1.LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL
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Nascido em Porto Alegre, em 1945, Luiz Antonio de
Assis Brasil passa parte da infância em Estrela, com a família, que de lá retorna à capital em
1957. Fez parte da OSPA - Orquestra Sinfônica de Porto Alegre – como
violoncelista, lá permanecendo por 15 anos. Forma-se em Direito em 1970. Em 1975 ingressa
como Professor na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul,
função na qual atua até hoje; no mesmo ano inicia a colaborar na imprensa com
artigos históricos e literários.
Estréia em 1976 com o romance Um quarto de
légua em quadro, lançando-o na 32ª Feira do Livro de Porto Alegre, e que
lhe dá o Prêmio Ilha de Laytano. Em 1976 inicia sua trajetória de
administrador cultural, primeiramente na Prefeitura de Porto Alegre [Chefe da
Secção de Atividades Artísticas] e depois no Estado do Rio Grande do Sul
[Diretor do Instituto Estadual do Livro – 1983. Em 1981 Luiz
Antonio de Assis Brasil assume a direção do Centro Municipal de Cultura de
Porto Alegre
No inverno 1984/1985 vai à Alemanha, como
bolsista do Goethe-Institut [Rothenburg-ob-der-Tauber, na Francônia]. Em 1985
começa a ministrar a Oficina de Criação Literária do Programa de
Pós-Graduação em Letras da PUCRS, em atividade até hoje - sendo a mais antiga
do Brasil em funcionamento ininterrupto - e que recebeu o Prêmio Fato
Literário, da RBS/Banrisul em 2005, ao completar 20 anos de atividades
ininterruptas.
Em 1988, Assis Brasil recebe da Câmara Municipal
de Porto Alegre o Prêmio Érico Veríssimo pelo conjunto de sua obra.
OBRAS:
-
"Trilogia dos Mitos Rio-Grandenses”, formada pelos livros:
-
UM QUARTO DE LÉGUA EM QUADRO- A
PROLE DO CORVO, BACIA DAS ALMAS.
-
Ainda sob a ótica da história, escreveu também:
- CÃES DA PROVÍNCIA - VIDEIRAS DE CRISTAL
-
De abordagem das relações humanas e suas dificuldades:
O
HOMEM AMOROSO, MANHÃ TRANSFIGURADA, AS VIRTUDES DA CASA, CONCERTO CAMPESTRE, UM CASTELO NO PAMPA (Perver-sas famílias, Pedra da
memória, Os senhores do século), CONCER-TO CAMPESTRE, ANAIS DA PROVÍNCIA-BOI, BREVIÁRIO DAS TERRAS DO BRASIL, O PINTOR DE RETRATOS, A MARGEM I-MÓVEL DO RIO, MÚSICA
PERDIDA, ENSAIOS ÍNTIMOS E IMPERFEITOS, FIGURA NA SOMBRA.
PREMIAÇÕES
MAIS RELEVANTES
Entre outros, recebeu os seguintes prêmios:
Prêmio Literário Nacional, do Instituto Nacional
do Livro (1987), por Cães da Província;
Prêmio Erico Verissimo (1987) pelo conjunto de
sua obra;
Prêmio Literário Machado de Assis, da Biblioteca
Nacional (2001), por O pintor de retratos;
Prêmio Jabuti (2003), por A margem imóvel do rio.
Menção;
Prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira
(2004), por A margem imóvel do rio. O único romance entre os três vencedores.
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RESUMO DE ALGUMAS OBRAS DO AUTOR
UM
QUARTO DE LÉGUA
EM QUADRO
Um Quarto de Légua em Quadro, que tem o subtítulo Diário do Doutor Gaspar de Fróis
- Médico, é um romance histórico de autoria do escritor brasileiro Luiz Antonio de
Assis Brasil. Foi
publicado em 1976, pela Editora Movimento.
Na obra o autor focaliza a colonização açoriana no sul do Brasil,
principalmente nos atuais estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Narra, em forma de diário,
a história Gaspar de Fróis, um médico com alma de artista, que vem da Ilha Terceira para o Brasil, em meados do século XVIII,
para participar da colonização.
O livro foi adaptado para o cinema, e o
filme, dirigido por Paulo Nascimento
(Cineasta), foi
lançado em 2005 com o título de Diário de um Novo
Mundo.
Em
síntese, o romance se atém à composição literária do período de 1752-1753; um
retrato de época ficcionalizado, diga-se. Obra que pode ser vista como uma
espécie de tentativa de recuperação discursiva dos primórdios de povoamento
açoriano do Rio Grande do Sul.
O romance é escrito em forma de diário pelo
médico Gaspar de Fróis, cujo ponto de vista discute as raízes e a gênese da
civilização que ganharia notoriedade pela cultura sul-rio-grandense.
Em “Um quarto de légua em quadro”, o drama
pessoal de Gaspar se funde ao drama coletivo; sem o desejar, o médico torna-se
cúmplice e partícipe de fatos que nunca desejou houvessem acontecido. É a
principal imagem propagada pela leitura deste romance.
É uma obra para se ler mais pelo interesse
de conteúdo, apesar de incluído na categoria de ficção, do que propriamente
pelo aspecto formal. Romance constituído de um formato de diário… não nos
parece um texto que esteticamente possa empolgar como a leitura de um romance
como “Cães da Província”, do próprio Assis, obra com mais cara de romance
propriamente dito.
“Um quarto de légua em quadro”. Um bom
pretexto para se entender um pouco da cultura do Extremo-Sul. Há na obra,
inclusive, traços de fala que apresentam já no “século 18 ficcionalizado”
passagens que atribuem ao “paulista” o sinônimo carrasco dos sulinos e oferece
ao gaúcho um topete de estancieiro.
A
PROLE DO CORVO
O autor de Um Quarto de Légua em Quadro
nos apresenta um painel do que foi o último ano da Guerra dos Farrapos,
pondo a nu fatos não revelados, e recriando um universo
caótico, de guerra, de paz e de ódio, num
romance comovente e terno, onde a grande per-
sonagem é a intolerância humana.
sonagem é a intolerância humana.
Em A Prole do Corvo, Luiz Antônio de Assis
Brasil utiliza seu instrumental com maestria e precisão e os personagens
centrais são burilados em detalhes, resultando daí um elenco vivo e presente:
Chicão, o estancieiro de Santa Flora, o soldado Cássio,
Laurita
e o personagem-eixo, Filhinho, têm um dinamismo interior e uma multifacetação
não encontrados facilmente na literatura brasileira de hoje.
O pano de fundo e, consequentemente, a
atmosfera em que se desencadeia a ação é a Guerra dos Farrapos, sobre a qual o
autor lança uma nova luz, reveladora, talvez, de traços anteriormente
obscurecidos dos mais importantes personagens participantes
daquele
movimento.
Perpassa, por todo romance, a dor,
desencanto e a amargura daqueles que ingenuamente não se' engajaram no movimento
revolucionário e que desconhecem (ou são ludibriados por aqueles que manejam os
cordéis) os esquemas de interesse econômico que sus-
tentam
todas as guerras, tanto as de hoje como as de ontem. Em A Prole do Corvo fica definitivamente
clara a fragilidade de qualquer argumento urdido para sustentar e justificar um
ideal bélico.
Ao final da leitura, o cenário da ação se
corporificou em um personagem a mais. A Guerra dos Farrapos, presente ao longo
da obra, tornou-se viva, autônoma como qualquer super-personagem que se
esboroa, se esfacela melancolicamente deixando permanecer a verdadeira questão:
quem foram os perdedores, quem foram os heróis?
BACIA
DAS ALMAS
Bacia
das almas abrange o séc, XX, cobrindo um período que se estende até os
últimos anos da década de 30. A ação transcorre na fazenda Santa Flora e em
Aguaclara, sede do município do qual a figura central do relato, o Coronel
Trajano, é prefeito. Ainda que por meio da corrupção e da violência, Trajano
desfruta do mando político. Já seu filho Gonçalo, seguidor de Plínio Salgado,
fracassa em todas as iniciativas, não lhe bastando o dinheiro e a força para se
assegurar do comando. É esta desigualdade que configura a versão da história
sulina que subjaz no romance: a geração positivista, que foi responsável pelo
exercício da autoridade e do arbítrio no Estado desde sua fundação, com a instalação
da República, produz uma descendência simultaneamente incapaz e doentia.
De um livro a outro, o romancista avança na
linha cronológica: Um quarto de légua em
quadro passa-se no século XVIII, à época da ocupação da Região Sul,
apresentando os percalços vividos pelos açorianos que, iludidos pelas promessas
governamentais lusitanas, deslocaram-se ao Novo Mundo, na procura de uma nova
vida. A quebra das ilusões, que atravessa o texto, dá-se em dois níveis: o dos
açorianos, quando se deparam com uma realidade em tudo oposta a seus sonhos; e
o do leitor, que assiste à descoberta de um passado nada ilustre e, nem por
isso, menos verdadeiro. A prole do corvo
transcorre numl período posterior, o da Revolução Farroupilha, especialmente em
seus últimos meses, em 1845, e mantém-se fiel ao sentimento geral de desilusão.
Seu alvo é, desta vez, a relíquia mais cara do passado rio-grandense: Bento
Gonçalves. Evitando socorrer-se nos ideais que sustentaram os rebeldes, como a
inclinação republicana e escravocrata, o novelista investe contra os atores
principais deste episódio, demonstrando sua incompetência ad- ministrativa e
militar, a subserviência e a corrupção. Com isto, novos ídolos são derrubados
do pódio e, como no outro livro, o fato é vivido tanto pelo protagonista,
Filhinho Paiva, como pelo leitor, desintoxicando a este último da carga
propagandística que cerca os antigos senhores do poder, incorporada pela narrativa
oficial que frequentemente lhe é transmitida.
Bacia
das Almas completa o itinerário e ilumina a unidade da obra composta por
estes três romances. Por isso, o Autor a denomina trilogia dos mitos rio-grandenses,
uma vez que engloba à ficção momentos decisivos do passado, tratando não apenas
de enfocá-Io sob ângulos inéditos, porque via de regra sonegados, mas de, a
partir da ótica do presente, onde se encontra, refletir sobre as razões que
levaram à promoção especial de tais circunstâncias no desenvolvimento da
história regional
Como última etapa deste ciclo, Bacia das almas abrange o século XX,
cobrindo um período que se estende até os últimos anos da década de 30. Seus
vínculos com A prole do corvo são bastante claros, uma vez que seus principais
protagonistas - Trajano Henriques de Paiva Filho e filhos - descendem do anti-herói
daquele livro, José Henriques de Paiva, o Filhinho. Assim, a ação transcorre
ainda em Santa Flora, a fazenda pertencente à família, e em Aguaclara, sede do
município do qual a figura central do relato, o Coronel Trajano, é prefeito. E,
mais uma vez, a história oferece o pano de fundo a partir do qual a ficção pode
ser compreendida; pois os acontecimentos estão balizados entre a plena
instalação da dinastia castilhista no poder, no final do século XIX, e a
inauguração do Estado Novo, por Getúlio Vargas, em 1937, com a consequente
derrocada das pretensões
integralistas
de Plínio Salgado.
Estes dois momentos estão representados no
romance por suas personagens. Trajano é o adepto fervoroso do castilhismo,
adotando seus ideais positivistas, mesmo sem assimilâ-los completamente, e
capitulando sempre aos interesses de Borges de Medeiros, uma vez que esta
atitude representa sua permanência no poder. E Gonçalo, seu filho mais
politizado, é o seguidor de Plínio Salgado, rendido aos projetos integralistas,
apesar de ja-
mais
ter acesso ao Chefe, nem conseguir ultrapassar a condição de soldado raso de
seus contingentes. Encenando os sucessos históricos no interior do texto e, com
isto, trazendo-os à consciência do leitor, vê-se que os dois protagonistas
configuram polos opostos, mas não equivalentes. Com efeito, trata-se de extremos
desiguais: Trajano, ainda que por meio da corrupção e da violência, alcança sua
meta, desfrutando do mando político e sendo temido por todos, mesmo depois de
morto. Seu filho fracassa em todas as iniciativas, sendo que o dinheiro e a
força não lhe bastam para se assegurar do comando, mesmo quando implanta um
exército entre seus peões. É esta desigualdade que configura a versão da
história sulina que subjaz no romance: a geração positivista, que foi responsável
pelo exercício da autoridade e do arbítrio no Estado desde sua fundação, com a
instala- ção da República, produz uma descendência simultaneamente incapaz e doentia.
Pois a anormalidade e a incompetência constituem o traço que perpassa todos os
herdeiros de Trajano, e não apenas o fraco Gonçalo. Por isso, a frigidez de
Márcia, a impotência de Luis, a pederastia de Sérgio são os sintomas de um
processo similar: a degeneração que atinge a todos e consuma-se na sua
esterilidade, tanto intelectual, quanto social e sexual.
É nesta medida que o romance associa-se
aos anteriores, descrevendo um fenômeno histórico e interpretando suas consequências
numa perspectiva crítica, que é igualmente uma visão da trajetória do Estado.
Esta, por sua vez, é encarada sob o prisma da decadência de uma classe
proprietária rural que, tendo suas origens nos episódios da conquista do
território e da Revolução Farroupilha, exerce uma dominação que se estende até
um passado recente . Todavia, seu desdobramento, como consistiu no exercício de
um poder discricionário, que não sofreu qualquer tipo de oposição enérgica,
coincidiu com seu esgotamento e degradação interna, comprovada, neste caso,
pelas anomalias dos Henriques de Paiva mais jovens.
Esta constatação do enfraquecimento moral e
político transparece por intermédio da moldura do romance, que inicia e conclui
por um incêndio provocado por Sérgio. Porém, também aqui, os dois extremos não
são idênticos: o primeiro fogo é originado tão-somente pelo menino, o segundo
começa fora, com os peões que se revoltam contra Gonçalo e querem purgar um
crime antigo, estimulado outrora por Trajano. Por isso, distinguem-se
o
ato anarquista de um e a rebeldia de outros, indiciando o projeto global do
livro, que é o da crença numa transformação, não por efeito de uma ação
isolada, mas pela transgressão do grupo.
O fogo é, para os Henriques de Paiva, o
sinal do inferno, prisão a que os condenam seus pecados pessoais e a fraqueza
congênita diante do pai tirânico. Simboliza, portanto, o final da dinastia e o
encerramento da narração do percurso histórico do Rio Grande, na perspectiva
dos donos do poder. Contudo, é também o sintoma de uma nova era e crença na
mudança, o fogo que ilumina os caminhos inaugurais e a sociedade renovada.
Regina Zilberman
CÃES DA PROVÍNCIA
O livro Cães da Província, escrito por Assis Brasil, narra várias histórias que são ambientadas na cidade de Porto Alegre, Província de São Pedro do RS, durante o reinado do imperador D.Pedro II .
O destaque maior é dado ao personagem Joaquim de Campos Leão, Qorpo-Santo que representa a intelectualidade em choque com a mediocridade dos parâmetros de sua sociedade.
A falta de compreensão da população leva Qorpo-Santo a ser considerado louco, devido a sua audácia em burlar os costumes da época.
O livro Cães da Província, escrito por Assis Brasil, narra várias histórias que são ambientadas na cidade de Porto Alegre, Província de São Pedro do RS, durante o reinado do imperador D.Pedro II .
O destaque maior é dado ao personagem Joaquim de Campos Leão, Qorpo-Santo que representa a intelectualidade em choque com a mediocridade dos parâmetros de sua sociedade.
A falta de compreensão da população leva Qorpo-Santo a ser considerado louco, devido a sua audácia em burlar os costumes da época.
O narrador deixa claro, durante o desenrolar dos acontecimentos, a superioridade do personagem Qorpo-Santo em relação aos demais.
A forma que seu comportamento tomou é tida como consequência de sua imensa inteligência, conhecimento e seus conflitos internos e sentimentais.
Fora abandonados por sua esposa, Inácia, que visava interditá-lo. Passa a viver só com seu criado Inesperto.
Porém, por baixo de toda a aparência de uma sociedade normal, existe um mundo marginal onde prevalecem a violência, o adultério, a crueldade e as mentiras.
Entre as histórias paralelas que, porém, não se desvinculam de Qorpo-Santo, temos a do importante comerciante Eusébio.
Este só se preocupava com sua posição social, o que tornava um homem digno e respeitável.
Mas o seu maior problema foi o adultério cometido pela mulher, o que levou a uma grande mentira perante toda a cidade, ameaçando abalar sua integridade.
Junto com essa história, temos os crimes que abalaram a calma população, cometidos pelo açougueiro e sua mulher, Pelsen. Esses dilaceravam corpos de pessoas atraídas para sua casa, a fim de fazer linguiça.
Assim, vemos transparecer a mesquinhez, a falta de valores reais da sociedade, que se mostra mais preocupada com a interdição ou não de Qorpo-Santo do que com os crimes hediondos ocorridos.
Qorpo-Santo é realmente, um personagem extraordinário. Suas eseus pensamentos o levam muito além dessa época.
Contudo, seu comportamento não é completamente normal, porque o personagem conversa, diversas vezes, com pessoas irreais, como Napoleão III.
A sua condição psíquica é levada a julgamento, havendo divergências entre os alienistas a respeito da mesma. Acaba por ser interditado, mas seus bens não são entregues á esposa. É extraditado, e a sociedade sente-se apaziguada.
A narração é em 3ª pessoa - narrador onisciente. A realidade choca-se com a ficção nesse livro. O fato de Qorpo -Santo fantasiar um mundo só seu, à revelia dos costumes e regras tradicionais, eleva-o ainda mais.
Independente da exata localização espacial, o livro extrapola, indo muito além de suas fronteiras.
A denúncia é feita constantemente, mostrando a mediocridade de espírito da sociedade que é, facilmente, igualada a um cão, o cães da província.
Isto porque essa população é, realmente, domada e obediente às normas e costumes impostos pela época.
Assim atingindo o universal, a obra de Assis Brasil pode ser entendida por várias pessoas em diversas épocas, sem perder, de maneira alguma, seu valor real.
A própria personagem, na sua loucura, oscila entre momentos de lucidez e o mais completo desvario: " Ora sou um, ora sou outro".
Assim, a ocultação e o desvelamento da vida assumem representação concreta no confronto entre as patologias individuais e coletivas, de que são ilustrativos os episódios dos cadáveres escondidos, o falso enterro de Lucrécia e sua reclusão em vida, a ambiguidade velada e ardorosa de Inácia e, principalmente, a hipocrisia das eprícias médicas e dos laudos judiciais.
O trecho abaixo evidencia uma visão de exaltação à "loucura" (conversa entre Landel e Joaquim Pedro):"Amigo, no imaginário do nosso mundo a loucura é uma coisa aquática, os loucos têm um espírito profundo e turbulento com as correntezas, jamais poderemos adivinhar-lhe o fundo; daí por que escapam a qualquer compreensão, é como se você quisesse adivinhar o que acontece a dois palmos de baixo do casco da nossa canoa; a mente enlouquecida é pior que este rio barrento."
Neste outro trecho percebe-se a tortura de Qorpo-Santo, em sua indefinição entre a razão e a loucura (pensamento dele lido por Joaquim Pedro para Luísa):
"Se sinais naturais me inclinam algumas vezes á cópula, em outras me fazem desaparecer tal inclinação. Assim é que saio às vezes com mais forte atenção, e volto com mais contrária disposição.
Logo, se a natureza agora exige e determina e passados alguns minutos reprime e impossibilita, faz desaparecer o desejo e a lembrança, pergunto: o que é o homem?"
AS VIRTUDES DA CASA
Em As virtudes da casa (1985), o passado histórico do Rio Grande do Sul permanece apenas como tênue pano de fundo, salientando-se a criação de personagens complexas que, de certa forma, revivem o mito de Agamêmnon em pleno pampa.
Descreve os pensamentos e sentimentos mais
íntimos de duas mulheres, Micaela e Isabel, respectivamente mãe e filha,
centrando o foco narrativo na mente dessas personagens.
A
harmonia familiar passa a se desintegrar depois que um botânico francês chega. Após
a partida do dono da casa, Coronel Antão, para uma guerra, afloram-se paixões
desenfreadas, traições e crimes. Micaela trai Baltazar Antão com Félicen, mesmo
sabendo que magoava a filha Isabel, também apaixonada pelo botânico. Jacinto, o
filho, sofre duplamente, pela dor da irmã e pela felicidade proibida da mãe,
por quem nutre adoração.
A mulher gaúcha mostra-se independente e
não aceita a obediência passiva aos caprichos do homem, como aconteceria na sociedade
patriarcalista instituída a partir da Idade Média.
Micaela dispõe-se a ir embora com o jovem
francês, mas os filhos impedem que isso aconteça. Esse segue viagem prometendo
espera-la em determinado lugar, mas quando ela chega lá descobre que ele
simplesmente seguiu caminho sem aguardá-la, tudo não passara de uma aventura .
Volta para a fazenda e tudo continua como antes até a chegada do Coronel,
quando acontece o desenlace, tão surpreendente quanto o da tragédia grega.
VIDEIRAS
DE CRISTAL
Ambientado na colônia germânica de Padre
Eterno, aos pés do morro do Ferrabrás e nos anos de 1872 a 1874, Videiras de
Cristal reconstitui um episódio fascinante da história de nosso país: liderada
por uma frágil mulher, Jacobina Maurer, uma legião de colonos alemães
revolta-se contra as instituições da época, enfrentando o próprio exército
imperial. Personagem de lenda e verdade, Jacobina tinha sua imagem confundida
com o próprio Cristo, fazendo previsões do fim do mundo e confortando os
deserdados com promessas do paraíso celeste.
Os muckers
(santarrões, hipócritas, em alemão) viveram lances de epopeia e paixão; seus perseguidores
desde logo descobriram que teriam à frente um inimigo que não apenas conhecia
muito bem o terreno, mas era imbuído de um ideal messiânico que ultrapassava a
compreensão dos estreitos limites de seu tempo.
Até hoje o episódio dos muckers desperta interesse e
constrangimento, pois os des- cendentes de seus protagonistas ainda vivem na
região conflagrada, onde o assunto é
tratado
com a máxima reserva. Objeto de um filme - Os
muckers- sob a direção e produção de Jorge Bodansky e Wolf Gauer (Stopfilm TV
alemã, Berlim), o tema apaixona a quem dele se aproxima.
Em Videiras
de Cristal - o romance dos muckers vemos um autor na plenitude de sua forma
narrativa e que nos transporta, nas páginas de um romance magistral, a um
universo de ódio, onde a movimentação de massas corre passo a passo com a
tragédia pessoal de cada um de seus participantes.
CONCERTO
CAMPESTRE
Uma orquestra formada por índios e
agregados rompe de uma estância do Rio Grande do Sul e de todas as propriedades
da vizinhança. O período é de paz na província, depois da Guerra dos Farrapos
(1835-1845) e antes da Revolução Federalista (1893).
Homem de pouca cultura, o Major Eleutério
descobre na música um instrumento não só de deleite pessoal, mas também de
distinção social, já que começa a receber visitantes de toda a região
interessados em ouvir a orquestra que ele montou com a ajuda de um maestro,
mulato, importado de Minas.
Inebriado por sua caixa de música particular,
o Major não percebe o envolvirnento de sua filha, ainda quase menina, com o
Maestro. Quando descobre, a reação do Major é violenta e passional, como era
passional seu interesse pela música.
Concerto Campestre, livro do escritor, explora a tensão entre
civilização e barbárie - refletida tanto no plano exterior, por meio do
contraste entre a orquestra e a rústica paisagem campeira, quanto no interior,
na personalidade de um homem que se deixa
transportar
pela música, mas é capaz de ir até as últimas consequências para punir quem
desobedece seu rígido código moral.
MANHÃ TRANSFIGURADA
Poder-se-ia afirmar que esta obra é a
continuação de seu primeiro livro, Um
Quarto de Légua em Quadro. Com efeito, as personagens são descendentes dos
primeiros portugueses que por aqui aportaram a partir da primeira metade do
século XVIII.
Os fatos ocorrem nas proximidades de
Viamão. A narrativa inicia com o casamento do sargento Miguel de Azevedo
Beirão, fazendeiro da Lagoa dos Patos, com Dona Camila.
Na noite de núpcias, Miguel descobre que
Camila não era virgem. Pede às autoridades eclesiásticas a anulação do
casamento.
Quando
o sacristão Bernardo leva uma intimação a Camila, para que fique enclausurada
na própria casa enquanto correr o processo de anulação das bodas, esta pratica
uma aventura sexual com o sacristão, a fim de se vingar do marido. Bernardo
apaixona-se pela senhora que, ao se aproximar do padre Ramiro, é tocada pelo
amor deste.
O padre, por sua vez, entra num dilema:
corresponde ao amor de Camila ou se mantém fiel ao celibato? Enquanto isso, o
sacristão fica possesso por um ódio surdo ao padre Ramiro.
Configuram-se, ao mesmo tempo, o triângulo
amoroso do romance romântico e a angústia barroca que se apodera do pároco. O
final trágico, pois, numa manhã, na véspera da celebração religiosa, Bernardo
passa a perseguir o sacerdote Ramiro campanário acima.
No alto da torre Bernardo acerta um golpe
com o turíbulo na cabeça do padre, que morre imediatamente. A seguir,
desequilibra-se da torre, vindo a morrer sobre as pedras. A obra relata as
dificuldades, os preconceitos e o abandono a que foram submetidos os imigrante
portugueses que vieram desbravar as paragens da Província de São Pedro do Rio
Grande.
UM
CASTELO NO PAMPA
Centrando sua atenção sobre um castelo
medieval construído em pleno pampa gaúcho, o autor apresenta-nos um domínio de
lenda e realidade, explorando as conflituadas relações familiares e as
cavilações políticas que se desenrolam ao abrigo de grossas paredes de pedra.
Na realidade, o romance é dividido em
três partes (3 livros):
1)Perversas Famílias - É a
primeira parte de uma trilogia, constituída, ainda por Pedra da Memória e
Senhores do Século. Trilogia chama de Um Castelo no Pampa. Obra ligada à
corrente literária contemporânea. O livro retrata as relações de várias
gerações de uma família pertencente à alta aristocracia rural sul-rio-grandense
e, ainda, a trajetória político-histórica do Brasil.
O autor de Perversas
Famílias escreveu sua obra baseado em fatos reais acontecidos num
Brasil já distante. Entretanto, o livro apresenta várias narrativas fictícias,
cheias de fantasias psicológicas.
Nos personagens, a
caracterização é, geralmente, psicológica, havendo pouquíssimas descrições
físicas. O único personagem descrito fisicamente, com bastante detalhes, é o
CASTELO. Ele foi construído com pedras e arquitetado por João Felício. Tal
construção é bastante pomposa se comparada às outras casas das estâncias
vizinhas. Tinha duas torres, onde se localizavam dois dormitórios, peças
espaçosas, a esplanada (um terraço), várias lareiras e uma enorme biblioteca
onde descansavam uns 25.000 livros.
Personagens:
Dr. Olímpio era um homem de
ideais revolucionários de liberdade, embora tivesse um posicionamento
paradoxal: o culto das tradições de aristocracia, já que fazia parte desta
classe.
Dona Plácida, uma senhora muito fina, casou-se com João Felício e teve com esse os filhos: Olímpio e Arquelau..
Dona Plácida, uma senhora muito fina, casou-se com João Felício e teve com esse os filhos: Olímpio e Arquelau..
E, por último, Páris,
um pré-adolescente, neto de Olímpio.
Além destes personagens, é
possível, ainda, destacar alguns outros, como Charlotte, mulher de Olímpio; Proteu,
Aquiles e Selene, filhos de Olímpio e Charlotte; Astor,
filho de Dona Plácida com um professor de Arquelau - logo,
um bastardo.
A história tem como cenário o Rio Grande
do Sul, especificamente, a cidade de Pelotas. O espaço é dividido entre o Solar
dos Leões (em Pelotas) e o Castelo (nos Pampas). Todos os personagens fazem
parte da aristocracia rural e, de geração em geração, acompanham as mudanças
político-sociais do Brasil. O tempo varia da época da Monarquia, com a
escravatura e os movimentos abolicionistas, dos quais Olímpio era um dos
líderes, à ditadura Getulista.
Perversas Famílias não
é uma obra de fácil compreensão por apresentar uma narrativa alinear e ter um
extenso número de personagens. Há um fato bastante interessante relacionado ao
modo como o autor escreveu: alguns capítulos são em primeira pessoa,
endereçados a quem lê, e, por isso, mantêm um diálogo direto com o leitor,
fazendo com que esse se sinta dentro da história. Entretanto, a maioria dos
capítulos é em terceira pessoa.
Resumo:
Nos confins do RS de séculos
passados, um homem chamado Bento Maria, que herdara as terras do pai, começa a
passar por dificuldades para manter sua fazenda.
Ao mesmo tempo, João Felício
Borges da Fonseca, homem em ascensão econômica, compra grande terreno em
Pelotas, onde, mais tarde, construiria o Solar dos Leões. É informado sobre a
possibilidade de adquirir as terras de Bento Maria. Assim sendo, para expandir
seus negócios, João Felício compra a fazenda e dá continuação à criação de
gado. O nome dado às terras é Estância São Felício.
Uma vez rico, João Felício
precisa casar-se e escolhe a recatada Plácida como sua esposa. Ela era filha
mais jovem e menos atrativa de um senhor pelotense; entretanto, era muito
culta, já que havia estudado vários anos numa escola em Genebra - Suíça -,
vindo deste fato seu apelido: Genebrina. Enquanto João Felício planeja a
construção de um castelo no pampa para realizar um sonho de sua esposa, nasce
seu primeiro filho, Olímpio.
A primeira palavra por ele
dita é Liberdade, um choque para todos. Além de Olímpio, o casal Borges da
Fonseca tem mais um filho: Arquelau. João Felício não consegue terminar a
construção do Castelo por motivos de saúde e morre sem vê-lo pronto. Após a
morte do marido, Dona Plácida se envolve com Félix del Arroyo, professor de
Arquelau, engravida, dando Astor à luz, e morre no parto.
Olímpio vai para a capital
estudar Direito e volta cheio de ideais republicanos. Por motivos políticos,
traz Astor, o bastardo, de volta a casa. É Olímpio quem dá continuação às obras
abandonadas do Castelo da Liberdade, como ele o chamaria; sente-se traído pelos
colegas do partido que não entendiam a razão pela qual queria ter um castelo.
Olímpio vai para Paris com o criado Raymond para aproveitar os festejos do
Centenário da Revolução Francesa. É na Europa que conheceu sua esposa, Condessa
Charlotte de Von SpeigelHerb, que não estava em boa situação econômica, mas
tinha o título. Os dois se casam depois de o Castelo ser concluído.
Na Europa, Olímpio recebe a notícia
de que a República havia sido proclamada no Brasil; volta rapidamente para
casa.
Selene, filha da Condessa e Olímpio,
conhece Hermes, rapaz rico, mas sem nome, e engravida. Charlotte não a deixa
casar. Após o nascimento da criança, Páris, Selene descobre que Hermes casou-se
com outra e enlouquece, vivendo o resto da vida internada em um sanatório. Por
decisão da Condessa, Páris é levado para estudar no Colégio Anchieta, em Porto
Alegre.
Ele só volta para o Castelo depois
de ser expulso da escola, por ter incendiado um laboratório. Durante a curta
passagem do neto pelo Castelo, Olímpio morre. Mais uma vez, por decisão da
Condessa, Páris é levado para longe. Desta vez, ele vai para uma escola em
Bagé. Depois de se envolver com uma colega, cujo pai morre, Páris sente-se
culpado e sai caminhando sozinho pela cidade.
É acolhido por prostitutas e passa a noite
num bordel. Quando a escola descobre, expulsa-o.
De volta ao Castelo, o futuro de Páris é
decidido por Arquelau, sua esposa (Beatriz) e a Condessa. Após uma reunião,
eles acham melhor mandar Páris para Pelotas na companhia de Beatriz, que
cuidará dele até que acabe seus estudos. Os dois vão para o Solar dos Leões, o
qual estava fechado há bastante tempo.
Assim, como podemos perceber, o
contexto vai compondo-se de histórias individuais, de modo que não há somente
um personagem principal. O enredo é envolvente, e o leitor fica preso à espera
do desfecho. Como a narrativa não é feita de forma linear, ela transforma-se em
um quebra-cabeças, no qual, com o decorrer da leitura, as peças vão se
encaixando.
O vocabulário utilizado é bastante
culto, sem, entretanto, ser inacessível. Não há muitos diálogos, mas sim, uma
grande descrição dos personagens, vestimentas e cenários. Cenários esses de
luxo e requinte.
Na história, misturam-se conflitos familiares,
política, paixões, intrigas e luta pelo poder, caracterizando um enredo
bastante consistente. Há um caráter histórico na obra, pois nela fica
caracterizado o período anterior e posterior à Proclamação da República.
A maior parte da narrativa é ambientada em
Pelotas, e o cenário principal é o Castelo.
Entretanto, há passagens no Rio de Janeiro da
Belle-époque e, até mesmo, em Paris.
Enfim, é um livro surpreendente que, de
fato, prende a atenção do leitor. Proporciona um melhor conhecimento do país em
que vivemos. Atravessa gerações, caracterizando, em cada uma delas, as mais
estranhas relações dessas Perversas Famílias.
2)Pedra da Memória - Com este livro, Luiz Antonio de Assis Brasil dá a continuidade à série Um castelo no pampa; aqui vemos o desenvolvimento da trama iniciada em Perversas famílias, e seguimos a trajetória vertiginosa do Doutor Olímpio, no período que vai da proclamação da República ao final da revolução de 1923. Mas não só: assistimos ao desenrolar das paixões do conflituado Proteu, a busca da felicidade de Páris e as mil peripécias por que passa o bastardo Astor, além de conhecermos as pequenas vidas dos serviçais do Castelo. Utilizando como cenários Lisboa, Londres, Buenos Aires, Viena, Porto Alegre, Pelotas e o pampa, o autor tece uma trama em que cenas de batalhas gaúchas se alternam com momentos pungentes e episódios burlescos e onde brilha o estilo e a ousadia de um grande escritor brasileiro. Movimentando-se em um universo que bem conhece, o autor constrói um romance pleno de fantasia e virtuosismo técnico, que virá confirmar o extraordinário sucesso de Perversas Famílias.
Pedra
da Memória pode ser lido independentemente, contudo encontrará sua plena
função se antes for lido Perversas
Famílias.
3)Os senhores do século - Em Os Senhores do Século, Luiz Antonio de Assis Brasil leva ao desfecho a trajetória dos personagens que fizeram o sucesso de Perversas Famílias e Pedra da Memória. Com este volume, a séria Um Castelo no Pampa consagra-se como uma das obras fundamentais da moderna ficção brasileira.
Este romance acompanha a epopeia pessoal do Doutor Olímpio. Despreparado
para o declínio, sua personalidade contraditória é atingida brutalmente pelos
inúmeros conflitos que sempre evitou encarar, e procura salvação num projeto
espantoso. Vemos também a conclusão da história de Páris, que, no dizer da
crítica e professora Regina Dalcastagne (Correio Brasiliense) trata-se de
"uma das mais encantadoras personagens da literatura brasileira": é
ele mesmo quem relata as surpreendentes histórias vividas com seus tios Beatriz
e Astor, num jogo entre a fantasia e a realidade. Ao lado desses emerge uma
notável figura de mulher, que constrói seu destino com obstinação arrasadora.
Um Castelo no Pampa já se constitui em um clássico.
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