A Arte acadêmica colocada em xeque
Desde as últimas décadas do Século 19, a
História da Arte assistia a profundas modificações e rupturas. Os modelos que
vinham sendo valorizados desde a época do Renascimento Italiano pelas academias
começavam a ser realmente questionados. Os artistas, acompanhando as mudanças
sociais, econômicas, políticas e filosóficas do mundo, passavam a desejar novas
expressões artísticas. O desenvolvimento das vanguardas europeias do Século 20
está intimamente relacionado com os artistas da geração anterior, que abriram
caminho para as gerações seguintes. Os Impressionistas, os Pós-Impressionistas e
até mesmo os Realistas foram os verdadeiros pioneiros das transformações
artísticas que marcariam a arte moderna.
Os primeiros sinais de contestação
Artistas do final do
século, independentemente de pertencerem a qualquer escola, também tiveram
influência espantosa sobre a arte moderna .Destaca-se, em particular, Paul
Cézanne e sua obsessão em imprimir objetividade àforma de encarar o mundo. Pode
ser considerado o verdadeiro exemplo para a arte moderna, exercendo alguma
influência em todos os movimentos e artistas de projeção do século XX. Georges
Seraut (1859 -1891), apesar de ter morrido prematuramente, também é considerado
um dos grandes precursores da arte moderna, dando expressão artística à
mentalidade científica de sua época, incorporando, por exemplo, estudos de
ótica e cor às suas concepções artísticas e adicionando a eles suas refinadas
descobertas estéticas.
Muito além do Impressionismo
Van Gogh pode ser
considerado uma terceira influência decisiva sobre a arte doséculo XX. Além
dele podem ser colocados Gauguin, Pissaro e Signac. É importante pontuar que
essas influências, às vezes, manifestaram-se pela negação de algum aspecto do
trabalho do artista ou mesmo pela compreensão limitada ou desvirtuada de sua
obra.
O Século 20, sem dúvida, foi uma época de
profundas transformações em todas as esferas da experiência humana e os
artistas não podiam manter-se alheio a essas mudanças, o que em parte justifica
a profusão de movimentos e ideais artísticos que nele surgiram Entretanto,
resta a dúvida: todas as mudanças na arte foram realmente típicas desse conturbado
período da História ou apenas tivemos mais acesso a cada mínima manifestação
artística devido ao desenvolvimento dos meios de comunicação? De qualquer
forma, trata-se de contribuições à História da Arte extremamente marcantes e,
apesar do artista e sua criação serem considerados únicos e autônomos,não se
pode alienar sua produção do momento histórico e das mudanças dementalidade que
assistimos nesse século.
A Europa na
vanguarda
Um dado curioso
exemplificando essas tendências maiores que movem uma geração, pode ser o
encontro em Paris de praticamente todas as importantes figuras que marcariam as
vanguardas, vindos de todas as partes do mundo. Além de Paris, e em menor
escala, apesar da importância, Munique foi outro importante centro vanguardista
europeu. Os Fauves (as Feras), liderados pela figura de Henri Matisse
(1869-1954) começaram com uma reação ao divisionismo metódico (ver Neo-Impressionismo)
e assumiram características expressionistas. O Fauvismo pode ser classificado
entre os primeiros grupos de vanguarda, pois, apesar da curta duração (1905 a
1908) e da incoerência associada a ele, agrupou e influenciou figuras
importantes da arte moderna, como André Durain (1880-1954),Georges Braque e
exerceu influência, por exemplo, sobre Picasso.
Movimentos “rebeldes”
se multiplicam
Os expressionistas
alemães, agrupados no Die Brücke, Dresdem e Der Blaue Reiter, Munique foram
outras importantes influências para a Arte Moderna. Desse mesmo período é o Cubismo,
o Futurismo e posteriormente o Dadaísmo e o Surrealismo, os movimentos da
vanguarda europeia mais conhecidos e que exerceram influência sobre toda a arte
do século XX. O Construtivismo, o Suprematismo e o Neoplasticismo, originados
principalmente do Cubismo, também foram movimentos importantes do início do
século.
A filosofia é o
principio de tudo
Um dado curioso dos
movimentos vanguardistas do Século 20 é o fato de normalmente terem origem em
ideias filosóficas.
Estas ideias podem
receber, a princípio, expressão na literatura e poesia, para posteriormente
passar às artes plásticas, como é o caso mais específico do Surrealismo e do
Futurismo. Além disso, a popularidade entre os artistas das teorias, que
justificavam a arte, também foi grande, como as obras extremamente lidas e
comentadas entre os círculos vanguardistas da época: "Do espiritual na
Arte", de Kandinsky (1912) e"Abstração e Sentimento" (1908) de
Wilhelm Worringer. Em muito ajudou a formação de grupos que, normalmente.
estava relacionada à necessidade de sobrevivência material e a facilidade de
transmissão de ideias, uma vez que, apesar de aparentemente expressarem os
mesmo ideais, eram constituídos por personalidades e estilos pessoais bastante
fortes e distintos.
CUBISMO
O movimento cubista
começou em 1907 e terminou em 1914, apesar de ter persistido ainda quando os artistas
envolvidos abandonaram-no. Seus principais focos de resistência foram as artes decorativas
e arquitetura do Século 20.Apesar de ser considerado um ato de percepção individual,
o movimento possuía coerência. Era inspirado na arte africana(sua
"racionalidade") e no princípio de "realização do motivo" de
Cézanne.
Geometrização das figuras
A geometrização das
figuras resulta numa arte intuitiva e abstrata, derivada da "experiência
visual ".Baseia-se essencialmente na luz e na sombra. Rompe com o conceito
de arte como imitação da natureza (que vinha desde a Renascença), bem como com
as noções da pintura tradicional, como a perspectiva. Pablo Picasso definiu-a
como "uma arte que trata primordialmente de formas, e quando uma forma é
realizada, ela aí está para viver sua própria vida". Apesar da
identificação imediata do cubismo às figuras de Pablo Picasso e Georges Braque,
vários outros artistas deram grandes contribuições individuais ao movimento. Entretanto,
devido ao enorme número de artistas que aderiram ao estilo, havia grandes
diferenças pessoais estilísticas. "Casas e Árvores", de Georges
Braque, com suas formas geométricas e perspectiva própria, pode ser considerada
a obra de origem do movimento. O cubismo costuma ser dividido em fase analítica
- desenvolvida por Picasso e Braque entre 1909 e 1912 - e fase sintética (a
partir de 1912).
Entretanto, esses termos não são considerados
adequados, uma vez que tentam, baseados em conceitos falhos, estabelecer grandes
diferenças estéticas dentro de um estilo em processo de definição e evolução. "O
Jogador de Cartas" e "Retrato de Ambroise Vollard" de Pablo
Picasso; "Moça com Guitarra" e "Cabeça de Moça", de Georges
Braque; "Paisagem", de Jean Metzinger; "Garrafa e Copo", de
Juan Gris; "Cidade" e "Soldado com Cachimbo", de Fernand
Léger e "Janela", de Robert Delaunay, podem ser considerados bom
exemplos dos diferentes estilos presentes no movimento.
Cubismo na Escultura
A escultura cubista,
cujos principais nomes formam Brancusi, Gonzalez, Archipenko, Lipchitz,
Duchamp-Villon e Henri Laurens, desenvolveu-se separadamente da pintura, apesar
do intercâmbio inicial de ideias-chave. Entre os escultores, Duchamp-Villon,
merece ser citado. É considerado um dos primeiros escultores cubistas e
realizou uma tentativa de conceituação da esculturacubista, relacionando-a à
arquitetura .A peça em bronze "O Cavalo", com seu efeito dinâmico, é
um bom exemplo de suao bra.
Primeira Guerra Mundial dispersou idealizadores
O fim do movimento
cubista deve-se à eclosão da Primeira Guerra Mundial, em agosto de1914.Com
efeito, uma boa parte dos artistas desse movimento foi recrutada e partiu para
o campo de batalha, extinguindo o Cubismo, enquanto movimento. Todavia, o
estilo permaneceu vivo nas mãos d outros pintores, exercendo forte influência
sobrea arte moderna como um todo. Por suas características abstratas, foi
bastante adaptável, inspirando movimentos como o futurismo, o orfismo, o
purismo e o vorticismo.
FUTURISMO
O futurismo foi um movimento fundado pelo
poeta italiano Fillippo Tomasso Marinetti, que redigiu um manifesto e tentou
espalhá-lo em1909. MARINETTI (Filippo Tommaso), escritor italiano (Alexandria,
1876 - Bellagio, 1944),iniciador do movimento futurista , cujo manifesto
publicou no jornal parisiense Le Figaro (20 de fevereiro de 1909).Nesse
manifesto, já proclamava o fim da arte passada e a ode à arte do
futuro(futurismo, daí o nome do movimento).Com implicações políticas, buscava
tornar a Itália livre do peso de sua história e inseri-la no mundo moderno.
A dinâmica é o centro da arte
Ao poeta juntaram-se
outros artistas - principalmente poetas e pintores –como Umberto Boccioni (1882 - 1916), Carlo
Carrá (1881 - 1966), Giacomo Balla(1871 - 1958), Luigi Russolo (1885- 1947) e
Gino Severeni (1883 - 1950). Em abril de 1910 era lançado um manifesto da
pintura futurista, seguido por um manifesto da escultura futurista em 1912 e um
livro sobre seus objetivos em 1914(Pinttura, Scultura
Futurista, Milão) os dois últimos escritos por Boccione. O movimento, a
velocidade, a vida moderna, a violência, as máquinas e a quebra coma arte do
passado eram as principais metas do futurismo. Somente a forma e a cor não mais
bastavam para representar o dinamismo moderno, como se lê no manifesto de
1910:«Deve ser feita uma limpeza radical em todos os temas gastos e mofados a
fim de se expressar o vórtice da vida moderna - uma vida de aço, febre, orgulho
e velocidade vertiginosa.» Até 1912, as influências maiores na maneira como
davam formas artísticas às suas ideias era a dos impressionistas e
pós-impressionistas, artistas que já apresentavam certa preocupação em
representar o dinamismo.
Após 1912, uma
exposição em Paris marca a hegemonia da influência cubista sobre a arte do grupo.
Os artistas futuristas deparavam-se com o sério problema de representar a
velocidade em objetos parados. As soluções normalmente foram a representação de
seres humanos ou animais com múltiplos membros dispostos radialmente e em
movimento triangular. Forças mecânicas ou físicas eram fontes temáticas
bastante frequentes, em especial nos primeiros trabalhos futuristas. «Automóvel
e Ruído», de Balla ou «O que o Bonde me contou», de Carrá, são bons exemplos desses
quadros. Talvez Boccioni, uma das principais forças do futurismo, tenha sido o
artista mais bem-sucedido na representação da velocidade. «Formas Únicas de
Continuidade no Espaço» transmite o efeito de projeção no espaço,
diferenciando-se, de acordo com Herbert Read, em História da Pintura Moderna,
do vigor dinâmico barroco, por não mais gravitar em torno de si).
A influência das
guerras nos movimentos artísticos
A Primeira Grande
Guerra Mundial e a morte de Boccioni em 1916, ferido no conflito, foram golpes
decisivos no movimento futurista que acabou se dissolvendo. Entretanto, os
futuristas deixaram contribuições importantes para a arte do Século 20, seja no
futurismo russo, composto por artistas como Malevitch, ou no dadaismo. Também
teve grande influência para artistas importantes como Marcel Duchamp e
Robert Delaunay em atentá-los para a
representação do movimento que acabaria marcando os estilos característicos dos
artistas.De qualquer forma, ambos se situaram entre os pioneiros a chamar a
atenção para anova vida que se punha à frente do a essa nova vida (como as
máquinas).
DADAÍSMO
O vácuo criado pela guerra
O Dadaísmo foi um
movimento originado em1915, em plena 1ª Guerra Mundial, em Zurique (cidade que
conservou-se neutra com relação à guerra).O movimento, que negava todas as
tradições sociais e artísticas, tinha como base um anarquismo niilista e o
slogan de Bakunin: "a destruição também é criação". Contrários à
burguesia e ao naturalismo, identificado como "a penetração psicológica dos
motivos do burguês", buscavam a destruição da arte acadêmica e tinham grande
admiração pela arte abstrata. O acaso era extremamente valorizado pelos dadaístas,
bem como o absurdo. Tinham tendências claramente anti-racionais e irônicas.
O objetivo máximo era o escândalo
O Dadaismo procurava
chocar um público mais ligado a valores tradicionais e libertara imaginação via
destruição das noções artísticas convencionais. Acredita-se, ainda, que seu
pessimismo venha de uma reação de desilusão causada pela Primeira Guerra Mundial.
Apesar de sua curta durabilidade - no período entre guerras, praticamente havia
sido esquecido- e das críticas realizadas ao movimento, fundamentalmente
baseadas em sua ausência de vocação construtiva, teve grande importância para a
arte do Século 20.Fez parte de um processo, observado nesse século, de
libertação da arte de valores pré-estabelecidos e busca de experiências e formas
expressivas mais apropriadas à expressão do homem moderno e de sua vida.
O Cabaré
Originou-se de um
grupo composto por artistas como Tristan Tzara, Hans Harp, Richard Hülsenbeck,
Marcel Janko, Hugo Ball e Hans Richter que se encontrava em cafés de Zurique. A
ideia inicial era a realização de um espetáculo internacional de Cabaré que
contava com músicas diversas, recitais de poesia e exposição de obras.
A maneira como surgiu o nome do evento é
sugestiva: por acaso Ball e Hülsenbeck abriram um dicionário de alemão-francês
e acabaram se deparando com a palavra dada, que foi posteriormente adotada pelo
grupo e pelo movimento que daí surgiria. A brochura "Cabaret
Voltaire", a inauguração da "Galeria Dada" em 1917 eas revistas
"Dada", seguidas de livros sobreo movimento, ajudaram a
popularizá-lo.
Sua provocação,
ativismo e conceito de simultaneidade (realizar ao mesmo tempo diversas
apresentações, como a leitura de poemas distintos) muito deve aos futuristas,
entretanto, não possuía o otimismo e a valorização da tecnologia que esse
último movimento tinha. O dadaísmo costuma ser bastante identificado aos
ready-mades de Duchamp, como os urinóis elevados à categoria de obras de arte
ou outras proezas do artista, como o acréscimo de bigodes à Mona Lisa.Os poemas
non-sense, as máquinas sem função de Picabia, que zombavam da ciência, ou a
produção de quadros com detritos, como Merzbilder, de Schwitters, são outras
obras características do dadaísmo. Além disso, o dadaísmo, desde o começo,
pretendia ser um movimento internacional nas artes. Picabia era o artista que
acabou por fazer a ponte entre o dadaísmo europeu e o americano, tornando-se,
juntamente com Duchamp e Man Ray, uma das principais figuras do dadaísmo forte
em Nova York. A revista "Dada 291" era publicada nessa cidade
americana, além de Barcelona e Paris, outras cidades por onde o movimento
espalhara-se. Berlim, Colônia e Hanover eram outros importantes focos Dada. Na
Alemanha, o movimento ganhou características mais próximas de protesto social que
de movimento artístico.O dadaísmo forneceu grande inspiração para movimentos
posteriores, como o Surrealismo, derivado dele, a Arte Conceitual, o Expressionismo
Abstrato e a Pop Art americana.
O Surrealismo foi um Movimento fundado pelo poeta
André Breton que a princípiotinha apenas expressão literária e caminhava ao
lado do Dadaismo.
O Surrealismo pretendia explorar a força criativa do subconsciente, valorizando um anti-racionalismo, a livre associação de pensamentos e os sonhos, norteado pelas teorias psicanalíticas d Freud. O automatismo, que buscava lograr o controle da mente racional através da expressão de um pensamento que não passasse por censuras, era uma das técnicas utilizadas pelos surrealistas. Seguindo a tradição dos demais movimentos do Século 20, o Surrealismo era composto por grandes individualidades, que lhe deram importantes e diferencia das contribuições.Seus principais expoentes foram: Hans Arp, Joan Miró, Kurt Schwitters, MarcelDuchamp, Max Ernst, Salvador Dali, André Masson, René Magritte, entre outros.
Além disso, parte da incongruência associada ao movimento, além das diferenças pessoais entre seus vários membros, devia-se a pelo menos duas fortes e contraditórias tendências do Surrealismo.Uma delas se achava mais próxima ao dadaísmo e era mais niilista, contrária a todos os conceitos de arte tradicional (exemplificada por Marcel Duchamp). Quanto à outra,estava ainda sendo guiada por valores estéticos (que pode ser representada, por exemplo, por Salvador Dali e Magritte).
O alto grau de beleza estética que os trabalhos possuíam também eram considerados,de certa forma, contraditórios ao princípio do acaso e do automatismo como métodos de produção. O frottage, desenhos a partir de"decalques" sobre superfícies irregulares e a colagem, montagens predominantemente incongruentes,eram alguns métodos utilizados pelos surrealistas para explorar suas potencialidades inconscientes.Os principais adeptos do primeiro método eram Max Ernst (inventor do método, entre suas obras,"Histoire naturelle", de 1929), Miróe Masson, enquanto expressivos trabalhos de collage foram realizados por Kurt Schwitters e até pelo poeta André Breton.Uma das muitas provas de que as influências do Surrealismo extrapolaram as fronteiras de um movimento (além da inspiração que forneceu a vários artistas e gerações) pode ser exemplificada por obras de Picasso, como Guernica, bastantepróximas das premissas artísticas propostas pelos surrealistas, apesar de ele mesmonunca ter pertencido ao grupo.
O Surrealismo pretendia explorar a força criativa do subconsciente, valorizando um anti-racionalismo, a livre associação de pensamentos e os sonhos, norteado pelas teorias psicanalíticas d Freud. O automatismo, que buscava lograr o controle da mente racional através da expressão de um pensamento que não passasse por censuras, era uma das técnicas utilizadas pelos surrealistas. Seguindo a tradição dos demais movimentos do Século 20, o Surrealismo era composto por grandes individualidades, que lhe deram importantes e diferencia das contribuições.Seus principais expoentes foram: Hans Arp, Joan Miró, Kurt Schwitters, MarcelDuchamp, Max Ernst, Salvador Dali, André Masson, René Magritte, entre outros.
Além disso, parte da incongruência associada ao movimento, além das diferenças pessoais entre seus vários membros, devia-se a pelo menos duas fortes e contraditórias tendências do Surrealismo.Uma delas se achava mais próxima ao dadaísmo e era mais niilista, contrária a todos os conceitos de arte tradicional (exemplificada por Marcel Duchamp). Quanto à outra,estava ainda sendo guiada por valores estéticos (que pode ser representada, por exemplo, por Salvador Dali e Magritte).
O alto grau de beleza estética que os trabalhos possuíam também eram considerados,de certa forma, contraditórios ao princípio do acaso e do automatismo como métodos de produção. O frottage, desenhos a partir de"decalques" sobre superfícies irregulares e a colagem, montagens predominantemente incongruentes,eram alguns métodos utilizados pelos surrealistas para explorar suas potencialidades inconscientes.Os principais adeptos do primeiro método eram Max Ernst (inventor do método, entre suas obras,"Histoire naturelle", de 1929), Miróe Masson, enquanto expressivos trabalhos de collage foram realizados por Kurt Schwitters e até pelo poeta André Breton.Uma das muitas provas de que as influências do Surrealismo extrapolaram as fronteiras de um movimento (além da inspiração que forneceu a vários artistas e gerações) pode ser exemplificada por obras de Picasso, como Guernica, bastantepróximas das premissas artísticas propostas pelos surrealistas, apesar de ele mesmonunca ter pertencido ao grupo.
CONSTRUTIVISMO
O "Manifesto Realista"
O construtivismo foi um movimento artístico que
nasceu na Rússia em 1913.De um movimento inicialmente ligado à escultura e
à colagem, passou a envolver outras manifestações artísticas.Seu nome vem do
"Manifesto Realista",publicação de 1920 que prega o ideal de
se"construir” a arte. A arte deveria refletir o mundo moderno e sua
tecnologia, utilizando-se para isso de materiais da indústria, como por exemplo,
o plástico.
A utilidade social da arte
O movimento foi fundado por Vladimir Tatlin.
Trabalhando ao lado de Alexander Rodchenko,aplicou também os princípios construtivistas
à arquitetura. Relacionava a arte à sua utilidade social."Monumento para a
Terceira Internacional" é uma de suas obras mais conhecidas.Os irmãos
Antoine Pevsner e Naum Gabo (que publicaram o manifesto acima citado), apesar das
divergências com o grupo de Tatlin, formavam outro importante foco do
movimento.Esses últimos acreditavam na arte como um valor absoluto
e independente. Espaço e tempo deveriam ser as base das artes construtivas.
Inspirado no Cubismo
Com forte inspiração cubista e na pintura de Kandisky
(assimilados principalmente através dos irmãos Naum e Antoine), o
construtivismo fundia percepção artística aconhecimentos científicos,
como potencialidade dos materiais e possibilidades formais.Esteve intimamente
ligado a outro movimento artístico,o suprematismo, fundado pelo pintor Kasimir Malevich
(1878 -1935).
Este, também inspirado no cubismo, era baseado
na arte geométrica abstrata. Enfatizava a cor como instrumento de criação de
realidade na arte. Dá um extremo valor à emoção, desprezando as idéias da"mente
consciente".
Perseguição na Rússia ajuda a disseminação de ideias
As pinturas eram realizadas normalmente em cima de
superfícies preparadas. "Branco no Branco", de Malevich é considerado
o melhor exemplo de realização do que se propõe o suprematismo.Chocando-se com o
regime socialista soviético, o construtivismo foi condenado e Naum e
Antoine deixaram o país.Esse exílio facilitou a disseminação de suas ideias pela
Europa, exercendo bastante influência sobre artistas e movimentos importantes do
período, como o Bauhaus e o grupo Stijl. Tatlin permaneceu na Rússia,
associando-se ao teatro, realizando especialmente cenários.
Este, também inspirado no cubismo, era baseado
na arte geométrica abstrata. Enfatizava a cor como instrumento de criação de
realidade na arte. Dá um extremo valor à emoção, desprezando as ideias
da"mente consciente".
Suprematismo
Movimento que
aconteceu na Rússia, entre os anos de 1915 e 1923, e teve como alguns artistas:
El Lissitzky, Kazimir Malevich, Lyubov Popova, Ivan Puni, Aleksandr Rodchenko. Na
Última Exposição Futurística de Pinturas: 0-10, organizada por Ivan Puni em Petrogrado
em dezembro de 1915, Kazimir Malevich, um artista russo, escolheu esse termo
para descrever suas próprias pinturas, porque era o primeiro movimento em artes
a reduzir a pintura à pura abstração geométrica. Foi também o movimento que mais
influenciou o Construtivismo. Malevich, no seu manifesto "Do Cubismo ao
Suprematismo", define o Suprematismo como "a supremacia do puro
sentimento", o essencial era a sensibilidade em si mesma, independentemente
do meio onde teve origem.
Neoplasticismo
Neoplasticismo foi a
denominação dada pelo artista Piet Mondrian (1872-1944), para um estilo de arte
baseado na abstração geométrica, que acabou se tornando uma de suas principais
características.
Nascido do cubismo,
defendia uma arte construída somente a partir de elementos abstratos, não naturalista
e sem pretensões de representar detalhes de objetos naturais. No
Neoplasticismo, pois, de acordo com Mondrian, a arte reduziria a versatilidade
da natureza à expressão plástica com relações claras. A pintura deveria ser
realizada a partir de linhas verticais e horizontais e formas retangulares. As cores
utilizadas seriam as primárias - o vermelho, o azul e o amarelo - juntas com o
branco, o preto e o cinza.Com sua teoria artística Mondrian pretendia instaura ruma
arte anti-individulista, intuitiva, que representasse as características do
cosmosou da harmonia universal. Mondrian foi bastante influenciado pela
filosofia do holandês M. H. J. Schoenmaekers e pela teosofia, elementos que
podem ter inspirado suas elaborações neoplásticas. O livro Do espiritual em
arte, em especial popular entre alguns artistas vanguardistas do período, parece
ter sido lido por Mondrian na elaboração de suas ideias. "Composição em Vermelho,
Amarelo e Azul" , com seus retângulos formados por linhas horizontais e
verticais é um bom exemplo da aplicação de sua teoria. Mondrian e Theo van Doesburg
eram ainda os principais líderes do movimento modernista holandês De Stijl, uma
da futuras influências do Bauhaus. Entre os membros do De Stijl, destacam-se os
arquitetos Oud, responsável pelo planejamento urbano deRoterdã (1918), Robert
Van’t Hoff e Gerrit Thomas
Pré Modernismo e Vanguardas Européias
pt.scribd.com/doc/.../Pre-Modernismo-e-Vanguardas-Europeias
MODERNISMO (1922-1960)
Iniciou-se no Brasil
com a SAM de 1922. Mas nem todos os participantes da Semana eram modernistas: o
pré-modernista Graça Aranha foi um dos oradores. Apesar de não ter sido
dominante no começo, como atestam as vaias da platéia da época, este estilo,
com o tempo, suplantou os anteriores. Era marcado por uma liberdade de estilo e
aproximação da linguagem com a linguagem falada; os de primeira fase eram
especialmente radicais quanto a isto.
Didaticamente,
divide-se o Modernismo em três fases: a primeira fase, mais radical e
fortemente oposta a tudo que foi anterior, cheia de irreverência e escândalo;
uma segunda mais amena, que formou grandes romancistas e poetas; e uma
terceira, também chamada Pós-Modernismo por vários autores, que se opunha de
certo modo a primeira e era por isso ridicularizada com o apelido de
neoparnasianismo.
Referências históricas
. Início do século XX:
apogeu da Belle Époque. O burguês comportado, tranqüilo, contando seu lucro.
Capitalismo monetário. Industrialização e Neocolonialismo.
. Reivindicações de
massa. Greves e turbulências sociais. Socialismo ameaça.
. Progresso
científico: eletricidade. Motor a combustão: automóvel e avião.
. Concreto armado: “arranha-céu”. Telefone, telégrafo.
Mundo da máquina, da informação, da
velocidade.
. Primeira Guerra
Mundial e Revolução Russa.
. Abolir todas as
regras. O passado é responsável. O passado, sem perfil, impessoal. . . . .
. Eliminar o
passado.
. Arte Moderna.
Inquietação. Nada de modelos a seguir. Recomeçar. Rever. Reeducar. . Chocar.
Buscar o novo: multiplicidade e velocidade, originalidade e incompreensão,
autenticidade e novidade.
. Vanguarda - estar à
frente, repudiar o passado e sua arte. Abaixo o padrão cultural vigente.
Primeira fase Modernista no Brasil (1922-1930)
Caracteriza-se por
ser uma tentativa de definir e marcar posições. Período rico em manifestos e
revistas de vida efêmera.
Um mês depois da
SAM, a política vive dois momentos importantes: eleições para Presidência da
República e congresso (RJ) para fundação do Partido Comunista do Brasil. Ainda
no campo da política, surge em 1926 o Partido Democrático que teve entre seus fundadores
Mário de Andrade.
É a fase mais
radical justamente em conseqüência da necessidade de definições e do rompimento
de todas as estruturas do passado. Caráter anárquico e forte sentido
destruidor.
Principais autores
desta fase: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Antônio de
Alcântara Machado, Menotti del Picchia, Cassiano Ricardo, Guilherme de Almeida
e Plínio Salgado.
Características
. busca do moderno,
original e polêmico
. nacionalismo em suas
múltiplas facetas
. volta às origens e
valorização do índio verdadeiramente brasileiro
. “língua brasileira” - falada pelo povo nas ruas
. paródias - tentativa
de repensar a história e a literatura brasileiras
A postura
nacionalista apresenta-se em duas vertentes:
. nacionalismo
crítico, consciente, de denúncia da realidade, identificado politicamente com
as esquerdas.
. nacionalismo
ufanista, utópico, exagerado, identificado com as correntes de extrema direita.
Manifestos e Revistas
Revista Klaxon — Mensário de Arte
Moderna (1922-1923)
Recebe este nome,
pois klaxon era o termo usado para designar a buzina externa dos automóveis.
Primeiro periódico modernista, é conseqüência das agitações em torno da SAM.
Inovadora em todos os sentidos: gráfico, existência de publicidade, oposição
entre o velho e o novo.
“— Klaxon sabe que o progresso existe. Por isso, sem
renegar o passado, caminha para diante, sempre, sempre.”
Manifesto da Poesia Pau-Brasil (1924-1925)
Escrito por Oswald e
publicado inicialmente no Correioda Manhã. Em 1925, é publicado como abertura
do livro de poesias Pau-Brasil de Oswald. Apresenta uma proposta de literatura
vinculada à realidade brasileira, a partir de uma redescoberta do Brasil.
“— A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e
de ocre nos verdes da Favela sob o azul cabralino, são fatos estéticos.”
“— A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e
neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como
somos.”
A Revista (1925-1926)
Responsável pela
divulgação dos ideais modernistas em MG. Teve apenas três números e contava com
Drummond como um de seus redatores.
Verde-Amarelismo (1926-1929)
É uma resposta ao
nacionalismo do Pau-Brasil. Grupo formado por Plínio Salgado, Menotti del
Picchia, Guilherme de Almeida e Cassiano Ricardo. Criticavam o “nacionalismo
afrancesado” de Oswald. Sua proposta era de um nacionalismo
primitivista, ufanista, identificado com o fascismo, evoluindo para o
Integralismo de Plínio Salgado (década de 30). Idolatria do tupi e a anta é eleita
símbolo nacional. Em maio de 1929, o grupo verde-amarelista publica o manifesto
“Nhengaçu Verde-Amarelo — Manifesto do Verde-Amarelismo
ou da Escola da Anta”.
Manifesto Regionalista de 1926
1925 e 1930 é um
período marcado pela difusão do Modernismo pelos estados brasileiros. Nesse
sentido, o Centro Regionalista do Nordeste (Recife) busca desenvolver o
sentimento de unidade do Nordeste nos novos moldes modernistas. Propõem
trabalhar em favor dos interesses da região, além de promover conferências,
exposições de arte, congressos etc. Para tanto, editaram uma revista. Vale
ressaltar que o regionalismo nordestino conta com Graciliano Ramos, José Lins
do Rego, José Américo de Almeida, Rachel de Queiroz, Jorge Amado e João Cabral
- na 2ª fase modernista.
Revista Antropofagia (1928-1929)
Contou com duas
fases (dentições): a primeira com 10 números (1928 e 1929) direção Antônio
Alcântara Machado e gerência de Raul Bopp; a segunda foi publicada semanalmente
em 16 números no jornal Diário de São Paulo (1929) e seu “açougueiro” (secretário) era Geraldo Ferraz. É uma nova etapa do nacionalismo Pau-Brasil e resposta
ao grupo Verde-amarelismo. A origem do nome movimento esta na tela “Abaporu”
de Tarsila do Amaral.
1ª fase -
inicia-se com o polêmico manifesto de Oswald e conta com Alcântara Machado,
Mário de Andrade (2º número publicou um capítulo de Macunaíma), Carlos Drummons
(3º número publicou a poesia “No meio do vaminho”); além de desenhos de Tarsila, artigos em favor da língua tupi de Plínio Salgado e poesias de Guilherme de
Almeida.
2ª fase -
mais definida ideologicamente, com ruptura de Oswald e Mário de Andrade. Estão
nessa segunda fase Oswald, Bopp, Geraldo Ferraz, Oswaldo Costa, Tarsila,
Patrícia Galvão (Pagu). Os alvos das críticas (mordidas) são Mário de Andrade,
Alcântara Machado, Graça Aranha, Guilherme de Almeida, Menotti del Picchia e
Plínio Salgado.
“Só a Antropofagia nos une, Socialmente.
Economicamente. Filosoficamente. / Única lei do mundo. Expressão mascarada de
todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. / De
todos os tratados de paz. / Tupi or not tupi, that is the question.”
(Manifesto Antropófago)
“A nossa independência ainda não fo proclamada. Frase
típica de D. João VI: — Meu filho, põe essa coroa na tua cabeça, antes que
algum aventureiro o faça! Expulsamos a dinastia. É preciso expulsar o espírito
bragantino, as ordenações e o rapé de Maria da Fonte.”
(Revista de Antropofagia, nº 1)
Outras Revistas
Revista Verde de
Cataguazes (MG - 1927-1928)
revista Estética (RJ
- 1924)
revista Terra Roxa e
outras Terras (SP - 1926, colaborador Mário de Andrade)
revista Festa (RJ -
1927, Cecília Meireles como colaboradora)
AUTORES
ALCÂNTARA MACHADO (1901 - 1935)
Foi um importante
escritor modernista da primeira fase, apesar de não ter participado da SAM,
integrando o grupo somente em 25. Produziu prosa ficcional, renovando sua
estrutura para construir histórias curtas e do cotidiano. Privilegia o
imigrante, principalmente o italiano, e sua fusão, ampliando o universo
cultural de São Paulo.
Apesar de não ser
tão radical como os outros modernistas contemporâneos seus, usava uma linguagem
em seus contos que se aproximava muito do falado. Seus personagens do livro de
contos Brás, Bexiga e Barra Funda falavam uma mistura de italiano e português.
Retrata uma realidade citadina e realista, num tom divertido, enfatizando a
vida difícil dos imigrantes e sua ascensão.
Nunca chegou a
completar seu romance Mana Maria, que foi publicado um ano depois de sua
prematura morte. Pouco antes do fim da vida, rompeu relações com Oswald de
Andrade por motivos ideológicos, ao mesmo tempo em que sua amizade com Mário de
Andrade se estreitava.
Brás, Bexiga e Barra
Funda - contos com fragmentação de episódios, até registro de cenas sem
interesse, mapeamento de São Paulo, exótico nos nomes das personagens, menção a
produtos de consumo da época, gírias esquecidas etc.
“Ali na Rua Oriente a ralé quando muito andava de
bonde. De automóvel ou carro só mesmo em dia de enterro ou casamento. Por isso
mesmo o sonho de Gaetaninho era de realização muito difícil. Um sonho. (...)
Gaetaninho saiu correndo. Antes de alcançar a bola um bonde o pegou. Pegou e
matou. / No bonde vinha o pai do Gaetaninho. / A gurizada assustada espalhou a
notícia na noite. / — Sabe o Gaetaninho? / — Que é que tem? / — Amassou o bonde! / (...) às dezesseis horas do dia seguinte saiu um enterro da
Rua do Oriente e Gaetaninho não ia na boléia de nenhum dos carros do acompanhamento. Ia no da
frente dentro de um caixão fechado com flores pobres por cima.”
Laranja da China -
luso-brasileiro toma o lugar do italiano, ainda na linha do cotidiano em suas
minúcias. Todos os contos apresentam uma espécie de paródia desde o título: O
Revoltado Robespierre (Sr. Natanael Robespierre dos Anjos).
Obras principais:
Pathé Baby (1926)
Brás, Bexiga e Barra
Funda (1927)
Laranja da China
(1928)
Anchieta na
Capitania de São Vicente (1928)
Mana Maria (romance
inacabado e publicado pós-morte 1936)
Cavaquinho e
Saxofone (coletânea de artigos e estudos, 1940)
Escreveu para Terra
Roxa e Outras Terras (um de seus fundadores), para a Revista Antropofagia e
para a Revista Nova (que dirigiu).
CASSIANO RICARDO (1895-1974)
Paulista, Cassiano
deixou uma obra marcada pelas tendências de seu tempo sem, entretanto, deixar
um estilo próprio. Iniciou sua carreira com Dentro da Noite (1915)
neo-simbolismta, passou por tendências parnasianas em A Frauta de Pã (1917,
para integrar-se ao Verde-amarelismo com Vamos Caçar Papagaios (1926). Com o
formalismo de 45, torna-se meditativo e melancólico. Em 1960, entra para a
corrida vanguardista com experimentalismo e franca adesão ao Concretismo e à
Poesia Praxis.
Obras principais:
Poesia:
Dentro da Noite
(1915)
A Frauta de Pã
(1917)
Vamos Caçar
Papagaios (1926)
Martim-Cererê (1928)
Deixa Estar, Jacaré
(1931)
O Sangue das Horas
(1943)
Um Dia depois do
Outro (1947)
A Face Perdida
(1950)
Poemas Murais (1950)
Sonetos (1952)
João Torto e A
Fábula (1956)
Arranha-Céu de Vidro
(1956)
Poesias Completas
(1957)
Montanha Russa
(1960)
A Difícil Manhã
(1960)
Jeremias sem Chorar
(1964)
Prosa:
O Brasil no Original
(1936)
O Negro na Bandeira
(1938)
A Academia e a Prosa
Moderna (1939)
Pedro Luís Visto
Pelos Modernos (1939)
Marcha para o Oeste
(1943)
A Academia e a
Língua Brasileira (1943)
A Poesia na Técnica
do Romance (1953)
O Homem Cordial
(1959)
22 e a Poesia de
Hoje (1962)
Reflexos sobre a
Poética de Vanguarda (1966)
GUILHERME DE ALMEIDA (1890-1969)
Sempre se ajustou
aos padrões e foi disciplinado, com mestria sobre a língua e seus dispositivos
técnicos. Exímio poeta que pode ter sua obra dividida em três etapas:
Pré-modernista - Nós
(só de sonetos, 1917), A Dança das Horas (1919), Messidor (contendo os dois
anteriores mais A Suave Colheita, 1919), Livro de Horas de Sóror Dolorosa
(1920) e Era Uma Vez..., (1922) - influência parnasiano-simbolista, habilidoso
artista do verso
Modernismo - A
Frauta que Eu Perdi (subtítulo Canções Gregas, 1924) Meu (1925) e Raça (1925) -
versos livres, sonoridade e ressurgir de algumas rimas. Raça (rapsódia da
mestiçagem brasileira) pertence ao nacionalismo estético com nomeação
metonímica (português = velho cavaleiro, índio reluz em cores e preto = samba),
versos grandes, frases nominais e vocábulos mais raros.
Pós-Modernismo -
Você (1930), Acaso (1938), Poesia Vária (1947), Camoniana (1956) e Pequeno
Cancioneiro (1956) - retorno ao ponto de origem: versos metrificados, rimas
raras, sonetos e sentimentalismo. Apanágio da técnica, reconstitui a maneira de
Camões e dos Cancioneiros
“Há uma encruzilhada de três estradas sob a minha cruz
de estrelas azuis: / três caminhos se cruzam — um branco, um verde e um preto
—
três hastes da grande cruz. / E o branco que veio do
norte, e o verde que veio da terra, e o preto que veio do leste. / derivam num
novo caminho, completam a cruz unidos num só, fundidos
num vértice. / Fusão ardente
na fornalha tropical de barro vermelho, cozido, estalando ao calor modorrento
dos sóis imutáveis: (...)”--Minha Cruz! - in Raça
MANUEL BANDEIRA (1886-1968)
É uma das figuras
mais importantes da poesia brasileira e um dos iniciadores do Modernismo. Do
penumbrismo pós-simbolista de A Cinza das Horas às experiências concretas da
década de 60 de Composições e Ponteios, a poesia de Bandeira destaca-se pela
consciência técnica com que manipulou o verso livre. Participa indiretamente da
SAM, quando Ronald de Carvalho declama seu poema Sapos.
Sempre pensando que
morreria cedo (tuberculoso), acabou vivendo muito e marcando a literatura
brasileira. Morte e infância são as molas propulsoras de sua obra. Ironizava o
desânimo provocado pela doença, mas em Cinza das Horas apresenta melancolia e
sofrimento por causa da “dama branca”. Além de ser um poeta fabuloso, também foi ensaísta,
cronista e tradutor. O próprio autor define sua poesia
como a do "gosto humilde da tristeza".
“Febre, hemoptise, dispnéia, e suores noturnos. / A
vida inteira que podia ter sido e que não foi. / Tosse, tosse, tosse. / Mandou
chamar o médico: / — Diga trinta e três. / —
Trinta e três... trinta e três...
trinta e três... / — Respire. (...) / — O
senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito
infiltrado. / — Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
/ — Não. A única coisa a fazer e tocar um tango argentino.” -Pneumotórax
Ritmo Absoluto e
Libertinagem são frutos de um processo de integração com o Rio. Sua poesia
contagia-se de uma visão erótico-sentimental, resultante da forma de encarar o
amor a partir da experiência do corpo. Libertinagem usa lirismo solto, repleto
de cenas do cotidiano, com verdadeiras aulas de solidariedade e ternura.
“Irene preta / Irene boa / Irene sempre de bom humor. /
Imagino Irene entrando no céu: / — Licença, meu branco! / E São
Pedro bonachão: / — Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.” --Irene no Céu, in
Libertinagem
Em Estrela da Manhã,
atinge a plenitude de seu lirismo libertário, mostrando que tudo pode ser
matéria poética: um clássico esquecido, uma frase de criança, uma notícia de
jornal, a casa em que morava e até mesmo uma propaganda de três sabonetes
(Baladas das três mulheres do sabonete Araxá).
Obras principais:
Poesia:
A Cinza das Horas
(1917)
Carnaval (1919)
O Ritmo Dissoluto
(1924)
Libertinagem (1930)
Estrela da Manhã
(1936)
Lira dos Cinquent’Anos
(1940)
Belo, Belo (1948)
Mafuá do Malungo
(1948)
Opus 10 (1952)
Estrela da Tarde
(1963)
Estrela da Vida
Inteira (1966)
Prosa:
Crônicas da
Província do Brasil (1937)
Guia de Ouro Preto
(1938)
Noções de História
das Literaturas (1940)
Literatura
Hispano-Americana (1949)
Gonçalves Dias
(1952)
Itinerário de
Pasárgada (1954)
De Poetas e de
Poesia (1954)
Flauta de papel
(1957)
Andorinha, Andorinha
(seleção de Carlos Drummond de Andrade, 1966)
Colóquio
Unilateralmente Sentimental (1968)
MÁRIO DE ANDRADE (1893-1945)
Um dos organizadores
do Modernismo e da SAM, foi o que apresentou projeto mais consistente de
renovação. Começou escrevendo críticas de arte e poesia (ainda parnasiana) com
o pseudônimo de Mário Sobral. Rompeu com o Parnasianismo e o passado com
Paulicéia Desvairada e a Semana, da qual participou ativamente.
Injetou em tudo que
fez um senso de problemático brasileirismo, daí sua investida no folclore. De
jeito simples, sua coloquialidade desarticulou o espírito nacional de uma
montanha de preconceitos arcaicos. Lutou sempre por uma literatura brasileira e
com temas brasileiros.
“O passado é lição para se meditar e não para se
reproduzir” - afirmava assim a necessidade de um presente novo,
inventivo. Acreditava na arte como instrumento de debate e de combate, comportamento
evidenciado em Paulicéia Desvairada. Esta obra
oferece uma panorâmica da cidade e de sua vida,
ao criticar a mania obsessiva de posse, aqui também satiriza a incompetência
dos administradores.
“Oh! Minhas alucinações” / Vi os deputados, chapéus altos / sob o pálio
vesperal, feito de mangas-rosas, / saírem de mãos dadas do Congresso... / Como um possesso num acesso
em meus aplausos / aos salvadores do meu estado amado! (...) / Mas os
deputados, chapéus altos / Mudavam-se pouco a pouco em cabras! / Crescem-lhes
os cornos, decemlhes as barbichas... (...) / se punham a pastar / rente do
palácio do senhor presidente... / Oh! Minhas alucinações!” --O
rebanho, in Paulicéia Desvairada
Sua faceta de
teórico de estética literária pode ser avaliado em A Escrava que não é Isaura,
onde expõe pequenos e paliativos remédios da farmacopéia
didático-técnico-poética do Modernismo.
“Eu creio que os modernistas da Semana de Arte Moderna
não devemos servir de exemplo a ninguém. Mas podemos servir de lição. O homem
atravessa uma fase integralmente política da humanidade. Nunca jamais ele foi
tão ‘momentâneo’
como agora.” --O Movimento Modernista - conferência
Clã do Jabuti
resulta da viagem de descoberta do Brasil, numa aproximação com o folclore como
fonte de criação poética. Apoiando-se nas tradições populares brasileiras,
utiliza a toada, o coco, a moda, o samba para sustentar seus poemas.
Seu primeiro romance
é Amar, Verbo Intransitivo que penetra na estrutura familiar da burguesia
paulistana, sua moral e seus preconceitos. Aborda, ao mesmo tempo, os sonhos e
a adaptação dos imigrantes na agitada Paulicéia.
Já em Macunaíma,
Herói sem nenhum caráter, cria um anti-herói com um perfil indolente, brigão,
covarde, sincero, mentiroso, trabalhador, preguiçoso, malandro, otário -
multifacetado. Inspirando-se no folclore indígena da Amazônia, mesclando a
lendas e tradições das mais variadas regiões do Brasil, constrói-se um herói
que encarna o homem latino-americano. Macunaíma é uma figura totalmente fora
dos esquemas tradicionais da prosa de ficção, uma aglutinação de alguns
possíveis tipos brasileiros. Sempre na defesa, Macunaíma começa comendo terra e
acaba sendo comido pela terra.
Remate de Males já
evidencia certo distanciamento em relação ao desvairismo inicial. Em Contos de
Belazarte, manifesta acentuada preocupação com uma análise psicológico-social
das relações familiares, reveladas através de uma linguagem inovadora
(sintático e lexicalmente).
Na obra Lira
Paulistana, Mário faz uma interpretação poética de seu destino e integração com
a cidade de São Paulo. O reflexo do eu na transparência do rio Tietê mostra as
águas do rio como se fosse um espelho mágico.
Inspiração - “São Paulo! comoção de
minha vida ... / Os meus amores são flores
feitas de original... / Arlequinal!... Traje de losangos... Cinza e ouro... /
Luz e bruma... Forno e inverno morno... / Elegâncias sutis sem escândalos, sem
ciúmes... / Perfumes de Paris... Arys!” --in Poesias Completas
O Banquete é um
explosivo depoimento sobre as linhas mestras do pensamento estético de Mário de
Andrade, além de constituir uma sátira sobre certos comportamentos típicos no
tempo da ditadura estadonovista.
"Pouca saúde e
muita saúva os males do Brasil são." --Macunaíma
Obras Principais
Poesia
Há uma Gota de
Sangue em casa Poema (1917)
Paulicéia Desvairada
(1922)
Losango Cáqui (1926)
Clã do Jabuti (1927)
Remate de males
(1930)
Poesias (1941)
Lira Paulistana
(1946)
O Carro da Miséria
(1946)
Poesias Completas
(1955)
Conto
Primeiro Andar
(1926)
Balazarte (1934)
Contos Novos (1946)
Romance
Amar, Verbo
Intransitivo (1927)
Macunaíma (1928)
Ensaio
A Escrava que não é
Isaura (1925)
O Aleijadinho e
Álvares de Azevedo (1935)
O Baile das Quatro
Artes (1943)
Aspectos da
Literatura Brasileira (1943)
O Empalhador de
Passarinhos (1944)
O Banquete (1978)
Crônicas
Os Filhos da
Candinha (1943)
Musicologia e
Folclore
Ensaio sobre Música
Brasileira (1928)
Compêndio de
História da Música (1929)
Modinhas e Lundus
Imperiais (1930)
Música, Doce Música
(1933)
Namoros com a
Medicina (1939)
Música do Brasil
(1941)
Danças Dramáticas do
Brasil (1959)
Música de Feitiçaria
(1963)
História da Arte
Padre Jesuíno de
Monte Melo (1946)
outros folhetos
reunidos nas Obras Completas
OSWALD DE ANDRADE (1890-1853)
Foi poeta,
romancista, ensaísta e teatrólogo. Figura de muito destaque no Modernismo
Brasileiro, ele trouxe de sua viagem a Europa o Futurismo. Formado em Direito,
Oswald era um playboy extravagante: usa luvas xadrez e tinha um Cadillac verde
apenas porque este tinha cinzeiro, para citar apenas algumas de suas muitas
extravagâncias. Amigo de Mário de Andrade, era seu oposto: milionário,
extrovertido, mulherengo (casou-se 5 vezes, as mais célebres sendo as duas
primeiras esposas: Tarsila do Amaral e Patrícia "Pagu" Galvão).
“Viajei, fiquei pobre, fiquei
rico, casei, enviuvei, casei, divorciei, viajei, casei... já disse que sou
conjugal, gremial e ordeiro. O que não me impediu de ter brigado diversas vezes
à portuguesa e tomado parte em algumas batalhas campais.” --nota
autobiográfica - Diário de Notícias
Foi um dos
principais artistas da Semana de Arte Moderna e lançou o Movimento Pau-Brasil e
a Antropofagia, corrente que pretendia devorar a cultura européia e brasileira
da época e criar uma verdadeira cultura brasileira. Fazendeiro de café, perdeu
tudo e foi à falência em 1929 com o crash da Bolsa de Valores. Militante
esquerdista, passou a divulgar o Comunismo junto com Pagu em 1931, mas
desligou-se do Partido em 1945.
Sua obra é marcada
por irreverência, coloquialismo, nacionalismo, exercício de demolição e
crítica. Incomodar os acomodados, estimular o leitor através de palavras de
coragem eram constantes preocupações desse autor.
“A situação ‘revolucionária’ desta bosta mental sul-americana apresentava-se
assim: o contrário do burguês não era o proletário —
era o boêmio! As massas, ignoradas no território e como hoje, sob a completa devassidão econômica dos políticos e dos ricos. Os intelectuais brincando de roda.”--prefácio
de Serafim Ponte Grande.
Depois de participar da SAM, viaja à Europa e o diário de bordo destas viagens é o romance cubista Memórias Sentimentais de João Miramar, que os críticos chamaram de prosa telegráfica. Este romance-caleidoscópio inaugura, no nível da prosa, a tendência antinormativa da literatura contemporânea, rompendo os modelos realistas. Seus 163 fragmentos registram a trajetória do brasileiro rico de todos os tempos: Europa - casamento - amante - desquite - vida literária - apertos financeiros - ...
Depois de participar da SAM, viaja à Europa e o diário de bordo destas viagens é o romance cubista Memórias Sentimentais de João Miramar, que os críticos chamaram de prosa telegráfica. Este romance-caleidoscópio inaugura, no nível da prosa, a tendência antinormativa da literatura contemporânea, rompendo os modelos realistas. Seus 163 fragmentos registram a trajetória do brasileiro rico de todos os tempos: Europa - casamento - amante - desquite - vida literária - apertos financeiros - ...
“Beiramávamos em auto pelo
espelho de aluguel arborizado das avenidas marinhas sem sol. / Losango, tênues
de ouro bandeira nacionalizavam o verde dos montes interiores. / No outro lado
azul da baía a Serra dos Órgãos serrava. / Barcos. E o passado voltava na brisa
de baforadas gostosas. Tolah ia vinha derrapava entrava em túneis. / Copacabana
em um duelo arrepiado na luminosa noite varada pelas frestas da cidade.” - 66.
Botafogo, in Memórias Sentimentais de João Miramar
Em Paris, deslumbrado,
descobriu a própria Terra: tinha inventado a poesia de exportação — o
Pau-Brasil. Poemas-pílulas, onde mistura-se a
linguagem antiga dos cronistas e jesuítas com o
modo de falar atual. Com essa mistura, tempera seus poemas com sua fina ironia.
Relicário - “No baile da Corte / Foi o Conde
d’Eu
quem disse / Pra Dona Benvinda / Que farinha de Suruí / Pinga de Parati / Fumo de Baependi / É comê bebê pitá e caí”--Pau-Brasil
O momento
esteticamente mais radical do Modernismo foi a Antropofagia. Invocando a
cultura e os costumes primitivos do Brasil, este movimento afirma a necessidade
de sermos um povo antropófago, para não nos atrofiarmos culturalmente. Deve-se
filtrar as contribuições estrangeiras para alcançar uma síntese transformadora.
Com a crise
econômica de 1929, Oswald passa por difíceis condições financeiras e se vê
obrigado a conjugar o verbo “crakar”
“Eu empobreço de repente / Tu enriqueces por minha
causa / Ele azula para o sertão / Nós entramos em concordata / Vós protestais
por preferência / Eles escafedem a massa / Sê pirata / Sede trouxas / Abrindo o
pala / Pessoal sarado / Oxalá eu tivesse sabido que esse verbo era irregular.” -- Memórias
Sentimentais de João Miramar
Falido
economicamente, Oswald vai se pendurar nos “reis da vela”,
os agiotas do beco do escarro (zona bancária de SP). Com isso, o autor vai
recolhendo material para sua peça O Rei da Vela.
Serafim Ponte Grande
é o romance que testemunha a fase de identidade ideológica com a esquerda.
Serafim encarna o mito do herói latino-americano individual que parte como um
louco em busca da libertação e da utopia. Oswald projeta em Serafim o herói
que vai remar sempre contra a corrente do inconformismo, procurando romper,
através da crítica, do sarcasmo e da ironia as rédeas sufocantes do ser
burguês. Por ser o sonhe de Serafim individual, acaba frustrando-se e, depois
de aprender as duras realidades da vida, torna-se um irrecuperável marginal que
cai fora do sistema.
“— Tudo é tempo e contra-tempo!
E o tempo é eterno. Eu sou uma forma vitoriosa do tempo. Em luta seletiva,
antropofágica. Com outras formas do tempo: moscas, eletro-éticas, cataclismas,
polícias e marimbondos! / Ó criadores das elevações ertificiais do destino eu
vos digo! A felicidade do homem é uma felicidade guerreira. Tenho dito. Viva a
rapaziada! O gênio é uma longa besteira!” --Serafim Ponte
Grande
Morreu sofrendo
dificuldades de saúde e financeiras, mas sem perder o contato com os artistas
da época.
Epitáfio - “Eu
sou redondo, redondo / Redondo, redondo eu sei / Eu sou uma redond'ilha
/ Das mulheres que beijei / Vou falecer do oh! amor / Das mulheres de minh’ilha
/ Minha caveira rirá ah! ah! ah! / Pensando na
redondilha.”
Obras principais:
Poesia
Pau-Brasil (1925)
Primeiro Caderno de
Poesia do Aluno Oswald de Andrade (1927)
Poesias Reunidas
(edição póstuma)
Romance
Os Condenados (I -
Alma, II - Estrela do Absinto, III - A escada, 1922 a 1934)
Memórias
Sentimentais de João Miramar (1924)
Serafim Ponte Grande
(1933)
Marco Zero (I - A
Revolução Melancólica, II - Chão, 1943 a 1946)
Manifestos, teses e
ensaios
Manifesto Pau-Brasil
(1925)
Manifesto
Antropófago (1928)
A Arcádia e a
Inconfidência (1945)
Ponta de Lança
(1945)
A Crise da Filosofia
Messiânica (1946)
A Marcha das Utopias
(1966)
Teatro
O Homem e o Cavalo
(1934)
O Rei da Vela (1937)
A Morta (1937)
O Rei Floquinhos
(Infantil, 1953)
Memórias
Um Homem sem
Profissão (1954)
Crônicas
Telefonemas (edição
póstuma)
TEXTOS MODERNISTAS DA 1ª FASE
Evocação do Recife
Recife
Não a Veneza
americana
Não a Mauritsstad
dos armadores das Índias Ocidentais.
Não o Recife dos
Mascates
Nem mesmo o Recife
que aprendi a amar depois — Recife das revoluções libertárias
Mas o Recife sem
história nem literatura
Recife sem mais nada
Recife da minha
infância (...) --Manuel Bandeira
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra
Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher
que eu quero
na cama que
escolherei
Vou-me embora pra
Pasárgada
Vou-me embora pra
Pasárgada
Aqui eu não sou
feliz
Lá a existência é
uma aventura
De tal modo
inconsequente
Que Joana a Louca de
Espanha
Rainha e falsa
demente
Vem a ser
contraparente
Da nora que nunca
tive
E como farei
ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro
brabo
Subirei no
pau-de-sebo
Tomarei banhos de
mar!
E quando estiver
cansado
Deito na beira do
rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as
histórias
Que no tempo de eu
menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada.
Em Pasárgada tem
tudo
É outra civilização
Tem um processo
seguro
De impedir a
concepção
Tem telefone
automático
Tem alcalóide à
vontade
Tem prostitutas
bonitas
para a gente namorar
E quando eu estiver
mais triste
Mas triste de não
ter jeito
Quando de noite me
der
Vontade de me matar
Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que
eu quero
Na cama que
escolherei
Vou-me embora pra
Pasárgada. --Manuel Bandeira
Pronominais
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do
aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o
bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro --Fragmentos
do livro de poesias Pau-Brasil, de Oswald de Andrade
Erro de português
Quando o português
chegou
Debaixo duma bruta
chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de
sol
O índio tinha
despido
o português. --Fragmentos do livro de poesias Pau-Brasil,
de Oswald de Andrade
Mário de Andrade
Eu insulto o
burguês! O burguês níquel,
o burguês-burguês!
A digestão bem-feita
de São Paulo!
O homem-curva! o
homem-nádegas!
O homem que sendo
francês, brasileiro, italiano,
é sempre um
cauteloso pouco-a-pouco!
Eu insulto as
aristocracias cautelosas!
Os barões lampiões!
os condes Joões! os duques zurros!
que vivem dentro de
muros sem pulos,
e gemem sangues de
alguns mil-réis fracos
para dizerem que as
filhas da senhora falam o francês
e tocam os ‘Printemps’
com as unhas!
Come! Come-te a ti
mesmo, oh! gelatina pasma!
Oh! purée de batatas
morais!
Oh! cabelos nas
ventas! oh! carecas! (...)
Ódio e insulto! Ódio
e raiva! Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de
giolhos,
cheirando religião e
que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio
fecundo1 Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem
perdão!
Fora! Fu! Fora o bom
burguês!... --Fragmentos de Ode ao Burguês
Modernismo (1922-1960)
www.graudez.com.br/literatura/modernismo.html
MOÇA PELO AMOR DE DEUS COMO É O NOME DESSA PRIMERA OBRA DO CUBISMO E O SEU AUTOR(A)
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