foi sua primeira e maior vocação, e
que toda sua atividade artística deriva do fato de ser poeta. No campo musical,
o poetinha teve como principais parceiros Tom Jobim, Toquinho, Baden Powell, João Gilberto, Chico Buarque e Carlos Lyra.
Vida
Vinicius de Moraes nasceu em 1913 no bairro da Gávea, no Rio de Janeiro, filho de Clodoaldo Pereira
da Silva Moraes, funcionário da Prefeitura, poeta e violinista amador, e Lídia
Cruz, pianista amadora. Vinícius é o segundo de quatro filhos, Lygia (1911),
Laetitia (1916) e Helius (1918). Mudou-se com a família para o bairro de Botafogo em 1916,
onde iniciou os seus estudos na Escola Primária Afrânio Peixoto. Desde então,
já demonstrava interesse em escrever poesias. Em 1922, a sua mãe adoeceu e
a família de Vinicius mudou-se para a Ilha do Governador, ele e sua irmã Lygia
permanecendo com o avô, em Botafogo, para terminar o curso primário.
Vinicius de Moraes ingressou em 1924 no Colégio Santo Inácio, de padres jesuítas,
onde passou a cantar no coral e começou a montar pequenas peças
de teatro.
Três anos mais tarde, tornou-se amigo dos irmãos Haroldo e Paulo Tapajós,
com quem começou a fazer suas primeiras composições e a se apresentar em festas
de amigos. Em 1929, concluiu o ginásio e no ano seguinte, ingressou na
Faculdade de Direito do Catete, hoje Faculdade Nacional de Direito (UFRJ). Na
chamada "Faculdade do Catete", conheceu e tornou-se amigo do romancista Otavio
Faria, que o incentivou na vocação literária. Vinicius de Moraes graduou-se
em Ciências Jurídicas e Sociais em 1933.
Três anos depois, obteve o emprego de censor cinematográfico junto
ao Ministério da Educação e Saúde.
Dois anos mais tarde, Vinicius de Moraes ganhou uma bolsa doConselho Britânico para estudar língua e
literatura inglesas na Universidade de Oxford. Em 1941, retornou
ao Brasil empregando-se como crítico de cinema no jornal "A
Manhã". Tornou-se também colaborador da revista "Clima" e
empregou-se no Instituto dos Bancários.
No ano seguinte, foi reprovado em seu primeiro concurso para o Ministério das Relações Exteriores (MRE).
Em 1943, concorreu novamente e desta vez foi aprovado. Em 1946, assumiu o
primeiro posto diplomático como vice-cônsul em Los Angeles.
Com a morte do pai, em 1950, Vinicius de Moraes retornou ao Brasil. Nos anos
1950, Vinicius atuou no campo diplomático em Paris e em Roma, onde costumava
realizar animados encontros na casa do escritor Sérgio Buarque de Holanda.
No final de 1968 foi afastado da carreira diplomática tendo sido
aposentado compulsoriamente pelo Ato Institucional Número Cinco.
O poeta estava em Portugal, a dar uma série de espectáculos, alguns com Chico Buarque e Nara Leão,
quando o regime militar emitiu
o AI-5. O motivo apontado para o afastamento foi o seu comportamento boêmio que
o impedia de cumprir as suas funções. Vinícius foi anistiado (post-mortem) pela
Justiça em 1998. A Câmara dos Deputados brasileira aprovou
em fevereiro de 2010 a promoção póstuma do poeta ao cargo de "ministro de
primeira classe" do Ministério dos Negócios Estrangeiros -
o equivalente aembaixador, que é o cargo mais alto da carreira diplomática. A
lei foi publicada no Diário Oficial do dia 22 de junho de 2010 e recebeu o
número 12.265.
Vinicius começou a se tornar prestigiado com sua peça de teatro "Orfeu da Conceição", em 25 de setembro
de 1956. Além da diplomacia, do teatro e dos livros, sua carreira musical
começou a deslanchar em meados da década de 1950 - época em que conheceu o
maestro Tom Jobim (um
de seus grandes parceiros) -, quando diversas de suas composições foram
gravadas por inúmeros artistas. Na década seguinte, Vinicius de Moraes
viveu um período áureo na MPB, no qual foram gravadas cerca de 60 composições
de sua autoria. Foram firmadas parcerias com compositores como Baden Powell, Carlos Lyra e Francis Hime.
Na década de 1970, já consagrado e com um novo parceiro, o
violonista Toquinho, Vinicius seguiu lançando álbuns e livros de grande
sucesso.
Na noite de 9 de julho de 1980, acertando detalhes com Toquinho sobre as
canções do álbum "Arca de Noé", Vinicius alegou cansaço e
que precisava tomar um banho. Na madrugada do dia seguinte Vinicius foi
acordado pela empregada, que o encontrara na banheira de casa, com dificuldades
para respirar. Toquinho, que estava dormindo, acordou e tentou socorrê-lo,
seguido por Gilda Mattoso (última esposa do poeta), mas não houve tempo e
Vinicius de Moraes morreu pela manhã.
Carreira artística
O início
No fim da década de 1920, Vinicius de Moraes produziu letras para dez
canções gravadas - nove delas parcerias com os Irmãos Tapajós. Seu primeiro
registro como letrista veio em 1928, quando compôs (com Haroldo) "Loira ou
Morena", gravado em 1932 pela dupla de irmãos. Vinicius teve publicado seu
primeiro livro de poemas, O Caminho para a Distância, em 1933, e
lançou outros livros de poemas nessa década. Foram também gravadas outras
canções de sua autoria, como "Dor de uma Saudade" (composta com
Joaquim Medina), gravada em 1933 por João Petra de Barros e Joaquim
Medina, "O Beijo Que Você Não Quis Dar" (composta com Haroldo
Tapajós) e "Canção da Noite" (composta com Paulo Tapajós), ambas
gravadas em 1933 pelos Irmãos Tapajós e também "Canção para Alguém"
(composta com Haroldo Tapajós), gravada pelos mesmos um ano depois.
Ainda na década de 1930, Vinicius de Moraes estabeleceu amizade com os
poetas Manuel Bandeira, Mário de Andrade e Oswald de
Andrade. Em sua fase considerada mística,
ele recebeu o Prêmio Felipe D'Oliveira pelo livroForma e Exegese,
de 1935. No ano seguinte, lançou o livro Ariana, a Mulher.
Declarava-se, na juventude, partidário do Integralismo, partido brasileiro de
inspiração fascista.
Mudança de
fase
Na década de 1940 suas obras literárias foram marcadas por versos em
linguagem mais simples, sensual e excitante, por vezes, carregados de temas
sociais. Vinicius de Moraes publicou os livros Cinco Elegias (1943),
que marcou esta nova fase, e Poemas, Sonetos e Baladas (1946);
obra ilustrada com 22 desenhos de Carlos Leão.
Atuando como jornalista e crítico de cinema em diversos jornais,
Vinicius lançou em 1947, com Alex Vianny, a revista Filme. Dois
anos depois, publicou em Barcelona o livro Pátria Minha.
No âmbito político, depois de viajar ao Nordeste em 1942, na companhia do escritor
estadunidense Waldo Frank, torna-se um anti-fascista convicto e passa a se
influenciar por ideias comunistas.[17]
De volta ao Brasil no início dos anos 1950, após servir ao Itamaraty nos Estados
Unidos, Vinicius começou a trabalhar no jornal Última Hora,
exercendo funções burocráticas na sede do Ministério das Relações Exteriores.
Em 1953, Aracy de Almeida gravou "Quando Tu
Passas Por Mim", primeiro samba de sua autoria.
Escrita com Antônio Maria, a canção
foi dedicado à esposa Tati de Moraes -
e marcava também o fim do seu casamento. Ainda naquele ano, Vinícius foi
para Paris como
segundo secretário da embaixada brasileira. Aracy de Almeida também gravou
"Dobrado de Amor a São Paulo" (outra parceria com Antônio Maria), em
1954.
Orfeu e o
amigo Tom
Em 1954, Vinícius publica sua coletânea de poemas, Antologia
Poética, mesmo ano que publica sua peça teatral Orfeu da Conceição, premiada no concurso do
IV Centenário de São Paulo e publicada na revista Anhembi.
Dois anos depois, quando Vinicius buscava alguém para musicar a peça, e aceitou
a sugestão do amigo Lúcio Rangel para trabalhar com um jovem pianista, Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim,
que na época tinha 29 anos e vivia da venda de músicas e arranjos nos inferninhos
deCopacabana.
Do encontro entre Vinícius e Tom nasceria uma das mais fecundas
parcerias da música brasileira, que a marcaria definitivamente. Os dois
compuseram a trilha sonora, que incluía "Lamento no
Morro", "Se Todos Fossem Iguais A Você", "Um Nome de
Mulher", "Mulher Sempre Mulher" e "Eu e Você" e foram
lançadas em disco por Roberto Paiva, Luiz Bonfá e Orquestra. A peça estreou
no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
Além destas canções, a dupla Vinicius e Tom compuseram, entre outros clássicos,
"A Felicidade", "Chega de Saudade", "Eu sei que vou te amar",
"Garota de Ipanema",
"Insensatez", entre outras belas canções.
Entre 1957 a 1958, o diretor de
cinema francês Marcel Camus filmou
"Orfeu do Carnaval" no Rio de Janeiro, filme este que recebeu o nome
de Orfeu Negro. Vinicius compôs para o filme
"A Felicidade" e "O Nosso Amor". Um ano depois, o filme
seria contemplado com a Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes e
o Oscar de melhor filme estrangeiro.
Em 1957 teve sua carreira diplomática transferida para Montevidéu,
onde permaneceu por três anos.
A Bossa Nova
O ano de 1958 marcaria o início de um dos movimentos mais importantes da
música brasileira, a Bossa Nova. A pedra fundamental do movimento
veio com o álbum "Canção do Amor Demais", gravado pela cantora Elizeth
Cardoso. Além da faixa-título, o antológico LP contava ainda com
outras canções de autoria da dupla Vinicius e Tom, como "Luciana",
"Estrada Branca", "Outra Vez" e "Chega de
Saudade", em interpretações vocais intimistas.
"Chega de Saudade" foi uma canção fundamental daquele novo
movimento, especialmente porque o álbum de Elizeth contou com a participação de
um jovem violonista, que com seu inovador modo de tocar o violão, caracterizado
por uma nova batida, marcaria definitivamente a bossa nova e a tornaria famosa
no mundo inteiro a partir dali. O nome deste violonista é João Gilberto.[13] A
importância do disco "Canção do Amor Demais" é tamanha que ele é tido
como referência por muitos artistas como Chico Buarquee Caetano
Veloso.
Várias das composições de Vinicius foram gravadas na metade final
daquela década por outros artistas. Joel de
Almeida gravou "Loura ou Morena" (1956). No ano
seguinte, Aracy de Almeida gravou "Bom Dia, Tristeza" (composta
com Adoniran Barbosa), Tito Madi gravou
"Se Todos Fossem Iguais A Você", Bill Farr gravou
"Eu Não Existo Sem Você", Agnaldo Rayol gravou
"Serenata do Adeus" e Albertinho Fortuna gravou "Eu Sei Que
Vou Te Amar". "O Nosso Amor" e "A Felicidade" foram
duas das canções mais lançadas no final daquela década. A primeira foi gravada
por Lueli Figueiró e Diana Montez, ambas em 1959. Já a segunda foi lançada por
Lueli Figueiró, Lenita Bruno, Agostinho dos Santos e João Gilberto.
Servindo ao Itamaraty em Montevidéu desde
1957, Vinicius de Moraes deixaria a embaixada brasileira no Uruguai somente
em 1960. Suas canções continuaram sendo gravadas por muitos artistas no início
da década de 1960. Foram lançadas "Janelas Abertas" (composta com Tom
Jobim), por Jandira Gonçalves, e "Bate Coração", (composta com
Antônio Maria), por Marianna Porto de Aragão, cantora cultuada na época como
uma das vozes mais poderosas de toda uma geração de cantoras.
Novas
parcerias
No ano seguinte, Vinicius registrou pela primeira vez sua voz, em um
álbum contendo os sambas "Água de Beber" e "Lamento
no Morro", novamente parcerias com Tom Jobim. O poeta teria também um
novo parceiro naquele período, o cantor, compositor e violonista Carlos Lyra.
Com ele, Vinicius iria compor clássicos como "Você e Eu", "Coisa
Mais Linda", "A Primeira Namorada" e "Nada Como Te
Amar". Ainda em 1961, o Teatro Santa
Rosa foi inaugurado no Rio de Janeiro com "Procura-se
uma rosa", peça de autoria de Vinicius, Pedro Bloch e Gláucio Gil -
filmada depois pelo cinema italiano com o nome de "Una Rosa per
Tutti" (o longa-metragem foi rodado no Rio e
estrelado por Claudia Cardinale).
Em 1962, a Banda do Corpo de Bombeiros fluminense gravou "Serenata
do Adeus", um ano após gravarem "Rancho das Flores",
marcha-rancho com versos do poeta sobre tema de Jesus, Alegria dos
Homens, de Johann Sebastian Bach. Ainda naquele ano,
enquanto "Canção da Eterna Despedida" (composta com Tom Jobim)
"Em Noite de Luar" (composta com Ary Barroso)
foram gravadas por Orlando Silva e Ângela Maria,
respectivamente, Vinicius de Moraes publicou três livros: Antologia
Poética, Procura-se Uma Rosa e Para Viver Um
Grande Amor.
Com Pixinguinha, compôs a trilha sonora do
filme Sol sobre a Lama, de Alex Vianny,
escrevendo as letras para os chorinhos "Lamento"
e "Mundo Melhor". Também naquele período, nasceu a parceria com o
compositor e violonista Baden Powell.
Desta, resultariam inúmeros sucessos, como "Apelo", "Canção de
Amor", "Canto de Ossanha", "Formosa", "Mulher
Carioca", "Paz", "Pra Que Chorar", "Samba da
Bênção", "Samba Em Prelúdio", "Só Por
Amor", "Tem Dó", "Tempo Feliz", entre outras.
Em agosto de 1962, com Tom Jobim, João Gilberto e o grupo Os Cariocas,
Vinicius de Moraes participou de "Encontro", um dos mais importantes
concertos da bossa nova e realizado na boate "Au Bon Gourmet", no Rio
de Janeiro. Neste show, foram lançadas clássicos da música popular brasileira como
"Ela é Carioca", "Garota de Ipanema",
"Insensatez", "Samba do Avião" e "Só Danço
Samba". Naquela mesma casa noturna foi montada "Pobre Menina
Rica", mais uma peça do poeta, cuja trilha sonora trazia canções
como "Sabe Você", "Primavera" e "Samba do
Carioca" (lançando a cantora Nara Leão),[13] ambas
parcerias com Carlos Lyra. Ainda naquele ano, Vinicius comporia com Lyra "Marcha
da Quarta-feira de Cinzas" e "Minha Namorada".
Várias daquelas seriam gravadas em 1963. Jorge Goulart gravou
"Marcha da Quarta-feira de Cinzas", Elizeth Cardoso gravou
"Mulher Carioca" e "Menino Travesso" (composta com Moacir Santos), Elza Soares gravou
"Só Danço Samba", Pery Ribeiro e
o Tamba Trio gravaram
"Garota de Ipanema" e Jair
Rodrigues gravou "O Morro Não Tem Vez"(composta
com Tom Jobim).
Naquele mesmo período, Vinicius de Moraes lançou com a atriz Odete Lara seu
primeiro álbum: Vinicius e Odete Lara. Com arranjos e
regência do poeta Moacir Santos, o LP continha canções da parceria com Baden
Powell, como "Berimbau", "Mulher Carioca", "Samba em
Prelúdio" e "Só por Amor", entre outras. Ainda em 1963, o selo
Copacabana lançou o álbum "Elizeth Interpreta Vinicius",
contendo as parcerias do poetinha com Baden Powell, Moacir Santos (e arranjos
deste), Nilo Queiroz e Vadico.
Retorno ao
Brasil
Em 1964, Vinicius retornou ao Brasil e logo se apresentou na boate
"Zum Zum", ao lado de Dorival
Caymmi, Quarteto em Cy e o Conjunto de Oscar Castro Neves. O concerto teve
grande repercussão nos meios artísticos e foi lançado em LP pelo selo Elenco,
contendo composições como "Bom-dia, Amigo" (parceria com Baden
Powell), "Carta ao Tom", "Dia da Criação" e "Minha
Namorada" (parcerias com Carlos Lyra), e "Adalgiza",
"...Das Rosas", "História de Pescadores" e "Saudades
da Bahia" (parcerias com o cantor, compositor e violonista Dorival
Caymmi).[13]
Duas canções de Vinicius de Moraes concorreram, em 1965, o I Festival
Nacional de Música Popular Brasileira (da extinta TV Excelsior).
"Arrastão" (composta com Edu Lobo),
defendida por Elis Regina, ficou com o primeiro lugar, e
"Valsa do Amor que Não Vem" (parceria com Baden Powell), defendida
por Elizeth Cardoso, ficou com o segundo lugar. Também com o arranjador, cantor
e instrumentista Edu Lobo, Vinicius compôs "Zambi" e "Canção do
Amanhecer" - canções que se engajaram no clima de protesto da época e
foram apresentadas em projetos do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (UNE).
Por um breve período, Vinicius foi designado para trabalhar na delegação do
Brasil junto à UNESCO, na Europa. O poeta também trabalhou com o diretor Leon Hirszman no
roteiro do filme Garota de Ipanema, voltou a se
apresentar no Zum Zum com Dorival Caymmi e lançou o livro "Cordélia e o
Peregrino".
Ainda em 1965, o Teatro Municipal de São Paulo foi o
palco de uma homenagem para o poetinha, com o show Vinicius: Poesia e
Canção, espetáculo que contou com a participação da Orquestra Sinfônica do Estado de São
Paulo (sob a regência do maestro Diogo Pacheco).
As composições apresentadas receberam arranjos dos maestros Guerra Peixe,
Radamés Gnattali, Luís Eça, Gaya e Luís Chaves e contou com intérpretes
com Carlos Lyra,
Edu Lobo, Suzana de Morais, Francis Hime, Paulo Autran, Cyro Monteiro e
Baden Powell. Quando o poeta terminou a apresentação de "Se Todos Fossem
Iguais A Você", a platéia respondeu com dez minutos ininterruptos de
aplausos.
Em 1966, foi lançado o álbum Os Afro-Sambas, com suas composições
em parceria com Baden Powell. Constam do repertório do disco "Canto de
Ossanha", "Canto de Xangô", "Canto de Iemanjá" e
"Lamento de Exu", entre outras, além da participação de Powell
tocando violão. Naquele mesmo período, Vinicius participou do concerto Pois
É, no Teatro Opinião, ao lado de Maria
Bethânia e Gilberto Gil.
No espetáculo dirigido pelo arranjador, compositor, maestro e pianista Francis Hime,
o público carioca conheceu pela primeira vez as canções de Gilberto Gil. Ainda
naquele ano, lançou o livro de crônicas Para Uma Menina Com Uma Flor e
também foi convidado a participar do júri do Festival de Cannes. Na ocasião, descobriu que
sua canção "Samba da Bênção" havia sido utilizada, sem os devidos
créditos, na trilha sonora do filme Um Homem e Uma Mulher, do
diretor francês Claude Lelouch, vencedor do festival. Após uma
ameaça de processo, a obra de Lelouch creditou a canção de Vinicius. O ano de
1967 marcou a estréia do filme Garota de Ipanema, baseado no sucesso
homônimo de Vínicius e Tom Jobim. É a canção brasileira mais
conhecida no mundo depois de "Aquarela do Brasil" (de Ary Barroso).
Ainda naquele período, Vinícius organizou um festival de artes em Ouro Preto e
excursionou para a Argentina e o Uruguai.
Aposentadoria
compulsória
Em 1968, Vinicius de Moraes participou de shows em Lisboa,
na companhia de Chico Buarque e Nara Leão. Também naquele
ano, a convite do crítico Ricardo Cravo Albin, Vinicius prestou histórico
depoimento para o Museu da Imagem e do Som (de
onde era membro do Conselho Superior de MPB).
Mas o ano de 1968 marcou o fim da carreira diplomática de Vinicius de
Moraes. Após 26 anos de serviços prestados ao MRE, Vinicius foi aposentado
pelo Ato
Institucional 5, criado pela ditadura militar brasileira, fato que o
magoou profundamente. No dia em que o ato era editado, Vinicius encontrava-se
em Portugal onde realizava um concerto. Após este espetáculo, estudantes salazaristas estavam aglomerados na
porta do teatro para protestar contra o poeta. Avisado disto e aconselhado a se
retirar pelos fundos do teatro, o poetinha preferiu enfrentar os protestos e,
parando diante dos manifestantes, começou a declamar "Poética
I" ("De manhã escureço/De dia tardo/De tarde anoiteço/De
noite ardo"). Então, um dos jovens tirou a capa do seu traje acadêmico e a
colocou no chão para que Vinicius pudesse passar sobre ela — ato imitado pelos
outros estudantes e que, em Portugal, é uma forma tradicional de homenagem
acadêmica.
Segundo entrevista publicada pela Revista Veja em
12 de janeiro de 2000 o ex-presidente João Figueiredo explicou as reais causas
da demissão do poeta do Itamaraty: "Ele até diz que muita gente do
Itamaraty foi cassada ou por corrupção ou por pederastia. É verdade. Mas no
caso dele foi por vagabundagem mesmo. Eu era o chefe da Agência Central do
Serviço e recebíamos constantemente informes de que ele, servindo no consulado
brasileiro de Montevidéu, ganhando 6 000 dólares por mês, não aparecia por lá
havia três meses. Consultamos o Ministério das Relações Exteriores, que nos
confirmou a acusação. Checamos e verificamos que ele não saía dos botequins do
Rio de Janeiro, tocando violão, se apresentando por aí, com copo de uísque do
lado. Nem pestanejamos. Mandamos brasa."
A reabilitação ao corpo diplomático brasileiro só ocorreu trinta anos
depois de sua morte por meio da Lei 12.265 de 21 de junho de 2010.[21] Em
cerimônia no Palácio do Itamaraty, Vinicius de Moraes foi elevado ao cargo de
ministro de exterior, cargo semelhante ao de embaixador.[22]
Em 1969, Vinicius de Moraes publicou o livro Obra Poética e
se apresentou ao lado de Maria Creuza e Dorival
Caymmi em Punta del
Este. O poetinha também fez recital na Livraria Quadrante, em Lisboa,
apresentando, entre outros, os poemas "A Uma Mulher", "O Falso
Mendigo", "Sob o Trópico de Câncer" (no qual trabalhou durante
nove anos) e "Soneto da Intimidade". O evento foi gravado ao vivo e
lançado em LP pelo selo Festa. Ainda naquele ano, Vinicius fez apresentações
em Buenos Aires, ao lado de Caymmi, Baden Powell,
Quarteto em Cy e Oscar Castro Neves.
Parceria com
Toquinho
Naquele mesmo período, iniciou suas primeiras composições com um novo
parceiro, o violonista Toquinho. Desta parceria, viriam clássicos como "Como
Dizia o poeta", "Tarde em Itapoã" e "Testamento".
Em 1970, Vinicius se apresentou na casa de espetáculo carioca Canecão,
com o parceiro Tom Jobim, o violonista Toquinho e a
cantora Miúcha.
O show, que relembrou a trajetória do poeta, ficou quase um ano em cartaz
devido ao grande sucesso obtido. Outra apresentação marcante de Vinícus de
Moraes, ao lado de Toquinho e da cantoraMaria Creuza,
foi na cidade argentina de Mar del Plata,
na boate La Fusa. O concerto resultaria no LP ao vivo Vinicius En La Fusa,
uma das mais belas joias gravadas ao vivo da música brasileira. No repertório,
interpretado de modo espetacular pela cantora baiana, estavam entre
outras "A Felicidade", "Garota de Ipanema",
"Irene", "Lamento no Morro", "Canto de Ossanha"
(canção muito aplaudida pela plateia argentina), "Samba em Prelúdio",
"Eu Sei Que Vou Te Amar" (canção que contou ainda com a declamação do
poetinha de "Soneto da Fidelidade", para delírio do público
argentino), "Minha Namorada" e "Se Todos Fossem Iguais A
Você", que encerrou o magnífico concerto. No ano seguinte, Vinicius voltou
à Fusa para gravar um novo LP ao vivo, também com Toquinho, mas desta vez com a
cantora Maria Bethânia nos vocais. Neste álbum
estão presentes canções com "A Tonga da Mironga do Kabuletê",
"Testamento" e "Tarde em Itapoã". Também em 1971, assinou
com Chico Buarque, sobre antigo choro de Garoto, a
canção "Gente Humilde", grande sucesso gravada pelo próprio Chico e,
pouco depois, por Ângela Maria.
A parceria Vinicius/Toquinho excursionou por várias cidades brasileiras
e também pelo exterior. Ainda em 1971, a dupla lançou seu primeiro LP de
estúdio, com destaque para"Maria Vai com as Outras", "Morena
Flor", "A Rosa Desfolhada" e "Testamento".
Em 1972, eles lançaram o álbum "São Demais os Perigos Dessa
Vida", contendo - além da faixa-título - grandes sucessos como "Cotidiano
nº 2", "Para Viver Um Grande Amor" e "Regra
três". Com Toquinho, também compôs a trilha sonora da telenovela "Nossa
Filha Gabriela" (da extinta TV Tupi),
registrada em disco naquele mesmo ano. No ano seguinte, a dupla se apresentou
no show "O Poeta, a Moça e o Violão", com a cantora Clara Nunes no
Teatro Castro Alves, em Salvador.
Em 1974, Vinicius e Toquinho compuseram "As Cores de Abril" e
"Como É Duro Trabalhar", ambas incluídas na trilha sonora da
novela Fogo Sobre Terra, da Rede Globo.
Naquele mesmo ano, a parceria lançou o álbum Toquinho, Vinicius e
Amigos. O disco teve as participações de Maria Bethânia (em
"Apelo" e "Viramundo"), Cyro Monteiro ("Que
Martírio" e "Você Errou", últimas gravações deste cantor), Maria
Creuza ("Tomara" e "Lamento no Morro"), Sergio
Endrigo ("Poema Degli Occhi" e "La Casa") e
Chico Buarque ("Desencontro"). Ainda naquele ano, a dupla lançou
"Vinicius e Toquinho", quarto álbum de estúdio da parceria, que
trazia composições de autoria deles, como "Samba do Jato", "Sem
Medo" e "Tudo Na Mais Santa Paz", e ainda "Samba pra
Vinicius", homenagem ao poetinha de Toquinho e Chico Buarque, que fez uma
participação especial no disco.
Em 1975, Vinicius de Moraes lançou o álbum "O Poeta e o
Violão". Gravado em Milão, o LP teve a participação especial dos maestros Bacalov
e Bardotti. No mesmo ano, a gravadora Philips lançou o álbum "Vinicius
e Toquinho". Deste LP, destaca-se "Onde Anda Você" -
parceria com Hermano Silva e que alcançou grande sucesso. Ainda naquele ano,
Vinicius lançou o livro de poemas infantis A Arca de Noé. Foram
lançados no ano seguinte os álbuns Ornella Vanoni, Vinicius de Moraes e
Toquinho - La voglia, la pazzia, l'incoscienza e l'allegria e Deus
lhe Pague - este com as composições da parceria Vinicius e Edu Lobo.
Vinicius teve publicado, em 1977, o livro O Breve Momento,
com 15 serigrafias de Carlos Leão.
Naquele ano, o selo Philips lançou o álbum "Antologia
Poética", uma seleção da obra poética do poetinha e que teve a
participação especial de Tom Jobim, Francis Hime e Toquinho. A gravadora Som Livre disponibilizou
no mercado o LP Tom, Vinicius, Toquinho e Miúcha - Ao Vivo no Canecão.
Em 1978 foi lançado o álbum Vinicius e Amália, gravado em Lisboa
com a cantora portuguesa Amália Rodrigues. Naquele mesmo ano, foi
editado o álbum "10 Anos de Toquinho e Vinicius" -
uma coletânea de uma década de trabalhos da dupla. Em 1980 foi lançado o
álbum Arca de Noé, que trouxe diversos intérpretes para as
composições infantis do poeta, musicadas a partir do livro homônimo. O disco
gerou um especial infantil na Rede Globo, naquele mesmo ano.
Falecimento
Na madrugada de 9 de julho de 1980, Vinicius de Moraes começou a se
sentir mal na banheira da casa onde morava, na Gávea, vindo a falecer pouco
depois. O poeta passou o dia anterior com o parceiro e amigo Toquinho, com quem
planejava os últimos detalhes do volume 2 do álbum "Arca de Noé". Em
1981, este LP foi lançado.
Mesmo após a morte, a obra musical de Vinicius manteve-se prestigiada na
música brasileira. Foram lançados os álbuns Toquinho, Vinicius e Maria
Creuza - O Grande Encontro (1988) e A História dos Shows
Inesquecíveis - Poeta, Moça e Violão: Vinicius, Clara e Toquinho (1991),
além de terem sido lançados livros sobre o poeta, comoVinicius de Moraes -
Livro de Letras (1993), de José Castello, Vinicius
de Moraes (1995), também de José Castello, "Vinicius
de Moraes" (1997), de Geraldo
Carneiro (uma edição ampliada do livro publicado em 1984).
Ainda em 1993, Almir Chediak editou os três volumes
do Songbook Vinicius de Moraes.
Por ocasião dos vinte anos da morte do poeta, em 2000, a Praia de
Ipanema foi o palco de um show em homenagem a Vinicius, que
contou com a participação da Orquestra Sinfônica Brasileira, Roberto
Menescal, Wanda Sá, Zimbo Trio, Os Cariocas, Emílio Santiago e Toquinho,
interpretando composições de sua autoria.
Em 2003, ano em que o poeta completaria seu 90º aniversário, foram
lançados vários projetos em tributo à sua criação artística. Também foi lançado
o website oficial
de Vinicius.
Em 2005, "The Girl from Ipanema", versão em inglês de "Garota
de Ipanema", interpretada por Astrud
Gilberto, Tom Jobim, João Gilberto e Stan Getz e
gravada em 1963, foi escolhida como uma das 50 grandes obras musicais da
Humanidade pela Biblioteca do Congresso Americano.
Ainda em 2005, estreou, na abertura da sétima edição do Festival do Rio,
o documentário Vinicius, dirigido
por Miguel Faria Jr. e produzido por Suzana de
Moraes, filha do poeta, com a participação de Chico Buarque, Carlos
Lyra, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Adriana Calcanhoto, Mariana de
Moraes e Olívia Byington, entre outros convidados. A
trilha sonora do filme foi lançada em CD.
Em 2006, foi lançada a caixa "Vinicius de Moraes &
Amigos", com cinco álbuns do poetinha, contendo 70 canções compiladas
de fonogramas gravados por vários intérpretes e pelo próprio Vinicius (solo ou
em dueto. A caixa incluiu ainda um livreto com a biografia do homenageado e as
letras de todas as canções.
Em 2011, a escola Império Serrano falou sobre ele com o
enredo : "A Benção, Vinicius"
OBRAS DE
VINICIUS DE MORAES
LIVROS DE POESIA
Vinicius ocupa um lugar
singular na história da poesia brasileira. um dos principais nomes da geração
que surge na década de 1930, período logo posterior ao movimento modernista,
sua poesia de escrita límpida e de linguagem fluida arrebatou em pouco tempo
seus contemporâneos
Após seus
primeiros livros, Vinicius permaneceu como um dos principais poetas do Brasil,
publicando com frequência até a década de 1950. A partir desse momento, sua
produção editorial fica mais esparsa. É nesse período que ele desloca sua
poesia de prosódia perfeita e subjetividade intensa para a letra de música
popular. Ao atuar intensamente como compositor, ele articula de forma inédita e
definitiva a alta qualidade poética de seus versos à renovação da produção
musical brasileira do seu tempo.
O
CAMINHO PARA A DISTÂNCIA FORMA E
EXEGESE
ARIANA,
A MULHER
NOVOS POEMAS
CINCO
ELEGIAS
POEMAS,
SONETOS E BALADA
ANTOLOGIA
POÉTICA
LIVRO DE SONETOS
NOVOS
POEMAS II
O MERGULHADOR
A
ARCA DE NOÉ
POEMAS
ESPARSOS
LIVROS DE PROSA
Apesar de
constituir sua figura pública através da poesia e da canção popular, vinicius
foi um dos grandes prosadores de sua geração. uma geração, aliás, em que a boa
prosa do tempo era cristalizada através do gênero carioquíssimo da crônica.
Com um amplo número de jornais
que circulavam na cidade e com um time de escritores que ia de Rubem Braga a
Carlinhos de Oliveira, de Carlos Drummond de Andrade a Clarice Lispector, de
Fernando Sabino a Nelson Rodrigues, Vinicius se instalava entre eles como um
cronista que transmitia para a prosa os mesmo motivos e a mesma leveza de
estilo que apresentava ao público em seus poemas.
PARA VIVER UM GRANDE AMOR
Para viver um grande amor, preciso é muita
concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande
amor.
Para viver um grande amor, mister é ser um homem de
uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.
Para viver um grande amor, primeiro é preciso
sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que
fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora
com uma espada — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.
Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.
Para viver um amor, na realidade, há que
compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um
grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da
liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.
Para viver um grande amor, il faut além de fiel,
ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor perfeito, não basta ser
apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É
preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva
também, amortalhada no seu finado amor.
É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...
É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...
Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos,
camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o
que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma
rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?
Para viver um grande amor é muito, muito importante
viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de
dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente,
pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor.
Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber
ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.
É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.
Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.
É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.
Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.
(Texto extraído do livro "Para Viver Um Grande Amor", José
Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1984, pág. 130.)
PARA UMA MENINA COM UMA FLOR
Vinicius
de Moraes
Porque você é uma menina com uma
flor e tem uma voz que não sai, eu lhe prometo amor eterno, salvo se você bater
pino,
o que, aliás, você não vai nunca
porque você acorda tarde, tem um ar recuado e gosta de brigadeiro: quero dizer,
o doce feito com leite condensado.
E porque você é uma menina com
uma flor e chorou na estação de Roma porque nossas malas seguiram sozinhas para
Paris e você ficou morrendo de pena delas partindo assim no meio de todas
aquelas malas estrangeiras.
E porque você sonha que eu estou
passando você para trás, transfere sua d.d.c. para o meu cotidiano, e implica
comigo o dia inteiro como se eu tivesse culpa de você ser assim tão subliminar.
E porque quando você começou a gostar de mim procurava saber por todos os modos
com que camisa esporte
eu ia sair para fazer mimetismo
de amor, se vestindo parecido. E porque você tem um rosto que está sempre um
nicho, mesmo quando põe o cabelo para cima, parecendo uma santa moderna, e anda
lento, e fala em 33 rotações mas sem ficar chata. E porque você é uma menina
com uma flor, eu lhe predigo muitos anos de felicidade, pelo menos até eu ficar
velho: mas só quando eu der uma paradinha marota para olhar para trás, aí você
pode se mandar, eu compreendo.
E porque você é uma menina com
uma flor e tem um andar de pajem medieval; e porque você quando canta nem um
mosquito ouve a sua voz, e você desafina lindo e logo conserta,
e às vezes acorda no meio da
noite e fica cantando feito uma maluca. E porque você tem um ursinho chamado
Nounouse e fala mal de mim para ele, e ele escuta e não concorda porque ele é
muito meu chapa, e quando você se sente perdida e sozinha no mundo você se deita
agarrada com ele e chora feito uma boba fazendo um bico deste tamanho. E porque
você é uma menina que não pisca nunca e seus olhos foram feitos na primeira
noite da Criação, e você é capaz de ficar me olhando horas. E porque você é uma
menina que tem medo de ver a Cara-na-Vidraça, e quando eu olho você muito tempo
você vai ficando nervosa até eu dizer que estou brincando.
E porque você é uma menina com
uma flor e cativou meu coração e adora purê de batata, eu lhe peço que me sagre
seu Constante e Fiel Cavalheiro.
E sendo você uma menina com uma
flor, eu lhe peço também que nunca mais me deixe sozinho, como nesse último mês
em Paris; fica tudo uma rua silenciosa e escura que não vai dar em lugar
nenhum; os móveis ficam parados me olhando com pena;
é um vazio tão grande que as
mulheres nem ousam me amar porque dariam tudo para ter um poeta penando assim
por elas, a mão no queixo, a perna cruzada triste e aquele olhar que não vê. E
porque você é a única menina com uma flor que eu conheço, eu escrevi uma canção
tão bonita para você, "Minha namorada", a fim de que, quando eu
morrer, você, se por acaso não morrer também, fique deitadinha abraçada com
Nounouse cantando sem voz aquele pedaço que eu digo que você tem de ser a
estrela derradeira, minha amiga e companheira, no infinito de nós dois.
E já que você é uma menina com
uma flor e eu estou vendo você subir agora - tão purinha entre as
marias-sem-vergonha - a ladeira que traz ao nosso chalé, aqui nessas montanhas
recortadas pela mão de Guignard; e o meu coração, como quando você me disse que
me amava, põe-se a bater cada vez mais depressa.
E porque eu me levanto para
recolher você no meu abraço, e o mato à nossa volta se faz murmuroso e se enche
de vaga-lumes enquanto a noite desce com seus segredos, suas mortes, seus
espantos - eu sei, ah, eu sei que o meu amor por você é feito de todos os
amores que eu já tive, e você é a filha dileta de todas as mulheres que eu
amei; e que todas as mulheres que eu amei, como tristes estátuas ao longo da
aléia de um jardim noturno, foram passando você de mão em mão até mim, cuspindo
no seu rosto e enfrentando a sua fronte de grinaldas; foram passando você até
mim entre cantos, súplicas e vociferações - porque você é linda, porque você é
meiga e sobretudo porque você é uma menina com uma flor.
DISCOS
Esta
discografia cobre a trajetória musical de vinicius de moraes entre 1956, época
do lançamento do disco dedicado à trilha sonora da peça orfeu da conceição, e
1980, ano de sua morte e dos últimos discos feitos com toquinho.
A lista de discos cobre os LPs em que
Vinicius participa como intérprete, seja de canções e poemas seus, seja de
canções de terceiros. Não foram incluídos discos dedicados à obra do compositor
sem sua presença como intérprete, nem compactos.
VINICIUS
DE MORAES – POESIAS BRASÍLIA,
SINFONIA DA ALVORADA
VINICIUS
E ODETTE LARA
VINICIUS E CAYMMI NO ZUM ZUM
VINICIUS:
POESIA E CANÇÃO (AO VIVO) VOL. 1
VINICIUS:
POESIA E CANÇÃO (AO VIVO) VOL. 2
OS
AFROSAMBAS VINICIUS
GAROTA DE
IPANEMA (TRILHA SONORA DO FILME)
VINICIUS
EM PORTUGAL
TOQUINHO E VINICIUS
COMO
DIZIA O POETA VINICIUS
CANTA “NOSSA FILHA GABRIELA”
O BEM AMADO
(TRILHA SONORA DA NOVELA)
VINICIUS
E TOQUINHO
FOGO
SOBRE TERRA (TRILHA SONORA ORIFINAL DA NOVELA)
VINICIUS/TOQUINHO
TOQUINHO
E VINICIUS - O POETA E O VIOLÃO
DEUS LHE
PAGUE TOM-VINICIUS-TOQUINHO-MIÚCHA
10 ANOS
DE TOQUINHO E VINICIUS
A ARCA DE
NOÉ (A ARCA DE NOÉ) UM POUCO
DE ILUSÃO
PEÇAS de teatro
Poeta
com pleno domínio da escrita e do uso imagético das palavras, o teatro seria um
caminho natural para quem, como Vinicius, tinha tamanha curiosidade estética.
Assim como a música e a poesia, o teatro está presente em sua vida desde os
anos de escola, época em que invariavelmente participava das peças infantis de
fim de ano do colégio.
Mas é só
em 1956 que Vinicius realiza e apresenta ao público seu primeiro projeto
teatral. A peça Orfeu da Conceição é
uma adaptação do mito grego de Orfeu ao cotidiano suburbano do Rio de Janeiro.
A história de Vinicius serve de pano de fundo para a realização do roteiro de Orfeu Negro, filme de Marcel Camus que
seria premiado em Cannes e no Oscar de 1959. Espetáculo grandioso, como
participação de nomes como Tom Jobim, Carlos Scliar e Oscar Niemeyer, a peça
torna-se um marco no teatro brasileiro.
0 comentários
Postar um comentário