PRÉ-MODERNISMO: MONTEIRO LOBATO

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  José Bento Renato Monteiro Lobato (Taubaté, 18 de abril de 1882 – São Paulo, 4 de julho de 1948) foi um dos mais influentes escritores brasileiros do século XX. Foi um importante editor de livros inéditos e autor de importantes traduções. Seguido a seu precursor Figueiredo Pimentel ("Contos da Carochinha") da literatura infantil brasileira, ficou popularmente conhecido pelo conjunto educativo de sua obra de livros infantis, que constitui aproximadamente a metade da sua produção literária. A outra metade, consistindo de contos (geralmente sobre temas brasileiros), artigos, críticas, crônicas, prefácios, cartas, um livro sobre a importância do petróleo e do ferro, e um único romance, O Presidente Negro, o qual não alcançou a mesma popularidade que suas obras para crianças, que entre as mais famosas destaca-se Reinações de Narizinho (1931), Caçadas de Pedrinho (1933) e O Picapau Amarelo (1939).
    Contista, ensaísta e tradutor, este grande nome da literatura brasileira nasceu na cidade de Taubaté, interior de São Paulo, no ano de 1882. Formado em Direito, atuou como promotor público até se tornar fazendeiro, após receber herança deixada pelo avô. Diante de um novo estilo de vida, Lobato passou a publicar seus primeiros contos em jornais e revistas, sendo que, posteriormente, reuniu uma série deles em Urupês, obra prima deste famoso escritor.
    Em uma época em que os livros brasileiros eram editados em Paris ou Lisboa, Monteiro Lobato tornou-se também editor, passando a editar livros também no Brasil. Com isso, ele implantou uma série de renovações nos livros didáticos e infantis.
    Este notável escritor é bastante conhecido entre as crianças, pois se dedicou a um estilo de escrita com linguagem simples onde realidade e fantasia estão lado a lado. Pode-se dizer que ele foi o precursor da literatura infantil no Brasil.
    Suas personagens mais conhecidas são: Emília, uma boneca de pano com sentimento e idéias independentes; Pedrinho, personagem que o autor se identifica quando criança; Visconde de Sabugosa, a sabia espiga de milho que tem atitudes de adulto, Cuca, vilã que aterroriza a todos do sítio, Saci Pererê e outras personagens que fazem parte da inesquecível obra: O Sítio do Pica-Pau Amarelo, que até hoje encanta muitas crianças e adultos.
    Escreveu ainda outras incríveis obras infantis, como: A Menina do Nariz Arrebitado, O Saci, Fábulas do Marquês de Rabicó, Aventuras do Príncipe, Noivado de Narizinho, O Pó de Pirlimpimpim, Reinações de Narizinho, As Caçadas de Pedrinho, Emília no País da Gramática, Memórias da Emília, O Poço do Visconde, O Pica-Pau Amarelo e A Chave do Tamanho.
    Fora os livros infantis, este escritor brasileiro escreveu outras obras literárias, tais como: O Choque das Raças, Urupês, A Barca de Gleyre e o Escândalo do Petróleo. Neste último livro, demonstra todo seu nacionalismo, posicionando-se totalmente favorável a exploração do petróleo apenas por empresas brasileiras.

A carreira
    Criado em um sítio, Monteiro Lobato foi alfabetizado pela mãe Olímpia Augusta Lobato e depois por um professor particular. Aos sete anos, entrou em um colégio. Nessa idade descobrira os livros de seu avô materno, o Visconde de Tremembé, dono de uma biblioteca imensa no interior da casa. Leu tudo o que havia para crianças em língua portuguesa. Nos primeiros anos de estudante já escrevia pequenos contos para os jornaizinhos das escolas que frequentou.
    Aos onze anos, em 1893, foi transferido para o Colégio São João Evangelista. Ao receber como herança antecipada uma bengala do pai, que trazia gravada no castão as iniciais J.B.M.L., mudou seu nome de José Renato para José Bento, a fim de utilizá-la. No ano seguinte, os pais o presentearam com uma calça comprida, que usou bastante envergonhado. Em dezembro de 1896 foi para São Paulo e, em janeiro de 1897, prestou exames das matérias estudadas na cidade natal, mas foi reprovado no curso preparatório e retornou a Taubaté.
    Quando retornou ao Colégio Paulista, fez as suas primeiras incursões literárias como colaborador dos jornaizinhos "Pátria", "H2S" e "O Guarany", sob o pseudônimo de Josben e Nhô Dito. Passou a colecionar avidamente textos e recortes que o interessavam, e lia bastante. Em dezembro prestou novamente os exames para o curso preparatório e foi aprovado. Escreveu minuciosas cartas à família, descrevendo a cidade de São Paulo. Colaborou com "O Patriota" e "A Pátria". Então, se mudou de vez para São Paulo, e tornou-se estudante interno do Instituto Ciências e Letras.
    No ano seguinte, a 13 de junho de 1898, perdeu o pai, José Bento Marcondes Lobato, vítima de congestão pulmonar. Decidiu, pela primeira vez, participar das sessões do Grêmio Literário Álvares de Azevedo do Instituto Ciências e Letras. Sua mãe, vítima de uma depressão profunda, veio a falecer no dia 22 de junho de 1899.
    Tendo forte talento para o desenho, pois desde menino retrata a Fazenda Buquira, tornou-se desenhista e caricaturista nessa época. Em busca de aproveitar as suas duas maiores paixões, decidiu ir para São Paulo após completar 17 anos.
    Seu sonho era a Escola de Belas-Artes, mas, por imposição do avô, que o tinha como um sucessor na administração de seus negócios, acabou ingressando na Faculdade do Largo de São Francisco para cursar Direito. Mesmo assim seguiu colaborando em diversas publicações estudantis e fundou, com os colegas de sua turma, a "Arcádia Acadêmica", em cuja sessão inaugural fez um discurso intitulado: Ontem e Hoje. Lobato, a essas alturas, já era elogiado por todos como um comentarista original e dono de um senso fino e sutil, de um "espírito à francesa" e de um "humor inglês" imbatível, que carregou pela vida afora. Dois anos depois, foi eleito presidente da Arcádia Acadêmica, e colaborou com o jornal "Onze de Agosto", onde escreveu artigos sobre teatro. De tais estudos surgiu, em 1903, o grupo O Cenáculo, fundado junto com Ricardo Gonçalves, Cândido Negreiros, Godofredo Rangel, Raul de Freitas, Tito Lívio Brasil, Lino Moreira e José Antônio Nogueira.
    Era anticonvencional por excelência, dizendo sempre o que pensava, agradasse ou não. Defendia a sua verdade com unhas e dentes, contra tudo e todos, quaisquer que fossem as consequências. Venceu um concurso de contos, sendo que o texto Gens Ennuyeux foi publicado no jornal "Onze de Agosto". (11/08).

O advogado
    Em 1904, diplomou-se bacharel em Direito e regressou a Taubaté. No ano seguinte fez planos de fundar uma fábrica de geleias, em sociedade com um amigo, mas passou a ocupar interinamente a promotoria de Taubaté e conheceu Maria Pureza da Natividade de Souza e Castro ("Purezinha"). Em maio de 1907 foi nomeado promotor público em Areias, e casou-se com Purezinha, a 28 de março de 1908. Exatamente um ano depois nasceu Marta, a primogênita do casal. Insatisfeito com a vida bucólica de Areias, planejou abrir um estabelecimento comercial de secos e molhados.
    Em 1910 associou-se a um negócio de estradas de ferro e nasceu o seu segundo filho, Edgar. Viveu no interior e nas cidades pequenas da região, escrevendo paralelamente para jornais e revistas, como A Tribuna de Santos, Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro e a revista Fon-Fon, para onde também mandava caricaturas e desenhos. Passou a traduzir artigos do Weekly Times para o jornal O Estado de São Paulo, e obras da literatura universal, também enviando artigos para um jornal de Caçapava. Contudo, era visível a sua insatisfação com a vida que levava e com os negócios que não prosperavam.
    No ano seguinte, aos 29 anos, Lobato recebeu a notícia do falecimento de seu avô, o Visconde de Tremembé, tornando-se então herdeiro da Fazenda Buquira, para onde se mudou com toda a família. De promotor a fazendeiro, dedicou-se à modernização da lavoura e à criação. Com o lucro dos negócios, abriu um externato em Taubaté, que confiou aos cuidados de seu cunhado. Em 1912 nasceu Guilherme, o seu terceiro filho. Ainda insatisfeito, mas desta vez com a vida na fazenda, planejou explorar comercialmente o Viaduto do Chá, na cidade de São Paulo, em parceria com Ricardo Gonçalves.

A fama
    Em 12 de novembro de 1912, o jornal O Estado de São Paulo, na sua edição vespertina (O Estadinho), publicou o seu artigo Velha Praga. Era véspera de Natal quando o mesmo jornal publicou um conto daquele que mais tarde seria o seu primeiro livro, Urupês. Na Vila de Buquira, hoje município de Monteiro Lobato (São Paulo), nessa mesma época, envolveu-se com a política e logo a deixou de lado. Sua quarta e última filha, Rute, nasceu em fevereiro de 1916, quando iniciava colaboração na recém fundada Revista do Brasil. Era uma publicação nacionalista que agradou em cheio o gosto de Lobato.
    Somente em 1914, como fazendeiro em Buquira, um fato definiria de vez a sua carreira literária: durante o inverno seco daquele ano, cansado de enfrentar as constantes queimadas praticadas pelos caboclos, o fazendeiro escreveu uma "indignação" intitulada Velha Praga, e a enviou para a seção Queixas e Reclamações do jornal O Estado de S. Paulo, edição da tarde, o "Estadinho". O jornal, percebendo o valor daquela carta, publicou-a fora da seção que era destinada aos leitores, no que acertou, pois a carta provocou polêmica e fez com que Lobato escrevesse outros artigos como, por exemplo, Urupês, dando vida a um de seus mais famosos personagens, o Jeca Tatu.
Jeca era um grande preguiçoso, totalmente diferente dos caipiras e índios idealizados pela literatura romântica de então. Seu aparecimento gerou uma enorme polêmica, em todo o país, pois o personagem era símbolo do atraso e da miséria que representava o campo no Brasil.
Tendo assim caracterizado o caipira caboclo, "um piraquara do Paraíba", (morador ribeirinho ao Rio Paraíba do Sul), no conto "Urupês":
            A Verdade nua manda dizer que entre as raças de variado matiz, formadoras da nacionalidade e metidas entre o estrangeiro recente e o aborígine de tabuinha em beiço, uma existe a vegetar de cócoras, incapaz de evolução, impenetrável ao progresso. Feia e sorna, nada a põe de pé. Pobre Jeca Tatu! Como é bonito no romance e feio na realidade! Jeca Tatu é um Piraquara do Paraíba, maravilhoso epitome de carne onde se resumem todas as características da espécie. O fato mais importante da vida do Jeca é votar no governo. A modinha, como as demais manifestações de arte popular existente no país, é obra do mulato, em cujas veias o sangue recente do europeu, rico de ativismos estéticos, borbulha d´envolta com o sangue selvagem, alegre e são do negro. O caboclo é soturno. Não canta senão rezas lúgubres. Não dança senão o cateretê aladainhado. O caboclo é o sombrio Urupê de pau podre a modorrar silencioso no recesso das grotas. Bem ponderado, a causa principal da lombeira do caboclo reside nas benemerências sem conta da mandioca. Talvez sem ela se pusesse de pé e andasse. Mas enquanto dispuser de uma pão cujo preparo se resume no plantar, colher e lançar sobre brasas, Jeca não mudará de vida. O vigor das raças humanas está na razão direta da hostilidade ambiente. Se a poder de estacas e diques o holandês extraiu de um brejo salgado a Holanda, essa joia de esforço, é que ali nada o favorecia.!— Monteiro Lobato.
    O piraquara do rio Paraíba do Sul ainda existe. Foi estudado e retratado, em 2002, por Camila Hayashi, Karina Muller e Noêmia Alves, no livro "Nas Márgens do Paraíba, Vida, histórias e crenças dos habitantes da beira do rio Paraíba do Sul". Mantém ainda a preferência pela mandioca: "Hoje dá até pra se plantar aqui. Milho, mandioca", diz o piraquara Benedito Grabriel.
    Monteiro Lobato conheceu apenas o caipira caboclo, e generalizou o comportamento destes para todos os caipiras, causando então muita polêmica. Foi apoiado por Rui Barbosa e contraditado pelo especialista em caipiras, o folclorista Cornélio Pires, que explicou que Lobato só conheceu o caipira caboclo:
            Coitado do meu patrício! Apesar dos governos os outros caipiras se vão endireitando à custa do próprio esforço, ignorantes de noções de higiene... Só ele, o caboclo, ficou mumbava, sujo e ruim! Ele não tem culpa... Ele nada sabe. Foi um desses indivíduos que Monteiro Lobato estudou, criando o Jeca Tatu, erradamente dado como representante do caipira em geral! 
— Cornélio Pires
    Rui Barbosa, em 20 de março de 1919, em uma conferência sobre a Questão Social e Política no Brasil, durante a útima eleição presidencial que disputou, disse sobre Monteiro Lobato:
            Conheceis, por ventura, o Jeca Tatu, dos Urupês, do Monteiro Lobato, o admirável escritor paulista? Tivestes, algum dia, ocasião de ver surgir, debaixo desse pincel de uma arte rara, na sua rudeza, aquele tipo de uma raça, que, "entre as formaduras da nossa nacionalidade", se perpetua, "a vegetar, de cócoras, incapaz de evolução e impenetrável ao progresso"?!   
— Rui Barbosa
    A partir daí, os fatos se sucederam: a geada, (sobre a qual deixou uma crônica), e as dificuldades financeiras levaram-no a vender a fazenda Buquira, em 1916, e a partir com a família para São Paulo, com o intuito de tornar-se um "escritor-jornalista". Fundou, em Caçapava, a revista "Paraíba", e organizou, para o jornal "O Estado de São Paulo", uma imensa e acalentada pesquisa sobre o saci. Lobato percorreu o interior de São Paulo, durante a Grande Geada de 1918, escrevendo um importante crônica a respeito, impressionado que ficou com a queima dos cafezais paulistas. Ainda em 1918, ano dos 4 G (Geada, Greve, I Guerra Mundial e Gripe espanhola), Lobato, escrevia no jornal "O Estado de S. Paulo", o mais importante jornal da capital, e, como todos os editorialistas acabaram pegando a gripe espanhola, vários editoriais do jornal "O Estado", daqueles dias, foram escritos unicamente por Lobato.
    A Fazenda Buquira, a qual Lobato visitava na infância quando pertencia a seu avô, o Visconde de Tremembé, e onde Lobato viu a geada, conheceu o caipira caboclo, e teve inspiração para seus personagens e paisagens de seus livros (como a pequena cachoeira que inspirou o Reino das Águas Claras), é atualmente centro de visitação, sendo que a casa-sede da fazenda ainda se encontra em seu estado original, situada à margem da rodovia atualmente denominada "Estrada do Livro", que liga a cidade de Monteiro Lobato à Caçapava.
    Em 20 de dezembro publicou Paranoia ou Mistificação, a famosa crítica desfavorável à exposição de pintura de Anita Malfatti, que culminaria como o estopim para a criação da Semana de Arte Moderna de 1922. Muitos passaram a ver Lobato como reacionário, inclusive os modernistas, mas hoje, após tantos anos, percebe-se que o que Lobato criticava eram os "ismos" que vinham da Europa: cubismo, futurismo, dadaísmo, surrealismo, que ele achava que eram "colonialismos", "europeizações", assim como ocorrera com os acadêmicos das gerações anteriores.
     Lobato era a favor de uma arte devidamente brasileira, autóctone, criada aqui. Por isso criticou Anita Malfatti, embora admitisse que ela fosse talentosa. Isso tudo gerou o estranhamento entre ele e os modernistas mas, no fundo, todos eles tinham razão, apenas viam as coisas de ângulos diferentes. Mesmo assim Oswald de Andrade continuou a ser um profundo admirador de Lobato: quando ocorrera a Semana de Arte Moderna, as provas de Urupês ficaram dois dias em cima do sofá da garçonière onde Oswald de Andrade se encontrava com os amigos.
     Monteiro Lobato defendia a eugenia por acreditar que a miscigenação era um fator prejudicial na formação do povo brasileiro. Seu livro, O Presidente Negro, descreve um conflito racial no futuro, após a eleição de um negro para a presidência dos EUA.
    Em carta a Renato Kehl, ele afirma:
            A humanidade precisa de uma coisa só: póda. É como a vinha."   — Monteiro Lobato[8][9]

O editor
    Em 1918, Monteiro Lobato comprou a Revista do Brasil e passou a dar espaço para novos talentos, ao lado de pessoas famosas. Tornou-se, dessa forma, um intelectual engajado na causa do nacionalismo, a qual dedicou uma preocupação fundamental, tanto na ficção quanto no ensaio e no panfleto. Crítico de costumes, no qual não faltava a nota do sarcasmo e da caricatura, de sua obra elevou-se largo sopro de humanidade e brasileirismo. Nas mãos de Monteiro Lobato, a Revista do Brasil prosperou e ele pode montar uma empresa editorial, sempre dando espaço para os novatos e divulgando obras de artistas modernistas.
     Lobato também foi precursor de algumas ideias muito interessantes no campo editorial. Ele dizia que "livro é sobremesa: tem que ser posto debaixo do nariz do freguês". Com isso em mente, passou a tratar os livros como produtos de consumo, com capas coloridas e atraentes, e uma produção gráfica impecável. Criou também uma política de distribuição, novidade na época: vendedores autônomos e distribuidores espalhados por todo o país.
Primeiro seus livros foram publicados pela Editora da Revista do Brasil. Assim, o livro Urupês, em sua sexta edição em 1920, está registrado "Ed. da Revista do Brasil, São Paulo, 1920". Na última capa consta: "Director Monteiro Lobato, Secretario Alarico Caiuby", "A venda em todas as livrarias e no escriptorio da Revista do Brasil".
    Logo fundou a editora Monteiro Lobato & Cia., depois chamada Companhia Editora Nacional, com a obra O Problema Vital, um conjunto de artigos sobre a saúde pública, seguido pela tese O Saci Pererê: Resultado de um Inquérito. Privilegiava a edição de autores estreantes como a senhora Leandro Dupré, com o sucesso "Éramos Seis". Traduziu também muitos livros e editou obras importantes e polêmicas como "A Luta pelo Petróleo", de Essad Bey, para o qual fez uma introdução tratando da questão do petróleo no Brasil.
     Em julho de 1918, dois meses depois da compra, publicou em forma de livro Urupês, com retumbante sucesso e alcançando grande repercussão ao dividir o país sobre a veracidade da figura do caipira, fiel para alguns, exagerada para outros. O livro chamou a atenção de Rui Barbosa que, num discurso, em 1919, durante a sua campanha eleitoral, reacendeu a polêmica ao citar Jeca Tatu como um "protótipo do camponês brasileiro, abandonado à miséria pelos poderes públicos". A popularidade fez com que Lobato publicasse, nesse mesmo ano, Cidades Mortas e Ideias de Jeca Tatu.
    Em 1920, o conto Os Faroleiros serviu de argumento para um filme dirigido pelos cineastas Antônio Leite e Miguel Milani. Meses depois, publicou Negrinha e A Menina do Narizinho Arrebitado, sua primeira obra infantil, e que deu origem a Lúcia, mais conhecida como a Narizinho do Sítio do Picapau Amarelo. O livro foi lançado em dezembro de 1920 visando aproveitar a época de Natal. A capa e os desenhos eram de Lemmo Lemmi, um famoso ilustrador da época.
     Em janeiro de 1921, os anúncios na imprensa noticiaram a distribuição de exemplares gratuitos de A Menina do Narizinho Arrebitado nas escolas, num total de 500 doações, tornando-se um fato inédito na indústria editorial. Fora atendendo um pedido do presidente de São Paulo, Dr. Washington Luís, de quem Lobato era admirador, que fizera o livro. O sucesso entre as crianças gerou continuações: Fábulas de Narizinho (1921), O Saci (1921), O Marquês de Rabicó (1922), A Caçada da Onça (1924), O Noivado de Narizinho (1924), Jeca Tatuzinho (1924) e O Garimpeiro do Rio das Garças (1924), entre outros.
    Tais novidades repercutiram em altas tiragens dos livros que editava, a ponto de dedicar-se à editora em tempo integral, entregando a direção da Revista do Brasil a Paulo Prado e Sérgio Millet. A demanda pelos livros era tão grande que ele importou mais máquinas dos Estados Unidos e da Europa para aumentar seu parque gráfico. Porém, uma grave seca cortou o fornecimento de energia elétrica, e a gráfica só podia funcionar dois dias por semana. Por fim, o presidente Artur Bernardes desvalorizou a moeda e suspendeu o redesconto de títulos pelo Banco do Brasil, gerando um enorme rombo financeiro e muitas dívidas ao escritor.
    Lobato só teve uma escolha: entrou com pedido de falência em julho de 1925. Mesmo assim não significou o fim de seu projeto editorial. Ele já se preparava para abrir outra empresa, a Companhia Editora Nacional, em sociedade com Octalles Marcondes e, em vista disso, transferiu-se para o Rio de Janeiro.
    Os "produtos" dessa nova editora abrangiam uma variedade de títulos, inclusive traduções de Hans Staden e Jean de Léry. Além disso, os livros garantiam o "selo de qualidade" de Monteiro Lobato, tendo projetos gráficos muito bons e com enorme sucesso de público.
A partir daí, Lobato continuou escrevendo livros infantis de sucesso, especialmente com Narizinho e outros personagens, como Dona Benta, Pedrinho, Tia Nastácia, o boneco de sabugo de milho Visconde de Sabugosa e Emília, a boneca de pano.
    Além disso, por não gostar muito das traduções dos livros europeus para crianças, e sendo um nacionalista convicto, criou aventuras com personagens bem ligados à cultura brasileira, recuperando inclusive costumes da roça e lendas do folclore.
    Mas não parou por aí. Monteiro Lobato pegou essa mistura de personagens brasileiros e os enriqueceu, '"misturando-os" a personagens da literatura universal, da mitologia grega, dos quadrinhos e do cinema. Também foi pioneiro na literatura paradidática, ensinando história, geografia e matemática, de forma divertida.

Em Nova Iorque
    Em 1926, Lobato concorreu a uma vaga na Academia Brasileira de Letras, mas acabou derrotado. Era a segunda vez que isso acontecia. Na primeira vez, em 1921, iria concorrer á vaga de Pedro Lessa, mas desistiu antes da eleição, por não querer fazer as visitas de praxe aos acadêmicos para pedir seus votos. Desta vez, estava concorrendo à vaga do renomado jurista João Luís Alves. Na primeira, recebera um voto no terceiro escrutínio, e, na segunda, dois votos no quarto. Em artigo à imprensa, Múcio Leão chegou a afirmar que esse "escritor de talento fora duas vezes repelido". No mesmo ano saíram em folhetim os livros O Presidente Negro (1926) e "How Henry Ford is Regarded in Brazil (1926).
    Depois, enviou uma carta ao recém empossado Washington Luís, onde defendeu os interesses da indústria editorial. O presidente, reconhecendo nele um representante promissor dos interesses culturais do país, nomeou-o adido comercial nos Estados Unidos, em 1927. Lobato escreve confirmando a tese de Washington Luís de que "Governar é abrir Estradas", as quais Lobato atribui o progresso dos Estados Unidos. Lobato ficara impressionado com a quantidade e qualidade das estradas norte americanas. Monteiro Lobato mudou-se para Nova York e deixou a Companhia sob a direção de seu sócio, Octalles Marcondes Ferreira. Entusiasmado com o progresso material que viu nos Estados Unidos, passou a acompanhar todas as inovações tecnológicas estadunidenses e fez de tudo para convencer o governo brasileiro a propiciar a criação de atividades semelhantes no Brasil. Com interesses voltados no que diz respeito às questões de petróleo e ferro, planejou a fundação da Tupy Publishing Company.
    Em Nova York escreveu Mr. Slang e o Brasil (1927), As Aventuras de Hans Staden (1927), Aventuras do Príncipe (1928), O Gato Félix (1928), A Cara de Coruja (1928), O Circo de Escavalinho (1929) e A Pena de Papagaio (1930). As obras infantis que datam dessa época foram publicadas no Brasil e reunidas num único volume, intitulado Reinações de Narizinho (1931).
Foi para Detroit no ano seguinte e, em visita à Ford e a General Motors, organizou uma empresa brasileira para produzir aço pelo processo Smith. Com isso, jogou na Bolsa de Valores de Nova Iorque e perdeu tudo o que tinha com a crise de 1929. Para cobrir suas perdas com a quebra da Bolsa, Lobato vendeu suas ações da Companhia Editora Nacional em 1930. Voltou para São Paulo em 1931 e passou a defender que o "tripé" para o progresso brasileiro seria o ferro, o petróleo e as estradas para escoar os produtos.
    Entusiasmado com Washington Luís e com seu candidato a presidente, em 1930, o Dr. Júlio Prestes, que, como presidente de São Paulo, realizara explorações de petróleo em território paulista, Lobato dá apoio irrestrito ao candidato Júlio Prestes nas eleições de 1930.
Em 28 de agosto de 1929, em carta ao dr. Júlio Prestes, Monteiro Lobato transmite-lhe votos pela "vitória na campanha em perspectiva", afirmando que:
            Sua política na presidência significará o que de mais precisa o Brasil: continuidade administrativa!— Monteiro Lobato
Com a deposição de Washington Luís e o impedimento da posse de Júlio Prestes, começa a antipatia de Lobato por Getúlio Vargas e seu infortúnio.

O petróleo
    Após implantar a Companhia Petróleos do Brasil, e graças à grande facilidade com que foram subscritas suas ações, Monteiro Lobato fundou várias empresas para fazer perfuração de petróleo, como a Companhia Petróleo Nacional, a Companhia Petrolífera Brasileira e a Companhia de Petróleo Cruzeiro do Sul, e a maior de todas (fundada em julho de 1938) a Companhia Mato-grossense de Petróleo, que visava perfurar próximo da fronteira com a Bolívia, país vizinho que já havia encontrado petróleo em seu território. Com isso Lobato prejudicou os interesses de gente muito importante na política brasileira, e de grandes empresas estrangeiras. Começava a luta que o deixou pobre, doente e desgostoso. Havia interesse oficial em se dizer que no Brasil não havia petróleo. Tendo-os como adversários, passou a enfrentá-los publicamente.
    Por alguns anos, seu tempo foi dedicado integralmente à campanha do petróleo, e a sua sobrevivência garantiu-se pela publicação de histórias infantis e da tradução magistral de livros estrangeiros, como O Livro da Selva, de Rudyard Kipling (1933), O Doutor Negro, de Arthur Conan Doyle (1934), Caninos Brancos (1933) e A Filha da Neve (1934), ambos de Jack London, entre outros. Teimava em dizer que era preciso explorar o petróleo nacional para dar ao povo um padrão de vida à altura de suas necessidades. Tentou, sem êxito, organizar uma companhia petrolífera mediante subscrições populares.
    Muitas dificuldades apareceram e, mesmo assim, sua produção literária manteve-se e chegou ao ápice. Em América (1932) publicou as suas primeiras impressões sobre a luta na qual se engajara. Em seguida vieram História do Mundo para Crianças (1933), Na Antevéspera e Emília no País da Gramática (1934), na qual defendia uma gramática normativa revisada. Meses depois, seu livro História do Mundo Para Crianças sofreu crítica, censura e perseguição da Igreja Católica. O padre Sales Brasil escreveu um libelo contra Lobato chamado "A literatura infantil de Monteiro Lobato ou comunismo para crianças".
    Aceitou o convite para ingressar na Academia Paulista de Letras e, com isso, apresentou um dossiê de sua campanha em prol do petróleo, O Escândalo do Petróleo (1936) , no qual acusava o governo de "não perfurar e não deixar que se perfure". O livro esgotou várias edições em menos de um mês. Aturdido, o governo de Getúlio Vargas proibiu e mandou recolher todas as edições. Em seguida, morreu Heitor de Moraes, seu correspondente e grande amigo.
Com isso, criou a União Jornalística Brasileira, uma empresa destinada a redigir e distribuir notícias pelos jornais. Em fevereiro de 1939 morreu Guilherme, seu terceiro filho. Abalado, Monteiro Lobato enviou uma carta ao ministro de Agricultura, que precipitara a abertura de um inquérito sobre o petróleo. Recebeu convite de Getúlio Vargas para dirigir um ministério de Propaganda, mas Lobato recusou. Numa outra carta ao presidente, fez severas críticas à política brasileira de minérios . O teor da carta foi tido como subversivo e desrespeitoso e isso fez com que fosse detido pelo Estado Novo, acusado de tentar desmoralizar o Conselho Nacional do Petróleo, ironicamente presidido à época pelo general Horta Barbosa que foi o responsável por colocar Lobato atrás das grades do Presídio Tiradentes  e que, abraçando as ideias de Lobato, se tornaria em 1947 um dos maiores líderes da nacionalista Campanha do Petróleo. Lobato foi condenado a seis meses de prisão, e permaneceu encarcerado de março a junho de 1941.
    Uma campanha promovida por intelectuais e amigos conseguiu fazer com que Getúlio Vargas concedesse o indulto que o libertaria, reduzindo a pena de seis para três meses na prisão. Apesar disso, Lobato continuou sendo perseguido e o governo fazia de tudo para abafar suas ideias. Foi então que passou a denunciar as torturas e maus tratos praticados pela polícia do Estado Novo.
    Curiosamente o petróleo no Brasil seria encontrado, por uma ironia da história, em um local chamado Lobato (Salvador), em 1939, e, justamente pelo então ministro da agricultura Dr. Fernando de Souza Costa, que fora justamente o secretário da agricultura do Dr. Júlio Prestes, que, na década de 1920, procurara petróleo em São Paulo.

O fim
    Mesmo em liberdade, Monteiro Lobato não teve mais tranquilidade, e seu filho mais velho, Edgar, morreu em fevereiro de 1942, exatamente três anos depois do falecimento de Guilherme.
Em 1943 foi fundada a Editora Brasiliense por Caio Prado Júnior, que negociou com Lobato a publicação de suas obras completas. Logo em seguida, por ironia do destino, recusou a indicação para a Academia Brasileira de Letras. Entretanto integrou a delegação paulista do I Congresso Brasileiro de Escritores reunidos em São Paulo, que divulgou, no encerramento, uma declaração de princípios exigindo legalidade democrática como garantia da completa liberdade de expressão do pensamento e redemocratização plena do país.
    Suas companhias foram liquidadas e a censura da ditadura faz com que Lobato se aproximasse dos comunistas, chegando a receber convite do Partido Comunista para integrar a bancada de candidatos. Foi na prisão, no Estado Novo, que Lobato fez seus primeiros contatos com os comunistas. Lobato recusou o convite para entrar na vida pública, mas enviou uma nota de saudação que foi lida por Luís Carlos Prestes num grande comício realizado em 1945, no estádio do Pacaembu. Meses depois foi publicado Nasino, edição italiana de Narizinho, ilustrada por Vincenzo Nicoletti. Em maio A Menina do Narizinho Arrebitado foi transformada em radionovela para crianças pela Rádio Globo no Rio de Janeiro.
    Tornou-se diretor do Instituto Cultural Brasil-URSS, mas foi obrigado a se afastar do cargo em setembro de 1945, quando foi levado para ser operado às pressas de um cisto no pulmão. A entrevista que concedeu ao Diário de São Paulo causou grande repercussão e, em 1946, muda-se para Buenos Aires, na Argentina, "atraído pelos belos e gordos bifes, pelo magnífico pão branco e fugindo da escassez que assolava o Brasil", conforme declarou à imprensa. Antes de partir, tornou-se sócio da Editora Brasiliense a convite de Caio Prado Júnior que, na sua editora, preparava as Obras Completas já traduzidas para o espanhol e editadas na Argentina. Em outubro fundou a Editorial Acteon, com Manuel Barreiro, Miguel Pilato e Ramón Prieto. As obras de Lobato caem em domínio público em 2018.
    Voltou em 1947 por não se ambientar ao clima local e, em entrevista aos repórteres que o aguardavam no aeroporto, classificou o governo de Eurico Gaspar Dutra de "Estado Novíssimo, no qual a constituição seria pendurada (suspensa) num ganchinho no quarto dos badulaques". Dessa indignação surgiu o seu último livro Zé Brasil, publicado pela Editorial Vitória, em que Lobato mais uma vez reelaborava o seu personagem Jeca Tatu, transformando-o em trabalhador sem-terra e esmagado pelo latifúndio. Diante da proibição das atividades do Partido Comunista em todo o país, determinada pelo ministro da Justiça, escreveu A Parábola do Rei Vesgo para um comício de protesto, lido e aclamado pela multidão reunida no Vale do Anhangabaú, na noite de 18 de junho. O texto refletia o desencanto de Lobato com a democracia restritiva do general Dutra. Em dezembro foi a Salvador assistir a opereta Narizinho Arrebitado. Lobato escreveria novo libreto para o espetáculo, considerado a sua última criação infantil. Publicou O Problema Econômico de Cuba, também a sua última tradução.
    Em abril de 1948 sofreu um primeiro espasmo vascular que afetou a sua motricidade. Mesmo assim, afiliou-se à revista Fundamentos e publicou os folhetos De Quem É o Petróleo na Bahia e Georgismo e Comunismo.
    Dois dias após conceder a Murilo Antunes Alves, da Rádio Record, a sua última entrevista, na qual defendeu a Campanha de O Petróleo é Nosso, Monteiro Lobato sofreu um segundo espasmo cerebral e faleceu às 4 horas da madrugada, no dia 4 de julho de 1948, aos 66 anos de idade. Sob forte comoção nacional, seu corpo foi velado na Biblioteca Municipal de São Paulo e o sepultamento realizado no Cemitério da Consolação.
    O Repórter Esso, na voz de Heron Domingues, assim anunciou sua morte, depois de um pequeno silêncio:
            ..E agora uma notícia que entristece a todos: Acaba de falecer o grande escritor patrício Monteiro Lobato!— Heron Domingues
    Sua vida e sua obra ainda hoje servem de inspiração e exemplo para milhares de crianças, jovens e adultos do Brasil.

Disputa
    Em 1996, os herdeiros de Monteiro Lobato tomaram a iniciativa de sugerir à Editora Brasiliense, até então detentora única das obras (conforme acordo assinado entre Lobato e Caio Prado Júnior em 1945) a reformulação dos livros e da coleção infantil, a fim de que apresentassem um aspecto moderno com relação a ilustrações coloridas e nova paginação.
    Essas tentativas continuaram em 1997 e fracassaram, simplesmente porque a editora não efetuou o investimento necessário, continuando a publicar os livros com ilustrações em branco e preto como fazia há décadas e continuou a fazer. Com isso, desde 1998, a obra de Monteiro Lobato virou centro de uma polêmica entre a Brasiliense e os herdeiros, que a acusam de negligenciar a obra. Há o desejo de uma divulgação maior e edições melhores. Entre os editores há o desejo de reciclar o texto dos livros.
    São várias as ações movidas pelos herdeiros contra a Brasiliense, como contrato de cessão a terceiros (no caso à Editora Saraiva) e a publicação de um livro falsamente atribuído a Monteiro Lobato, que a editora intitulou Contos Escolhidos, sem autorização da família. Por outro lado, a Brasiliense alega ter um contrato ad infinitum assinado por Monteiro Lobato quando vivo.
    Em setembro de 2007, por meio de acordo com os herdeiros, o STJ estabeleceu a rescisão contratual definitiva e concedeu à Editora Globo os direitos exclusivos sobre a obra de Monteiro Lobato, até 2018, ano em que o legado do autor deverá entrar em domínio público, pois se passarão 70 anos de sua morte.

Obra
Livros infantis
     O livro que lançou Lobato foi "A menina do narizinho arrebitado", em 1920, nunca reeditado, exceto em uma pequena edição fac simile em 1981, e hoje considerada uma obra rara tanto a primeira edição quanto a edição fac simile. A maioria das histórias de seus livros infantis se passavam no Sítio do Pica-pau Amarelo, um sítio no interior do Brasil, tendo como uma das personagens a senhora dona da fazenda Dona Benta, seus netos Narizinho e Pedrinho e a empregada Tia Nastácia. Esses personagens foram complementados por entidades criadas ou animadas pela imaginação das crianças na história: a boneca irreverente Emília e o aristocrático boneco de sabugo de milho Visconde de Sabugosa, a vaca Mocha, o burro Conselheiro, o porco Rabicó e o rinoceronte Quindim.
    No entanto, as aventuras na maioria se passam em outros lugares: ou num mundo de fantasia inventados pelas crianças, ou em histórias contadas por Dona Benta no começo da noite. Esses três universos são interligados para a histórias e lendas contadas pela avó naturalmente se tornarem cenário para o faz-de-conta, incrementado pelo dia-a-dia dos acontecimentos no sítio
   - "De escrever para marmanjos já estou enjoado. Bichos sem graça. Mas para crianças um livro é todo um mundo." - "É errado pensar que é a ciência que mata uma religião. Só pode com ela outra religião." - "O livro é uma mercadoria como qualquer outra; não há diferença entre o livro e um artigo de alimentação. (...) Se o livro não vende é porque ele não presta". - "Tudo tem origem nos sonhos. Primeiro sonhamos, depois fazemos."

Coleção Sítio do Pica-pau Amarelo
1921 - O Saci
1922 - Fábulas
1927 - As aventuras de Hans Staden
1930 - Peter Pan
1931 - Reinações de Narizinho
1932 - Viagem ao céu
1933 - Caçadas de Pedrinho
1933 - História do mundo para as crianças
1934 - Emília no país da gramática
1935 - Aritmética da Emília
1935 - Geografia de Dona Benta
1935 - História das invenções
1936 - Dom Quixote das crianças
1936 - Memórias da Emília
1937 - Serões de Dona Benta
1937 - O poço do Visconde
1937 - Histórias de Tia Nastácia
1939 - O Pica-pau Amarelo
1939 - O minotauro
1941 - A reforma da natureza
1942 - A chave do tamanho
1944 - Os doze trabalhos de Hércules (dois volumes)
1947 - Histórias diversas

Outros livros infantis
    Alguns foram incluídos, posteriormente, nos livros da série O Sítio do Pica-pau Amarelo. Os primeiros foram compilados no volume Reinações de Narizinho, de 1931, em catálogo apenas como tal até os dias atuais.
1920 - A menina do narizinho arrebitado
1921 - Fábulas de Narizinho
1921 - Narizinho arrebitado (incluído em Reinações de Narizinho)
1922 - O marquês de Rabicó (incluído em Reinações de Narizinho)
1924 - A caçada da onça
1924 - Jeca Tatuzinho
1924 - O noivado de Narizinho (incluído em Reinações de Narizinho, com o nome de O casamento de Narizinho)
1928 - Aventuras do príncipe (incluído em Reinações de Narizinho)
1928 - O Gato Félix (incluído em Reinações de Narizinho)
1928 - A cara de coruja (incluído em Reinações de Narizinho)
1929 - O irmão de Pinóquio (incluído em Reinações de Narizinho)
1929 - O circo de escavalinho (incluído em "Reinações de Narizinho, com o nome O circo de cavalinhos)
1930 - A pena de papagaio (incluído em Reinações de Narizinho)
1931 - O pó de pirlimpimpim (incluído em Reinações de Narizinho)
1933 - Novas reinações de Narizinho
1938 - O museu da Emília (peça de teatro, incluída no livro Histórias diversas)
Tradução e adaptação de livros infantis;

Lobato também traduziu e adaptou os livros infantis:
Contos de Grimm,
Novos Contos de Grimm,
Contos de Andersen,
Novos Contos de Andersen,
Alice no País das Maravilhas,
Alice no País dos Espelhos,
Robinson Crusoé,
Contos de Fadas e Robin Hood.

Livros para adultos
O Saci Pererê: resultado de um inquérito (1918)
Urupês (1918)
Problema vital (1918)
Cidades mortas (1919)
Ideias de Jeca Tatu (1919)
Negrinha (1920)
A onda verde (1921)
O macaco que se fez homem (1923)
Mundo da lua (1923)
Contos escolhidos (1923)
O garimpeiro do Rio das Garças (1924)
O Presidente Negro/O choque (1926)
Mr. Slang e o Brasil (1927)
Ferro (1931)
América (1932)
Na antevéspera (1933)
Contos leves (1935)
O escândalo do petróleo (1936)
Contos pesados (1940)
O espanto das gentes (1941)
Urupês, outros contos e coisas (1943)
A barca de Gleyre (1944)
Zé Brasil (1947)
Prefácios e entrevistas (1947)
Literatura do minarete (1948)
Conferências, artigos e crônicas (1948)
Cartas escolhidas (1948)
Críticas e outras notas (1948)
Cartas de amor (1948)

Influências
    O Gato Félix, clássico da animação, teve um sósia impostor nas histórias do Sítio, Popeye apareceu nos livros de Lobato como um mau sujeito, porque em 1930 o personagem era um marinheiro encrenqueiro e mal-humorado, e só na metade da década de 1930 é que ele mudou de personalidade.
    Lobato ostensivamente revelava, em seus livros, as influências que recebeu diretamente dos autores de obras infantis, desde os fabulistas clássicos, como Esopo e La Fontaine, aos personagens dos desenhos animados que então surgiam nas telas do cinema, como Popeye e sua trupe, o Gato Félix e outros.
   As crianças do Sítio visitavam e eram visitados por todas personagens do imaginário literário, e Peter Pan convivia ao lado de figuras folclóricas, como o Saci, tudo isto permeado pela forte presença de uma característica então comum no meio rural: a tradição oral de "contar histórias" - e quase sempre é assim que Tia Nastácia e Dona Benta introduzem aos leitores, os novos assuntos que dão mote aos livros do autor.
    Dentre os clássico explicitamente citados por Lobato, encontram-se Lewis Carroll, Carlo Collodi (criador do Pinóquio) e J. M. Barrie, além de outros que, presume-se, tenham-no influenciado diretamente, dadas as semelhanças, como L. Frank Baum (de O Mágico de Oz) e Wilhelm Busch.

O Sítio na televisão
    Os livros infantis de Monteiro Lobato foram transformados em cinco séries de televisão de bastante sucesso. A primeira delas, na TV Tupi de São Paulo, foi exibida de 3 de junho de 1952 a 1962, ao vivo, pois não havia ainda o videotape. Foi adaptada pela escritora Tatiana Belinky, sendo a mais fiel ao original de todas as adaptações para a televisão. Nada restando desse programa, exceto algumas fotos, pois seus episódios não eram gravados.
    Em 1957, a TV Tupi do Rio de Janeiro também transmitiu um Programa Sítio do Pica-Pau Amarelo, diferente do programa paulista, pois não havia, na época, transmissão em rede nacional, nem transmissão de imagens via tronco de micro-ondas da Embratel. Participaram do Sítio no Rio de Janeiro: Cláudio Cavalcanti e Daniel Filho.
    A segunda série foi ao ar pela TV Cultura de São Paulo, em 1964. A terceira, pela Rede Bandeirantes, em 12 de dezembro de 1967. A quarta série, exibida na Rede Globo, de 7 de março de 1977 a 31 de janeiro de 1986, é considerada como a de maior repercussão e sucesso. Também na Rede Globo, foi ao ar de 12 de outubro de 2001 até 2 de Dezembro de 2007, a quinta série chamada Sítio do Pica-pau Amarelo.
    Ambas as séries da Globo misturam histórias originais de Monteiro Lobato com textos inspirados em temas atuais.

Monteiro Lobato – Wikipédia, a enciclopédia livre
pt.wikipedia.org/wiki/Monteiro_Lobato

 “CENSURAR MONTEIRO LOBATO É ANALFABETISMO HISTÓRICO”
Entrevista: João Luís Ceccantini
    Estudioso chama de absurda tentativa de proibir livros do autor, acusado de racismo, e diz que crianças sabem absorver o que histórias têm de melhor.
Nathalia Goulart
Monteiro Lobato: depois de “Caçadas de Pedrinho”, “Negrinha” entra na lista de “livros racistas” (Arquivo/VEJA)

    A obra literária de Monteiro Lobato (1882-1948) tem alimentado gerações de crianças e jovens, e não consta que seus leitores tenham formado uma horda racista. Assim mesmo, mais um livro do escritor virou alvo nesta semana da caçada ideológica que tenta enquadrar o criador do Sítio do Pica-Pau Amarelo no crime da racismo. A exemplo do que já fizera com Caçadas de Pedrinho, o Instituto de Advocacia Racial e Ambiental (Iara) quer banir das escolas públicas o livro Negrinha, lançado em 1920. O que incomoda o instituto são passagens como "Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados." A patrulha acusa a obra de trazer "estereótipos e preconceito".
    "Trata-se de analfabetismo histórico", diz João Luís Ceccantini, pesquisador de literatura infanto-juvenil e coautor do livro Monteiro Lobato – Livro a Livro. "Querer censurar ou modificar em algum grau uma obra cultural é um absurdo." Estudioso da assimilação da literatura por crianças, Ceccantini acrescenta uma informação ao debate sobre Lobato que demole de vez os argumentos dos censores, que alegam que as obras de Lobato prejudicam a formação das crianças. "Eu tenho estudado a forma pela qual as crianças absorvem o que leem e minha conclusão é que elas sabem identificar os excessos dos livros. Elas se apegam ao que é bom, à essência das histórias – e, no caso de Lobato, essa essência não é racista." Confira a seguir a entrevista com o pesquisador.

O que o senhor acha da tentativa de banir a obra de Monteiro Lobato das escolas públicas?
Trata-se de analfabetismo histórico, que despreza o tempo em que determinadas obras foram escritas. Querer censurar ou modificar em algum grau uma obra cultural é um absurdo. Deve-se ainda observar outra questão: temos de fato uma educação tão deficitária a ponto de os professores serem incapazes de ajudar os alunos a interpretar passagens que eventualmente façam uso de uma linguagem que já não é mais aceita? Por que não usar esse pretexto para discutir em sala de aula o racismo? É uma grande oportunidade.

O senhor tem um trabalho extenso na área de literatura infantil e acompanha de perto o envolvimento das crianças com a leitura. De que maneira elas são influenciadas pelo que leem? Em primeiro lugar, a ficção não tem esse poder todo que a gente imagina. A transferência dos exemplos não é tão automática assim. Em resumo: o fato de eu ler uma história de ficção não significa que vou sair por aí reproduzindo um comportamento da ficção. Se fosse assim, bastava escrever livros com histórias boas e puras para que construíssemos uma sociedade perfeita. Mesmo com a criança, essa transferência não é automática. Eu tenho estudado a forma pela qual as crianças absorvem o que leem e minha conclusão é que elas sabem identificar os excessos dos livros, elas se apegam ao que é bom, à essência da história – e, no caso de Lobato, essa essência não é racista. As crianças entendem que a passagem "macaca de carvão" não faz discriminação com Tia Nastácia, porque essa não é a essência do livro. Ao contrário do que possa parecer, a criança é seletiva. Mais seletiva do que muitos críticos.

Tia Nastácia é retratada ao longo da obra de Lobato de forma bastante positiva. Não é exagero acusar o autor de racismo nesse caso?
Sem dúvida. Tia Nastácia é tratada de forma muito amorosa em toda a obra de Lobato. Existem milhares de citações afetivas em relação à personagem, que tem uma função crucial na vida dos demais personagens: eles recorrem a ela em busca de conselho, de carinho. Devemos observar ainda que Lobato usa Tia Nastácia como pretexto para criticar a superstição, a religiosidade e o excesso de crença no sobrenatural. Mas não há nenhum traço de ódio racial nessas passagens.

Cartas de Lobato reveladas recentemente mostram a simpatia do autor por teses da eugenia (corrente que defendeu o aperfeiçoamento da espécie por meio da seleção genética e controle da reprodução). Isso deve de alguma foram permear a análise que se faz da obra do autor?
Lobato foi, acima de tudo, um humanista. Ele lutou pela igualdade, pela democracia e não há um só episódio que o ligue a corrupção em alguma esfera. E ele sofreu muito por isso. Decepcionado com os rumos que o país tomava já naquela época, ele foi um crítico ferrenho do Brasil. Em relação às cartas, não podemos esquecer que todos nós somos frutos da época em que vivemos. Os pensamentos que ele exprimiu nos seus textos eram muito comuns naquela época, como a eugenia. Outros escritores que eram celebridades naquele tempo tinham ideias semelhantes, mas eles não sobreviveram ao tempo. Portanto, pintar Monteiro Lobato como racista é um erro.

O senhor já tinha assistido a discussões semelhantes sobre as obras de Lobato?
Nenhuma controvérsia envolvendo Lobato é novidade para mim. Ele era uma figura extremamente complexa, e isso faz dele um alvo fácil. Aconteceu em diversos momentos da história. Não se pode perder de vista que estamos falando de um dos maiores escritores brasileiros: se tivesse escrito em inglês, seria um dos maiores de sua época. Sua literatura infantil é de uma riqueza incomparável. Mas, como eu disse, ele é um fruto de seu tempo, como todo nós, aliás. Se sua obra ajudar a discutir o racismo, então vamos discutir – não censurar.

Há casos semelhantes de tentativas de censura na literatura infantil?
 O caso mais notável é o do autor americano Mark Twain (de cuja obra tentou-se suprimir o termo "nigger", considerado racista em inglês). Mas acredito que tudo isso tem um lado positivo. A literatura costuma circular entre grupos muito pequenos: quando a democracia se fortalece e o nível de letramento da população cresce, temas como esse vêm à tona. O que não pode haver é uma caça às bruxas. Se formos censurar tudo, comecemos por Homero, na Antiguidade: ninguém saíra ileso.

Qual o prejuízo de suprimir palavras ou reescrever trechos de uma obra literária?
Reescrever a história é uma das coisas mais nefastas que pode haver.

Uma das propostas do instituto que tenta proibir a distribuição de Caçadas de Pedrinho é enviar o livro para as escolas com um anexo que aponte as passagens consideradas racistas. O senhor concorda com esse "guia de leitura"?
Se for o preço a pagar para garantir que a obra de Lobato continuará circulando, que coloquem a tal nota explicativa. O problema, contudo, é que assim criaríamos um modelo editorial que supõe que o leitor é bobo e incapaz de chegar a suas próprias conclusões. Não sei em que medida isso é bom. Um dos grandes fascínios da literatura é permitir múltiplas leituras.

Leia mais:
. MEC condena tentativa de censurar obras de Lobato
Caso da proibição a livro de Lobato vai ao STF
Em VEJA de 17/12/2010: Caça à inteligência

. Censurar Monteiro Lobato é analfabetismo histórico - Veja - Abril.com
veja.abril.com.br/.../pintar-monteiro-lobato-como-racista-e-um-equiv...
Escrito por Katia Dutra em 18 abr, 2012

UM ESCRITOR VERSÁTIL
     Formado em Direito, Monteiro Lobato foi promotor público, fazendeiro e empresário. Mas sua grande paixão foi o mundo das letras. A assinatura de Monteiro Lobato está presente em diversos contos, ensaios, livros, reportagens e traduções. Sua versatilidade era uma das características marcantes, assim como o seu engajamento e ceticismo.
    Assim que se formou em Direito, passou a exercer a promotoria pública em Areias, cidade da região do Vale do Paraíba. Sua vida teria a primeira reviravolta em 1911, quando herda a fazenda de seu avô. Assim, passa a se dedicar à coordenação da produção agrícola de suas terras. Aliás, dessa experiência, viria muitas inspirações.
    Em 1914, cansado das constantes queimadas que suas terras estavam sofrendo pelos caboclos, ele escreve uma carta de indignação ao jornal O Estado de S. Paulo intitulada “Velha Praga”. O jornal reconhece a qualidade da carta e publica a carta em sua área editorial. A repercussão foi tanta que Monteiro Lobato foi convidado a escrever mais artigos. Era o início de uma incrível jornada literária e política.
    Com o sucesso de seus artigos e contos, que abordavam diversos temas, Monteiro Lobato tem outra reviravolta. Ele vende sua fazenda e publica seu primeiro livro “Urupês”, que reúne vários textos escritos para o jornal. Em 1918, Lobato adquire a Revista do Brasil, que seria um dos mais importantes veículos para a causa nacionalista da imprensa da época.
Em 1918, Monteiro Lobato percebe algo revolucionário para sua época. O Brasil não tinha nenhuma editora e todos os materiais tinham que ser impressos em Lisboa ou em Paris. Decidido a mudar isso, ele funda a primeira editora brasileira, a “Monteiro Lobato e Cia.”, que mais tarde se tornaria Companhia Editora Nacional (1925).

 O ENGAJAMENTO LITERÁRIO
    Antes de qualquer coisa, é importante saber que Monteiro Lobato considerava-se um cético. Normalmente causava polêmicas por conta de seus ideais e não seguia padrões que não acreditasse. Dava sua opinião abertamente e quando podia criticava situações ou obras que não considerasse relevantes. Isso fez com que ao longo da vida tivesse uma coleção de inimigos.
    Na literatura, Monteiro Lobato é considerado um pré-Modernista. Seu estilo narrativo e sua temática são próximos aos grandes ícones modernistas, dando bastante importância ao homem brasileiro e a nossa cultura. Em 1917, quando Anita Malfatti apresentou suas obras futuristas em uma exposição, ressaltando a influência das vanguardas europeias. Indignado, Monteiro Lobato publica o artigo “Paranoia ou Mistificação”, no qual critica Anita por se deixar seduzir por culturas, formas e ideias extravagantes de “Picasso e Cia”. Na carta, ele ressalta o talento de Anita e a considera uma grande artista quando cumpre vigores estéticos e “leis” de proporção, simetria etc.
Mais tarde, em 1926, ele também faria duras críticas a Oswald de Andrade. Mario de Andrade sai em defesa do amigo e publica um artigo no jornal “A Manhã” decretando a morte de Monteiro Lobato. A situação só seria resolvida na década de 30, quando os três fizeram as pazes publicamente.
    Confusões à parte, Lobato começa  a publicar seus primeiros livros: “Urupês”, “Cidades Mortas” e “Negrinha”. Nessas publicações, é possível verificar o engajamento nacionalista de  Monteiro Lobato. As obras trazem contos com temáticas bastante chocantes para a época, como a violência contra os negros, imigrantes e mulheres, o crescimento sem controle das cidades, o trabalho infantil e a degradação da simplicidade do homem do campo. Foi nessa época que Jeca Tatu, um dos seus maiores personagens, foi apresentado aos leitores. Jeca Tatu foi imortalizado no cinema por Amácio Mazzaropi,  conterrâneo de Monteiro Lobato.

“TALENTO NÃO PEDE PASSAGEM, IMPÕE-SE AO MUNDO” (MONTEIRO LOBATO)
   Monteiro Lobato foi um modernista marginal: sua ligação com os participantes do movimento de 1922 se deu menos no campo das ideias e mais nas lutas concretas. Todavia sua obra traz importantes trações de regionalismo e denúncia da realidade brasileira. O próprio Sítio do Pica-pau Amarelo traz à tona a vida do campo e o personagem de Jeca Tatu revela as dificuldade do homem brasileiro do campo: miséria, a falta de acesso à cultura e a marginalização social.
   Aproximou-se do Partido Comunista Brasileiros, mas não se filiou a ele. Não aceitou uma vaga na Academia Brasileira de Letras nem um posto no governo Vargas. Foi um entusiasmado autor de cartas: sua longa correspondência com Godofredo Rangel está reunida em A barca de Gleyre.

MONTEIRO LOBATO E A LITERATURA INFANTIL
    Monteiro Lobato inventou a moderna literatura infanto-juvenil brasileira e foi seu autor mais importante. Seus personagens ficaram imortalizados na memória de muitas gerações brasileiras e até hoje encantam as crianças. Quem nunca se apaixonou pela esperta boneca Emília com seus ironias e brincadeiras, ou com as peripécias de Narizinho e Pedrinho desvendando os mistérios do sítio de sua avó, a querida Dona Benta; ou ainda, quem nunca quis comer um dos deliciosos quitutes da Tia Anastácia ou fazer uma viagem cultura ao lado do inteligentíssimo Visconde de Sabugosa? Quem nunca quis enfrentar as loucuras da Cuca, encontrar o Saci Pererê ou simplesmente pedir as dicas do Marquês de Rabicó?
    O segredo do sucesso de Monteiro Lobato com os pequeninos está em seus 26 títulos publicados, destinados às crianças. As narrativas traçam um delicioso retrato da vida no interior brasileiro e mesclam imaginação e fantasia com a observação minuciosa do homem do campo. Além disso, há pedagogia em suas narrativas, principalmente com lições de moral, o que, no entanto, não lhes tira o encanto e a simplicidade.
    Escreveu ainda outras incríveis obras infantis, como: A Menina do Nariz Arrebitado, O Saci, Fábulas do Marquês de Rabicó, Aventuras do Príncipe, Noivado de Narizinho, O Pó de Pirlimpimpim, Reinações de Narizinho, As Caçadas de Pedrinho, Emília no País da Gramática, Memórias da Emília, O Poço do Visconde, O Pica-Pau Amarelo e A Chave do Tamanho.

     “O grande erro dessa casta de homens é confundir corrupção com evolução. condenam as formas novas de vida, que se vão determinando em consequência do natural progresso humano, em nome das formas revelhas. logicamente, para eles, o homem é a corrupção do macaco; o automóvel é a corrupção do carro de boi; o telefone é a corrupção do moço de recados”.  (MONTEIRO LOBATO).

O ENGAJAMENTO POLÍTICO
    Entre 1927 e 1931, Monteiro Lobato foi viver novas aventuras em Nova Iorque. Em terras norte-americanas, o escritor foi adido comercial e enfrentou sérios problemas. Ao escrever o livro “O Presidente Negro e o Choque de Raças”, que narra a história de um homem negro que se candidata à Presidência dos EUA, é duramente criticado.
    De volta ao Brasil e com novas ideias, Monteiro Lobato escreve o livro “O escândalo do petróleo” que apoia a valorização das riquezas naturais brasileiras e incentiva a produção de petróleo por aqui. Para isso, o escritor defendia que o governo entregasse à iniciativa privada a extração de petróleo em solo brasileiro. Essa luta por causa do petróleo fez com que Monteiro Lobato criasse uma rixa com o presidente Getúlio Vargas, fosse preso duas vezes, ficasse pobre, doente e desgostoso.
    Para Lobato, a literatura foi sempre um instrumento de transformação do mundo. O governo Vargas recolheu O escândalo do petróleo, balanço de sua participação na política.
O grande gênio Monteiro Lobato nos deixou em 04 de julho de 1948, às 4 horas da madrugada, após sofrer um derrame. Todavia, sua vida se perpetua em cada um de seus personagens, imortalizados em diversas mídias: televisão, cinema, livros, jornais, revistas etc.
SAIBA MAIS
    Atualmente, a cidade natal de Monteiro Lobato, Taubaté, abriga o Sítio do Pica-pau Amarelo. Um dos museus culturais da obra e da vida de Monteiro Lobato, onde as crianças ficam mais perto das fantasias de Emília, Narizinho e Pedrinho:
Em viagem á Aparecida, em 2007, visitamos o sítio de Monteiro Lobato, em Taubaté.
 Monteiro Lobato: o escritor da infância | Blog do PNLD da Editora ...
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A IMPORTÂNCIA DE MONTEIRO LOBATO NA LITERATURA INFANTIL BRASILEIRA
Viviane Maria Forstner Matozzo
Psicopedagoga e professora de Ensino Fundamental

    A Literatura Infantil no Brasil iniciou-se na segunda metade do século XIX. As lendas eram recontadas por pessoas as quais conhecemos por “preto velho”, assim, carinhosamente chamados, são os nossos “contadores de histórias”. Há, também, as histórias do folclore gaúcho, como Negrinho do Pastoreiro, histórias européias como Contos da Carochinha.
    Em 1921, inicia-se a Literatura Infantil no Brasil com a história: “Narizinho Arrebitado”, publicação de Monteiro Lobato, no que diz respeito à técnica literária é um dos mais completos autores da Literatura Infantil.
    Monteiro Lobato criou um universo para a criança enriquecida pelo folclore, buscou o nacionalismo na ação das personagens que refletiam na brasilidade, na linguagem, comportamentos e na relação com a natureza. Um de seus personagens que representa o mesmo ideal dos contadores de história da antiguidade, por exemplo, Visconde de Sabugosa, que é o intelectual contador de histórias.
    Em 1931, Narizinho Arrebitado muda para Reinações de Narizinho – dentro do universo do faz de conta, que Lobato criou. Nos anos 60 e 70 ocorre uma discussão em torno da Literatura Infantil, instituições se preocupam com a leitura e o livro infantil, como a (FNLIJ) – Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, apoiando e agilizando o envolvimento com a leitura.

     Atualmente, as funções da Literatura Infantil no Brasil estendem-se para além da educação formalizada, formar e informar passa a ser o interesse de autores e obras.
      Algumas transformações ocorridas no século XVIII, aliadas às questões educacionais, marcaram algumas acepções sociais voltadas à família, entre elas o namoro, que marca o início da liberdade entre os jovens, entra em cena, então, a figura do pai e da mãe, os quais deviam estar ligados à educação dos filhos, assim, recaia sobre a família a responsabilidade de fazer com que a criança chegasse à idade adulta sadia e com uma boa educação. É neste século que surge a educação para todos, priorizando, assim, a criança.
     Com a valorização da criança surgem textos adaptados a elas, os livros adultos tomam forma de livros infantis. Começa-se a formação de pequenos leitores. Através da leitura literária se poderia adquirir cultura e conhecimento. Foi criado, então, um Tratado de Pedagogia, que assegurava a educação infantil e adulta, desta forma, a educação perde sua inocência e a escola a sua neutralidade.
     Com isso, surge a necessidade de obras que despertassem o interesse das crianças, que lhe chamassem a atenção, na qual pudessem viajar e sonhar, baseadas no mundo do faz-de-contas. A literatura de Lobato cumpre muito bem este papel.
    Além de chamar despertar o interesse da criança através do imaginário, Lobato conscientiza com a sua literatura denunciadora, que envolve fatos políticos-econômicos-sociais. A sua principal obra, “O Sítio do Pica-pau Amarelo”, tem traços de um Lobato indignado com a exploração do Petróleo, logo depois surge o livro “O Poço do Visconde”, que conta a história da descoberta do Petróleo nas terras do Sítio (mundo fictício), que eram terras de sua família. Não podendo se expor, criou as personagens fantásticas, as quais dizem tudo o que ele pensa sobre a descoberta, entre elas Emília, a qual representa a sua voz.
    Sem dúvida, Monteiro Lobato criou uma obra diversificada, com personagens que unificam o universo ficcional. No Sítio do Picapau Amarelo, vivem Dona Benta, Tia Nastácia, Tio Barnabé (personagens adultos) que orientam as crianças (Pedrinho e Narizinho), bem como outras criaturas fantásticas que vivem no sítio, como: Emília, Visconde de Sabugosa, Quindim e Rabicó.
    Lobato também valorizou o folclore nacional, Pedrinho e Narizinho viraram exploradores do universo ficcional, no qual encontram todos os seres fantásticos, o Saci, a Cuca, a Mula-sem-cabeça, a Iara, o Lobisomem, entre outros, que levam os leitores a compreenderem um pouco mais da cultura brasileira. O tempero maior de tudo isso é introduzido com as dúvidas e maluquices de Emilia, a boneca de pano, que, após tomar uma pílula que a fazia falar, virou uma grande tagarela.
    A Literatura Infantil recebe esta denominação quando incorpora o sonho e a magia nas obras, o que Lobato faz com grande competência. No século XIX, principalmente, houve a preocupação em apresentar aos jovens textos considerados adequados à sua educação – foi reelaborado o acervo popular europeu – neste período destacam-se as histórias dos Irmãos Grimm. Assim, a renovação chegou à Literatura Infantil, a qual incorporou um pensamento progressista.
    Atualmente, as obras infantis mudaram muito, muitas tratam de temas polêmicos, como aborto, drogas, sexualidade, mas aonde foi parar a magia e o sonho? Os personagens fantásticos são deixados de lado e seres normais tomam conta das páginas, que antes eram ocupadas pelo Saci e a Cuca, passando mensagens cheias de moral. Lobato e os Irmãos Grimm são trocados pelo lucro editorial, obras que são apenas para dar conta do consumismo e a comercialização, deixando de lado a cultura e imaginação das crianças, as tratando como adultos em miniatura.
    Por isso devemos sair em defesa de um sítio onde tudo acontece, não há o que Dona Benta ignore e muito menos o que Tia Nastácia não faça, e muito menos lugar onde Pedrinho e Narizinho não tenham explorado. Neste sítio temos de tudo: fadas, duendes, anjos, almirantes ingleses e muitos outros personagens que mexem com a imaginação das crianças, e até mesmo dos adultos, pois podemos reviver a mitologia grega e demais épocas de nossa história.
    Monteiro Lobato é, sem sombra de dúvidas, a pai da Literatura Infantil brasileira. Conhecido e famoso por escrever livros nos quais se pudesse morar, por isso criou o sítio. Foi um revolucionário progressista, fundador de inúmeras editoras, jamais deixando de lado os castelos de contos de fadas e o folclore nacional, (re)criando o mundo ao seu redor, a partir de coisas do seu cotidiano, desta forma escreveu mais de quatro mil e seiscentas páginas só de obras infantis.
    Em suma, a obra literária para as crianças é a mesma obra de arte para o adulto. Difere apenas na complexidade de concepção, a obra para as crianças é, a princípio, mais simples em seus recursos, mas não menos valiosa. Assim como há obras literárias simples para adultos, e que são consideradas obras-primas. Essa simplicidade de concepção deve criar a simplicidade de linguagem, na qual a literatura deve ser uma fonte repleta de sensações, emoções, imaginações que tocam a criança a fazendo viajar e sonhar, cumprindo o verdadeiro papel da Literatura.

A importância de Monteiro Lobato na Literatura Infantil Brasileira
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