2.MOACYR
SCLIAR
|
Moacyr Jaime Scliar (Porto
Alegre, 23 de
março de 1937 — Porto Alegre, 27 de
fevereiro de 2011) foi um escritor brasileiro. Formado em medicina, trabalhou
como médico especialista em saúde pública e professor universitário. Sua prolífica obra consiste de contos, romances, ensaios e literatura infantojuvenil. Também ficou conhecido por suas crônicas nos principais jornais do país.
Biografia
Em 1963,
após se formar pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, iniciou sua vida como médico, fazendo residência médica. Especializou-se no campo da saúde pública como médico sanitarista. Iniciou os trabalhos nessa área em 1969.
Em 1970 frequentou curso de pós-graduação em medicina em Israel. Posteriormente, tornou-se doutor em Ciências pela Escola Nacional de
Saúde Pública. Foi professor da disciplina de medicina e comunidade do curso de
medicina da Universidade
Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).
Em 1965,
casou-se com Judith Vivien Oliven. O filho do casal, Roberto, nasceu em 1979.
Moacyr
Scliar era torcedor do Cruzeiro, de Porto Alegre. Devido a sua morte, os jogadores do Cruzeiro fizeram
uma homenagem para este torcedor-símbolo do clube, entrando de luto na partida
contra o Grêmio, no dia 27 de fevereiro, que
contou com um minuto de silêncio em homenagem a Scliar.
Carreira
Scliar
publicou mais de setenta livros. Seu estilo leve e irônico lhe garantiu um
público bastante amplo de leitores, e em 2003 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, tendo recebido antes uma grande quantidade de prêmios literários como
o Jabuti (1988, 1993 e 2009),
o Associação Paulista de Críticos
de Arte (APCA) (1989) e o Casa de las Américas (1989).
Suas obras
frequentemente abordam a imigração judaica no Brasil, mas também tratam de temas como o socialismo, a medicina (área
de sua formação), a vida de classe
média e vários outros
assuntos. O autor já teve obras suas traduzidas para doze idiomas.
Em 2002 se
envolveu em uma polêmica com o escritor canadense Yann Martel, cujo
famoso romance A Vida de Pi, vencedor do prêmio Man Booker, foi acusado de ser um plágio da sua novela Max e
os felinos. O escritor gaúcho, no
entanto, diz que a mídia extrapolou ao tratar do caso, e que ele nunca teve o
intuito de processar o escritor canadense.
Entre suas
obras mais importantes estão os seus contos e os romances O ciclo
das águas, A
estranha nação de Rafael Mendes, O exército de um homem só e O centauro no jardim, este último incluído na lista dos 100 melhores livros de temática
judaica dos últimos 200 anos, feita pelo National Yiddish Book Center nos Estados
Unidos.
Adaptação para o cinema
Em 1998 o
romance "Um Sonho no Caroço do Abacate" foi adaptado para o cinema,
com o título "Caminho dos Sonhos", sob a direção de Lucas
Amberg. O filme participou dos
festivais de Gramado, Miami, Trieste e outros. O filme narra a história do filho de um casal de
imigrantes judeus lituanos que se estabelece no bairro do Bom Retiro, em São
Paulo, nos anos 1960. O jovem Mardo (Edward Boggiss) apaixona-se por Ana (Taís
Araújo), uma estudante negra. Os jovens encontram no amor a força e a
determinação para enfrentarem a discriminação na escola onde estudam e o
preconceito entre as famílias.
Em 2002 o
romance Sonhos Tropicais foi adaptado para o cinema sob a
direção de André Sturm, com Carolina
Kasting, Bruno
Giordano, Flávio Galvão, Ingra Liberato e Cecil
Thiré no elenco. O filme
relata o combate à febre
amarela no Rio de
Janeiro, comandado pelo médico
sanitarista Oswaldo Cruz, e a resistência da população à vacinaçãoobrigatória, que resultou na chamada Revolta
da Vacina. Em paralelo, é narrada a
história de uma jovem judia polonesa, que imigra para o Brasil em busca de uma vida
melhor, mas acaba por se prostituir.
Morte
Scliar
morreu por volta da 1h do dia 27 de fevereiro de 2011, aos 73 anos, de falência
múltipla dos órgãos. Ele estava internado no Hospital de Clínicas de Porto
Alegre desde o dia 11 de
janeiro, quando deu entrada para a retirada de pólipos (formações
benignas) no intestino. A cirurgia
foi bem sucedida, mas o escritor acabou tendo um acidente vascular cerebral (AVC) no dia 17 de janeiro, durante o período de recuperação,
falecendo quase cinquenta dias depois de sua entrada no hospital. Foi sepultado em 28 de fevereiro de 2011, no Cemitério do
Centro Israelita em Porto
Alegre.
Foi o sétimo
ocupante da cadeira 31 da Academia Brasileira de Letras. Foi eleito em 31 de julho de 2003, na sucessão de Geraldo França de Lima, e recebido em 22 de outubro de 2003 pelo acadêmico Carlos
Nejar.
Obras
Contos
·
O carnaval dos animais.
·
A balada do falso Messias.
·
Histórias da terra trêmula.
·
O anão no televisor.
·
Os melhores contos de Moacyr
Scliar.
·
Dez contos escolhidos.
·
O olho enigmático.
·
Contos reunidos.
·
O amante da Madonna.
·
Os contistas.
·
Histórias para (quase) todos
os gostos.
·
Pai e filho, filho e pai.
Romances
·
A guerra no Bom Fim.
·
O exército de um homem só.
·
Os deuses de Raquel. O ciclo das águas.
·
Mês de cães danados.
·
Doutor Miragem.
·
Os voluntários.
·
Max e os felinos.
·
A estranha nação de Rafael
Mendes.
·
Cenas da vida minúscula.
·
Sonhos tropicais.
·
A majestade do Xingu.
·
A mulher que escreveu a Bíblia.
·
Os leopardos de KafkA.
·
Uma história farroupilha.
·
Na noite do ventre, o diamante.
·
Ciumento de carteirinha
·
Os vendilhões do templo
·
Manual da paixão solitária.
·
Eu vos abraço, milhões.
Ficção infanto-juvenil
·
Cavalos e obeliscos.
·
A festa no castelo.
·
Memórias de um aprendiz de
escritor.
·
No caminho dos sonhos.
·
O tio que flutuava.
·
Os cavalos da República.
·
Pra você eu conto.
·
Uma história só pra mim.
·
Um sonho no caroço do abacate.
·
O Rio Grande farroupilha.
·
Câmera na mão, o guarani no
coração.
·
A colina dos suspiros.
·
O livro da medicina.
·
O ataque do comando
·
O sertão vai virar mar.
·
Aquele estranho colega, o meu pai.
·
Éden-Brasil.
·
O irmão que veio de longe
·
Nem uma coisa, nem outra.
·
Aprendendo a amar - e a curar.
·
Crônicas
·
A massagista japonesa.
·
Um país chamado infância.
·
Dicionário do viajante
insólito.
·
Minha mãe não dorme enquanto
eu não chegar.
·
O imaginário cotidiano
·
A língua de três pontas:
crônicas e citações sobre a arte de falar mal.
Ensaios
·
A condição judaica.
·
Do mágico ao social: a
trajetória da saúde pública.
·
Cenas médicas.
·
Enígmas da culpa
·
·
Prêmios
|
- Características:
-
Realista mágico, criador de atmosferas, domador do fantástico;
-
Conto ultracurto, simples, claro, sem esclarecer o mistério;
-
Histórias geralmente ligadas ao universo judeu, principalmente situados em Porto Alegre (bairro
do BOMFIM);
-Manipulação
de tramas fantásticas, com humor e ironia, critica e sátira. da condição humana
, de conotação política.
ALGUMAS OBRA
DE MOACYR SCLIAR
O Carnaval dos Animais
Os contos usam como ponto de partida
sugestões provenientes do cotidiano e próximas das vivências do escritor e do
leitor. O cenário da maioria das histórias é Porto Alegre, e as características
conhecidas do espaço conferem natureza veristas às narrativas.
A Guerra no Bom Fim
O livro é narrado por Joel, que relembra os
tempos de menino quando vivia com a família, judia, na Porto Alegre dos anos
1940, em pleno Bom Fim. É um relato da angústia de uma família de imigrantes
judeus – a adaptação a uma realidade e a uma sociedade que não são suas.
A mulher que escreveu a Bíblia
O título é bastante explicativo: a história
é um relato fictício sobre uma mulher anônima que, há 3 mil anos, tornou-se
autora da primeira versão da Bíblia. Narrativa maliciosa que alterna a dicção
bíblica com o baixo calão. Ajudada por um ex-historiador que se converteu em
"terapeuta de vidas passadas", uma mulher descobre que, no século X
a. C., foi uma das setecentas esposas do rei Salomão - a mais feia de todas,
mas a única capaz de ler e escrever. Encantado com essa habilidade inusitada, o
soberano a encarrega de escrever a história da humanidade - e, em particular, a
do povo judeu -, tarefa a que uma junta de escribas se dedica há anos sem
sucesso.
O Centauro no Jardim
No interior do Rio Grande do Sul, na pacata
família Tratskovsky, nasce um centauro: um ser metade homem, metade cavalo. Seu
nome é Guedali, quarto filho de um casal de imigrantes judeus russos. A partir
desse evento fantástico, Scliar constrói um romance que se situa entre a
fábula e o realismo, evidenciando a dualidade da vida em sociedade, em que é
preciso harmonizar individualismo e coletividade.
Os Vendilhões do Templo
A expulsão dos vendilhões do Templo de
Jerusalém — relatada em poucas linhas do Evangelho de São Mateus — é o ponto de
partida para uma narrativa original, que se desdobra em três épocas: 33 d.C.,
1635 e os nossos tempos. As três histórias se entrelaçam e se iluminam umas às
outras, desdobrando de maneira inesperada o núcleo temático do episódio
bíblico, com diversas possibilidades cômicas e dramáticas e focalizando suas
implicações morais. A exemplo do que fez no premiado A mulher que escreveu a Bíblia, Scliar parte da narrativa bíblica
para traçar um painel muito pessoal e bem-humorado dos dilemas de nosso tempo.
Sonhos Tropicais
Romance sobre Oswaldo Cruz, responsável pela
introdução no Brasil do controle científico das epidemias e protagonista da
Revolta da Vacina. Um diagnóstico preciso de uma sociedade que, travada pela
miséria e pelo atraso, abre-se com relutância para a modernidade.
Max e os Felinos
O alemão Max, um garoto
sensível, cresceu sob a severidade de seu pai que sempre lhe incutiu medos e
inseguranças. Envolve-se, mais tarde com Frida, esposa de um militar Nazista, o
que faz que tenha que abandonar o país. Em meio a viagem de barco, é obrigado,
graças a um naufrágio, a dividir o pequeno espaço de um barco com um imenso
Jaguar, um felino que sempre lhe aterrorizou. O livro tornou-se conhecido após
o autor, Moacyr Scliar, comentar em um jornal que o best seller “A vida de Pi” seria parcialmente um plágio de seu
livro Max e os Felinos.
O
Exército de Um Homem Só
A
saga de Birobidjan, o solitário pregador de um mundo melhor, seu louco
humanismo, quixotesco, seus sonhos mágicos, fazem deste livro uma leitura
emocionante e inesque-cível...
A
Guerra no Bom Fim
Joel
é o protagonista desta novela que mistura realismo e fantasia. Ele relembra
seus tempos de menino judeu, quando vivia com a família em Porto Alegre nos
anos de 1940, em pleno bairro Bom Fim, o coração judaico da capital gaúcha.
Revivendo seus anos de aprendizado, Joel busca na memória o garoto que, em meio
às notícias da guerra na Europa e uma comunidade imigrante vinda de lá,
brincava com os amigos e aventurava-se pelas calçadas do bairro, conhecendo os
fatos da vida...
Cavalos
e Obeliscos
O
coronel Picucha era um homem capaz de fazer coisas incríveis: pegar avião a
laço, fugir da prisão num balão improvisado, enfrentar vários inimigos ao mesmo
tempo... Essas façanhas inflamam a imaginação de Ernesto, neto de Picucha, que
ouvia com atenção as histórias sobre o lendário coronel, combatente da
Revolução de 1923 e misteriosamente desaparecido. Vivendo a monotonia de uma
pacata cidadezinha gaúcha, seu maior divertimento era escrever sobre o avô e
sonhar tais aventuras...
Mês de Cães Danados
Neste romance ele foge da sua temática para abordar o episódio da
“Legalidade” no mês de agosto de 1961. Toda sua narrativa é construída em torno
dos últimos dias de agosto – mês tido popularmente como “o mês dos cães
danados” - daquele agitado ano de 1961, imediatamente à renúncia do
então presidente Jânio Quadros. Os militares tentavam impedir que João Goulart,
o vice-presidente, assumisse a presidência da República.
Através de uma narrativa nervosa –
que se passa durante a crise da “legalidade” – este livro cativa o leitor até
as suas últimas linhas. A trajetória de um homem, de tradicional família da
fronteira do Rio Grande do Sul até a sarjeta de uma rua no centro de Porto
Alegre. De rico filho de fazendeiro à mendigo e morador de rua. A história
conta esta vida atribulada, os anos agitados, as aventuras, os amores e o
heroísmo. “Mês de cães danados” é um livro especial dentro da extensa
bibliografia de Scliar e uma das raras obras de ficção dentro da literatura
brasileira a abordar ficcionalmente este que foi um mais críticos e importantes
momentos da nossa história recente.
Os Deuses de Raquel
O livro do escritor gaúcho Moacyr Scliar conta a historia de Raquel,
narrada por um dos personagens (o que só descobrimos no final do livro). É
narrada em duas épocas, o tempo de hoje, e alguns lampejos da infância e da
adolescência de Raquel, os quais ajudam a entender melhor a história.
De família judia, os pais de
Raquel, Ferenc e Maria se mudam da Hungria para o Brasil, Porto Alegre, e
depois de muito tempo, o pai de Raquel não arranja o tão desejado emprego como
professor de latim, pois era isso que ele sabia fazer, e sua mãe, grávida,
começava a reclamar de que iriam ficar sem nenhum dinheiro. Assim, o pai de
Raquel resolve abrir uma loja de ferragens no bairro Partenon. Quando Raquel
nasce, ele a manda para a única escola do bairro, uma escola de freiras, sua
mãe é totalmente contra, mas a menina precisava de educação, e o pai acabou
convencendo sua mulher.
No colégio de freiras, Raquel começou a se sentir dividida, entre seu Deus judeu e o Deus católico, principalmente depois de uma peça de colégio sobre pecado, e as razões que levam as pessoas para o inferno. Secretamente, ela começa a converter-se ao catolicismo, na loja de ferragens seu pai contrata um menino do sanatório que haveria fugido de casa e o chamavam de louco, mas era bom menino, tinha uma ideia fixa na cabeça que teria que construir um templo para o que tudo vê, e arranhava algumas palavras em latim, o que conquistou o pai de Raquel.
No colégio de freiras, Raquel começou a se sentir dividida, entre seu Deus judeu e o Deus católico, principalmente depois de uma peça de colégio sobre pecado, e as razões que levam as pessoas para o inferno. Secretamente, ela começa a converter-se ao catolicismo, na loja de ferragens seu pai contrata um menino do sanatório que haveria fugido de casa e o chamavam de louco, mas era bom menino, tinha uma ideia fixa na cabeça que teria que construir um templo para o que tudo vê, e arranhava algumas palavras em latim, o que conquistou o pai de Raquel.
Este Miguel e Raquel ficam muito
amigos, ela a ajuda nos temas, e Raquel sempre o visita no alto do morro aos
domingos, quando Miguel trabalhava no projeto do templo.
As coisas começam a mudar quando no colégio de Raquel entra outra menina judia, Raquel a observa e pensa que a nova aluna não é digna de rezar a virgem Maria, faz o sinal da cruz sem respeito, e acha até que cruza os dedos quando responde a perguntas sobre catecismo. Raquel arranja briga com a menina e pode até ser expulsa, mas algo acontece, o colégio é incendiado. Há muitas idas e vindas até chegar o tempo “atual”, Raquel se apaixona pelo marido de uma antiga amiga, e até chegam a ficar juntos, porém ele morre em um acidente de pedalinho. Ela assume a loja de ferragens junto com Miguel, já que seu pai decide se aposentar e se dedicar ao latim. No final do livro, em uma das várias discussões com Miguel, ela descobre que a vida toda se sentiu vigiada por ele, o que tudo vê, como o chamavam, mas aquele cujo nome não podia ser pronunciado, Jeová, que a levou para ver o templo finalmente concluído.
As coisas começam a mudar quando no colégio de Raquel entra outra menina judia, Raquel a observa e pensa que a nova aluna não é digna de rezar a virgem Maria, faz o sinal da cruz sem respeito, e acha até que cruza os dedos quando responde a perguntas sobre catecismo. Raquel arranja briga com a menina e pode até ser expulsa, mas algo acontece, o colégio é incendiado. Há muitas idas e vindas até chegar o tempo “atual”, Raquel se apaixona pelo marido de uma antiga amiga, e até chegam a ficar juntos, porém ele morre em um acidente de pedalinho. Ela assume a loja de ferragens junto com Miguel, já que seu pai decide se aposentar e se dedicar ao latim. No final do livro, em uma das várias discussões com Miguel, ela descobre que a vida toda se sentiu vigiada por ele, o que tudo vê, como o chamavam, mas aquele cujo nome não podia ser pronunciado, Jeová, que a levou para ver o templo finalmente concluído.
A linguagem é fácil apesar da data da obra, interessante, pois o título
do livro nos dá muitas opções de história e a obra não é muito extensa, podendo
ser lida em um dia se você tiver um tempo livre, isso é prático. Entretanto, a
história poderia ter mais detalhes, para explicar melhor certos acontecimentos,
ainda mais com tantas passagens para a infância da menina.
A Estranha
Nação de Rafael Mendes
Não lembro a data exata de quando li o livro
cujo título está em epígrafe. Lembro que foi presente de um amigo da
Universidade – prof. Edmilson Paiva. Moacyr Scliar, o autor faleceu a pouco.
Perdeu a literatura brasileira, uma de suas mais brilhantes estrelas. Autor de
mais de setenta livros, inseria-se entre os mais destacados acadêmicos
brasileiros.
Arnaldo Niskier homenageou o confrade com um
artigo. Nele fala de sua disponibilidade e desprendimento. Dentre outros
aspectos, cita sua dedicação à ABL, pois morando em Porto Alegre, deslocava-se
semanalmente para as reuniões no Rio de Janeiro, onde aproveitava o tempo
disponível para escrever seus artigos para os jornais.
Vários de
seus trabalhos de ficção trataram da condição judaica, como O exército
de um homem só e O ciclo das água, dentre outros. Alguns,
normalmente não mencionados na listagem de sua obra, foram livros de divulgação
da história do judaísmo como: Judaísmo: Dispersão e Unidade, A Condição
Judaica, Judaísmo (da coleção Para Saber Mais,
da Editora Abril) e ainda O ABC do mundo judaico (infantil).
Niskier cita outra de suas contribuições nesse sentido, uma adaptação feita por
Scliar, da Hagadá, livro de rezas, em que se recorda a odisséia do povo judeu,
conduzido por Moisés, nos 40 anos de travessia do deserto.
Com o trabalho que dá título a essa
crônica, estendeu seu olhar também sobre a questão marrana. Marranos foram
aqueles judeus que forçados à conversão ao cristianismo em Portugal e Espanha,
continuavam, mesmo arriscando sua vida, a praticar sua religião ocultamente dentro
do lar. A tradição ou a memória dessa origem se perpetuou no seio de muitas de
nossas famílias, chegando até os dias atuais.
Scliar
romantiza a saga de uma dessas famílias descendentes de marranos, focando o
enredo nos Mendes, traçando sua trajetória desde a antiguidade bíblica até os
tempos atuais no Rio Grande do Sul. Todos os homens da linhagem se chamam
Rafael Mendes. A história se desenrola a partir de uma caixa que é entregue ao
Rafael recente, e nela, roupas, fotos e anotações, haverão de levá-lo a uma
viagem genealógica, semelhante a que tem sido praticada por muitos de nós.
No romance, a história dos Mendes, será contada em cadernos supostamente
escritos pelo penúltimo Rafael Mendes, pai do Rafael Mendes “atual”.
No posfácio do livro Scliar assim se
expressa sobre a obra:
A temática judaica e a visão histórica do
Brasil se conjugam em “A estranha nação de Rafael Mendes”. Meu ponto de partida
para esse livro foi a história de nosso país, no que se refere aos
cristãos-novos, judeus convertidos à força pela inquisição. Lendo sobre o
assunto, descobri que este grupo humano, pouco mencionado nos textos oficiais,
exerceu muita influência na formação da nação brasileira.
Qualquer estudioso da historia do Brasil,
facilmente verificará esta realidade: o conhecimento da importância dos
cristãos-novos na história do nosso país é quase nula.Completamente
desconhecida dos textos didáticos. Cada um de nós, descendente, é um Rafael
Mendes e teve que cavar fundo nessa mina, até encontrar o ouro profundamente
escondido, guiado pelo brilho tênue que vinha do veio aurífero da memória
familiar.
Na ficção, antes dele, conhecia apenas o
livro de Octavio Mello Alvarenga – Judeu Nuquim, distinguido com o
prêmio Walmap de 1967. A banca julgadora da obra era composta por Jorge Amado
,Guimarães Rosa e Antonio Olinto. Este último, na sua análise, cunhou o
neologismo estória, hoje tão utilizado, para caracterizar estudos que fogem da
pura investigação do real, baseado na utilização de documentos. Nesse espírito
também se inclui A Estranha Nação de Rafael Mendes.
Scliar,
já havia, mais de uma vez, enfatizado a importância do marrano na história do
Brasil, e ao finalizar seu posfácio chega a vincular o cumprimento de sua
missão como escritor, à confecção do citado livro :
Se consegui com A estranha nação de Rafael
Mendes, ter proporcionado algum subsídio a esta questão, creio ter
desempenhado minha missão como escritor.
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