4.CAIO FERNANDO
ABREU
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BIOGRAFIA
Caio Fernando Loureiro de Abreu (Santiago,
12 de setembro de 1948 — Porto Alegre, 25 de fevereiro de 1996) foi um
jornalista, dramaturgo e escritor brasileiro.
Apontado como um dos expoentes de sua
geração, a obra de Caio Fernando Abreu, escrita num estilo econômico e bem
pessoal, fala de sexo, de medo, de morte e, principalmente, de angustiante
solidão. Apresenta uma visão dramática do mundo moderno e é considerado um
"fotógrafo da fragmentação contemporânea".
(Casa de Caio em sua cidade natal, Santiago-RS)
Caio Fernando Abreu estudou Letras e Artes
Cênicasna Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde foi colega
de João Gilberto Noll. No entanto, ele abandonou ambos os cursos para
trabalhar como jornalista de revistas de entretenimento, tais como Nova,
Manchete, Veja e Pop, além de colaborar com os jornais Correio do Povo, Zero
Hora, Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo.
Em 1968, perseguido pelo Departamento de
Ordem Política e Social (DOPS), Caio refugiou-se no sítio de uma amiga, a
escritora Hilda Hilst, em Campinas, São Paulo. No início da década de 1970,
ele se exilou por um ano na Europa, morando, respectivamente, na Espanha, na
Suécia, nos Países Baixos, na Inglaterra e na França.
Em 1974, Caio Fernando Abreu retornou a
Porto Alegre. Chegou a ser visto na Rua da Praia usando brincos nas duas
orelhas e uma bata de veludo, com o cabelo pintado de vermelho [carece de fontes].
Em 1983, mudou-se para o Rio de Janeiro e, em 1985, para São Paulo. A convite
da Casa dos Escritores Estrangeiros, ele voltou à França em 1994, regressando
ao Brasil no mesmo ano, ao descobrir-se portador do vírus HIV. Abreu era
declaradamente homossexual em plena época da Ditadura Militar no Brasil.
Em 1995, Caio Fernando Abreu se tornou
patrono da 41.° Feira do Livro de Porto Alegre.
Um ano depois, Caio Fernando Abreu voltou
a viver novamente com seus pais, tempo durante o qual se dedicaria à jardinagem,
cuidando de roseiras. Faleceu em 25 de fevereiro de 1996, Hospital Mãe de
Deus em Porto Alegre, no mesmo dia em que Mário de Andrade. Seus restos
mortais jazem no Cemitério São Miguel e Almas.
LITERATURA
Seu primeiro romance, Limite branco
(1970), já possui as marcas que iriam acompanhar sua trajetória literária: a
angústia diante do devir e a morte como certeza no final da jornada. Segundo
sua perspectiva literária, a vida deve ser buscada continuamente.
Caio Fernando Abreu viveu intensamente a
época da ditadura, em suas obras literárias, o autor buscava inspiração em
momentos importantes de sua vida, fazia uma releitura rápida, porém
despercebida de seu modo de pensar, a maioria de suas criações e personagens
retratavam um modo cinzento e triste de viver, na busca inquietante pela
felicidade.
PRÊMIOS
Prêmio
Jabuti de Literatura, 1996, categoria Contos / Crônicas / Novelas - livro
"Ovelhas Negras"
Prêmio
Jabuti de Literatura, 1989, categoria Contos / Crônicas / Novelas - livro
"Os Dragões não Conhecem o Paraíso"
Prêmio
Jabuti de Literatura, 1984, categoria Contos / Crônicas / Novelas - livro
"O Triângulo das Águas"
Revista
IstoÉ, 1982, Melhor Livro - "Morangos Mofados"
Para conhecer a
obra de Caio Fernando Abreu:
Inventário
do irremediável
Limite
Branco
O
ovo apunhalado
Pedras
de Calcutá
Morangos
mofados
Triângulo
das Águas
Os
dragões não conhecem o paraíso
Mel
& Girassóis
A
maldição do Vale Negro
As
frangas
Onde
andará Dulce Veiga?
Ovelhas
Negras
Estranhos
estrangeiros
Pequenas
epifanias
A
Vida Gritando nos Cantos
Teatro
completo
Girassóis
Fragmentos:
8 histórias e um conto inédito
Cartas
Caio
3 D: O Essencial da Década de 70
Caio
3 D: O Essencial da Década de 80
Caio
3 D: O Essencial da Década de 90
Melhores
contos
Além
do ponto e outros contos
A
comunidade do arco-íris
#
Caio Fernando Abreu de A a Z.
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CAIO FERNANDO ABREU
Caio Fernando Loureiro de Abreu (Santiago do
Boqueirão, RS, 1948 - Porto Alegre, RS, 1996). Contista, romancista,
dramaturgo, jornalista. Muda-se para Porto Alegre, em 1963. Publica seu
primeiro conto, O Príncipe Sapo, na revista Cláudia, em 1963. A partir de 1964
cursa Letras e Arte Dramática na Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS), mas abandona ambos os cursos para dedicar-se ao jornalismo.
Transfere-se para São Paulo em 1968, após ser selecionado, em concurso
nacional, para compor a primeira redação da revista Veja. No ano seguinte,
perseguido pela ditadura militar, refugia-se na chácara da escritora Hilda
Hilst (1930-2004), em Campinas, São Paulo. A partir daí passa a levar uma vida
errante no Brasil e no exterior. Fascinado pelo contracultura, viaja pela
Europa de mochila nas costas, vive em comunidade, lava pratos em Estocolmo, e
considera a possibilidade de viver de artesanato em uma praça de Ipanema. Na
década de 1980, escreve para algumas revistas e torna-se editor do semanário
Leia Livros. Em 1990, vai a Londres, lançar a tradução inglesa de Os Dragões
Não Conhecem o Paraíso. Vai para a França, em 1994, a convite da Maison des
Écrivains Étrangers et des Traducteurs de Saint Nazaire, onde escreve a novela
Bien Loin de Marienbad. Em setembro do mesmo ano escreve em sua coluna semanal,
no jornal O Estado de S. Paulo, uma série de três cartas denominadas Cartas
para Além do Muro, onde declara ser portador do vírus HIV.
Comentário Crítico
A literatura de Caio Fernando Abreu começa a
ser produzida em 1966, e não se interrompe até sua morte, trinta anos depois.
Delimitar o momento de criação de sua obra é fundamental para compreendê-la,
pois é desse tempo que o escritor extrai os temas e a atmosfera necessários
para criá-la.
As décadas de 1960 e 1970 são marcadas pelos
movimentos contraculturais: de um lado, floresce a ideologia "paz e
amor"; o movimento negro, a rebeldia estudantil, a revolução sexual, o
feminismo e o movimento gay. De outro, predomina o cenário cinzento das
ditaduras latino-americanas, o imperialismo norte-americano e a guerra do
Vietnã. Nutrindo-se desse momento particularmente rico da história do Brasil e
do mundo, a obra de Caio Fernando Abreu elege a contemporaneidade como tema, e
nela vai buscar seus personagens sombrios, angustiados, obcecados pela morte e
pela busca desesperada de amor e sexo. O fim das utopias libertárias, no
entanto, chega, para o escritor, com o advento da AIDS, que será tematizada em
cada um de seus livros, a partir de 1983.
As marcas e a influência de autores como
Clarice Lispector (1925-1977), Hilda Hilst, Gabriel García Márquez (1928-2014)
e Julio Cortázar (1914-1984) - dos quais é leitor contumaz - podem ser
facilmente detectadas em seus livros, em diferentes momentos. A música, o
teatro e o cinema também atuam como fontes de inspiração tão relevantes quanto
a própria literatura.
Gosta de escrever com fundo musical e tenta
incorporar, ao texto, o ritmo da música, procedimento que chama de
"coreografia verbal". Sua intenção é a de projetar os sons até mesmo
na experiência da leitura e, para obter esse efeito, alguns de seus contos são
acompanhados de um curioso "modo de usar": para ser lido ao som de...
Chega a admitir que as canções de Rita Lee e de Cazuza exercem maior influência
sobre ele do que toda a obra de Graciliano Ramos (1892-1953). Da mesma forma,
não teme incorporar à sua escrita o chulo ou o não-literário. Todas estas
inspirações, e mais as frases assimiladas no cotidiano - as "frases-ímãs -
são anotadas em pequenos cadernos: eu vou magnetizando coisas no inconsciente,
coisas do dia-a-dia, coisas que magicamente as pessoas vão te dizendo".
Outro procedimento importante utilizado em
sua técnica de escrita é o que denomina "teoria dos metâmeros", retirada
da biologia, e que foi desenvolvido por ele a partir de 1970. Metâmeros são
anéis de alguns tipos de verme, e por meio deles o animal se multiplica,
gerando outro, já que cada parte contém informações genéticas do verme inteiro.
Segundo Jeanne Callegari, biógrafa do escritor, em literatura um metâmero pode
ser qualquer esboço ou anotação fragmentada que contenha informações sobre
personagens, estilo, ou trama. Assim que o desejar, o escritor pode recuperar
esses textos e utilizar-se deles, ampliando-os, transformando-os em contos,
romances, ou peças teatrais.
Limite
Branco, um romance de formação escrito aos 18 anos, permanece engavetado
por cinco anos, quando então vai ser recuperado e reescrito por Abreu segundo a
teoria dos metâmeros. Embora obra de um adolescente, já anuncia os temas
sombrios que compõem sua literatura. O livro tem como cenário os anos 1960, mas
o autor prefere classificá-lo como um romance intimista e atemporal.
Inventário
do Irremediável, seu livro de estreia (reescrito posteriormente, pouco
antes de sua morte) traz em seus contos uma forte influência da literatura de
Clarice Lispector. A preocupação de se desvincular da influência exercida pela
escritora nas suas produções é comentada em uma de suas entrevistas: "só
lia os livros dela escondido de mim mesmo".
Entre os contos que compõem esse livro, O Ovo é o que exemplifica de modo mais
visível essa influência. Escrito sob o impacto da ditadura militar no Brasil, O
Ovo funciona como metáfora de tudo aquilo que aprisiona. O livro se divide em
quatro grandes partes (ou inventários), a saber: a morte, a solidão, o amor e o
espanto. Cada uma delas obedece a uma lógica interna, minuciosamente elaborada
em cada conto. A busca dessa coerência e de uma unidade temática estão
presentes em todos os livros do autor.
Pedras
de Calcutá, cujo título é retirado de um poema de Mario Quintana
(1906-1994), marca o amadurecimento de Abreu como escritor e o pleno domínio da
palavra escrita. Tornam-se mais visíveis o rigor formal, a busca da palavra
exata, o burilamento sem afetação que identificam sua obra. A temática
predominante é ainda a descrença e o desamparo.
O livro que se segue, Morangos Mofados, lançado em 1982, transforma-se rapidamente no seu
maior sucesso de público e de crítica: oito tiragens são impressas uma após a
outra. Nele, Caio Fernando Abreu sedimenta sua presença na literatura
brasileira como legítimo representante de sua geração. Segundo Heloisa Buarque
de Holanda, pode-se ler "no conto título do livro, uma última e inútil
tentativa de socorrer John Lennon, um certo adeus às fantasias apocalípticas,
sobretudo, a clareza quanto à urgência de um novo projeto (sonho) que inclua um
acerto de contas com o real".
E esse acerto vem, e é brutal. A AIDS já
ronda a vida e a literatura de Caio Abreu. Seu próximo trabalho, Triângulo das Águas, obedece a uma
concepção esotérica, astrológica: reúne três novelas, cada uma delas dedicada a
um dos signos do elemento água. Uma delas, Pela Noite, é considerada o primeiro
texto da literatura brasileira sobre o tema da AIDS. O livro não tem a mesma
concisão de Morangos Mofados. Há um
excesso de palavras, um jorro de linguagem proposital, segundo o autor, para
provocar um efeito de imitação da água.
Os Dragões
Não Conhecem o Paraíso, ao contrário, é considerado o melhor trabalho do
escritor, e o mais maduro. Como o autor, seus personagens envelhecem: estão
agora na faixa etária dos 40 anos. Predomina a temática amorosa, suas angústias
e solidões. O tema da AIDS, ainda de forma implícita, também está presente no
conto que abre o livro: Linda, uma História Horrível, no qual a doença é
insinuada por metáforas, por sintomas: "Deus, pensou, antes de estender a
outra mão para tocar no pelo da cadela quase cega, cheia de manchas rosadas.
Iguais à do tapete gasto da escada, iguais às da pele do seu peito, embaixo dos
pelos. Crespos, escuros, macios".
Com Onde
Andará Dulce Veiga? Caio Fernando Abreu volta ao romance. A inspiração para
o livro e a personagem pode ser encontrada na obra de Marques Rebelo, A Estrela
Sobe, sucesso nos anos 1930, e filmada por Bruno Barreto em 1974. Apenas na
aparência Dulce Veiga é um romance policialesco. O jornalista que protagoniza a
trama e procura por uma cantora desaparecida está, na verdade, em busca de si
mesmo, do seu passado, mas também da aceitação do seu presente, assombrado pela
AIDS que, desta vez, é anunciada sem reticências. O livro descreve um Brasil
urbano, violento e poético.
Desde os anos 1980 e 1990, Caio revisa e
reescreve seus livros, obsessivamente. Em Ovelhas
Negras, volta então aos seus primeiros escritos da adolescência e junta as
duas pontas de sua vida e de sua obra. Ali reúne desde o seu primeiro trabalho
ficcional, A Maldição dos Saint-Marie, até contos mais recentes, assim como
fragmentos de origem e tempos diversos. Trata-se, para ele, de uma espécie de
autobiografia ficcional, um livro pré-póstumo, como diz.
A obra teatral de Caio Fernando Abreu,
variada e expressiva, remete aos mesmos temas tratados em sua literatura, e
estabelece, por vezes, interessante diálogo com ela, como na peça A Maldição do Vale Negro, que retoma,
mais uma vez, A Maldição dos Saint-Marie.
Toda sua dramaturgia está reunida em Teatro Completo.
O volume Cartas,
publicado em 2002, traz grande parte da enorme correspondência de Abreu, que
nada fica a dever, em qualidade, à de sua obra ficcional.
enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa7402/caio-fernando-abreu
Textos de Caio Fernando Abreu
Poderíamos casar, teríamos um apartamento,
tomaríamos café as cinco da tarde, discordaríamos quanto a cor das cortinas,
não arrumaríamos a cama diariamente, a geladeira seria repleta de congelados e
coca-cola, o armário, de porcarias, adiaríamos o despertador umas trinta vezes,
sentaríamos na sala de pijama e pantufas, sairíamos pra jantar em dia de chuva
e chegaríamos encharcados, nos beijaríamos no meio de alguma frase, você
pegaria no sono com a mão no meu cabelo e eu, escutando sua respiração. Eu riria
sem motivo e você perguntaria porque, eu não responderia, saberíamos.
Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas
ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje
sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que
tentei ser correto e não foram comigo. Meu coração sangra com uma dor que não
consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas
de aproximação. Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que
me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso.
A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão.
A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão.
E assim, aos poucos, ela se esquece dos socos,
pontapés, golpes baixos que a vida lhe deu, lhe dará. A moça - que não era
Capitu, mas também tem olhos de ressaca - levanta e segue em frente. Não por
ser forte, e sim pelo contrário... por saber que é fraca o bastante para não
conseguir ter ódio no seu coração, na sua alma, na sua essência.
E ama, sabendo que vai chorar muitas vezes ainda. Afinal, foi chorando que ela, você e todos os outros, vieram ao mundo.
E ama, sabendo que vai chorar muitas vezes ainda. Afinal, foi chorando que ela, você e todos os outros, vieram ao mundo.
Tudo isso dói. Mas eu sei que passa, que se está
sendo assim é porque deve ser assim, e virá outro ciclo, depois.
Para me dar força, escrevi no espelho do meu quarto: 'Tá certo que o sonho acabou, mas também não precisa virar pesadelo, não é?' É o que estou tentando vivenciar.
Certo, muitas ilusões dançaram - mas eu me recuso a descrer absolutamente de tudo, eu faço força para manter algumas esperanças acesas, como velas. Também não quero dramatizar e fazer dos problemas reais monstros insolúveis, becos-sem-saída.
Nada é muito terrível. Só viver, não é?
A barra mesmo é ter que estar vivo e ter que desdobrar, batalhar um jeito qualquer de ficar numa boa. O meu tem sido olhar pra dentro, devagar, ter muito cuidado com cada palavra, com cada movimento, com cada coisa que me ligue ao de fora. Até que os dois ritmos naturalmente se encaixem outra vez e passem a fluir.
Porque não estou fluindo.
Para me dar força, escrevi no espelho do meu quarto: 'Tá certo que o sonho acabou, mas também não precisa virar pesadelo, não é?' É o que estou tentando vivenciar.
Certo, muitas ilusões dançaram - mas eu me recuso a descrer absolutamente de tudo, eu faço força para manter algumas esperanças acesas, como velas. Também não quero dramatizar e fazer dos problemas reais monstros insolúveis, becos-sem-saída.
Nada é muito terrível. Só viver, não é?
A barra mesmo é ter que estar vivo e ter que desdobrar, batalhar um jeito qualquer de ficar numa boa. O meu tem sido olhar pra dentro, devagar, ter muito cuidado com cada palavra, com cada movimento, com cada coisa que me ligue ao de fora. Até que os dois ritmos naturalmente se encaixem outra vez e passem a fluir.
Porque não estou fluindo.
Extremos da paixão
Não, meu bem, não adianta bancar o distante lá vem o amor nos dilacerar de novo...
Andei pensando coisas. O que é raro, dirão os irônicos. Ou "o que foi?" - perguntariam os complacentes. Para estes últimos, quem sabe, escrevo. E repito: andei pensando coisas sobre amor, essa palavra sagrada. O que mais me deteve, do que pensei, era assim: a perda do amor é igual à perda da morte. Só que dói mais. Quando morre alguém que você ama, você se dói inteiro(a)- mas a morte é inevitável, portanto normal. Quando você perde alguém que você ama, e esse amor - essa pessoa - continua vivo(a), há então uma morte anormal. O NUNCA MAIS de não ter quem se ama torna-se tão irremediável quanto não ter NUNCA MAIS quem morreu. E dói mais fundo- porque se poderia ter, já que está vivo(a). Mas não se tem, nem se terá, quando o fim do amor é: NEVER.
Pensando nisso, pensei um pouco depois em Boy George: meu-amor-me-abandonou-e-sem-ele-eu-nao-vivo-então-quero-morrer-drogado. Lembrei de John Hincley Jr., apaixonado por Jodie Foster, e que escreveu a ela, em 1981: "Se você não me amar, eu matarei o presidente". E deu um tiro em Ronald Regan. A frase de Hincley é a mais significativa frase de amor do século XX. A atitude de Boy George - se não houver algo de publicitário nisso - é a mais linda atitude de amor do século XX. Penso em Werther, de Goethe. E acho lindo.
No século XX não se ama. Ninguém quer ninguém. Amar é out, é babaca, é careta. Embora persistam essas estranhas fronteiras entre paixão e loucura, entre paixão e suicídio. Não compreendo como querer o outro possa tornar-se mais forte do que querer a si próprio. Não compreendo como querer o outro possa pintar como saída de nossa solidão fatal. Mentira: compreendo sim. Mesmo consciente de que nasci sozinho do útero de minha mãe,berrando de pavor para o mundo insano, e que embarcarei sozinho num caixão rumo a sei lá o quê, além do pó. O que ou quem cruzo entre esses dois portos gelados da solidão é mera viagem: véu de maya, ilusão, passatempo. E exigimos o terno do perecível, loucos.
Depois, pensei também em Adèle Hugo, filha de Victor Hugo. A Adèle H. de François Truffaut, vivida por Isabelle Adjani. Adèle apaixonou-se por um homem. Ele não a queria. Ela o seguiu aos Estados Unidos, ao Caribe, escrevendo cartas jamais respondidas, rastejando por amor. Enlouqueceu mendigando a atenção dele. Certo dia, em Barbados, esbarraram na rua. Ele a olhou. Ela, louca de amor por ele, não o reconheceu. Ele havia deixado de ser ele: transformara-se em símbolo sem face nem corpo da paixão e da loucura dela. Não era mais ele: ela amava alguém que não existia mais, objetivamente. Existia somente dentro dela. Adèle morreu no hospício, escrevendo cartas (a ele: "É para você, para você que eu escrevo" - dizia Ana C.) numa língua que, até hoje, ninguém conseguiu decifrar.
Andei pensando em Adèle H., em Boy George e em John Hincley Jr. Andei pensando nesses extremos da paixão, quando te amo tanto e tão além do meu ego que - se você não me ama: eu enlouqueço, eu me suicido com heroína ou eu mato o presidente. Me veio um fundo desprezo pela minha/nossa dor mediana, pela minha/nossa rejeição amorosa desempenhando papéis tipo sou-forte-seguro-essa-sou-mais-eu. Que imensa miséria o grande amor - depois do não, depois do fim - reduzir-se a duas ou três frases frias ou sarcásticas. Num bar qualquer, numa esquina da vida.
Ai que dor: que dor sentida e portuguesa de Fernando Pessoa - muito mais sábio -, que nunca caiu nessas ciladas. Pois como já dizia Drummond, "o amor car(o,a,) colega esse não consola nunca de núncaras". E apesar de tudo eu penso sim, eu digo sim, eu quero Sins.
Não, meu bem, não adianta bancar o distante lá vem o amor nos dilacerar de novo...
Andei pensando coisas. O que é raro, dirão os irônicos. Ou "o que foi?" - perguntariam os complacentes. Para estes últimos, quem sabe, escrevo. E repito: andei pensando coisas sobre amor, essa palavra sagrada. O que mais me deteve, do que pensei, era assim: a perda do amor é igual à perda da morte. Só que dói mais. Quando morre alguém que você ama, você se dói inteiro(a)- mas a morte é inevitável, portanto normal. Quando você perde alguém que você ama, e esse amor - essa pessoa - continua vivo(a), há então uma morte anormal. O NUNCA MAIS de não ter quem se ama torna-se tão irremediável quanto não ter NUNCA MAIS quem morreu. E dói mais fundo- porque se poderia ter, já que está vivo(a). Mas não se tem, nem se terá, quando o fim do amor é: NEVER.
Pensando nisso, pensei um pouco depois em Boy George: meu-amor-me-abandonou-e-sem-ele-eu-nao-vivo-então-quero-morrer-drogado. Lembrei de John Hincley Jr., apaixonado por Jodie Foster, e que escreveu a ela, em 1981: "Se você não me amar, eu matarei o presidente". E deu um tiro em Ronald Regan. A frase de Hincley é a mais significativa frase de amor do século XX. A atitude de Boy George - se não houver algo de publicitário nisso - é a mais linda atitude de amor do século XX. Penso em Werther, de Goethe. E acho lindo.
No século XX não se ama. Ninguém quer ninguém. Amar é out, é babaca, é careta. Embora persistam essas estranhas fronteiras entre paixão e loucura, entre paixão e suicídio. Não compreendo como querer o outro possa tornar-se mais forte do que querer a si próprio. Não compreendo como querer o outro possa pintar como saída de nossa solidão fatal. Mentira: compreendo sim. Mesmo consciente de que nasci sozinho do útero de minha mãe,berrando de pavor para o mundo insano, e que embarcarei sozinho num caixão rumo a sei lá o quê, além do pó. O que ou quem cruzo entre esses dois portos gelados da solidão é mera viagem: véu de maya, ilusão, passatempo. E exigimos o terno do perecível, loucos.
Depois, pensei também em Adèle Hugo, filha de Victor Hugo. A Adèle H. de François Truffaut, vivida por Isabelle Adjani. Adèle apaixonou-se por um homem. Ele não a queria. Ela o seguiu aos Estados Unidos, ao Caribe, escrevendo cartas jamais respondidas, rastejando por amor. Enlouqueceu mendigando a atenção dele. Certo dia, em Barbados, esbarraram na rua. Ele a olhou. Ela, louca de amor por ele, não o reconheceu. Ele havia deixado de ser ele: transformara-se em símbolo sem face nem corpo da paixão e da loucura dela. Não era mais ele: ela amava alguém que não existia mais, objetivamente. Existia somente dentro dela. Adèle morreu no hospício, escrevendo cartas (a ele: "É para você, para você que eu escrevo" - dizia Ana C.) numa língua que, até hoje, ninguém conseguiu decifrar.
Andei pensando em Adèle H., em Boy George e em John Hincley Jr. Andei pensando nesses extremos da paixão, quando te amo tanto e tão além do meu ego que - se você não me ama: eu enlouqueço, eu me suicido com heroína ou eu mato o presidente. Me veio um fundo desprezo pela minha/nossa dor mediana, pela minha/nossa rejeição amorosa desempenhando papéis tipo sou-forte-seguro-essa-sou-mais-eu. Que imensa miséria o grande amor - depois do não, depois do fim - reduzir-se a duas ou três frases frias ou sarcásticas. Num bar qualquer, numa esquina da vida.
Ai que dor: que dor sentida e portuguesa de Fernando Pessoa - muito mais sábio -, que nunca caiu nessas ciladas. Pois como já dizia Drummond, "o amor car(o,a,) colega esse não consola nunca de núncaras". E apesar de tudo eu penso sim, eu digo sim, eu quero Sins.
Olha, eu estou te escrevendo só pra dizer que se
você tivesse telefonado hoje eu ia dizer tanta, mas tanta coisa. Talvez mesmo
conseguisse dizer tudo aquilo que escondo desde o começo, um pouco por timidez,
por vergonha, por falta de oportunidade, mas principalmente porque todos me
dizem que sou demais precipitado, que coloco em palavras todo o meu processo
mental (processo mental: é exatamente assim que eles dizem, e eu acho
engraçado) e que isso assusta as pessoas, e que é preciso disfarçar, jogar,
esconder, mentir. Eu não achei que ia conseguir dizer, quero dizer, dizer tudo
aquilo que escondo desde a primeira vez que vi você, não me lembro quando, não
me lembro onde. Hoje havia calma, entende? Eu acho que as coisas que ficam fora
da gente, essas coisas como o tempo e o lugar, essas coisas influem muito no
que a gente vai dizer, entende? Pois por fora, hoje, havia chuva e um pouco de
frio: essa chuva e esse frio parecem que empurram a gente mais pra dentro da
gente mesmo, então as pessoas ficam mais lentas, mais verdadeiras, mais
bonitas. Hoje eu estava assim: mais lento, mais verdadeiro, mais bonito até.
Hoje eu diria qualquer coisa se você telefonasse. Por dentro também eu estava
preparado para dizer, um pouco porque eu não agüento mais ficar esperando toda
hora você telefonar ou aparecer, e quando você telefona ou aparece com aquelas
maçãs eu preciso me cuidar para não assustar você e quando você me pergunta
como estou, mordo devagar uma das maçãs que você me traz e cuido meus olhos
para não me traírem e não te assustarem e não ficarem querendo entrar demais
dentro dos teus olhos, então eu cuido devagar tudo o que digo e todo movimento,
porque eu quero que você venha outras vezes.
(...)
A cada dia viver me esmaga com mais força.
(...)
A cada dia viver me esmaga com mais força.
Ando tropeçando em absurdos. Em desassossegos
também. Tem gente que tirou o mês pra me chatear, me colocar pra baixo, me
jogar em cima um amontoado de energias ruins. Tem gente que tem esse dom. De
não ser feliz e querer enferrujar o sorriso alheio.
Aí eu lembro daquela música do Forfun: "Faço de mim casa de sentimentos bons, onde a má fé não faz morada e a maldade não se cria." Me cerco de boas intenções, me reservo pros poucos e melhores amigos. Me encho de luz lendo Adélia e Manoel. Me permito o riso.
Porque, na verdade, o que eu levo aqui dentro é maior que tudo. É maior porque é do bem e vem fresquinho. Eu vivo mesmo é de claridades e não vai ser qualquer gentinha à toa que vai enfraquecer minha fé na vida e minha vontade de sorrir pro mundo.
Pra você que não aprendeu a ser feliz e que não tem olhos pra esticar horizontes, eu canto o meu refrão: 'Sendo aquele que sempre traz amor, sendo aquele que sempre traz sorrisos. E permanecendo tranquilo aonde for. Paciente, confiante, intuitivo.'
Yeah, Baby, Yeah!
Aí eu lembro daquela música do Forfun: "Faço de mim casa de sentimentos bons, onde a má fé não faz morada e a maldade não se cria." Me cerco de boas intenções, me reservo pros poucos e melhores amigos. Me encho de luz lendo Adélia e Manoel. Me permito o riso.
Porque, na verdade, o que eu levo aqui dentro é maior que tudo. É maior porque é do bem e vem fresquinho. Eu vivo mesmo é de claridades e não vai ser qualquer gentinha à toa que vai enfraquecer minha fé na vida e minha vontade de sorrir pro mundo.
Pra você que não aprendeu a ser feliz e que não tem olhos pra esticar horizontes, eu canto o meu refrão: 'Sendo aquele que sempre traz amor, sendo aquele que sempre traz sorrisos. E permanecendo tranquilo aonde for. Paciente, confiante, intuitivo.'
Yeah, Baby, Yeah!
Do Outro Lado da Tarde
Sim, deve ter havido uma primeira vez, embora eu não lembre dela, assim como não lembro das outras vezes, também primeiras, logo depois dessa em que nos encontramos completamente despreparados para esse encontro. E digo despreparados porque sei que você não me esperava, da mesma forma como eu não esperava você. Certamente houve, porque tenho a vaga lembrança - e todas as lembranças são vagas, agora -, houve um tempo em que não nos conhecíamos, e esse tempo em que passávamos desconhecidos e insuspeitados um pelo outro, esse tempo sem você eu lembro. Depois, aquela primeira vez e logo após outras e mais outras, tudo nos conduzindo apenas para aquele momento.
Às vezes me espanto e me pergunto como pudemos a tal ponto mergulhar naquilo que estava acontecendo, sem a menor tentativa de resistência. Não porque aquilo fosse terrível, ou porque nos marcasse profundamente ou nos dilacerasse - e talvez tenha sido terrível, sim, é possível, talvez tenha nos marcado profundamente ou nos dilacerado - a verdade é que ainda hesito em dar um nome àquilo que ficou, depois de tudo. Porque alguma coisa ficou. E foi essa coisa que me levou há pouco até a janela onde percebi que chovia e, difusamente, através das gotas de chuva, fiquei vendo uma roda-gigante. Absurdamente. Uma roda-gigante. Porque não se vive mais em lugares onde existam rodas-gigantes. Porque também as rodas-gigantes talvez nem existam mais. Mas foram essas duas coisas - a chuva e a roda-gigante -, foram essas duas coisas que de repente fizeram com que algum mecanismo se desarticulasse dentro de mim para que eu não conseguisse ultrapassar aquele momento.
De repente, eu não consegui ir adiante. E precisava: sempre se precisa ir além de qualquer palavra ou de qualquer gesto. Mas de repente não havia depois: eu estava parado à beira da janela enquanto lembranças obscuras começavam a se desenrolar. Era dessas lembranças que eu queria te dizer. Tentei organizá-las, imaginando que construindo uma organização conseguisse, de certa forma, amenizar o que acontecia, e que eu não sabia se terminaria amargamente - tentei organizá-las para evitar o amargo, digamos assim. Então tentei dar uma ordem cronológica aos fatos: primeiro, quando e como nos conhecemos - logo a seguir, a maneira como esse conhecimento se desenrolou até chegar no ponto em que eu queria, e que era o fim, embora até hoje eu me pergunte se foi realmente um fim. Mas não consegui. Não era possível organizar aqueles fatos, assim como não era possível evitar por mais tempo uma onda que crescia, barrando todos os outros gestos e todos os outros pensamentos.
Durante todo o tempo em que pensei, sabia apenas que você vinha todas as tardes, antes. Era tão natural você vir que eu nem sequer esperava ou construía pequenas surpresas para te receber. Não construía nada - sabia o tempo todo disso -, assim como sabia que você vinha completamente em branco para qualquer palavra que fosse dita ou qualquer ato que fosse feito. E muitas vezes, nada era dito ou feito, e nós não nos frustrávamos porque não esperávamos mesmo, realmente, nada. Disso eu sabia o tempo todo.
E era sempre de tarde quando nos encontrávamos. Até aquela vez que fomos ao parque de diversões, e também disso eu lembro difusamente. O pensamento só começa a tornar-se claro quando subimos na roda-gigante: desde a infância que não andávamos de roda-gigante. Tanto tempo, suponho, que chegamos a comprar pipocas ou coisas assim. Éramos só nós depois na roda gigante. Você tinha medo: quando chegávamos lá em cima, você tinha um medo engraçado e subitamente agarrava meu braço como se eu não estivesse tão desamparado quanto você. Conversávamos pouco, ou não conversávamos nada - pelo menos antes disso nenhuma frase minha ou sua ficou: bastavam coisas assim como o seu medo ou o meu medo, o meu braço ou o seu braço. Coisas assim.
Foi então que, bem lá em cima, a roda-gigante parou. Havia uma porção de luzes que de repente se apagaram - e a roda-gigante parou. Ouvimos lá de baixo uma voz dizer que as luzes tinham apagado. Esperamos. Acho que comemos pipocas enquanto esperamos. Mas de repente começou a chover: lembro que seu cabelo ficou todo molhado, e as gotas escorriam pelo seu rosto exatamente como se você chorasse. Você jogou fora as pipocas e ficamos lá em cima: o seu cabelo molhado, a chuva fina, as luzes apagadas.Não sei se chegamos a nos abraçar, mas sei que falamos. Não havia nada para fazer lá em cima, a não ser falar. E nós tínhamos tão pouca experiência disso que falamos e falamos durante muito e muito tempo, e entre inúmeras coisas sem importância você disse que me amava, ou eu disse que te amava - ou talvez os dois tivéssemos dito, da mesma forma como falamos da chuva e de outras coisas pequenas, bobas, insignificantes. Porque nada modificaria os nossos roteiros. Talvez você tenha me chamado de fatalista, porque eu disse todas as coisas, assim como acredito que você tenha dito todas as coisas - ou pelo menos as que tínhamos no momento.
Depois de não sei quanto tempo, as luzes se acenderam, a roda-gigante concluiu a volta e um homem abriu um portãozinho de ferro para que saíssemos. Lembro tão bem, e é tão fácil lembrar: a mão do homem abrindo o portãozinho de ferro para que nós saíssemos. Depois eu vi o seu cabelo molhado, e ao mesmo tempo você viu o meu cabelo molhado, e ao mesmo tempo ainda dissemos um para o outro que precisávamos ter muito cuidado com cabelos molhados, e pensamos vagamente em secá-los, mas continuava a chover. Estávamos tão molhados que era absurdo pensar em sairmos da chuva. Às vezes, penso se não cheguei a estender uma das mãos para afastar o cabelo molhado da sua testa, mas depois acho que não cheguei a fazer nenhum movimento, embora talvez tenha pensado.Não consigo ver mais que isso: essa é a lembrança. Além dela, nós conversamos durante muito tempo na chuva, até que ela parasse, e quando ela parou, você foi embora.
Além disso, não consigo lembrar mais nada, embora tente desesperadamente acrescentar mais um detalhe, mas sei perfeitamente quando uma lembrança começa a deixar de ser uma lembrança para se tornar uma imaginação. Talvez se eu contasse a alguém acrescentasse ou valorizasse algum detalhe, assim como quem escreve uma história e procura ser interessante - seria bonito dizer, por exemplo, que eu sequei lentamente seus cabelos. Ou que as ruas e as árvores ficaram novas, lavadas depois da chuva. Mas não direi nada a ninguém. E quando penso, não consigo pensar construidamente, acho que ninguém consegue. Mas nada disso tem nenhuma importância, o que eu queria te dizer é que chegando na janela, há pouco, vi a chuva caindo e, atrás da chuva, difusamente, uma roda-gigante. E que então pensei numas tardes em que você sempre vinha, e numa tarde em especial, não sei quanto tempo faz, e que depois de pensar nessa tarde e nessa chuva e nessa roda-gigante, uma frase ficou rodando nítida e quase dura no meu pensamento. Qualquer coisa assim: depois daquela nossa conversa - depois daquela nossa conversa na chuva, você nunca mais me procurou.
Sim, deve ter havido uma primeira vez, embora eu não lembre dela, assim como não lembro das outras vezes, também primeiras, logo depois dessa em que nos encontramos completamente despreparados para esse encontro. E digo despreparados porque sei que você não me esperava, da mesma forma como eu não esperava você. Certamente houve, porque tenho a vaga lembrança - e todas as lembranças são vagas, agora -, houve um tempo em que não nos conhecíamos, e esse tempo em que passávamos desconhecidos e insuspeitados um pelo outro, esse tempo sem você eu lembro. Depois, aquela primeira vez e logo após outras e mais outras, tudo nos conduzindo apenas para aquele momento.
Às vezes me espanto e me pergunto como pudemos a tal ponto mergulhar naquilo que estava acontecendo, sem a menor tentativa de resistência. Não porque aquilo fosse terrível, ou porque nos marcasse profundamente ou nos dilacerasse - e talvez tenha sido terrível, sim, é possível, talvez tenha nos marcado profundamente ou nos dilacerado - a verdade é que ainda hesito em dar um nome àquilo que ficou, depois de tudo. Porque alguma coisa ficou. E foi essa coisa que me levou há pouco até a janela onde percebi que chovia e, difusamente, através das gotas de chuva, fiquei vendo uma roda-gigante. Absurdamente. Uma roda-gigante. Porque não se vive mais em lugares onde existam rodas-gigantes. Porque também as rodas-gigantes talvez nem existam mais. Mas foram essas duas coisas - a chuva e a roda-gigante -, foram essas duas coisas que de repente fizeram com que algum mecanismo se desarticulasse dentro de mim para que eu não conseguisse ultrapassar aquele momento.
De repente, eu não consegui ir adiante. E precisava: sempre se precisa ir além de qualquer palavra ou de qualquer gesto. Mas de repente não havia depois: eu estava parado à beira da janela enquanto lembranças obscuras começavam a se desenrolar. Era dessas lembranças que eu queria te dizer. Tentei organizá-las, imaginando que construindo uma organização conseguisse, de certa forma, amenizar o que acontecia, e que eu não sabia se terminaria amargamente - tentei organizá-las para evitar o amargo, digamos assim. Então tentei dar uma ordem cronológica aos fatos: primeiro, quando e como nos conhecemos - logo a seguir, a maneira como esse conhecimento se desenrolou até chegar no ponto em que eu queria, e que era o fim, embora até hoje eu me pergunte se foi realmente um fim. Mas não consegui. Não era possível organizar aqueles fatos, assim como não era possível evitar por mais tempo uma onda que crescia, barrando todos os outros gestos e todos os outros pensamentos.
Durante todo o tempo em que pensei, sabia apenas que você vinha todas as tardes, antes. Era tão natural você vir que eu nem sequer esperava ou construía pequenas surpresas para te receber. Não construía nada - sabia o tempo todo disso -, assim como sabia que você vinha completamente em branco para qualquer palavra que fosse dita ou qualquer ato que fosse feito. E muitas vezes, nada era dito ou feito, e nós não nos frustrávamos porque não esperávamos mesmo, realmente, nada. Disso eu sabia o tempo todo.
E era sempre de tarde quando nos encontrávamos. Até aquela vez que fomos ao parque de diversões, e também disso eu lembro difusamente. O pensamento só começa a tornar-se claro quando subimos na roda-gigante: desde a infância que não andávamos de roda-gigante. Tanto tempo, suponho, que chegamos a comprar pipocas ou coisas assim. Éramos só nós depois na roda gigante. Você tinha medo: quando chegávamos lá em cima, você tinha um medo engraçado e subitamente agarrava meu braço como se eu não estivesse tão desamparado quanto você. Conversávamos pouco, ou não conversávamos nada - pelo menos antes disso nenhuma frase minha ou sua ficou: bastavam coisas assim como o seu medo ou o meu medo, o meu braço ou o seu braço. Coisas assim.
Foi então que, bem lá em cima, a roda-gigante parou. Havia uma porção de luzes que de repente se apagaram - e a roda-gigante parou. Ouvimos lá de baixo uma voz dizer que as luzes tinham apagado. Esperamos. Acho que comemos pipocas enquanto esperamos. Mas de repente começou a chover: lembro que seu cabelo ficou todo molhado, e as gotas escorriam pelo seu rosto exatamente como se você chorasse. Você jogou fora as pipocas e ficamos lá em cima: o seu cabelo molhado, a chuva fina, as luzes apagadas.Não sei se chegamos a nos abraçar, mas sei que falamos. Não havia nada para fazer lá em cima, a não ser falar. E nós tínhamos tão pouca experiência disso que falamos e falamos durante muito e muito tempo, e entre inúmeras coisas sem importância você disse que me amava, ou eu disse que te amava - ou talvez os dois tivéssemos dito, da mesma forma como falamos da chuva e de outras coisas pequenas, bobas, insignificantes. Porque nada modificaria os nossos roteiros. Talvez você tenha me chamado de fatalista, porque eu disse todas as coisas, assim como acredito que você tenha dito todas as coisas - ou pelo menos as que tínhamos no momento.
Depois de não sei quanto tempo, as luzes se acenderam, a roda-gigante concluiu a volta e um homem abriu um portãozinho de ferro para que saíssemos. Lembro tão bem, e é tão fácil lembrar: a mão do homem abrindo o portãozinho de ferro para que nós saíssemos. Depois eu vi o seu cabelo molhado, e ao mesmo tempo você viu o meu cabelo molhado, e ao mesmo tempo ainda dissemos um para o outro que precisávamos ter muito cuidado com cabelos molhados, e pensamos vagamente em secá-los, mas continuava a chover. Estávamos tão molhados que era absurdo pensar em sairmos da chuva. Às vezes, penso se não cheguei a estender uma das mãos para afastar o cabelo molhado da sua testa, mas depois acho que não cheguei a fazer nenhum movimento, embora talvez tenha pensado.Não consigo ver mais que isso: essa é a lembrança. Além dela, nós conversamos durante muito tempo na chuva, até que ela parasse, e quando ela parou, você foi embora.
Além disso, não consigo lembrar mais nada, embora tente desesperadamente acrescentar mais um detalhe, mas sei perfeitamente quando uma lembrança começa a deixar de ser uma lembrança para se tornar uma imaginação. Talvez se eu contasse a alguém acrescentasse ou valorizasse algum detalhe, assim como quem escreve uma história e procura ser interessante - seria bonito dizer, por exemplo, que eu sequei lentamente seus cabelos. Ou que as ruas e as árvores ficaram novas, lavadas depois da chuva. Mas não direi nada a ninguém. E quando penso, não consigo pensar construidamente, acho que ninguém consegue. Mas nada disso tem nenhuma importância, o que eu queria te dizer é que chegando na janela, há pouco, vi a chuva caindo e, atrás da chuva, difusamente, uma roda-gigante. E que então pensei numas tardes em que você sempre vinha, e numa tarde em especial, não sei quanto tempo faz, e que depois de pensar nessa tarde e nessa chuva e nessa roda-gigante, uma frase ficou rodando nítida e quase dura no meu pensamento. Qualquer coisa assim: depois daquela nossa conversa - depois daquela nossa conversa na chuva, você nunca mais me procurou.
Mais do que doce...
...é saber que tudo se move a nossa volta, tudo se
transforma e, até mesmo quando nos recusamos a acompanhar a dança da vida, sem
percebermos, ela nos tira pra dançar, nos envolve com um ritmo novo. Quando
isso acontece? Quando nos abrimos para a magia de viver e respirar as
entrelinhas, os silêncios.
Se você tivesse chegado antes, eu não teria notado.
Se demorasse um pouco mais, eu não teria esperado. Você anda acertando muita
coisa, mesmo sem perceber. Você tem me ganhado nos detalhes e aposto que nem
desconfia. Mas já que você chegou no momento certo, vou te pedir que fique.
Mesmo que o futuro seja de incertezas, mesmo que
não haja nada duradouro prescrito pra gente. Esse é um pedido egoísta, porque
na verdade eu sei que se nada der realmente certo, vou ficar sem chão. Mas por
outro lado, posso te fazer feliz também. É um risco. Eu pulo, se você me der a
mão.
Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém
que a gente ama e dizer uma coisa terrível, mas que tem que ser dita. Tem que
ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e ouvir uma
coisa terrível, que tem que ser ouvida. A vida é incontornável. A gente perde,
leva porrada, é passado pra trás, cai. Dói, ai, dói demais. Mas passa. Está
vendo essa dor que agora samba no seu peito de salto agulha? Você ainda vai
olhá-la no fundo dos olhos e rir da cara dela. Juro que estou falando a
verdade. Eu não minto. Vai passar.
Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não
amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está aí, haverá
sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada 'impulso vital'.
Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista
por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova
estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te
surpreenderás pensando algo assim como 'estou contente outra vez'.
Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você
fosse o meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem
exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além,
compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria
mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu.
Frágil – você tem tanta vontade de chorar, tanta
vontade de ir embora. Para que o protejam, para que sintam falta. Tanta vontade
de viajar para bem longe, romper todos os laços, sem deixar endereço. Um dia
mandará um cartão-postal de algum lugar improvável. Bali, Madagascar, Sumatra.
Escreverá: penso em você. Deve ser bonito, mesmo melancólico, alguém que se foi
pensar em você num lugar improvável como esse. Você se comove com o que não
acontece, você sente frio e medo. Parado atrás da vidraça, olhando a chuva que,
aos poucos começa a passar.
Mas se eu tivesse ficado, teria sido diferente?
Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe
que doerá muito mais -por que ir em frente? Não há sentido: melhor escapar
deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na
cadeira, uma fotografia – qualquer coisa que depois de muito tempo a gente
possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e
que esse nada seja áspero como um tempo perdido.Eu prefiro viver a ilusão do
quase, quando estou "quase" certa que desistindo naquele momento vou
levar comigo uma coisa bonita. Quando eu "quase" tenho certeza que
insistir naquilo vai me fazer sofrer, que insistir em algo ou alguém pode não
terminar da melhor maneira, que pode não ser do jeito que eu queria que fosse,
eu jogo tudo pro alto, sem arrependimentos futuros! Eu prefiro viver com a
incerteza de poder ter dado certo, que com a certeza de ter acabado em dor.
Talvez loucura, medo, eu diria covardia, loucura quem sabe!
[...] sabe
que o meu gostar por você chegou a ser amor, pois se eu me comovia vendo você,
pois se eu acordava no meio da noite só pra ver você dormindo, meu Deus...como
você me doía! De vez em quando eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta
de inverno, bem no meio duma praça, então os meus braços não vão ser
suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta, mas tanta
coisa que eu vou ficar calada um tempo enorme...só olhando você, sem dizer nada
só olhando e pensando: Meu Deus, mas como você me dói de vez em quando!
Não sou pra todos. Gosto muito do meu mundinho. Ele
é cheio de surpresas, palavras soltas e cores misturadas. Às vezes tem um céu
azul, outras tempestade. Lá dentro cabem sonhos de todos os tamanhos. Mas não
cabe muita gente. Todas as pessoas que estão dentro dele não estão por acaso.
São necessárias.
Eu preciso muito, muito de você. Eu quero muito,
muito você aqui de vez em quando nem que seja, muito de vez em quando. Você nem
precisa trazer maçãs, nem perguntar se estou melhor. Você não precisa trazer
nada, só você mesmo. Você nem precisa dizer alguma coisa no telefone. Basta
ligar e eu fico ouvindo o seu silêncio. Juro como não peço mais que o seu
silêncio do outro lado da linha ou do outro lado da porta ou do outro lado do
muro. Mas eu preciso muito, muito de você.
...você cresceu em mim de um jeito completamente
insuspeito, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você
esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez
samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de
você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum
momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as
portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que
você crescesse livremente.
Algumas vezes eu fiz muito mal para
pessoas que me amaram. Não é paranóia não. É verdade. Sou tão talvez
neuroticamente individualista que, quando acontece de alguém parecer aos meus
olhos uma ameaça a essa individualidade, fico imediatamente cheio de espinhos -
e corto relacionamentos com a maior frieza, às vezes firo, sou agressivo e tal.
É preciso acabar com esse medo de ser tocado lá no fundo. Ou é preciso que
alguém me toque profundamente para acabar com isso.
https://pensador.uol.com.br/textos_de_caio_fernando_abreu
10 CITAÇÕES DE CAIO
FERNANDO ABREU QUE TODO MUNDO DEVERIA LER
“Não sou pra todos. Gosto muito do meu
mundinho. Ele é cheio de surpresas, palavras soltas e cores misturadas. Às
vezes tem um céu azul, outras tempestade. Lá dentro cabem sonhos de todos os
tamanhos. Mas não cabe muita gente. Todas as pessoas que estão dentro dele não
estão por acaso. São necessárias.”
“Vai
passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana,
um mês ou dois, quem sabe? O verão está aí, haverá sol quase todos os dias, e
sempre resta essa coisa chamada ‘impulso vital’. Pois esse impulso às vezes
cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará
quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente,
no meio de uma frase ou de um movimento te surpreenderás pensando algo assim
como ‘estou contente outra vez’.”
“Tem
que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e dizer
uma coisa terrível, mas que tem que ser dita. Tem que ter coragem de olhar no
fundo dos olhos de alguém que a gente ama e ouvir uma coisa terrível, que tem
que ser ouvida. A vida é incontornável. A gente perde, leva porrada, é passado
pra trás, cai. Dói, ai, dói demais. Mas passa. Está vendo essa dor que agora
samba no seu peito de salto agulha? Você ainda vai olhá-la no fundo dos olhos e
rir da cara dela. Juro que estou falando a verdade. Eu não minto. Vai passar.”
“A
gente sempre acha que é especial na vida de alguém, mas o que te garante que
você não está somente servindo pra tapar buracos, servindo de curativo pras
feridas antigas? Porque amar também é isso, não? Dar o seu melhor pra curar
outra pessoa de todos os golpes, até que ela fique bem e te deixe pra trás,
fraco e sangrando. Daí você espera por alguém que venha te curar. Às vezes esse
alguém aparece, outras vezes, não.”
“Que
seja doce o dia quando eu abrir as janelas e lembrar de você. Que sejam doces
os finais de tardes, inclusive os de segunda-feira – quando começa a contagem
regressiva para o final de semana chegar. Que seja doce a espera pelas
mensagens, ligações e recadinhos bonitinhos. Que seja (mais do que) doce a voz
ao falar no telefone. Que seja doce o seu cheiro. Que seja doce o seu jeito,
seus olhares, seu receio. Que seja doce o seu modo de andar, de sentir, de
demonstrar afeto. Que sejam doces suas expressões faciais, até o levantar de
sobrancelha. Que seja doce a leveza que eu sentirei ao seu lado. Que seja doce
a ausência do meu medo. Que seja doce o seu abraço. Que seja doce o modo como
você irá segurar na minha mão. Que seja doce. Que sejamos doces…”
“Ando
com uma vontade tão grande de receber todos os afetos, todos os carinhos, todas
as atenções. Quero colo, quero beijo, quero cafuné, abraço apertado, mensagem
na madrugada, quero flores, quero doces, quero música, vento, cheiros, quero
parar de me doar e começar a receber. Sabe, eu acho que não sei fechar ciclos,
colocar pontos finais. Comigo são sempre vírgulas, aspas, reticências. Eu vou
gostando, eu vou cuidando, eu vou desculpando, eu vou superando, eu vou
compreendendo, eu vou relevando, eu vou… e continuo indo, assim, desse jeito,
sem virar páginas, sem colocar pontos. E vou dando muito de mim, e aceitando o
pouquinho que os outros tem para me dar.”
“E
repito: andei pensando coisas sobre amor, essa palavra sagrada. O que mais me
deteve, do que pensei, era assim: a perda do amor é igual à perda da morte. Só
que dói mais. Quando morre alguém que você ama, você se dói inteiro – mas a
morte é inevitável, portanto normal. Quando você perde alguém que você ama, e
esse amor – essa pessoa – continua viva, há então uma morte anormal. O NUNCA
MAIS de não ter quem se ama torna-se tão irremediável quanto não ter NUNCA MAIS
quem morreu. E dói mais fundo – porque se poderia ter, já que está vivo. Mas
não se tem, nem se terá.”
“Que
eu saiba puxar lá do fundo do baú um jeito de sorrir pros nãos da vida. Que as
perdas sejam medidas em milímetros e que todo ganho não possa ser medido por
fita métrica, nem contado em reais. Que as relações criadas sejam honestamente
mantidas e seladas com abraços longos. Que eu possa também abrir espaço pra
cultivar a todo instante as sementes do bem e da felicidade de quem não importa
quem seja, ou do mal que tenha feito pra mim. Que a vida me ensine a amar cada
vez mais de um jeito mais leve. Que o respeito comigo mesmo seja sempre
obedecido com a paz de quem está se encontrando e se conhecendo com um coração
maior. Um encontro com a paz e o desejo de viver.”
“Para
atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a
vida não deu, ou ele partiu – sem o menor pudor, invente um. Pode ser Natália
Lage, Antonio Banderas, Sharon Stone, Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o
seu dentista. Remoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites
de agosto, viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancún ou Miami, ao gosto
do freguês. Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros,
juras, projetos, abraços no convés à lua cheia, brilhos na costa ao longe. E
beijos, muitos. Bem molhados. Não lembrar dos que se foram, não desejar o que
não se tem e talvez nem se terá, não discutir, nem vingar-se, e temperar tudo
isso com chás, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína,
se a barra pesar, vinhos, conhaques – tudo isso ajuda a atravessar agosto.”
“Olha,
eu sei que o barco tá furado e sei que você também sabe, mas queria te dizer
pra não parar de remar, porque te ver remando me dá vontade de não querer parar
também. Tá me entendendo? Eu sei que sim”.
www.asomadetodosafetos.com/.../10-citacoes-de-caio-fernando-abreu-que-todo-mun..
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