III-O CLASSICISMO PORTUGUÊS (ESPLENDOR E DECADÊNCIA DE PORTUGAL) - 1527 – 1580
1-CONTEXTO HISTÓRICO | . Século XVI = período áureo da arte e particularmente da literatura portuguesa: maravilhosa arquitetura manuelina (do reinado de D. Manuel), produção do humanista Gil Vicente e de Luís de Camões, expressão máxima do Renascimento. . A língua portuguesa assume contornos definidos, iniciando-se o período do português moderno. . Final desse mesmo século XVI: Portugal conhece uma grande derrocada econômica. . 1580: ocorre a unificação da Península Ibérica sob o domínio espanhol,fato que marca o fim do Classicismo quinhentista e o início do Barroco, sob a influência espanhola. |
2.MARCO INICIAL | . A volta de Francisco Sá de Miranda a Portugal, após seis anos na Itália, de onde traz novos conceitos de arte e poesia, conhecidos como dolce stil nuovo (“doce estilo novo”). |
3.O RENASCIMEN- TO ITALIANO | . Os italianos do século XIV acreditavam que lhes cumpria a missão de ajudar a reviver o glorioso passado das artes, ciências e cultura do período clássico e todas, pois essas coisas tinham sido destruídas pelos bárbaros do Norte. Portanto precisavam inaugurar uma nova era. . Florença, berço de Dante e de Giotto, uma cidade de mercadores: nas primeiras décadas do século XV, um grupo de artistas se dispôs deliberadamente a criar uma nova arte e a romper com as idéias do passado. * Fatores que geraram o Renascimento . Plano econômico: o renascimento comercial reativou o intercâmbio cultural entre Ocidente e Oriente, configurando-se como o principal fator do renascimento cultural. . Plano social: a urbanização gerava as condições de uma nova cultura, sendo as cidades o pólo de irradiação do Renascimento,ascensão social e econômica da burguesia propiciava apoio e financiamento ao desenvolvimento da nova cultura. . Plano intelectual: a retomada dos estudos das obras clássicas greco-romanas foi de grande importância, graças aos mosteiros medievais, que preservaram em suas bibliotecas muitas dessas obras, protegendo-as da destruição pelos bárbaros no período das invasões. . Aperfeiçoamento da imprensa, atribuído a Gutenberg, teve importância no século final do Renascimento (século XVI. |
4 .O RENASCIMEN-TO EM PORTUGAL | . Fim do monopólio clerical sobre a cultura, filhos dos burgueses começam a freqüentar universidades, conhecendo uma cultura desligada dos conceitos medievais. A nova realidade econômica da Europa exige uma nova cultura, mais liberal, antropocêntrica, identificada com o mercantilismo. . Em Portugal, o momento histórico é propício aos novos ventos que sopram da Itália. No final do século XV (1487) é introduzida a imprensa em Portugal, possibilitado a divulgação das obras de autores humanistas italianos, Dante Alighieri, Francesco Petrarca e Giovanni Boccaccio. . Autores portugueses de forte inclinação humanista: historiadores João de Barros,Fernão Mendes Pinto; autores tipicamente renascentistas Sá de Miranda, o Ferreira (autor da tragédia A Castro) e Luís de Camões. * A expansão marítima . Os Portugueses dos séculos XV e XVI provaram pela experiência e pela dedução científica: o oceano Atlântico era navegável e estava livre de monstros; o mundo equatorial era habitável e habitado; que era possível navegar sistematicamente longe da costa e conseguir perfeita orientação pelo Sol e pelas estrelas; a África tinha uma ponta meridional e existia um caminho marítimo para a Índia; as pseudo-Índias descobertas por Colombo eram, na realidade, um novo continente separando a Europa da Ásia Oriental e as três Américas iam um bloco territorial contínuo; a América tinha uma ponta meridional como a África e havia um outro caminho marítimo para a Índia por ocidente; os três oceanos comunicavam entre si; a Terra era redonda e circunavegável. |
5.CARACTERÍSTICAS DO CLASSICISMO | . Característica principal na literatura e em outras artes é a imitação dos modelos da Antigüidade clássica greco-romana: retomada da mitologia pagã e pela perfeição estética, marcada pela pureza de formas. Platão, Homero, Virgílio e outros mestres servem de modelo, seus valores são eternos e absolutos. . Formas poéticas de inspiração clássica passam a ser utilizadas: o soneto, a ode, a elegia, a écloga e a epopéia, esta última segundo os modelos de Homero (Ilíada e Odisséia) e de Virgílio (Eneida). Essas formas são fixas e sujeitas a determinadas regras. .Métrica: introduzida a medida nova (versos decassílabos), já cultivada pelos italianos Dante Alighieri e Francesco Petrarca. . Os temas poéticos são vários: a reflexão moral, a filosofia e a política, além do lirismo amoroso. |
6.LUÍS VAZ DE CAMÕES | . Vida pontilhada de dúvidas: data provável de nascimento 1524. Teria freqüentado a Universidade de Coimbra e servido como militar no norte da África, onde, em combate, perdeu o olho direito. Com certeza, em 1550 vivia em Lisboa e frequentava a Corte; em 1552 foi preso por ter agredido um oficial do rei e em 1553, indo direto para o exílio, vivendo por 17 anos nas colônias portuguesas da África e da Ásia, chegando a morar em Macau, colônia portuguesa na China. . Retorna a Portugal em 1570, após a morte de D. João III, já com Os Lusíadas terminados: em 1572 é publicada a primeira edição do poema. D. Sebastião, rei de Portugal, a quem havia sido dedicado o poema concede-lhe uma pensão de 15 mil réis por ano, quantia que o poeta recebe sem regularidade. Morre na miséria em 10 de junho de 1580, sendo enterrado como indigente, em vala comum. . Sua obra é composta de poesias líricas, uma poesia épica, três peças para teatro e algumas cartas. * Camões lírico . É tradicionalmente considerado o maior poeta lírico português, com uma poesia lírica marcada por uma dualidade: ora são textos de nítida herança da tradicional poesia portuguesa (escritos em redondilhas); ora são poesias perfeitamente enquadradas no estilo novo do Renascimento (os belíssimos e famosos sonetos camonianos). . Entre os temas recorrentes na poesia camoniana, merecem destaque: • O Amor —um dos temas mais ricos da lírica camoniana, ora visto como ideia (neoplatonismo), ora como manifestação de carnalidade. Por vezes, o amor é concebido de forma idealizada, recorrendo o poeta a constante adjetivação para descrever sua amada: um ser superior, angelical, perfeito. Em outros momentos, talvez inspirado em sua experiência concreta, sua vida atribulada, Camões canta um amor terreno, carnal, erótico (é o culto a Vênus, que aparece em inúmeras poesias líricas e . O “desconcerto do mundo” — um dos temas que mais perturbaram o poeta português, manifestando-se em poemas sobre as injustiças, a recompensa aos maus e o castigo aos bons; a ambição e a inútil tentativa de guardar bens que acabam no nada da morte; os sofrimentos constantes que aniquilam as prováveis conquistas; enfim, o conflito violento entre o ser e o dever ser. * Camões épico — Os Lusíadas . Publicado em 1572, Os Lusíadas é considerado o maior poema épico da língua portuguesa; evidentemente, não pelos 8.816 versos decassílabos distribuídos em 1.102 estrofes de oito versos cada, mas por seu valor poético e histórico. |
7.OS LUSÍADAS | • Herói — o herói de Os Lusíadas é todo o povo português (do qual Vasco da Gama é digno representante). O poeta afirma que vai cantar “as armas e os barões assinalados” que navegaram “por mares nunca dantes navegados”. Ou seja, todo o povo lusitano navegador que enfrenta a morte pelos mares desconhecidos.Mas considerando-se o papel desempenhado por Vasco da Gama no poema, poderíamos afirmar, sim, que ele é o herói de Os Lusíadas. Conciliando as duas idéias, podemos afirmar que o poema apresenta um herói coletivo, que é todo o povo português, individualizado na figura de Vasco da Gama, que seria assim o herói individual. • Tema — o poeta deixa expresso o tema da epopéia já nas duas primeiras estrofes: a glória do povo navegador português, que “entre gente remota edificaram / Novo Reino que tanto sublimaram”, isto é, os navegadores que conquistaram as Índias e edificaram o Império Português no Oriente, bem como as memórias dos reis portugueses que tentaram ampliar o Império: “E também as memórias gloriosas / Daqueles reis que foram dilatando / A Fé, o Império..”. Portanto, as conquistas de Portugal, as glórias dos navegadores, os reis do passado; em outras palavras, a história de Portugal. * A estruturo de Os Lusíadas: Os dez cantos que formam o poema estão distribuídos em cinco partes, como se verifica em todas as epopéias clássicas. São elas: • Proposição — é a apresentação do poema, com destaque para o tema e o herói. Abrange três estrofes. . Invocação — o poeta pede inspiração ás Tágides, ninfas do rio Tejo, para que lhe dêem um “engenho ardente” e “um som alto e sublimado, um estilo grandíloquo”, ou seja, o absoluto domínio da arte poética. A invocação inicial é feita em duas estrofes. . Dedicatória — o poema é dedicado a D. Sebastião, rei de Portugal à época da publicação do poema. A Dedicatória se estende por treze estrofes. • Narração — é a longa parte narrativa, em que o poeta desenvolve o tema contando os episódios da viagem de Vasco da Gama e a história de Portugal. Estende-se por 1.072 estrofes, que vão do Canto 1 ao Canto X. • Epílogo — é o fecho do poema, abrangendo as últimas doze estrofes do Canto X; nele, o poeta se mostra triste, abatido, desiludido com a Pátria, que não merece mais ser cantada. |
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