O Realismo surgiu
na França em oposição ao Romantismo e
influenciou muitos artistas de língua portuguesa. Enquanto os românticos
estavam interessados no mundo interior subjetivo, os realistas centravam-se na
objetividade do mundo exterior.
O Naturalismo é
uma derivação do Realismo motivada pelo positivismo científico da época. O
Naturalismo pretende dotar o Realismo de maior valor objetivo, analisando a
conduta humana e social mediante as leis de herança, o influxo do meio ambiente
e o método experimental.
O Realismo e o
Naturalismo apresentam semelhanças e diferenças entre si. O primeiro retrata o
homem interagindo com o meio social, e o segundo, o homem como produto desse
meio.
Características
do Realismo
Baseando-se
nos procedimentos científicos, os autores realistas recorriam à observação como
ponto de partida do processo criativo. O romance realista torna-se assim um documento
social importante.
As obras
literárias e artísticas deveriam retratar o seu momento presente. Assim, os
personagens heroicos, a pátria idealizada, a mulher inatingível e o passado
histórico, tão caros ao Romantismo, são agora relegados. A literatura
realista autoproclama-se instrumento de transformação social e moral; retratar
os problemas do presente é sua missão.
Os escritores
realistas franceses propunham uma literatura antiburguesa, antimonárquica e
anticlerical. Por meio de uma atitude racional e de uma postura crítica diante
dos fatos, o artista deveria fazer um retrato fiel, objetivo e imparcial da
sociedade da época. Suas metas eram a busca da verdade e a dissecação da
sociedade burguesa. Assim, temas como a traição, o adultério, a dissimulação, a
falta de ética e os jogos de interesses são recorrentes nas obras realistas. No
brasil, os autores assumiram uma defesa clara do ideal republicano.
Autores e
obras
A estética
realista, que teve sua origem na França com o romance Madame Bovary (1857), de Flaubert, expandiu-se
pela Europa e exerceu grande influência nos artistas de língua portuguesa.
Em Portugal,
os grandes nomes do Realismo foram Antero de Quental (1842-1891) e Cesário Verde
(1855-1886), na poesia, e Eça de Queirós (1845-1900), na prosa.
No Brasil, o
maior destaque do Realismo foi o escritor Machado de Assis (1839-1908), além de Raul
Pompeia (1863-1895).
Veja os
principais romances do Realismo: O Crime do Padre Amaro, O Primo Basílio, A Ilustre Casa de
Ramires, Dom Casmurro, Memórias póstumas de
Brás Cubas, Quincas Borba, Esaú e Jacó e Memorial de Aires.
CARACTERÍSTICAS
DO NATURALISMO
Considerado um
prolongamento do Realismo, o Naturalismo acrescenta à sua estética
uma visão predominantemente cientificista da existência, assumindo os
preceitos do evolucionismo, da hereditariedade biológica, do positivismo e da medicina experimental.
As principais
características desse movimento são a radicalização dos conceitos desenvolvidos
pelos realistas, o cientificismo exagerado e sua forte inclinação para temas de
patologia social, como taras, adultério, homossexualidade, criminalidade etc.
As personagens
são também animalizadas, tendo suas atitudes ou características físicas
comparadas às de animais, como ocorre frequentemente em O cortiço.
A estética
naturalista, portanto, propõe às obras literárias a função de representar o
homem por uma visão determinista, ou seja, o meio, a herança genética, a
fisiologia ou o momento influenciam o caráter e as atitudes da pessoa. Além
disso, propõe uma análise social, psicológica e física de grupos marginalizados
da sociedade, preferencialmente, tratando de questões como miséria, adultério,
crimes, taras sexuais, exploração no trabalho etc.
Autores e
obras
O francês Émile
Zola (1840-1902) foi o autor da obra considerada o marco inicial da estética
naturalista: Thérèse Raquin (1867). Essa publicação não só chocou a
sociedade da época como causou polêmica imediata.
No
Brasil, Aluísio Azevedo (1857-1913) é considerado o pioneiro
do Naturalismo. Destacam-se também Adolfo Caminha (1867-1897), Júlio Ribeiro
(1845-1890) e Inglês de Souza (1853-
As principais diferenças:
Realismo Naturalismo
Retrato Fiel
do Personagem Visão determinista e mecanicista do homem
Lentidão
Narrativa Cientificismo
Interpretação
do Caráter Personagens patológicas
Materialização
do amor Incorporação de termos científicos e
profissionais
Determinismo e
relação entre Determinista,
Evolucionista, Positivista
causa efeito
Veracidade Instrumento de denúncia social
Detalhes
Específicos Análise, documentação e dissecação.
Veja os
principais romances do Naturalismo: O Mulato, O Cortiço, O Ateneu, Casa de pensão, A Carne e Bom-Crioulo.
As principais
diferenças:
DIFERENÇAS ENTRE
O ROMANCE E O NATURALISTA
Realismo e Naturalismo
foram movimentos literários de reação ao Romantismo, com os mesmos princípios
estéticos (qualidades artísticas) e ideológicos. Os romancistas realistas-naturalistas
acreditavam na reforma da sociedade por meio da literatura de "observação
crítica" e documental. A diferença entre eles estava no tom da abordagem.
O autor realista se preocupava com a crítica da sociedade, a partir do
comportamento social e psicológico das personagens; no aspecto psicológico o
Realismo se torna Impressionismo, pois não se prende somente à
realidade concreta, exterior e visível. O romancista penetra nos pensamentos e
sentimentos da personagem, revelando a complexidade da alma humana. É o
realismo interior ou psicológico, introduzido entre nós por Machado de Assis
em Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), que daria origem ao
chamado romance psicológico do modernismo, no qual se destaca Clarice
Lispector.
O determinismo (tudo já está determinado, somos meros fantoches)
tirou do autor realista muito de sua vontade de criar um mundo melhor.
Transformou-o num artista conformado, acomodado (o que tiver de acontecer
acontecerá). No entanto, ele retratou bem os problemas do mundo em que vivia,
procurando ser rigorosamente verossímil com a realidade. Atacou criticamente a
burguesia abastada, mostrando como tentaram enganar-se uns aos outros. Como
lutavam pelo poder, com meios sujos, desonestos. Como fingiam amar; como
traiam; como se agarravam aos bens materiais; como tinham preconceitos; como
adoeciam e como morriam.
O autor naturalista estava mais preocupado em desenvolver e comprovar uma tese, isto
é, compor em sua obra uma situação experimental. Daí ser muito comum no
Naturalismo o romance de tese. O romancista vai mostrar que o homem
não consegue vencer as forças da raça ou do ambiente (tese mais comum na
época), isto é, sobrepondo-se a conduta social, está a natureza animal do
homem, que o deixa levar-se por seus instintos, vícios e influências
hereditárias. Não há aprofundamento psicológico; o que interessa são as ações
exteriores, e não o interior e o psicológico à maneira de Machado de Assis.
Reduziram o homem a um simples animal doente (como outro
qualquer), pois na doença se revelava seu lado mais animal, apenas físico,
orgânico. Por isso, o romance naturalista preferia retratar as classes baixas,
junto a qual é mais fácil verificar patologias sexuais e morais. Surgem as
taras, doenças do instinto sexual, ao lado das doenças venéreas. Surgem
descrições minuciosas de atos sexuais; temas proibidos, como o homossexualismo
(masculino em O Ateneu; feminino, em O cortiço).
Surgem as tuberculoses, lepras, anemias e fobias, doenças que roem as pessoas
sem cessar.
É interessante explicar que essa tendência vinha misturada a
outras, chamadas simplesmente de realista, ou melhor, naturalista-realista. É o
caso de O Ateneu, de Raul Pompéia, pois seu romance ora
apresenta características naturalistas, ora realistas, ora impressionistas.
Reservava-se o nome de naturalista apenas para o romancista em que
predomina a visão do homem como um ser bestial e degradado.
Aluísio de Azevedo, com o romance O Mulato (1881),
que introduziu o Naturalismo entre nós, foi o maior representante da
prosa Naturalista no Brasil.
Em Portugal, destacou-se o realista-naturalista Eça de Queiroz
(1845–1900), que exerceu grande influência sobre Aluísio de Azevedo.
Os romances realistas e os naturalistas tinham em comum atacar a
religiosidade, a ignorância, a aristocracia e a família burguesa hipócrita.
®Sérgio.
V – O REALISMO
E O NATURALISMO (1881 – 1893)
1.CONTEXTO
|
. Segunda Revolução Industrial.
• Guerra do Paraguai.
. Movimento abolicionista e republicano.
.
Tendências científicas e filosóficas: positivismo
(A. Comte), evolucionismo
(Darwin), determinismo (Taine), socialismo científico (K. Marx).
|
2.MARCO INICIAL
(1881)
|
.
Realismo: Memórias
Póstumas de Brás Cubas — romance de Machado de Assis
.
Naturalismo: O Mulato - romance de
Aluísio de Azevedo.
|
3.CARACTERÍSTICAS
|
REALISMO
.
Objetividade: verossimilhança,
fidelidade ao real.
.
Impessoalidade: atitude neutra
(aparente).
•
Análise psicossocial da personagem.
•
Contemporaneidade: assuntos de sua
época.
.
Criticidade: questionamento da
sociedade burguesa.
•
Detalhismo descritivo:
apresentação minuciosa das personagens e ambientes.
. Lentidão
narrativa: por causa do detalhismo descritivo.
• Sensorialismo:
exploração dos sentidos.
NATURALISMO
Às características do Realismo,
acrescentam-se as seguintes:
.
Determinismo: personagem
condicionado pelos três fatores “raça-meio-momento” (Taine).
•
Cientificismo: aplicação do método
experimental à Literatura.
.
O patológico: destaque às
situações e personagens anormais, doentios, desequilibrados, mórbidos.
|
ROMANCE
REALISTA / NATURALISTA
1.MACHADO
DE ASSIS
|
• Romancista, contista,
poeta, crítico literário, cronista e teatrólogo.
• Liderou a fundação da
Academia Brasileira de Letras e foi seu
presidente perpétuo.
• Romances da fase romântica: Ressurreição, A Mão e a
Luva, Helena, Iaiá Garcia.
• Romances da fase realista:
- Memórias Póstumas de Brás Cubas: (O defunto autor Brás
Cubas escreve
sua autobiografia, na qual expõe e analisa impiedosamente o comportamento
humano e suas secretas e
mesquinhas motivações. Sua amante é Virgília, mulher de Lobo
Neves. O reencontro com o ex-colega
Quincas Borba, filósofo do Humanitismo.)
- Quincas Borba (Narrado em 3ª pessoa. História de Rubião que herda os bens do amalucado
filósofo Quincas Borba, junto com seu cão também chamado Quincas Borba. Vai
morar no Rio de Janeiro. Provinciano rico e ingênuo, cai nas mão de Camacho e do casal Sofia e Palha,
que o deixam na miséria. Vai ficando louco. Volta para Barbacena, MG, onde
morre pobre e demente.)
- Dom Casmurro (Narrado em 1ª
pessoa por Bentinho, que
rememora seu namoro e
casamento com Capitu. A separação
do
casal é motivada pela certeza que Bentinho diz ter de que ela o
havia traído com Escobar, um amigo do casal. E a prova seria a
semelhança física que haveria entre o filho
deles, Ezequiel, e
Escobar.)
. Outros romances dessa fase realista:
Esaú
e Jacó, Memorial de Aires.
• Características:
ruptura da sequência linear do enredo (interferência do narrador;
multiplicidade e fragmentação dos episódios, ênfase nos aspectos psicomorais);
o adultério; a loucura; a hipocrisia; o humor irônico e o pessimismo.
|
2.RAUL POMPÉIA
(IMPRESSIONISMO)
|
• Romance principal — O Ateneu: de fortes traços
autobiográficos, é narrado em 1ª pessoa por Sérgio,
personagem-narrador que, adulto,
rememora criticamente suas experiências e impressões de estudante
no Colégio Ateneu, dirigido
por Aristarco. A crítica ao universo
escolar amplia-se numa crítica ao universo social e político do Brasil
daquela época.
. Romance classificado
como misto de realista e impressionista.
Linguagem muito trabalhada.
|
3.ALUÍSIO DE AZEVEDO
|
• Romances
principais: O Mulato, Casa de Pensão, O Cortiço.
- O Cortiço (sua obra-prima): história da origem
e evolução dc uma habitação coletiva onde vivem operários, lavadeiras,
funcionários humildes, gente simples e desafortunados, num ambiente de
miséria, promiscuidade e violência, explorados pelo português João Romão,dono
do cortiço e do armazém. Destacam-se os personagens: a negra Bertoleza, Jerônimo, Firmo e Rita Baiana.
|
QUESTÕES DE PROVAS
1-(UM-SP)
Assinale a alternativa correta sobre o
romance “O Ateneu”, de Raul
a.( ) O romance se realiza pelo processo
memorialista do narrador, permeado por uma profunda visão crítica.
b. (
) Trata-se de uma crônica de saudades, em que o autor revela, a cada
instante, vontade de volta.
c. (
) “O Ateneu” representa uma
apologia aos colégios internos como forma ideal para a formação do adolescente.
d.( )
Apesar da tentativa de atingir um estilo realista, a obra mantém uma estrutura
romântica aos moldes de José de Alencar.
e.( ) Todas as personagens do romance buscam
identificar-se com o diretor do Ateneu.
2.(UFRGS-RS) No romance “O
Cortiço”, de Aluísio de Azevedo, a sintonia com os ideais naturalistas é
acentuada pela seguinte característica básica da história:
a.( ) O personagem sobrepõe-se ao ambiente.
b.( ) O coletivo sobrepõe-se ao individual.
c.( ) O
psicológico sobrepõe-se ao social.
d.( ) O
trabalho sobrepõe-se ao capital.
e.( ) A força sobrepõe-se à razão.
A questão 3 refere-se ao
seguinte texto:
“Este capítulo é todo de negativas. Não
alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não
conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão
com o suor do meu rosto. Mais, não padeci a morte de D. Plácida, nem a
semidemência de Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa
imaginaria que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que saí quite com
a vida. E imaginará mal: porque ao
chegar a este outro lado do mistério,
achei-me com um pequeno saldo que é a
derradeira negativa deste capítulo de negativas: - Não tive filhos, não
transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.”
3.(FUVEST-SP) Trata-se do
trecho final de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, Levando
isso em conta,, examine a expressão “ao chegar a este outro lado do mistério”.
Com ela, o narrador:
a.( ) refere-se ao mistério da semidemência de
Quincas Borba, cuja causa nunca pôde compreender.
b.( ) alude ao fato de não ter conseguido
tornar-se ministro, embora tivesse condições para tanto.
c.( ) alude ao próprio passado, pois só agora
percebe como sua vida foi inútil e negativa.
d.( ) refere-se ao mistério da morte, pelo qual
ele já passou.
e.( ) refere-se ao mistério do casamento e da
paternidade,
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