PRÉ-MODERNISMO: MONTEIRO LOBATO (continuação 2)

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AS HISTÓRIAS DE TRADIÇÃO ORAL NA OBRA INFANTIL DE MONTEIRO LOBATO:
ANÁLISE FOLKMIDIÁTICA EM REINAÇÕES DE NARIZINHO
Rosangela Marçolla

Monteiro Lobato e a fusão do real com o maravilhoso
   Tal como Lewis Carroll fizera com Alice no País das Maravilhas, na Inglaterra de cinquenta anos antes, Monteiro Lobato o fazia no Brasil dos anos 20: fundia o Real e o Maravilhoso em uma única realidade. - Nelly Novaes Coelho
    No início, Monteiro Lobato não utilizou elementos do mundo maravilhoso, as histórias de tradição oral, em sua obra infantil. Às voltas com seu pensamento materialista, baseado nos princípios positivistas, seria difícil compreender a união dessas partes tão distintas.
    Na primeira publicação de A Menina do Narizinho Arrebitado, percebe-se a ausência de liberdade de criação do autor, que limita mais às questões reais, fato que já não ocorre na publicação de Reinações de Narizinho, época em que suas qualidades de escritor estavam bem mais aprimoradas e sua segurança o levou a buscar mais criatividade, definindo seu estilo.
    A leveza que Lobato apresenta em seus livros, como resultado de um longo período como  escritor, é consequência da utilização dos elementos mágicos, imaginários, que conseguem transportar os leitores para o mundo do faz-de-conta.
    Esses elementos a que Lobato recorre já passaram por transformações. Não são mais as histórias de tradição oral retiradas “ao natural” das camadas populares, mas as narrativas aprimoradas, reelaboradas, como fez Perrault e os Irmãos Grimm, cujos textos foram recomendados para as crianças.
    Esse pode ter sido o motivo para que Lobato empregasse os fragmentos do maravilhoso mais abrandados, principalmente porque os seus livros foram encaminhados às crianças pelas mãos de educadores, como parte de ensino formal.
    Para se entender esse maravilhoso na literatura, remete-se aos estudos de Tzvetan Todorov (1975, p. 14), que alude ao assunto afirmando inicialmente que “a literatura é criada a partir da literatura, não a partir da realidade, quer seja esta material ou psíquica; toda obra literária é convencional”.
    Seguindo esse caminho, Monteiro Lobato mostra a sua preocupação ao entrar no mundo das crianças, através da literatura, pois a responsabilidade do escritor seria redobrada ao discutir temas impróprios aos seus leitores, disfarçados por elementos mágicos ou maravilhosos.
    Esse mundo maravilhoso a que Monteiro Lobato busca inserir em sua obra infantil engloba, justamente, as histórias de tradição oral, em forma de contos maravilhosos, contos de fadas, fábulas, lendas e mitos.
    Essa essência contida nessas narrativas está presente em seus livros, a começar pelo primeiro que escreveu para as crianças, que levou mais tarde o nome de Reinações de Narizinho, que servirá como base para o reconhecimento das histórias de tradição oral na produção literária deMonteiro Lobato.

Contos maravilhosos e contos de fadas
    Se não me engano, é esta a tal Boneca -Falante que está famosa no reino das Fadas..- Monteiro Lobato
    Em Monteiro Lobato essa tendência ao maravilhoso pode ser comprovada com alguns trechos de Reinações de Narizinho, exatamente quando Lúcia, a Narizinho, vive o seu conto maravilhoso na história “No Reino das Águas Claras”.
    A personagem deita-se com a sua boneca, Emília, que ainda não fala, fecha os olhos e transporta-se como num sonho para um mundo sob as águas do ribeirão que passa pelo Sítio. Vive a aventura de conhecer um príncipe entre vários outros personagens e sente-se a própria princesa.
    Não se pode afirmar que foi sonho ou que ela foi levada para um mundo maravilhoso. Na primeira versão, de 1921, Monteiro Lobato utiliza-se mais de seus conteúdos racionais e na outra versão, de 1934, que permanece em todas as outras, o autor, mais solto de suas ideologias, reescreve de forma diferente, mais voltado ao maravilhoso do que ao real.
    Pode-se constatar essa alteração através dos seguintes textos:
    ... toda perturbada, ia responder, quando uma voz conhecida   a deslizar como sempre e lá na porteira a tia velha de lenço amarrado na cabeça. Que pena! Tudo aquilo não passara dum lindo sonho...
     ...Mas assim que entrou na sala de baile, rompeu um grande estrondo lá fora – o estrondo duma voz que dizia:
    - Narizinho, vovó está chamando!...
    Tamanho susto causou aquele trovão entre os personagens do reino marinho, que todos sumiram, como por encanto. Sobreveio então uma ventania muito forte, que envolveu a menina e a boneca, arrastando-as do fundo do oceano para a beira do ribeirãozinho do pomar.
    Estavam no sítio de Dona Benta outra vez!
     “E a narrativa prossegue abrindo-se para uma nova ‘aventura’: a anunciada chegada de Pedrinho. Não mais o sonho, mas o real penetrado de magia”, com essas palavras Nelly Novaes Coelho (1991, p. 123-124) mostra a desenvoltura com que Lobato adquire, com o passar do tempo, para escrever suas histórias. Essa evolução, segundo a pesquisadora, leva o leitor a apreciar a obra de Lobato, a partir das mudanças de textos, dando um novo sentido ao seu estilo literário, firmando-se como um grande escritor.
    Os livros que seguiram a primeira experiência literária de 1921 começaram a trazer muitos elementos da literatura fantástica, com a inserção do maravilhoso em seu conteúdo, convivendo naturalmente com o real.
    Enfim, as narrativas maravilhosas decorrem no mundo da magia, da fantasia ou do sonho, onde tudo escapa às limitações ou contingências precárias da vida humana e onde tudo se resolve por meio sobrenaturais. Castelos, palácios, florestas ou bosques encantados; reis e rainhas bons ou maus; princesas belas, venturosas ou infelizes; príncipes heroicos e salvadores; ‘tapetes voadores’; ‘botas de 7 léguas’, ‘lâmpadas maravilhosas’, anões e gigantes... são elementos que povoam esse universo mágico que, desde os primórdios, vêm enchendo de beleza, poesia e sonho o espírito dos homens e das crianças (COELHO, 1991, p. 154).
    Os elementos que compõem o elenco dos contos maravilhosos estão presentes na obra infantil de Monteiro Lobato, dando às crianças a possibilidade de viverem histórias com conteúdos sobrenaturais, mostrados com naturalidade durante as aventuras, o que possibilita um maior envolvimento do leitor com a obra, preocupação do autor-editor, inclusive quando realizou várias alterações em seus livros, com o intuito de deixá-los mais interessantes.
    Como se sabe, a liberdade de Lobato em alterar os seus textos estava subordinada ao fato de ser ele escritor e editor, simultaneamente, o que lhe facilitava o trabalho de publicar os seus livros à medida que os vendessem e mudar, significativamente, as suas histórias quando decidisse.
    Uma outra comparação pode ser feita com base nas primeiras páginas das publicações de Reinações de Narizinho, 1921 e de 1934, com o objetivo de mostrar as diferenças mais e as alterações, feitas pelo próprio autor, para dar mais vida às suas histórias.
    Na publicação do livro Reinações de Narizinho, datada de 1921, começa da seguinte forma:
    Naquela casinha branca – lá muito longe, mora uma triste velha de mais de setenta anos. Coitada! Bem, no fim da vida que está, e trêmula e catacega, sem um só dente na boca – jururu...   
    Todo o mundo tem dó dela:
    - Que tristeza viver sozinha no meio do mato...
   Pois estão enganados. A velha vive feliz e bem contente da vida, graças a uma netinha órfã de pai e mãe, que lá mora des’que nasceu. Menina morena, de olhos pretos como duas jaboticabas – e reinadeira até ali!... Chama-se Lúcia, mas ninguém a trata assim. Tem apelido. Yayá? Nenê? Maricota? Nada disso. Seu apelido é “Narizinho Rebitado”, - não é dizer porque.
   Além de Lúcia, existe na casa a tia Nastácia, uma excelente negra de estimação, e mais a Excelentíssima Senhora Dona Emília, uma boneca de pano, fabricada pela preta e muito feiosa, a pobre, com seus olhos de retrós preto e as sobrancelhas tão lá em cima que é ver uma cara de bruxa.
    Mas apesar disso, Narizinho quer muito bem à Sra. Dona Emília, vive a conversar com ela e nunca se deita sem primeiro acomodá-la numa redinha armada entre dois pés de cadeira.
    Fora esta bruxa de pano, o outro encanto de Narizinho é um ribeirão que passa ao fundo do pomar de águas tão claras que se veem as pedras do fundo e toda a peixaria miúda.
    A partir da publicação de 1934, cuja versão permanece até hoje, salvo atualizações ortográficas, Lobato realiza algumas alterações em seus textos, mostrando a sua intenção de acompanhar a evolução da sociedade e o interesse das crianças pelos seus livros.
    Começa assim:
    Numa casinha branca, lá no sítio do Pica-pau Amarelo, mora uma velha de mais de sessenta anos. Chama-se Dona Benta. Quem passa pela estrada e a vê na varanda, de cestinha de costura ao colo e óculos de ouro ponta do nariz, segue seu caminho pensando:
    - Que tristeza viver assim tão sozinha neste deserto...
   Mas engana-se. Dona Benta é a mais feliz das vovós, porque vive em companhia da mais encantadora das netas – Lúcia, a menina do narizinho arrebitado, ou Narizinho como todos dizem. Narizinho tem sete anos, é morena como jambo, gosta muito de pipoca e já sabe fazer uns bolinhos de polvilho bem gostosos.
    Na casa ainda existem duas pessoas – tia Nastácia, negra de estimação que carregou Lúcia em pequena, e Emília, uma boneca de pano bastante desajeitada de corpo. Emília foi feita por Tia Nastácia, com olhos de retrós preto e sobrancelhas tão lá em cima que é ver uma bruxa.
    Apesar disso Narizinho gosta muito dela; não almoça nem janta sem a ter ao lado, nem se deita sem primeiro acomodá-la numa redinha de dois pés de cadeira.
    Além da boneca, o outro encanto da menina é o ribeirão que passa pelos fundos do pomar. Suas águas muito apressadinhas e mexeriqueiras correm por entre pedras negras de limo, que Lúcia chama as ‘tias Nastácias do rio’.
    A análise comparativa dos primeiros textos publicados no livro Reinações de Narizinho segue os estudos de Nelly Novaes Coelho, que se aprofundou nas pesquisas sobre a literatura infantil, inclusive nas obras de Monteiro Lobato, oferecendo aos pesquisadores posteriores ao seu trabalho, subsídios de muita importância para a evolução do conhecimento científico.
    Em um primeiro momento, percebe-se a presença dos elementos que constituem a estrutura dos gêneros literários infantis, que se classificam em contos, fábulas, lendas e mitos por toda a obra infantil lobatiana.
    O início da história registra o estilo do “era uma vez”, escrito da seguinte forma: “numa casinha branca”, “lá no Sítio do Pica-pau Amarelo”. A ideia do livro corresponde à essência dos contos maravilhosos, remetendo o leitor ao mundo das florestas, bosques que, por sua vez, indica um lugar distante, que não se sabe exatamente a sua localização.
    A pobre velhinha tinha a princípio setenta anos, em sua primeira publicação. Sabe-se que Lobato escreveu vários livros, com histórias independentes, mas que se completavam como um todo.
    Com o desenrolar de novas histórias, que colocavam dona Benta como participante ativa das aventuras das crianças, sua idade teve que ser diminuída dez anos, na publicação de 1934.
    A relação adulto/criança nas obras lobatianas torna-se cada vez mais presente. Dona Benta, a triste velha na concepção das pessoas que a vêem de longe, na verdade é uma pessoa feliz justamente porque cuida de sua neta.
    Com a chegada de seu outro neto, Pedrinho, a avó fica ainda mais feliz e participa de muitas aventuras na companhia dos dois, contradizendo a primeira impressão que, porventura, os leitores pudessem ter dessa personagem. Na publicação de 34, essas impressões sobre a tristeza de dona Benta são bem mais atenuadas, dando um outro ritmo à história.
    A sua felicidade gira em torno das crianças. Adora conviver com os seus netos e com a boneca Emília, pela qual nutre simpatia e acha graça de tudo o que ela fala, por mais bobagem que seja.
    A importância de dona Benta ainda pode ser percebida posteriormente durante toda a obra infantil de Lobato, pois o autor deu a ela o papel de contadora de histórias, que liga as narrativas umas às outras, envolvendo as crianças em muitas aventuras.
    Em comparação com a primeira publicação, a segunda traz os personagens mais próximos de seus leitores, através de adjetivos que mostram afetividade, além de detalhes minuciosos, desenhando características específicas de cada um, como os óculos de ouro de dona Benta, a feiúra de Emília, entre outras.
    A própria boneca Emília, na primeira publicação, tinha uma participação discreta. Não se mostrava importante para a história, mas com o tempo, ganhou forças, inclusive superando Lúcia, tornando-se a personagem mais conhecida no mundo literário infantil.
    Na edição de 21, Lobato retrata o ribeirão com suas águas claras, insinuando que o reino pudesse ser conhecido por todos. Na alteração feita em 34, o ribeirão é mostrado com águas escuras, decorrentes do limo, escurecendo-o e evitando, assim, que o reino pudesse ser visto das margens do rio.
    Como o “Reino das Águas Claras” refere-se a um mundo fantástico, lembrando o cenário dos contos maravilhosos, deve ficar oculto e ser desvendado aos poucos pelos personagens durante a história, transformando-se no centro das atenções onde se desenvolve o enredo.
    Durante os anos que distam de uma obra para outra, Lobato pôde revê-las aos poucos e contemplá-las com alterações substanciais, fato difícil de ser encontrado na literatura brasileira, pois se tratava do trabalho de escritor e de editor, simultaneamente.
    Apesar das mudanças, mostradas através dos textos iniciais de Reinações de Narizinho, publicadas em épocas distintas, a essência das histórias não se alterou em relação aos princípios da literatura oral, estudada neste trabalho. Ao contrário, mesmo nas adaptações televisivas, percebe-se a sua presença como fator de atração das crianças telespectadoras, o que se pode perceber ao longo deste capítulo.
    Essa é a mais rica estória-fábula de Monteiro Lobato, quanto ao seu aspecto fantástico. E não pense que ele fez do livro um porto miraculoso de absurdos e devaneios inócuos; não.
    Sua fantasia é exatamente aquela de que não prescinde a criança, pois é dentro dessa fantasia que ele tão sabiamente transmite verdades eternas, porque são válidas, por estarem na essência humana. E ele sabia que, para intuir as grandes mensagens, tinha de tornar-se criança, para chegar à criança. (...) Sabia manipular seu reino encantado e conciliá-lo com a realidade... (CARVALHO, s.d., p. 245).
    Em Reinações de Narizinho, percebe-se a presença constante dos elementos que compõem a estrutura dos contos clássicos. Em primeiro lugar, surgem, durante toda a história, os efeitos de
metamorfose, o encantamento dos seres, o que leva o leitor a entrar no mundo fantástico, vivendo os enredos maravilhosos.
    A metamorfose trata-se da transformação dos seres, como pessoas comuns, pobres, ricas, príncipes, princesas, encantadas sempre por um ente maléfico, uma bruxa, em animais, para cumprir um destino.
    Na obra de Lobato, a história da dona Aranha (p. 17) é um exemplo de metamorfose que ocorre com frequência nas histórias, provenientes da tradição oral:
    ...quando nasci, uma fada rabugenta, que detestava minha pobre mãe, virou-me em aranha, condenando-me a viver de costuras a vida inteira. No mesmo instante, porém, uma fada boa surgiu, e me deu esse espelho com estas palavras: ‘No dia em que fizeres o vestido mais lindo do mundo, deixarás de ser aranha e serás o que quiseres.’
    Sem dúvida, o vestido mais lindo do mundo seria o de Narizinho, feito exclusivamente para o seu casamento com o Príncipe Escamado. A inserção desses elementos clássicos às histórias criadas por Lobato, enriquecem a obra com uma mistura de real e maravilhoso, mostrando a convivência de crianças com as fadas, as bruxas, etc.
    A presença da metamorfose auxilia na construção do enredo, pois são os elementos maravilhosos que fazem a história ficar na memória das crianças. Para entender melhor esses elementos, Nelly Novaes Coelho (1991, p. 159) explica:
      a transformação dos seres e das coisas, sem dúvida, está ligada à idéia de evolução da humanidade e do universo, e deve ter preocupado o homem desde os primórdios, pois aparece nas mais antigas fontes das narrativas que se conhecem. Liga-se, talvez, a antigas crenças de que todos os seres anormais ou disformes (formas humanas misturadas a formas animais, seres fabulosos) possuíam altos poderes de interferência na vida dos homens.
    Nota-se ainda que, normalmente, são as mulheres que conseguem desencantar os
encantados.
    Os talismãs, também, fazem parte dos elementos que compõem os contos universais. Conhecidos como objetos mágicos são presenças constantes das histórias imaginativas: as três gotas de sangue no lenço, com o significado da mãe dar proteção à filha; o espelho mágico, a vara de condão, o peixe encantado, etc.
    Nos livros infantis de Monteiro Lobato há o famoso pó de pirlimpimpim, que conduz os personagens, transportando-os para muitas aventuras, em lugares e tempos diferentes, como em um sonho. Além desses objetos, há, ainda, os seres especiais que interferem no destino dos personagens, como os anões, os gnomos, os duendes, as aves encantadas, entre outros.
    Faz parte do maravilhoso a maneira instantânea, o ‘passe de mágica’ que soluciona os problemas mais difíceis ou satisfaz os desejos mais impossíveis. Tais soluções atendem, sem dúvida, a uma aspiração profunda da alma humana: resolver, de maneira mágica ou por um golpe de sorte, os problemas insuperáveis ou conquistar algo aparentemente inalcançável (COELHO, 1992, p. 159-160).
     “Viveram felizes para sempre” também é o final conhecido em todos os contos clássicos. A imagem da felicidade proveniente do casamento, significa, na verdade, “a harmonia entre Consciente e Inconsciente...”(CARVALHO, s.d., p. 92).
    A figura simbólica dos personagens possui um forte significado nas histórias de tradição oral. Só para exemplificar, os casamentos de Emília com o Marquês de Rabicó (futuro príncipe) e Narizinho com o Príncipe Escamado (príncipe e rei do “Reino das Águas Claras”) convém salientar esses significados, segundo CARVALHO (s.d., p. 92):
     A princesa é o inconsciente amoroso; todas as suas potencialidades estão adormecidas, para serem despertadas pelo amor. O príncipe simboliza o consciente: jovem, idealista, apaixonado; empreendedor e ativo, é, portanto, símbolo da força vital, do consciente impulsivo; pronto a viver, a lutar por sua amada. Enfrentando obstáculos e empunhando armas, para merecê-la. Enquanto a princesa, quase criança ainda, é apenas a virgem casadeira, a herdeira, a quem cabe a responsabilidade da perpetuação do trono, para assegurar a continuidade da hierarquia, garantindo a paz e a segurança.
    Na verdade, essa situação não é o que ocorre nas histórias infantis de Lobato. Há a busca do casamento e a sua importância para os personagens mudarem as suas condições naturais da qual pertencem. Mas o significado de príncipes e princesas, principalmente Narizinho e Emília, não é o mesmo dos contos de fadas.
    As personagens de Lobato não vão assumir o papel clássico dessas princesas, pois não se casam por amor, não são adultas, são apenas crianças (inclusive a boneca) procurando aventuras. Os príncipes também não são exemplos de homens altivos (nem homens são), pois referem-se a um peixe e a um porco! Casamentos impossíveis, que se inserem no mundo do irreal, do fantástico.
    Qualquer sacrifício seria válido para alcançar o seu objetivo de tornar-se princesa, o sonho de todas as meninas, incutido pelos ideais das histórias de tradição oral.
    Nota-se neste trecho do livro, a vontade se de casar com um príncipe: “... Emília ficou pensativa. Ser princesa era o seu sonho dourado e se para ser princesa fosse preciso casar-se com o fogão ou a lata de lixo, ela o faria sem vacilar um momento...” (p. 47).
    Faz parte do mundo do faz-de-conta a escolha de determinados números. O três e o sete são os preferidos das histórias clássicas. Basta lembrar dos três porquinhos, dos sete anões, entre outros.
   No Sítio, os personagens principais também são sete: Dona Benta, Tia Nastácia, Tio Barnabé, Narizinho, Pedrinho, Emília e Visconde de Sabugosa, além dos três animais que falam: o rinoceronte Quindim, o porco Marquês de Rabicó e Conselheiro, o burro falante.
    A repetição dos números (principalmente 3 e 7) nas estórias maravilhosas é bastante notória. Obviamente estarão ligados à simbologia esotérica dos números que tanta influência tem nas Religiões e Filosofias antigas. É essa, com certeza, uma área excelente para estudos ligados a um conhecimento mais profundo das narrativas primordiais, hoje transformadas em folclóricas ou infantis (COELHO, 1991, p. 160).
    Os contos de fadas diferem dos contos maravilhosos justamente pela presença das fadas, criaturas prontas para ajudar o seu escolhido. Monteiro Lobato conhecia histórias e mais histórias clássicas de fadas e, sabendo que as pessoas têm atração por elas, não as deixou fora de seus livros.
    Se há personagem que apesar dos séculos e da mudança de costumes continua mantendo seu poder de atração sobre homens e crianças, essa é a fada. Pertence à área dos mitos, a Fada ocupa um lugar privilegiado na estrutura vital que neles é representada: encarna a possível realização dos sonhos ou ideais, inerentes à condição humana (COELHO, 1991, p. 155).
    O destino como sinônimo de fado, remete à idéia contida nos contos de fadas. Nas histórias de Monteiro Lobato esses destinos estavam submetidos à ordem dos acontecimentos, sempre com a
presença do imponderável.
    Nas viagens de que os personagens participam, sempre há o inesperado, algo que pode acontecer e mudar o enredo, inclusive com a presença de pequenos animais falantes, de seres mágicos, etc.
    A visita das fadas no Sítio era uma constante. Não só frequente, como também fato comum, que poderia acontecer em qualquer lugar. Bastava Narizinho, Pedrinho e Emília organizarem uma festa e enviarem convites que todas as famosas deusas das histórias clássicas apareceriam.
    Os personagens do mundo do faz-de-conta que visitam o Sítio, cujos convites foram enviados por Narizinho, por meio de um beija-flor, que disse que sabia ler, chegam de longe: Cinderela, Branca de Neve, Pequeno Polegar, Capinha Vermelha, Ali Babá, Gato de Botas, Peter Pan, Rosa Vermelha e Rosa Branca e até o Barba Azul.
    Histórias resgatadas do povo e recontadas por Charles Perrault e pelos Irmãos Grimm, além das personagens criadas por Andersen, como o Soldadinho de Chumbo, o Patinho Feio, Hansel e Gretel, os famosos João e Maria. Até Xeerazade (sic) das Mil e Uma Noites também foi à festa!
    Um fato interessante é a posição que Monteiro Lobato coloca os personagens de suas histórias. Emília é a boneca mais conhecida no reino das Fadas. Em uma das visitas de Cinderela ao Sítio do Pica-pau Amarelo, ao pegar Emília em seu colo, diz: “já a conheço de fama!” (p. 91).
    Narizinho também é muito famosa no reino dos contos. Todos os personagens das histórias clássicas também a conhecem.
     Dona Carochinha, a famosa baratinha dos livros infantis, em conversa com Narizinho (p. 14), ao reclamar da fuga de seus personagens que já não suportam mais ficar guardados em livros velhos e empoeirados, imputa a ela a culpa de tamanha revolta:
    Tudo isso – continuou dona Carochinha – por causa do Pinóquio, do Gato Félix e sobretudo de uma tal menina do narizinho arrebitado que todos desejam muito conhecer. Ando até desconfiada que foi essa diabinha quem desencaminhou Polegar, aconselhando-o a fugir.
    O coração de Narizinho bateu apressado.
     - Mas a senhora conhece essa tal menina? – perguntou, tapando a nariz com medo de ser reconhecida.
    - Não a conheço – respondeu a velha – mas sei que mora numa casinha branca, em companhia de duas velhas corocas...
    É realmente muito interessante a importância que Monteiro Lobato dá a seus personagens, igualando-os aos mais famosos do mundo clássico das histórias infantis, imortalizados, mas vivos apesar dos tempos.
    Em diálogos marcantes de seu livro, Lobato traz dona Carochinha e suas famosas histórias, dos tempos remotos, com um forte sentido de crítica. Ao falar dela, mostra o sentimento de repúdio que tinha das histórias antigas, mal traduzidas para a língua portuguesa, sem nenhum conteúdo que despertasse o interesse das crianças, o que se pode observar com este trecho do livro (p. 13):
    - Quem é esta velha? – perguntou a menina ao ouvido do príncipe. Parece que a conheço...
    - Com certeza, pois não há menina que não conheça a célebre dona Carochinha das histórias, a baratinha mais famosa do mundo...
    A falta de histórias novas e criativas era uma das questões mais discutidas por Lobato, mesmo antes de começar a escrever para as crianças. Dizia ele, em carta a Godofredo Rangel, escrita em 1921, que “a desgraça da maior parte dos livros é sempre o excesso de ‘literatura’ ” (s.d, p. 419).
    Esse excesso a que Lobato se referia era justamente o exagero das expressões vernaculares, a dramatização das histórias, escritas com linguajar arcaico e pouco compreensível pelas crianças, o
que denotava, na época, o parco conhecimento do seu público infantil.
    Ao falar das histórias de dona Carochinha, antigas e com pouco significado, porque eram traduzidas “ao pé da letra”, sem a busca de adequação à língua, Lobato apresenta essas críticas, mostrando a revolta dos personagens, levando ao exagero, pois nem eles se suportam mais, guardados nos velhos livros.
    Em busca do paradeiro do Pequeno Polegar, dona Carochinha, em conversa com Narizinho e o Príncipe Escamado (p. 13), confessa a sua angústia:
    - Não sei – respondeu dona Carochinha – mas tenho notado que muitos dos personagens das minhas histórias já andam aborrecidos de viverem toda a vida presos dentro delas. Querem novidade. Falam em correr mundo a fim de se meterem em novas aventuras.
    Aladino queixa-se de que sua lâmpada maravilhosa está enferrujando. A Bela Adormecida tem vontade de espetar o dedo noutra roca para dormir outros cem anos. O Gato de Botas brigou com o marquês de Carabás e quer ir para os Estados Unidos visitar o Gato Félix.
    Branca de Neve vive falando em tingir os cabelos de preto e botar ruge na cara. Andam todos revoltados, dando-me um trabalhão para contê-los. Mas o pior é que ameaçam fugir, e o Pequeno Polegar já deu o exemplo.
    Monteiro Lobato criou um mundo especial para suas histórias. Apesar dos personagens estarem ambientados em um sítio, era a partir dele que as histórias irreais aconteciam. O local era apenas um pretexto para as inúmeras aventuras.
    Nesse Sítio há a forte presença dos contos maravilhosos e dos contos de fadas, em todas as suas formas, através das aventuras dos personagens. Com o uso do pó de pirlimpimpim, um elemento mágico, muitas histórias se desenrolam em lugares distantes, além de muitas outras histórias também acontecerem no próprio sítio, por meio da visita de personagens famosos das histórias de tradição oral.
    Os animais vivem muitas ações nesse mundo do faz-de-conta. Formigas com seus reinos, que dão verdadeira lição de civilização, mostram um modelo de governo ideal, através dos diálogos dos personagens de Reinações de Narizinho. Abelhas, besouros e uma infinidade de insetos que falam e ajudam a compor o cenário das histórias de Lobato.

Fábulas
    Sirvo-me de animais para instruir os homens. La Fontaine
    Monteiro Lobato era um homem de muitas idéias. Concepções novas para ideias velhas, entre reformulações de muitos pensamentos ultrapassados. Um homem de visão intelectual, como era, não permitiria que a lição de moral, em forma literária de fábula, como norma de comportamento, fizesse parte de sua obra infantil.
    O que fez, então, foi utilizar os personagens do Sítio para mostrar as fábulas e, principalmente, através da fala de Emília, contestar a sua moralidade para os leitores de suas histórias.
    O encontro dos personagens com La Fontaine no “País das Fábulas”, também chamado de “Terra dos Animais Falantes”, por meio do uso do pó de pirlimpimpim, leva o leitor a conhecer a essência dessas histórias (p. 130):
    - Mas será mesmo que os animais desta terra são falantes, ou faz de conta que falam? – perguntou Narizinho.
    - Falam pelos cotovelos! – respondeu Peninha. Falam para que possa haver fábulas...
    La Fontaine ganha vida, nesta história, ao mostrá-lo escrevendo as suas fábulas, como se elas estivessem sendo escritas como retrato fiel da natureza. Os animais, já muito falantes, neste reino, apenas alimentavam os diálogos que o escritor, atentamente, colocava no papel. Observando esta passagem, percebe-se a atuação dos animais nas fábulas, na versão de Lobato (p. 131):
    - É o lobo! – cochichou Peninha. Vai devorar o cordeirinho da fábula.
    - Que judiação! – exclamou a menina com dó. Não deixe, Pedrinho. Jogue uma pedra nele.
    - Psiu! – fez Peninha. Não atrapalhem a fábula. O senhor de La Fontaine lá está, de lápis na mão, tomando notas.
    Monteiro Lobato, apesar de mostrar que as fábulas são histórias vivas, que fazem parte do conhecimento humano, repletas de lição de moral e normas de comportamento, ensinadas às crianças como princípios de conduta a serem seguidos, não alterou seus conteúdos, preservando-os pelas mãos de famosos fabulistas.
    Mais um encontro no “País das Fábulas”: Esopo e La Fontaine, que os apresentou às crianças, dizendo ser ele o precursor das fábulas no mundo. Os maiores escritores de fábulas, que viveram em épocas tão distantes, estavam um ao lado do outro, conversando e, como se não bastasse, discutindo a origem das fábulas!
    Desse mundo encantado, surge mais um morador do Sítio, o Burro Falante, um burro que foge de uma fábula, onde é acusado injustamente de disseminar uma peste no reino dos animais e vai com as crianças participar de outras aventuras.
     Monteiro Lobato não inseriu animais, com suas características primordiais, em sua obra infantil, a fim de discutir o comportamento humano. Usou animais sem essas características conotativas: o burro é um animal que participa das histórias fantásticas; o Marquês de Rabicó é um porco, que só causa confusões e gosta muito de comer e o rinoceronte Quindim é um animal que domina a língua portuguesa (talvez uma referência ao seu antigo professor de português, o Dr. Quirino, e ao fato de ter sido reprovado nessa matéria).
     Devemos ressaltar, ainda, outro aspecto interessante na adaptação da fábula por Monteiro
Lobato. Como Dona Benta conta as histórias às crianças e estas têm liberdade de opinião, as atitudes dos insetos são questionadas pelas personagens e aí, justamente nessa recepção crítica, reside o fator de maior responsabilidade pelo caráter emancipador da narrativa lobatiana... (MARTHA, 2001, p. 7)
    O autor mostra um novo sentido às fábulas, criticando o seu conteúdo cheio de moralidade, levando o leitor a questionar o final das histórias, como no caso da formiga e da cigarra, que morre por ser uma “artista” e viver cantando e alegrando as laboriosas formigas que preparam seus alimentos para os dias de inverno.
    Apesar da história da formiga e da cigarra não ter seu enredo alterado por Lobato (no final a cigarra também morre), pelo menos deu às crianças a oportunidade para discutir os relacionamentos humanos, inserindo uma formiga boa que ficou constrangida com a situação da cigarra, ao invés da dureza mostrada pela formiga má que bate a porta diante da cigarra, permitindo que ele morresse de frio, sem tempo de pedir ajuda.
    Lobato, que carregou em suas produções literárias, uma certa ideologia cientificista, não teria ficado ausente das conquistas da Ciência e dos avanços da Zoologia que havia descoberto, por exemplo, que a cigarra “canta” por natureza.
    Durante vinte séculos a humanidade viveu celebrando a morte da inútil cantora. Um belo dia surge o naturalista Fabre, apaixonado por essas pequenas criaturas. Descobre que, na seca, a cigarra fura as cascas das árvores, e enquanto as suga e se alimenta, canta. Depois são numerosos os sedentos que descobrem a fonte. Primeiro se aproveitam só da gota que escorreu; depois vão à fonte: vespas, moscas e sobretudo formigas... Estas caminham sob a cigarra, que se ergue nas patas e deixa passagem livre às inoportunas (GÓES, 1984, p. 147-148).
    Ao resgatar as fábulas, Monteiro Lobato modernizou seus conceitos, não alterando sua essência, mas permitindo ao leitor, com a ajuda dos personagens do Sítio, que questionassem seu aspecto moral.
    Dentre as formas literárias das histórias de tradição oral, as fábulas estão presentes, juntamente com os contos maravilhosos e os contos de fadas, dando vida à obra de Monteiro Lobato, assim como as lendas e os mitos, que agora serão analisados.

Lendas e Mitos
    ... e lá se vão Pedrinho e Narizinho, para a caçada do Saci. E Pedrinho pega o Saci!... - Bárbara Vasconcelos de Carvalho
    As lendas têm origem no povo de determinada região e são amplamente estudadas pelo folclore. E, para definir folclore, recorre-se aos conhecimentos de dona Benta que, com sua sabedoria de livros, define no livro Histórias de Tia Nastácia:
    - Emilinha do coração – disse ele – faça-me o maravilhoso favor de ir perguntar à vovó que coisa significa a palavra folclore, sim teteia?
    Emília foi e voltou com a resposta.
    - Dona Benta disse que folk quer dizer gente, povo; e lore quer dizer sabedoria, ciência. Folclore são as coisas que o povo sabe por boca, de um contar para o outro, de pais a filhos – os contos, as histórias, as anedotas, as superstições, as bobagens, a sabedoria popular, etc e tal. Por que pergunta isso, Pedrinho?
    - Uma ideia que eu tive. Tia Nastácia é o povo. Tudo o que o povo sabe e vai contando de um para o outro, ela deve saber. Estou com o plano de espremer tia Nastácia para tirar o leite do folclore que há nela.
    Emília arregalou os olhos.
    - Não está má a ideia, não, Pedrinho! Às vezes, a gente tem uma coisa muito interessante em casa e nem percebe.
    - As negras velhas – disse Pedrinho – são sempre muito sabidas. Mamãe conta de uma que era um verdadeiro dicionário de histórias folclóricas, uma de nome Esméria, que foi escrava de meu avô. Todas as noites ela sentava-se na varanda e desfiava histórias e mais histórias. Quem sabe se tia Nastácia não é uma segunda tia Esméria?
     As lendas e os mitos brasileiros estão retratados, na obra de Monteiro Lobato, através dos personagens tia Nastácia e tio Barnabé, ambos com características populares. A cozinheira e ex-escrava é a conhecedora de todas as histórias de tradição popular, provenientes da região onde vivia, assim como o ex-escravo, que é “especialista” em mitos como saci-pererê, entre outros que habitam as matas.
    Lembra Luís da Câmara Cascudo que o português emigrava para o Brasil “com seu mundo de memória”. O mesmo ocorria com o negro escravo. Estas duas correntes culturais, juntamente com a indígena local, criariam um processo de interação que marcou a paisagem. À literatura impressa este fenômeno não foi estranho, resultando daí o aproveitamento, na temática infantil, dos valores recolhidos da tradição oral (ARROYO, 1990, p. 63).
    Monteiro Lobato, quando criança, viveu certas experiências na fazenda de seu avô, que parecem ter sido inesquecíveis e muito bem resgatadas ao escrever o Sítio do Picapau Amarelo. Saía para pescar e para caçar e, durante o caminho, sentia medo dos lugares mais ermos e imaginava seus mitos, vivendo lendas contadas pela criada, negra, que também sabia contar muitas histórias, que foram parar em seus livros.
    E para contar as lendas do nosso folclore? ... Lobato nada esqueceu. É lógico que seriam necessárias personagens que o fizessem com alma, com expressão vivida e sentida. Aí está tia Nastácia, com suas estórias de negra velha, e, perto, do ribeirão, onde os meninos iam pescar lambaris, está o tio Barnabé, negro velho sabido, ‘que entende de todas as feitiçarias’. E as lendas se sucedem. Tia Nastácia faz serão, com os mitos de ‘lobisomem’, ‘mula-sem-cabeça’, ‘negrinho do pastoreio’ e muitas outras. Eram eles próprios a representação humana do folclore (CARVALHO, s.d., p. 236).
    Em Reinações de Narizinho, as lendas e os mitos não aparecem ainda. Foi a primeiro livro infantil de Monteiro Lobato e ele só inseriu as figuras folclóricas em outras obras que compõem o Sítio do Pica-pau Amarelo.
    Nas adaptações feitas para a televisão, esses elementos assumem uma importância maior, desde o primeiro episódio. O Saci e a Cuca, primos na trama, aparecem em muitas aventuras e situações vividas pelas personagens.
    Ao criar o Saci, Lobato aproveitou o seu trabalho feito anteriormente, através de uma pesquisa realizada pelo jornal O Estado de S. Paulo, que deu origem ao livro, Saci: resultados de um inquérito, feito para leitores adultos.
    Resolveu, tempos depois, levar ao conhecimento das crianças a figura mitológica do Saci, através das lendas contadas pelos negros do Sítio do Pica-pau Amarelo, tia Nastácia e tio Barnabé. Nas histórias de Lobato, o Saci vira personagem e participa do enredo: “agora é o próprio Saci que vai revelar a Pedrinho os segredos da mata e seus extraordinários mitos, numa encantada camaradagem...” (CARVALHO, 1989, p. 164).
    O Saci, na definição do folclorista Luís da Câmara Cascudo (s.d., p. 794), tem o seguinte significado:
    Saci-Pererê, entidade maléfica em muitas, graciosa e zombeteira noutras oportunidades, comuns nos Estados do Sul. Pequeno negrinho, com uma só perna, carapuça vermelha na cabeça, que o faz encantado, ágil, astuto, amigo de fumar cachimbo, de entrançar as crinas dos animais, depois de extenuá-los em correrias, durante a noite, anuncia-se pelo assobio persistente e misterioso, inlocalizável e assombrador...
    A lenda do Saci teria surgido em fins do século XVIII, no período de escravidão. As criadas negras e os caboclos contavam as travessuras desse mito, com o intuito de assustar as crianças e evitar que elas adentrassem na mata e se perdessem.
    Monteiro Lobato tinha uma idéia própria do Saci, não que tivesse conhecido ou visto algum, na época de infância, como se poderia pensar, tendo em vista a propriedade com que escreveu sobre o assunto. Disse o escritor ao seu amigo Rangel (s.d., p. 344):
    Minha ideia de menino, segundo ouvi das negras da fazenda de meu pai, é que o saci temolhos  vermelhos como, como os dos beberrões; e que faz mais molecagens do que maldades; monta e dispara os cavalos à noite; chupa-lhes o sangue e embaraça-lhes a crina.
    Consulte os negros velhos daí, porque já notei que os negros têm melhores olhos que os brancos. Enxergam muito mais coisas.
    No caso da Cuca, trata-se de um mito folclórico que habita o imaginário das pessoas desde a sua infância, o que se nota na cantiga popular “Dorme, nenê, que a Cuca vem pegar...”. Sua definição, segundo Câmara Cascudo (s.d., p. 324) , seria a de “papão feminino, fantasma informe, ente vago, ameaçador, devorando as crianças...”.
    Monteiro Lobato insere essas figuras lendárias, que compõem a mitologia com os elementos da cultura brasileira, misturadas à cultura das histórias clássicas. Essa valorização nacionalista é precursora do modernismo brasileiro, que vem justamente preconizando esses ideais.
    O nacionalismo já era uma preocupação de Monteiro Lobato em sua produção literária e jornalística, assim como um ideal político e social, em prol da população e da solução de seus problemas.
    Essa atitude de trazer os elementos da cultura brasileira para os seus livros infantis tinha, com certeza, a nítida intenção de oferecer às crianças subsídios para a sua formação de cidadania.
    O aproveitamento da tradição popular, de transmissão originalmente oral e vinculada às populações dependentes da economia agrícola, vem sendo uma constante da literatura infantil desde seu aparecimento na Europa dos séculos XVIII e XIX. No Brasil, não acontece essa apropriação direta do material folclórico, e sim o recurso ao acervo europeu, quando este já tinha assumido a condição de literatura para crianças (LAJOLO; ZILBERMAN, 1985, p. 68).
     Não só de mitos nacionais compõe-se a obra infantil de Monteiro Lobato. Ele juntou a esses, os mitos clássicos. Hércules, por exemplo, é um herói que protagoniza um livro, Os Doze Trabalhos de Hércules, mostrando aos leitores os seus feitos, mitos lendários, retratados em tempos passados e numa cultura distante.
     Unindo as histórias clássicas, contadas pelo mundo todo, em suas versões diferentes, com as de conteúdo nacional, alteradas pelas negras contadoras de histórias, numa espécie de hibridismo cultural, Monteiro Lobato cria um universo mágico, destinado às crianças, chamado de Sítio do Pica-pau Amarelo

As histórias de tradição oral continuam...
   O Sítio do Pica-pau Amarelo é o local onde se desenrolam os feitos maravilhosos, para onde voltam as suas personagens e para onde vêm as personagens de todas as outras estórias de todas as outras partes do Mundo. - Bárbara Vasconcelos de Carvalho
    As histórias de tradição oral continuam a sua viagem, hoje mais vivas do que nunca, graças ao trabalho de Monteiro Lobato, que soube imortalizá-las e guardá-las dentro de um mundo mágico que ele criou.
   Ela (a obra de Lobato) percorre a seguinte trajetória: a realidade como premissa, a fantasia como meio, a verdade como fim, para atingir o bem supremo, que é a liberdade. Observa-se, ainda, que Lobato não se utilizou dos símbolos míticos: eles povoam sua obra paralelamente, através dos velhos contos de Fadas que transitam pelo “Sítio” e que ocasionam a superposição de dois planos discursivos, onde se desenvolvem duas narrativas paralelas: a obra em si e a que se movimenta dentro dela, fluindo ambas como duas correntes sobre o mesmo leito (CARVALHO, 1989, p. 139-140).
    Através dos personagens que “moram” no Sítio do Picapau Amarelo, que participam de todas as aventuras de Reinações de Narizinho, as histórias de tradição oral estão atuais, quer seja em seus livros, quer nas adaptações feitas para a televisão ou outro meio de comunicação de massa, que resgata as narrativas preservadas pela folkcomunicação e as divulga, através da folkmídia.
     A produção literária de Monteiro Lobato foi decisiva para a continuidade das histórias de tradição oral. Com um trabalho semelhante a de um ourives, soube lapidar essas narrativas, transformando-as e adaptando de acordo com o gosto de seu público infantil.
    Eliminou o caráter instrutivo das fábulas, condenando a “moral da história”, que implicava
em condicionar o comportamento infantil. Inseriu a fantasia dos contos maravilhosos para dar vida às aventuras, levando todos para o mundo do faz-de-conta. Trouxe as fadas para o Sítio, como velhas conhecidas das crianças.
    Uniu as narrativas clássicas, que circulavam em todo o mundo, ao seu trabalho de criação literária. Esse resgate das histórias de tradição oral fez de Monteiro Lobato um agente dentro do processo folkmidiático, um contador e recontador de histórias de muitas gerações.

As histórias de tradição oral na obra infantil de Monteiro Lobato ...
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MONTEIRO LOBATO E A EDUCAÇÃO: O IDEÁRIO PEDAGÓGICO EXPRESSO NA PERSONAGEM DONA BENTA
Laís Pacifico Martineli – UEM
Maria Cristina Gomes Machado - UEM

RESUMO: O trabalho considera que a literatura brasileira, como fonte de pesquisa, tem recursos infindáveis que possibilitam a apreensão do contexto cultural, social e político nos quais as obras são criadas, bem como é possível estudar as suas implicações na educação. Objetiva-se analisar o ideário pedagógico subjacente às ações de cunho educacional da personagem Dona Benta, em particular nos livros: História do mundo para as crianças, publicado em 1933, Geografia de Dona Benta, publicado em 1935, e Serões de Dona Benta, publicado em 1937. A análise evidenciou alguns aspectos sociais, políticos, culturais e educacionais do período da produção da obra, que subsidiaram a compreensão do pensamento de Monteiro Lobato acerca da educação e de uma tendência pedagógica. Os resultados possibilitam afirmar que a literatura infantil de Monteiro Lobato se aproxima da concepção pedagógica escolanovista, sobretudo, no que diz respeito às ações educativas de Dona Benta.
Palavras-chave: Monteiro Lobato; Educação; Ideário Pedagógico.

INTRODUÇÃO
    O estudo tem como objetivo analisar a literatura infantil de José Bento Monteiro Lobato (1882-1948) e a concepção pedagógica subjacente aos seus escritos, especialmente, nos livros Histórias do mundo para as crianças (1933), Geografia de Dona Benta (1935) e Serões de Dona Benta (1937), por meio das ações educativas de Dona Benta. Buscamos explicitar os elementos socioeconômicos, políticos e culturais presentes no contexto da criação da obra Sítio do Pica-Pau Amarelo, em particular nos livros selecionados, identificar nas ações de cunho educacional de Dona Benta o ideário pedagógico subjacente, bem como, suas características, elencando-as. Deste modo, enfatizamos em analisar a existência de relações entre as ações educativas da personagem Dona Benta com as discussões educacionais do período e com o modelo pedagógico escolanovista, presente no pensamento dos intelectuais do período como Anísio Teixeira (1900-1971), Fernando de Azevedo (1894-1974), entre outros.
    Monteiro Lobato é um dos mais importantes escritores brasileiros do século XX, tendo uma vasta produção literária composta por livros, poemas, contos, crônicas e artigos. A coleção Sítio do Pica-Pau Amarelo, escrita entre os anos de 1920-1944, composta de 15 volumes, foi a obra de maior repercussão do autor e era direcionada ao público infantil.
    Além de escritor, Lobato exercia atividade editorial expressiva no período, por meio da Companhia Editora Nacional e Editora Brasiliense (KOSHIYAMA, 1982). Por elas foram publicados muitos de seus livros. Lobato considerava que a qualidade gráfica dos livros era muito importante e, por isso atribuía a ela um fator primordial. A aparência do produto, sua capa e qualidade, eram indispensáveis para atrair a atenção dos leitores.
    A intensa e notável atividade literária e editorial de Monteiro Lobato somava-se a um profundo engajamento social e político em seu tempo, especialmente, a partir dos anos de 1920, momento em que a República estava fortalecendo as suas bases. Embora a velha estrutura rural ainda fosse muito presente, o Brasil buscava a sua modernização. Emergiu o nacionalismo que se manifestou na arte, na literatura, na educação, enfim, disseminou-se pelo país nos mais diversos âmbitos. Lobato promoveu campanhas pela saúde, defesa do meio-ambiente, reforma agrária e petróleo. Isso fica expresso em suas obras, como por exemplo, O escândalo do Petróleo (1936), e nas características de seus personagens, como o Jeca Tatu.
    A vida e a obra deste célebre intelectual brasileiro é objeto de estudos e pesquisas, materializados em forma de livros, artigos de natureza científica, teses, dissertações, ensaios. O pensamento de Lobato gerou e prossegue gerando polêmicas das mais diversas ordens sejam no âmbito das suas concepções políticas (SANTOS, 2008), sociais (SOUZA, 2008), étnico-raciais (LAJOLO, 1998), seja de seu pensamento sobre a educação e a pedagogia (MACHADO, 1993; LAJOLO, 2000, entre outros).
    No que se refere às questões educacionais e pedagógicas, a produção literária infantil de Monteiro Lobato4, sobretudo, o Sítio do Pica-Pau Amarelo é considerado por diversos autores como um "projeto literário e pedagógico sob medida para o Brasil" (LAJOLO, 2000, p. 60). Isto está relacionado ao contexto histórico do autor e pelas necessidades que se
    Partimos do entendimento de que a literatura brasileira tem recursos infindáveis que possibilitam a apreensão do contexto histórico e cultural do período em que foi produzido. A escolha dessa análise a partir da obra de Monteiro Lobato deve-se ao fato de ter sido ele um escritor comprometido com as questões do seu tempo e ter uma produção literária pedagógica. Consideramos que o estudo dessas questões possa contribuir para a compreensão do ideário pedagógico dos anos de 1920-1940, as suas implicações para a educação brasileira, bem como para o exercício da docência em um dado momento histórico.
    O estudo pode se materializar com avanços no campo acadêmico-científico, por meio da produção de um conhecimento teórico que subsidie reflexões e análises para compreensão da educação como processo histórico e, particularmente, do período compreendido entre os anos de 1920 e 1940, de grande repercussão na educação brasileira. Nestes anos, difundiram no país ideias de renovadores da educação, sobretudo as norte-americanas.
    Como relata Koshiyama (1982), começavam a ser aceitas as ideias pedagógicas de estudiosos norte-americanos ao lado de autores europeus:
      Dewey, Kilpatrick eram lidos e suas sugestões executadas nas reformulações feitas no sistema educacional por Anísio Teixeira, na Bahia, em 1924. Mas, continuava-se a editar e eram lidos: Pieron, Claparede, Durkheim, Binet e Simon, traduzidos em 1927 e 1929, publicados na Biblioteca da Educação da Cia. Melhoramentos de São Paulo, sob a direção de Lourenço Filho, Decroly e outros autores da educação ativa apareceram na Coleção pedagógica, da Editora F. Briguiet & Cia, digirida por Paulo Maranhão, em 1929 (KOSHIYAMA, 1982, p. 80).
    Foi nesse contexto que Monteiro Lobato tratou de cultivar o leitor infantil, introduzindo a literatura nas escolas primárias. Nas narrativas de Lobato, especialmente na série de aventuras no Sítio do Pica-Pau Amarelo, não falta a preocupação de informar e educar.
    Estabelecemos como tema/eixo central de nosso estudo a literatura infantil de Monteiro Lobato e a concepção pedagógica subjacente aos seus escritos. Questionamos se o ideário pedagógico escolanovista, que se incorporava no pensamento educacional brasileiro do período, e era a bandeira de importantes intelectuais como Anísio Teixeira (1900-1971) e Fernando de Azevedo (1894-1974), ficava expresso nos escritos infantis de Lobato, particularmente, nas ações de cunho educativo de “Dona Benta”.
    Para tanto, tomaremos os livros Histórias do mundo para as crianças, publicado em 1933, Geografia da Dona Benta, de 1935, e Serões de Dona Benta, de 1937, livros estes que compõem a obra literária infantil do autor como apontado inicialmente. Estes livros de referência estão presentes na Coleção Sítio do Pica-Pau Amarelo que foi escrita pelo autor no período de 1921 a 1947. A partir da obra, serão analisados os aspectos sociais, econômicos e políticos subjacentes a ela, traçando um panorama da época.
    Os livros selecionados da Coleção destacam a figura de Dona Benta como protagonista. No contexto destes livros que tomamos como referência, os personagens Emília, Tia Anastácia, Narizinho, Pedrinho, Visconde de Sabugosa, Dona Benta, figuram a narrativa do texto. Dona Benta, a “[...] avó dos meninos, contadora de histórias que aceita a imaginação das crianças e admite as novidades que mudam o mundo”5, nos parece ser uma personagem que possibilita refletir sobre a concepção pedagógica de Monteiro Lobato, por realizar ações de cunho educativo.
    Considerando que, nas últimas décadas, a produção científica brasileira sobre Monteiro Lobato tornou-se expressiva, utilizamos fontes secundárias, tais como manuais, artigos, livros, ensaios, teses e dissertações, que nos ajudaram na compreensão dos propósitos da pesquisa. Deste modo, constituíram-se em fontes de estudos e pesquisas para entender o momento histórico e o pensamento educacional vigente. Utilizamos, ainda, outros instrumentos e referenciais que se fizerem necessários para a investigação.
    Portanto, para conhecer a vida e obra e o possível pensamento pedagógico de Monteiro Lobato, utilizamos, fundamentalmente, os livros Monteiro Lobato: um brasileiro sob medida (2000), de Marisa Lajolo, O ficcionista Monteiro Lobato (1996), de Alaor Barbosa e Monteiro Lobato: Furacão na Botocúndia (1997) de Carmen Lucia de Azevedo, Marcia Camargos e Vladimir Sacchetta.
    O trabalho é desenvolvido a partir de análise bibliográfica, tomando como referência fontes primárias e secundárias. A análise é, fundamentalmente, da obra Sítio do Pica-Pau Amarelo, evidenciando os aspectos sócioeconômicos, políticos e culturais subjacentes à produção. Tomamos, em particular, os livros Histórias do mundo para as crianças, Geografia da Dona Benta e Serões da Dona Benta, por entendermos que favorece a identificação das ações educativas de Dona Benta. Para isso, buscaremos extrair as ações que apresentam uma regularidade no decorrer dos três livros.
    Iniciamos o trabalhando fazendo um relato dos principais acontecimentos da vida de Monteiro Lobato, destacando o momento em que ele iniciou sua produção literária infantil. Em seguida, explicitamos a análise referente às três obras selecionadas para esse trabalho com ênfase nas ações de cunho educativo da personagem Dona Benta, para mostrar a possibilidade de Monteiro Lobato seguir a perspectiva escolanovista de educação.
   
Monteiro Lobato e a produção literária infantil
    Explicitaremos nesse breve tópico o momento em Lobato inicia sua produção literária infantil e o contexto histórico em que o autor vivia, buscando razões que justifiquem a sua produção literária infantil, considerada por muitos autores como revolucionária para o período (LAJOLO, 2000). Literário infantil, pintor frustrado, editor e empresário, jornalista engajado nas causas sociais, econômicas e políticas de sua época, são expressões que resumem minimamente a intensa e ativa vida de Monteiro Lobato. Seu objetivo é único: “[...] mudar o Brasil e levá-lo a absorver a riqueza que a sociedade moderna produziu.” (MACHADO, 1993, p. 8).
    A vida do autor foi marcada por etapas de muitas mudanças. Quando pequeno, Lobato vivia em um ambiente rural. Grande parte de sua infância trouxe como cenário a chácara de seu avô Visconde de Tremembé, que era fazendeiro cafeicultor, empresário e político influente. Era um garoto de classe alta da época do final do Império brasileiro e, por isso, freqüentou as escolas particulares da região. Logo demonstrou sua vocação como escritor, pois escrevia crônicas, poemas, contos e até desenhava para o jornalzinho colegial chamado “O Guarany”. Fazia críticas em forma de crônicas aos acontecimentos da escola no jornal e assinava como Josbem e Nhô Dito (LAJOLO, 2000). Mais tarde, matriculou-se no Instituto de Ciências e Letras (AZEVEDO, CAMARGOS, SACCHETTA, 1997), em São Paulo, curso que preparatório para o curso superior.
    Uma das grandes mudanças na vida do autor aconteceu nos dois últimos anos do século XIX, quando ele ficou órfão e o Visconde de Tremembé responsabilizou-se pela tutela do garoto de 16 anos e de suas irmãs. Seu grande sonho era cursar Belas-Artes, mas o avô impôs que Monteiro Lobato se matriculasse na Faculdade de Direito, como era tradição naquele momento.
    Em obediência à ordem de seu avô, na virada do século Lobato partiu para a Faculdade de Direito no Largo de São Francisco a fim de tornar-se doutor. Encarava o curso de direito com desinteresse, pois sua vocação pelas artes e pela literatura ainda o perturbavam. Na faculdade, Lobato era fascinado pela cidade de São Paulo e por seus amigos, pois eles aproximavam o futuro doutor do lado poético e literário que tanto estimava. Nesse período, Lobato se formou, voltou a sua cidade natal, casou-se, teve filhos e pleiteou o cargo de promotor efetivo da comarca de uma cidade pequena. Sentia-se entediado e ocioso vivendo na pequena cidade e se recordava constantemente do movimento frenético de São Paulo, onde viveu cerca de dez anos, e do convívio com os amigos (AZEVEDO, CAMARGOS, SACCHETTA, 1997).
    A morte e seu avô, em 1911, configurou-se como uma das mais drásticas mudanças na vida e Monteiro Lobato. Lobato herdou as terras do avô e outras tantas de seu pai, juntando mais de dois mil alqueires de terra (LAJOLO, 2000). Essa herança transformou Monteiro Lobato em grande proprietário rural, e para suas terras se mudou com toda a sua família. O principal objetivo de Lobato, no que dizia respeito a suas terras, era torná-las rentáveis por meio de projetos atrevidos, como a modernização da agricultura.
Lobato produzia literatura no meio rural em que passara a viver e seu tema futuro seria a figura do caipira, do caboclo, do homem da roça, sobretudo após desentender-se com seu administrador e se enfurecer com o hábito econômico e ecologicamente inconveniente dos caboclos de desrespeitarem a terra e as florestas, tocando-lhes fogo. A esse respeito, publica em 12 de novembro de 1914 um protesto ao jornal O Estado de São Paulo intitulado Velha Praga (1914), protesto este que ganha enorme repercussão e torna Monteiro Lobato famoso. Neste protesto, Monteiro Lobato faz crítica aos hábitos nocivos à terra e à produção e cria, a personagem-símbolo da obra lobateana, o Jeca Tatu. Enorme foi a repercussão da personagem que tornou Monteiro Lobato famoso e cada vez mais requisitado para escrever artigos, para colaborar com revistas e jornais, aproximando o autor ainda mais da literatura.
    Com a crise cafeeira, Lobato vende suas terras e vai com sua família até São Paulo. Inicia, nesse momento, sua vida como empresário, pois compra a famosa Revista do Brasil. A frente da Revista, o autor ouviu de Hilário Tácito a aventura de um peixe que morreu afogado, pois desaprendeu a nadar.
Este momento foi determinante para iniciar a participação de Lobato no mundo das histórias infantis. “A história do peixe que morreu afogado” foi um pequeno conto, mais tarde desenvolvido, reestruturado e lançado em 1921 como A menina do nariz arrebitado. Suas personagens com dimensões fantásticas são as que até hoje imprimem a face de Monteiro
    Lobato: Dona Benta, que “[...] desempenha o papel de professora [...]” (LAJOLO, 2000, p. 61), Narizinho e Emília, Tia Nastácia, Pedrinho e Visconde de Sabugosa, compõem os participantes do Sítio do Pica-Pau Amarelo. O poder do faz-de-conta garante o sucesso desta nova fase de Lobato com o gênero infantil.
Lobato estava instigado pelo interesse em produzir obras puramente infantis impregnadas de conteúdos interessantes com linguagem para crianças. Lajolo (2000, p. 61) afirma que, “particularmente nas obras produzidas dos anos 30, o Sítio se transforma numa grande escola, onde os leitores aprendem desde a gramática e aritmética até geologia e bê-á-bá de uma política nacionalista de petróleo.” Neste sentido, mandou distribuir, gratuitamente, quinhentos exemplares do livro, agora sob o título de Narizinho Arrebitado, e confirmou, assim, a importância da escola para a difusão da leitura. Washington Luís, presidente do Brasil, ao ver livros surrados de tanto uso pelas crianças, fez uma compra grande para as escolas paulistas (LAJOLO, 2000).
    Em seus 66 anos de vida, anos este de muitas transformações, Lobato permaneceu por 27 se dedicando a saga do Sítio do Pica-Pau Amarelo e aos seus personagens fantásticos, paralelo a suas antigas lutas para produzir o ferro, extrair o petróleo e levar o país ao progresso e à modernidade. Em 1948, sofreu seu primeiro espasmo vascular e morreu em seu apartamento na editora, virando “gás inteligente”, como costumava traduzir a morte (BARBOSA, 1996).

A produção literária infantil de Monteiro Lobato: Pedagogia de Dona Benta
    Neste tópico do trabalho, elencamos e analisamos as principais ações de cunho pedagógico da personagem Dona Benta, por entendermos que, por meio de suas práticas e da contação de histórias às crianças, ela possa transparecer o ideário pedagógico presente nos escritos de Monteiro Lobato nas décadas em que História do mundo para as crianças, Geografia de Dona Benta e Serões de Dona Benta foram escritos e publicados no Brasil. A análise foi realizada a partir da leitura detalhada das obras, buscando identificar as ações que se repetem e que são mais utilizadas por Dona Benta na contação de histórias.
    Observamos uma aproximação entre a produção literária infantil de Lobato e o movimento da Escola Nova no Brasil. Esse movimento chegou ao Brasil no século final XIX, com o intuito de “[...] transformar as normas tradicionais da organização escolar, com isso ensaiando uma escola nova, no sentido de escola diferente das que existem” (FILHO, 1978, p. 17). O movimento da Escola Nova se fixou no Brasil por meio do documento Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova (1932), que posicionava a criança no centro do processo de ensino, atribuía à educação o papel de transformação do país e a institucionalização de uma escola pública, laica, gratuita e para todos.
    Sendo assim, nos transportamos aos momentos finais do século XIX, que coincidiam com o fim de Brasil Imperial e a proclamação de um novo regime político, o republicano, pois ocorreram nesse período muitos acontecimentos que tangeram a educação a um novo modelo. Foi também nesse período que viveu o autor Monteiro Lobato, o que nos leva a crer ainda mais em uma relação das produções literárias infantis do autor com os pressupostos do movimento escolanovista no Brasil.
    A literatura infantil brasileira foi inaugurada com o Sítio do Pica-Pau Amarelo. Lobato estava insatisfeito com as traduções de livros europeus para crianças, e por isso criou aventuras com personagens bem brasileiras, recuperando costumes da roça, onde passou sua infância, e lendas do folclore nacional (MACHADO, 1993). Lajolo (2000, p. 60) destaca a preocupação de Lobato em publicar livros com uma linguagem especialmente destinada a crianças.
    O surgimento de livros para crianças pressupõe uma organização social moderna, por onde circule uma imagem especial de infância: uma imagem da infância que veja nas crianças um público que, arregimentado pela escola, precisa ser iniciado em valores sociais e afetivos que a literatura torna sedutores. Em resumo, um público específico, que precisa de uma literatura diferente da destinada aos adultos.
    Todas as vezes que Tia Nastácia gritava “É hora!”, Pedrinho, Narizinho, Emília, Visconde de Sabugosa e certas vezes até Rabicó e Quindim, dirigiam-se à sala da casa de Dona Benta para ouvir as mais incríveis curiosidades sobre o mundo. Dona Benta tinha um papel importante, pois era a principal transmissora dos conhecimentos e aceitava as ideias fantásticas dos seus netos no sítio. Narizinho pedia à avó: “― Leia da sua moda, vovó!” (LOBATO, 1986c, p. 194), pois, com a moda de Dona Benta, todos entendiam. No livro Reinações de Narizinho, Lobato explica que:
    A moda de Dona Benta ler era boa. Lia “diferente” dos livros. Como quase todos os livros para crianças que há no Brasil são muito sem graça, cheios de termos do tempo da onça ou só usados em Portugal, a boa velha ia traduzindo aquele português de defunto em língua do Brasil de hoje. Onde estava por exemplo, “lume”, lia “fogo”; onde estava “lareira” lia “varanda”. E sempre que dava com um “botou-o” ou “comeu-o”, lia “botou ele”, “comeu ele” – e ficava o dobro mais interessante. Como naquele dia os personagens eram da Itália, Dona Benta começou a arremedar a voz de um italiano galinheiro que às vezes aparecia pelo sítio em procura de frangos; e para Pinóquio inventou uma vozinha de taquara rachada que era direitinho como o boneco devia falar (LOBATO, 1986c, p. 194).
    A partir dessa exposição, podemos considerar que Dona Benta tinha uma forma particular de ler as histórias, que era chamada pelos meninos de à “moda” da Dona Benta. Esta forma era atrativa para as crianças, porque ela traduzia, como Lobato enfatizou, de uma linguagem do passado, usada em Portugal, para uma linguagem mais atual, própria do Brasil. Além de prender a atenção daqueles que estavam ouvindo, estes compreendiam melhor o significado do texto. Ela é uma “contadora de histórias” e, como tal, utiliza da uma forma característica de leitura que chama a atenção das crianças, ao mesmo tempo que garante o entendimento do conteúdo que estava sendo abordado.
    A leitura, particularmente à moda de Dona Benta, se constituía em uma ação pedagógica de importância, já que, em muitos momentos nos livros, foi possível apreender que o autor recorria, frequentemente, a esse recurso, que era imprescindível para o aprender. Uma das principais ações pedagógicas de Dona Benta e, portanto, considerada importante para Lobato, foi conferir a leitura um papel de destaque.
    Dona Benta estava sempre com livros à mão, pois fazia muita leitura6. Ela possuía em sua casa uma vasta coleção de livros e “[...] ainda recebia, dum livreiro da capital, as novidades mais interessantes do momento” (LOBATO, 1986b, p. 5). O livro Child’s history of the world (História do mundo para as crianças) foi um desses livros que chegou à porta do Sítio pelos correios. Como a avó dominava a língua inglesa, logo se interessou pelo livro e pôs-se a lê-lo.
    Ao finalizar a leitura do livro, Dona Benta o considerou muito interessante, concluindo que “Meninos assim da idade de Pedrinho e Narizinho estou certa de que hão de gostar e aproveitar bastante” (LOBATO, 1986b, p. 5). Nesta afirmação, a avó demonstra preocupação em selecionar um livro que se enquadre à idade dos meninos, mas, sobretudo, um que atinja o interesse das crianças. Pode-se notar que o interesse e a atração dos meninos por determinado assunto é um elemento muito considerado para Dona Benta e é um dos principais pontos para a escolha de um conteúdo.
    Para melhor nos aprofundarmos nesta preocupação de Dona Benta com o interesse da criança, tomamos o livro Geografia de Dona Benta. A avó inicia no Sítio as explicações sobre a geografia após um pedido de seu neto.
    Depois que Dona Benta concluiu a história do mundo contada à moda dela, os meninos pediram mais.
    ― Mais, quê? ― perguntou a boa avó. ― Poderei contar muitas histórias assim ― história da física, história da química, história da geologia, história da geografia...
    ― Conte histórias da geografia ― pediu Pedrinho, que andava sonhando com viagens pelos países estrangeiros.
    E Dona Benta contou a geografia (LOBATO, 1986a, p. 7).
    O fato de Pedrinho ter sonhado com países estrangeiros e ter despertado uma curiosidade sobre esse assunto fez com que o garoto pedisse à avó que contasse histórias da geografia. Diante do interesse do neto, Dona Benta iniciou a contação de história e nela podemos ressalvar que o interesse das crianças é o grande condutor do caminho em que a explicação percorre.
     Como ocorreu em muitos momentos em que Dona Benta se dedicava a ensinar as pessoas do Sítio, ela tinha como premissa o interesse dos ouvintes e essa é uma das principais ações de cunho educativo de Dona Benta. A senhora demonstram-se aberta a todas as informações, todas as perguntas, contribuições e a imaginação das crianças. Essa imaginação está sempre cercando as redondezas do Sítio e de seus personagens em cada volume da coleção Sítio do Pica-Pau Amarelo.
    No livro Geografia de Dona Benta, a imaginação é utilizada como fio condutor para apresentar um conteúdo. Quando Dona Benta optou por atender ao pedido de Pedrinho e iniciar as explicações sobre as histórias da Geografia, Emília logo lhe sugeriu uma ideia para tornar o estudo da Geografia “Muito mais interessante” (LOBATO, 1986a, 33). Assim, a boneca toma a palavra e sugere:
    ― Vamos estudar geografia de outro jeito ― propôs. ― Tomamos um navio e saímos pelo mundo afora vendo o que há. Muito mais interessante. ― Mas onde está o navio, boba? ― indagou Narizinho. ― Um navio faz-de-conta. Acho ótima a lembrança, Emília ― disse Dona Benta. E eu sigo no comando desse navio. Que nome vai ter?
    ―O Terror dos Mares! ― gritou a boneca. ― Levamos toda gente de casa, Tia Nastácia, Quindim, o Visconde ― todos, menos Rabicó (LOBATO, 1986a, p. 33).
    Assim, subindo a bordo de “O Terror dos Mares”, a tripulação do Sítio viajou todo o mundo, fazendo incríveis paradas e vivendo a Geografia. Viver a Geografia só foi possível graças à viagem de faz-de-conta que Emília propôs e Dona Benta empregou como recurso para melhorar a forma de se contar essa história. Então, a utilização da imaginação sugere uma forma de estudo que não a tradicional. A imaginação foi atribuída como recurso para aproximar as crianças da realidade e ter experiências reais com a Geografia.   
    Afirmar que a imaginação aproxima a criança da realidade nos parece um tanto contraditória, pois quando imaginamos, saímos da realidade. No entanto, podemos afirmar que Monteiro Lobato propôs uma viagem de “faz-se conta”, mas ela, em todo o livro, foi apresentada como uma viagem real. Em uma passagem pela Bahia, todos os integrantes da Tripulação “[...] foram ver a cidade” (LOBATO, 1986a, p.66). Tia Nastácia, em especial, “[...] tinha se aproveitado da passagem pela Bahia para comprar garrafas de azeite-de-dendê, que as cozinheiras de lá usam para tempero” (LOBATO, 1986a, p.66). Diante de uma experiência tão real e material, podemos afirmar que a viagem de navio foi muito próxima ao real e que ela foi utilizada por Monteiro Lobato como recurso para aproximar as crianças de experiência concretas, mesmo que pela imaginação. Vale destacar que a aceitação da imaginação das crianças, a priorização pelos seus interesses e a utilização de uma linguagem atualizada que permita a compreensão dos conteúdos pela criança, constituem recursos importantes utilizados por Dona Benta para atrair a atenção das crianças. Permitir que elas participem, perguntem, imaginem e entendam o conteúdo são formas de desviar a atenção das crianças de qualquer outra atividade que seria mais divertida ou interessante.
    Durante a explicação, os netos sempre se envolviam, levantavam informações e contribuições que muito auxiliar na construção do conteúdo em questão e em sua compreensão. Tais informações por eles levantadas, em muitos momentos estão relacionadas com as vivências ou com a realidade das crianças. Sendo assim, um dos motivos pelo qual Dona Benta opta por estudar temáticas que estão próximos à realidade da criança é permitir que elas visualizem melhor o assunto e, assim, possam compreender melhor o conteúdo ou, então, dar mais contribuições para a discussão.
    Neste sentido, em várias ocasiões Dona Benta exemplifica a temática abordada com situações que as crianças já viveram, pois elas podem, assim, recordar e compreender com mais facilidade o assunto familiar já vivido por elas. Por isso, as ações educativas de Dona Benta buscam, acima de tudo, aproximar a criança de sua realidade para que ela compreenda os fatos sociais e até os fatos da natureza, como é mostrado em Serões de Dona Benta:
     Nesse ponto um passarinho cantou no pomar. Pedrinho pôs-se de ouvido alerta. ― Que passarinho será aquele? ― murmurou, falando consigo mesmo. E saiu disparado para ver. ― Ora aí está como se forma a ciência ― disse a boa senhora. ― Se o canto fosse de sabiá, Pedrinho não se incomodaria, porque já conhece o sabiá. Mas como não reconheceu o canto, ficou logo assanhado por saber ― e foi correndo ao pomar. A curiosidade diante dum fenômeno que não conhecemos é a mãe da ciência. Logo depois Pedrinho voltou. ― Era uma saíra das raras ― a segunda que vejo por aqui ― disse ele, e Dona Benta continuou a desenvolver o seu tema: ― Muito bem; sua curiosidade, Pedrinho, fez que você adquirisse um conhecimento novo. Ficou sabendo que esse canto é duma saíra rara por aqui. Para chegar a essa conclusão, você teve de observar o fenômeno ― de ir ver, porque só com o ouvido não podia identificar o passarinho (LOBATO, 1986d, p. 12).
      Para explicar a origem da investigação científica, Dona Benta menciona a busca de Pedrinho por uma resposta diante de um fato cotidiano. Sendo assim, um acontecimento na vida das crianças permitiu que elas compreendessem a investigação histórica e como ela se perpetua. Além disso, alguns novos episódios no Sítio, fatos e acontecimento na vida das crianças e fenômenos são aproveitados por ela para introduzir novos conceitos e conteúdos. Isso evidência a busca de Dona Benta por explicações e pela aproximação à vida real. Utilizamos como exemplo o dia em que Pedrinho e Emília tentaram mover uma pedra do lugar:
Pedrinho e Emília apareceram. ― Puxa! ― exclamou o menino ao entrar. ― Nunca pensei que aquela pedra pesasse tanto. Eu e Emília pusemos toda a nossa força e a diaba nem gemeu... Dona Benta aproveitou-se do tema. ― É por isso que o homem recorreu às forças da natureza e acabou escravizando-as. Viu que só com os seus músculos podia muito pouco. Essa pedra que resistiu à força dos músculos do meu neto e da Emília mover-se-á facilmente por meio duma alavanca (LOBATO, 1986d, p. 63).
     Para introduzir um novo conteúdo, Dona Benta se aproveita desse acontecimento na vida dos meninos para mostrá-los que a invenção de alavancas ajuda o homem e facilita sua vida. Dona Benta afirma que a “[...] máquina é o próprio homem, com seus braços, suas pernas e todos os seus sentidos, aumentando de eficiência por meio de truques que a inteligência aumentou” (LOBATO, 1986d, p. 87, grifo do autor). Nesse sentido, para a vida real das crianças, conhecer como funciona a alavanca e outros tipos de “máquinas” torna-se essencial para melhorar a sua vida. Em outras ocasiões, Pedrinho poeria agir conscientemente e procurar formas eficazes de remover uma grande pedra ou obstáculo. Dessa forma, as crianças poderão agir sobre a natureza de maneira consciente e, assim, facilitar sua vida.
     No final do livro Geografia de Dona Benta, Dona Benta resume a importância de conhecer a ciência para utilizá-la no dia-a-dia, filosofando “A riqueza material é areia do deserto: ora se acumula aqui, ora ali, conforme sopram os ventos. Mas quem tem a riqueza no miolo, ah, esse está garantido contra todos os azares da vida” (LOBATO, 1986d, p. 204). Sendo assim, conhecer história, geografia e ciência, nos ajuda a compreender a realidade e agir conscientemente sobre a natureza.
     A leitura a moda de Dona Benta, a priorização dos interesses das crianças, a aceitação de perguntas e de participação, a utilização da imaginação das crianças para viabilizar o ensino e torná-lo mais atraente e a busca de compreensão dos fatos cotidianos são as principais ações de cunho educativo de Dona Benta presentes nos três livros de Monteiro Lobato.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
     O trabalho nos permitiu visualizarmos alguns elementos do período em que o autor, pioneiro na produção da literatura infantil brasileira, viveu, como elementos socioeconômicos, político e cultural das décadas de 1920 a 1940, momento da elaboração e publicação dos três livros selecionados para análise deste trabalho, da obra Sítio do Pica-Pau Amarelo. Entre eles, citamos o período de transição do regime imperial para o regime republicano, a efervescência da modernização da arte com a Semana da Arte Moderna (1922), os debates para a criação de uma cultura nacional e a contradição com referências culturais europeias e americanas, a modernização do sistema produtivo, reformas e ideais para a modernização do país por meio da educação.
    Até mesmo na sua obra infantil, em especial o livro Geografia de Dona Benta, encontramos alguns elementos econômicos, políticos e sociais do Brasil, quando Dona Benta
explica as características socioeconômicas, político e social de cada Estado do Brasil. Os ideais de modernização do país do próprio autor, também estão presentes nesse livro.
    Ao analisarmos os principais livros em que Dona Benta assume o papel de professora ou “contadora de história”, conseguimos identificar as ações educativas de Dona Benta no momento em que estava “ensinando” as crianças do Sítio. Permitimo-nos afirmar que Dona Benta ensinava, pois o próprio Monteiro Lobato, por meio de uma fala de Pedrinho, utilizou esse termo para descrever o que Dona Benta fazia no Sítio:
    ― Que pena! ― suspirou Pedrinho, quando Dona Benta lhe trouxe a notícia. ― Anda mamãe muito iludida, pensando que aprendo muita coisa na escola. Puro engano. Tudo quanto sei me foi ensinado por vovó, durante as férias que passo aqui. Só vovó sabe ensinar. Não caceteia, não diz coisas que não entendo. Apesar disso, tenho cada ano de passar oito meses na escola. Aqui só passo quatro...(LOBATO, 1986d, p. 201).
    Além de visualizarmos o termo “ensinado”, identificamos nessa fala de Pedrinho uma crítica feita por Monteiro Lobato com relação ao ensino oferecido nas escolas do período. Nesse sentido, podemos inferir que somente a forma de ensinar de Dona Benta, suas ações educativas e os seus recursos pedagógicos aplicados são de fato convenientes para o ensino as crianças na perspectiva de Lobato.
     As principais ações de cunho pedagógico de Dona Benta, elencadas nos livros de Lobato são: a leitura à “moda” de Dona Benta, com entonação e sem vocabulários complicados; o encaminhamento das explicações de acordo com o interesse a motivação das crianças; a aceitação da imaginação das crianças e sua utilização como recurso pedagógico; o aprendizado em um local com muitas possibilidades para observação dos fenômenos naturais, fatos e objetos; a busca de explicações para os fatos inéditos que acontecem no cotidiano das crianças.
     É importante destacar que Monteiro Lobato não tinha o intuito em desenvolver uma nova corrente ou um novo ideário pedagógico, mas repetir e divulgar as ações pedagógicas do ideário subjacente no período. As ações de Dona Benta têm estreita aproximação com o ideário pedagógico amplamente divulgado no período da publicação do ideário da Escola Nova, presente no pensamento dos intelectuais do período como Anísio Teixeira (1900-1971), Fernando de Azevedo (1894-1974), entre outros.
      Ao analisar os aspectos metodológicos da Escola Nova expressas no Manifesto dos Pioneiros e elencadas por estudiosos dessa corrente pedagógica, observamos a existência de relações entre as ações educativas da personagem Dona Benta com as discussões educacionais do período e com o modelo pedagógico escolanovista. Destacamos o posicionamento central atribuído a criança no processo de ensino, sobretudo no que dizia respeito à priorização do interesse da criança, por meio de atividades que tornem o ensino mais atraente, com estímulo a imaginação, linguagem mais acessível, abertura para a busca de conhecimentos, em locais que possibilitem a observação de fenômenos e objetos (VIDAL, 2003), entre outros. Esses elementos apresentaram-se com freqüência nos livros analisados e nos fazem inferir que uma possível aproximação entre Lobato e o ideário escolanovista.
    Portanto, concluímos que o estudo nos deu embasamento para afirmar que a literatura infantil de Monteiro Lobato, sobretudo, no que se diz respeito às ações educativas de Dona Benta expressas nos livros Histórias do mundo para as crianças (1933), Geografia de Dona Benta (1935), e Serões de Dona Benta, se aproximam da concepção pedagógica escolanovista em ascensão no período. Lobato se opunha as antigas formas de ensinar e propôs novos encaminhamentos ao ensino, com metodológias que se aproximavam da nova corrente pedagógica.

MONTEIRO LOBATO E A EDUCAÇÃO: O IDEÁRIO PEDAGÓGICO ...
www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/anpedsul/9anpedsul/.../54

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MONTEIRO LOBATO: O MUNDO E A LINGUAGEM DA CRIANÇA
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ZORZATO, Lucila Bassan     Marisa Philbert Lajolo       Ms.   UNICAMP 2007
Título: A cultura alemã na obra infantil Aventuras de Hans Staden, de Monteiro Lobato
Sinopse: A pesquisa A Cultura alemã na obra infantil Aventuras de Hans Staden, de Monteiro Lobato examina, a partir das obras Meu cativeiro entre os selvagens do Brasil (1925) e Aventuras de Hans Staden (1927), a relação de Monteiro Lobato com a cultura alemã. O estudo dessas obras suscita indagações a respeito não só dos processos de tradução e adaptação adotados por Lobato e da recepção da obra pelo público, como também questões referentes à relação do autor com o universo alemão. Sob este aspecto, a pesquisa investiga, através da análise de documentos e da correspondência lobatiana, a representação da cultura alemã para Lobato, as propostas de versão de sua obra para o alemão, sua recepção entre leitores de língua alemã e a relação do autor com a própria língua
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GENOVA, Mariana Baldo         Marisa P. Lajolo             Ms.   UNICAMP 2006
Título: As terras novas do sitio: uma nova leitura da obra "O picapau amarelo" (1939)
Sinopse: Este trabalho é uma leitura da obra O Picapau Amarelo (1939), de Monteiro Lobato, baseada na mudança de personagens estrangeiros para o sítio de Dona Benta. Enquanto muitos estudos caracterizam O Picapau Amarelo como exemplo de narrativa baseada na fantasia, essa dissertação pretende apontar para a presença, na obra, de crítica social e da visão pessimista do autor diante da sociedade moderna e urbanizada. Este trabalho também insere O Picapau Amarelo em uma linha que inclui obras em que é possível reconhecer as diferentes opiniões de Lobato acerca da modernidade. Nesse sentido, sugere-se que as idéias de Lobato se apresentam em ?fases? - de afirmação, dúvida e negação do progresso ? que talvez se relacionem à vida (sucessos e fracassos) e a atividades de Lobato, acrescidas da situação social e econômica do país
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ROCHA, Jaqueline N.          Marisa P. Lajolo                 Ms.    UNICAMP 2006
Título: De caçada as caçadas : o processo de re-escritura lobatiano de Caçadas de Pedrinho a partir de A Caçada da Onça
Sinopse: A Caçada da Onça , obra que Monteiro Lobato publicou em 1924, não integrou, em 1931, Reinações de narizinho ? título que resulta da junção de vários livros publicados por Lobato durante a década de vinte e inicio de trinta. Foi ampliada e rebatizou pelo autor em 1933 passando, então, a intitular-se Caçadas de Pedrinho. Este trabalho se ocupa do processo de transição da obra de 1924 para a de 1933 cotejando suas edições, considerando os diferentes momentos em que foram escritas, articulando as versões tanto à vida de Lobato quanto ao contexto sócio-historico brasileiro. Propõe, finalmente, uma leitura do texto de 1933 a partir da análise de seus aspectos formais e temáticos
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MAXIMO, Gustavo           Maria Augusta B. Mattos        Ms.   UNICAMP 2004
Título: Duas personagens em uma Emilia nas traduções de Monterio Lobato
Sinopse: Esta dissertação aborda, a partir de uma análise de duas traduções realizadas por Monteiro Lobato - "Alice's Adventures in Wonderland", de Lewis Carroll e "Pollyanna", de Eleanor H. Porter - a contigüidade existente entre as personagens principais Alice e Pollyanna com a boneca de pano criada por Lobato, a irreverente Emília. Por esse motivo, localizamos nas traduções de Lobato uma tensão que se faz presente pela descaracterização das personagens dos originais, o que provoca questionamentos em função das falas das personagens em relação às atitudes e aos procedimentos. Dentro desta perspectiva, observamos que Monteiro Lobato traduziu as duas obras com os olhos de Emília o que descaracterizou a Alice britânica e a Pollyanna norte-americana dos originais. Para nos auxiliar na análise, trabalhamos com outras duas traduções das mesmas obras para compará-Ias com as de Monteiro Lobato. Para "Alice's Adventures in Wonderland", trabalhamos com a tradução de Ana Maria Machado e para "Pollyanna" com a de Paulo Silveira o que acabou por nos oferecer melhor embasamento para a defesa da hipótese. O resultado da pesquisa foi que realmente as traduções lobatianas dessas duas obras traziam como personagens principais uma "Emilice", isto é, uma Alice brasileira e uma outra "Emilyanna", ou seja, uma Pollyanna brasileira
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TIN, Emerson                   Marisa P. Lajolo                    Dr.  UNICAMP  2007
Título: Em busca do "Lobato das cartas" : a construção da imagem de Monteiro Lobato diante de seus destinatarios
Sinopse: O objetivo desta tese é identificar e analisar o ?Lobato das cartas?, ou seja, o processo de construção da imagem de Monteiro Lobato em sua correspondência ativa. Há, assim, o Lobato familiar, o escritor e o editor, o dos Estados Unidos, o do ferro e do petróleo, o da prisão e o das crianças. Essa imagem, porém, varia não só segundo circunstâncias de tempo e de lugar mas também em função do destinatário. Palavras-chave: Lobato, Monteiro, 1882-1948 ? Correspondência ? Crítica e interpretação, Cartas brasileiras ? Séc. XX ? História e crítica
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ALBIERI, Thais de Mattos        Marisa P. Lajolo          Ms.    UNICAMP  2004
Título: Lobato : a cultura gramatical em Emilia no pais da gramatica
Sinopse: A pesquisa intitulada "Lobato: a cultura gramatical em Emitia no pais da Gramática" visa a cruzar dois universos: o do livro infantil - Emitia no pais da Gramática - publicado em 1934, com o de artigos, prefácios, entrevistas, fragmentos sobre língua portuguesa escritos em diversas épocas e veículos de imprensa por Monteiro Lobato (1882-1948), e que se encontram publicados em livros que fazem parte das Obras Completas do autor, cuja primeira edição data de 1946.A partir deste cruzamento, foi possível estabelecer em que medida as idéias dos textos convergem ou divergem das noções de língua transmitidas na obra destinada ao público infantil. Desta análise dos textos, pode-se extrair uma possível concepção de língua, e de literatura, de Monteiro Lobato.
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SANTANA, Vanete Dutra       Camen Zink Bolognini       Dr.   UNICAMP 2007
Título: Lobato e os carrascos civilizados : construção de brasilidade via reescritura de Warhaftige Historia, de Hans Staden
Sinopse: Até recentemente, parece ter sido natural a representação das culturas de regiões periféricas como um refletor das idéias forjadas na cultura dominante, a européia. Assim, o que foi produzido pelos europeus sobre a América Latina tem sido considerado verdade absoluta, como a imagem criada por Hans Staden, aventureiro alemão do século XVI, sobre o Brasil em seu livro Warhaftige Historia (Verdadeira história), e reforçada pelo viajante alemão do século XIX Robert Avé-Lallemant em sua adaptação Hans Staden von Homberg bei den brasilienischen Wilden oder die Macht des Glaubens und Betens (Hans Staden, de Homberg, com os selvagens brasileiros ou o poder da fé e da oração). Uma vez que Staden afirmou estar contando a verdadeira história de um país de selvagens nus e canibais chamado Brasil, não só a região à qual se referia, mas todo o país que ela viria a compor, passou a ser representado ? inclusive no imaginário nacional atual ? como uma terra exótica, onde cobras e selvagens enfeitados com penas se misturam pelas ruas, sem se questionar o objeto das observações de Staden. O Brasil, ou o que podemos chamar Brasil, é uma criação do século XIX, portanto o que Staden falou a respeito das terras onde esteve na segunda metade do século XVI só pode servir para se referir àquelas terras e naquela época, quando não havia nem unidade territorial, nem cultural, nem autonomia política que pudesse caracterizar o que chamamos Brasil. Porém, a despeito de a contestação do eurocentrismo ser um fenômeno pós-moderno, já havia no Brasil do início do século XX uma intelligentisia disposta a contestar o modelo eurocêntrico de representação de nosso país. Um caso exemplar dessa contestação pode ser encontrado na adaptação que Monteiro Lobato, intelectual e empreendedor, fez do livro de Staden ao desconstruir a imagem do bom-europeu apresentando a verdadeira história de Staden a partir da perspectiva de integrantes da tribo tupinambá (tribo de índios que habitava o litoral da região sudeste do atual Brasil e da qual Staden foi prisioneiro). De herói branco imagem auto-construída e reforçada ao longo de séculos, Staden passa a ser apresentado por Lobato como um covarde que só escapou de ser devorado em um ritual antropofágico por chorar e implorar a seu Deus que salvasse sua vida. Considerando esse corpus e tendo como pano de fundo suas condições de produção, procuramos demonstrar como as relações inter-culturais entre Brasil e Europa foram re-contextualizadas pelo escritor brasileiro, abrindo espaço para o questionamento das idéias eurocêntricas e para uma reflexão nacional brasileira sobre si próprio o brasileiro e seu país o Brasil , no sentido de construir uma identidade brasileira. Nosso objetivo específico foi mostrar como o interesse de Lobato ao recontar a história de Staden a partir de sua perspectiva não-eurocêntrica, desconstruindo a imagem do bom-europeu e valorizando a cultura indígena, faria parte de um projeto maior, relacionado à sua atuação no mercado editorial e na política, que teria por finalidade construir uma certa brasilidade por meio da absorção não passiva (adaptação aos interesses locais) da cultura universal ? algo semelhante ao que Goethe e os românticos alemães fizeram visando à construção da germanidade (Deutschheit). Como abordamos a construção de identidade a partir de uma perspectiva lingüística e como a língua é um dos elementos fundamentais da cultura, estendemo-nos a outros temas, tais como o processo de formação da língua portuguesa falada no Brasil e da nação brasileira, considerando os grupos raciais, culturais e lingüísticos que a compuseram, bem como alguns aspectos históricos, políticos e econômicos envolvidos.
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GOUVEIA, Luzimar        Goulart  Suzi Frank Sperber     Ms.   UNICAMP 2002
Título: O homem caipira nas obras de Lobato e de Mazzaropi: a construção de um imaginario
Sinopse: Um confronto entre as obras de Monteiro Lobato e de Mazzaropi leva a interessantes observações sobre os procedimentos adotados na construção da figura do caipira presente na Literatura e no Cinema Brasileiros. Enquanto Monteko Lobato, ao criar o Jeca Tatu, não considera o processo histórico que criou um tipo de cultura específica dentro do corpo da sociedade brasileira, a cultura caipra, Mazzaropi, ao aproveitar a personagem de Lobato no cinema, traz contribuições importantes para que seja ouvida a voz do caipra. Lobato não considerou particularidades da cultura caipra, ignorou a expropriação das formas dessa cultura, além da expropriação das formas de economia. Mais ainda, Lobato fala a partir de seu lugar de classe e silencia a voz do caipka, por meio do procedimento de atribuição de voz, e, ao folclorizar o caipira, faz revelar a visão que a área dos ocupantes tem dos ocupados. A voz que prevalece, então, é a voz do outro, falando sobre o não ser. Numa perspectiva que considera uma dialética do "não ser e do ser outro", de Paulo Emílio Salles Gomes, a análise do filme Jeca Tatu, traz o caipka, na obra de Mazzaropi, como pertencente à área do ocupado, ocupado esse criado pelo ocupante. Mazzaropi dá voz ao caipka, propicia o encontro do representado com sua representação, e se utiliza de alguns recursos sorrateiros e eficientes na representação do caipra. A personagem filmica de Mazzaropi, Jeca Tatu, vai insem-se na "dialética da malandragem", proposta por Antonio Candido. Com a assunção da malandragem, o Jeca de Mazzaropi vai aparecer desfolclorizado, porque vivo, dinâmico e não preso a um congelamento da imagem do caipka, segundo interesses dos ocupantes. À malandragem, Mazzaropi carreia outro recurso: na instância do discurso, o Jeca acaba por "desconstruir" o lugar de fala do ocupante, com a recorrência ao riso, com a reserva para si da última palavra. Assim, o Jeca de Mazzaropi aparece com voz e pode promover um lugar de resistência dentro dojogo das forças sociais.
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SANTOS, Vânia Luica C.M.    Tânia Regina O. Ramos    Mr.      UFSC    2002
Título: Um Sítio maior do que um site: Monteiro Lobato, sempre
Sinopse: Esta dissertação, que passa por um exercício de memória individual, objetiva, em um primeiro momento, uma retomada à obra e ao papel histórico de Monteiro Lobato no que se refere à modernização da prática editorial brasileira e à luta pela conquista de leitores infantis, já no início do século XX. Em um segundo momento, objetivou-se ler uma literatura de Monteiro Lobato para o século XXI: acompanhada da mais alta tecnologia, a Rede Globo de Televisão trouxe, mais uma vez, a obra do autor para o imaginário dos brasileiros. Trata-se especialmente da adaptação de No Reino das Águas Claras para a qual, como em versões anteriores, houve o cuidado de "alterar" pela tecnologia, mas resguardar a originalidade das histórias originais. Esta versão, como toda a obra de Monteiro Lobato, integra-se também em uma dinâmica pedagógica, motivando as crianças telespectadoras ( ou os adultos) a interagirem cotidianamente com a obra, recurso moderno e eficiente para a criação e manutenção de um leitor cativo.
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CASSAL, Sueli Tomazini B.     Ana Maria L. Mello           Dr.     UFRGS    2003
tulo: O Brasil visto verticalmente : uma constelação chamada Monteiro Lobato
Sinopse Abordamos, nesta tese, quatro perfis do escritor paulista Monteiro Lobato (1882-1948). Primeiro, seu lado visionário, que redundou na criação de uma extensa obra voltada para a infância e, paralelamente, em uma grande investida no mundo empresarial. É a utopia escrita e passada ao ato. Para levar a cabo seu trabalho hercúleo, Lobato sorveu da filosofia de Nietzsche o quantum satis para lhe redobrar a ímpeto intelectual. Este é o segundo ponto discutido aqui. Fazendo tabula rasa dos ideais educacionais de seu tempo, Lobato criou personagens paradigmáticos para povoar sua Utopia, calcados no pensamento de Rousseau (Emílio x Emília) e nos ideais do Iluminismo. É a matéria do terceiro capítulo. Para fechar o círculo, no quarto capítulo, examinamos os vínculos do autor com a sociedade norte-americana do início do século XX, que lhe forneceu o modelo de uma comunidade próspera e feliz, que o escritor sonhava implantar no Brasil.
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FENSTERSEIFER, Cristiane      Maria Lucia C.W.           Ms       UFRGS    2005
Título: Lições de natureza no Sítio do Picapau Amarelo
Sinopse: Apresento nesta dissertação, que é inspirada nos Estudos Culturais, análises discursivas sobre representações de natureza, e outras que considero estarem a elas articuladas, na nova versão da série televisiva (reproduzida em vídeos comercializados inclusive nos supermercados brasileiros) o Sítio do Picapau Amarelo, produzida pela TV Globo. Esta série, tal como as outras que a antecederam e que foram veiculadas pela TV Tupi (1951), TV Cultura (1964), TV Bandeirantes (1967) e TV Globo (1977), é uma adaptação das obras infanto-juvenis de mesmo nome, escritas por José Bento Monteiro Lobato, na primeira metade do século XX. Neste estudo, considero tal série, a partir de análises conduzidas por Kellner (2001 e 1995), Giroux (2003, 2001 e 1995), Steinberg (1997), como uma importante pedagogia cultural. Nele detenho-me, especialmente, nos episódios: O Saci, As caçadas de Pedrinho e O poço do Visconde, nos quais a mata, os arredores do sítio e outros cenários ¿naturais¿ são bastante destacados. A partir deles, discuto: os modos de endereçamento da nova série televisiva; o modo como se lida na série com a dicotomia tantas vezes assumida entre alta e baixa cultura, bem como com situações que envolvem e colocam em oposição o urbano e o rural, o global e o local; e com as representações de natureza, que a configuram ora como ameaçadora, ora como ameaçada em muitos desses episódios. Destaco que, para o desenvolvimento das análises, foram também considerados os textos das histórias de Lobato e uma das antigas séries (veiculada pela TV Globo nos anos de 1977 a 1986), a qual se constituiu em um extenso (foi apresentada durante nove anos) e muito apreciado programa televisivo para crianças.
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RODRIGUES Jr., Alvaro G.B       Segio Bairon             Ms.    Mackenzie  2008
Título: O sítio-labirinto de Monteiro Lobato: hipermídia e construção de conhecimento
Sinopse: A presente pesquisa pretende analisar a obra infantil de Monteiro Lobato, O Sítio do Picapau Amarelo sob o viés da linguagem hipermidiática, através da qual o seu potencial cognitivo e intersemiótico da seriam amplificados para além do texto e, até mesmo do conceito de uma narrativa ergódica. Valendo-se deste potencial, Lobato propõe reflexões socio-culturais inseridas num contexto lúdico e fantasioso (ou fantástico), as quais podem passar desapercebidas pelo público infantil, mas que são extremamente significativas para o público jovem e adulto. O estudo realizado analisa a linguagem hipermídiática e sua relação com a obra O Sítio do Picapau Amarelo ao mesmo tempo que examina, as evidências e possibilidades de um ambiente hipermídia. Desta forma, realizou-se um estudo que procurou identificar, incialmente, as características, motivações e ideologias do autor, sua relação com o público leitor e as peculiaridades da obra em questão e dos personagens nela inseridos. Em seguida, buscou-se o enfoque na teoria hipermidiática existente para, finalmente, unir o Sítio ao Labirinto em uma nova dimensão narrativa, a qual possibilita uma construção reticular, modular e não-linear do texto lobatiano, conectado a imagens, movimentos e sons, ao mesmo tempo que reafirma o inquestionável senso cultural e cognitivo pertencente a Lobato.
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Autoria                     -               Orientação        -      Grau  -  Local - Data
PRADO, Amaya O.M.A.           José Batista de Sales     Ms.     UFMGS  2007
Título: Adaptação, uma leitura possível: um estudo de Dom Quixote das crianças, de Monteiro Lobato
Sinopse: Este trabalho analisa a obra Dom Quixote das Crianças (1936), de Monteiro Lobato (1882-1948), a partir da identificação dos recursos adaptativos utilizados. Deste modo, pretende evidenciar o projeto de adaptação do autor e sua leitura do clássico Dom Quixote (1605;1615), de Miguel de Cervantes Saavedra (1547-1616). Operando comparativamente, este estudo desenvolveu-se em três etapas. A primeira delas explora o conceito de adaptação e seu papel na literatura infantil brasileira, a partir de estudos de Lauro Maia Amorim, Regina Zilberman, Marisa Lajolo e Nelly Novaes Coelho. Na segunda, utiliza-se o aporte teórico indicado por Zilberman, na descrição dos ângulos de adaptação, para identificar as alterações em relação ao texto original. A última parte encerra uma reflexão acerca da apropriação da estrutura narrativa cervantina, por parte de Lobato, além de apontar a preocupação de ambos os autores com a recepção do texto. Estas consideraçõs resultam da aproximação dos estudos de Maria Augusta da Costa Vieira e de Socorro Acioli, sobre Dom Quixote das Crianças.
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CIELO, Andreia Vedoin    Maria do Carmo Galiazzi        Ms.     UFSM  2006
Título: EDUCAÇÃO AMBIENTAL, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E FORMAÇÃO DE PROFESSORES(AS): de volta a escola com Monteiro Lobato
Sinopse: Esta pesquisa teve como principal finalidade contribuir com a formação de professores em educação ambiental, tendo como referência de estudo e pesquisa o diálogo com a obra literária de Monteiro Lobato. A Teoria das Representações Sociais foi tomada, nesta pesquisa, como alternativa de aproximação entre o texto lobatiano, as professoras envolvidas e sua Representação de meio ambiente. Monteiro Lobato é um clássico e por isso seus livros tornaram-se inesquecíveis. Ele reafirma o prazer do encontro com um texto que fala-nos do humano. Seus leitores, crianças e adultos, viajam em seus livros, sentem-se parte integrante da fantasia e de seu reino imaginário. Procuro então tomar a leitura não como uma mera ferramenta, como um mero recurso, mas como um lugar de produção conhecimentos e de saberes necessários à docência e à prática educativa. Nesse sentido, a Literatura, de uma maneira geral, e a literatura infantil, em particular, surgem como uma alternativa possível para entrarmos em contato com a subjetividade humana, com os excluídos sociais, com o diferente. Podemos, então, entender a literatura como uma representação de mundo, dependente dos valores, das vivências do autor e do leitor. Os estudos sobre representações nos possibilitam uma aproximação com as construções imaginárias dos educadores. Por isso, torna-se importante, na formação de professores, olhar para dentro de si, buscando reconhecer nossas próprias representações. A reflexão e a problematização sobre nossas representações permitem também modificar ações e atitudes no mundo. Essa transformação de ações a atitudes torna-se importante quando pensamos em Educação Ambiental, pois ela nos desafia a elaborar alternativas para trabalhar as questões ambientais de uma forma mais ampla, refletindo, por exemplo, sobre a questão da solidariedade, do respeito, da cooperação, da tolerância. O trabalho com as questões ambientais no cotidiano escolar, mais do que uma necessidade formal, se constitui em uma exigência do mundo contemporâneo. Um mundo onde cada vez mais somos desafiados, o tempo todo, a refletir sobre nossas representações sobre o outro. A partir das discussões com as professoras participantes da pesquisa, pude concluir que, apesar das representações de Meio Ambiente estarem muito relacionadas com os aspectos físicos e biológicos, percebe-se uma busca de mudança, de problematização dessas representações cristalizadas na sociedade. Aspectos como o social, o cultural começam a ocupar espaço na fala e no imaginário das professoras. Em suas falas percebi que elas entendem que todos nós somos seres inconclusos e que aprendemos durante toda nossa vida, não importando a idade e o tempo de profissão que temos. E isso é um excelente começo para buscar a melhoria da prática pedagógica. Elas são professoras cientes de seu papel na sociedade e na edificação de pessoas que reflitam sobre os fatos políticos, econômicos e sociais que acontecem em sua cidade e no mundo.
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OLIVEIRA, Diva de               Maria Luiza G. Atik         Ms.   Mackenzie  2006
Título: Os doze trabalhos de Hércules: a estilização do mito na obra Lobatiana
Sinopse: O objetivo deste trabalho é uma abordagem intertextual entre os textos-base Héracles de Eurípedes, As metamorfoses de Ovídio e Os doze Trabalhos de Hércules de Monteiro Lobato. Inicialmente, analisar-se-á como o mito do herói grego Hércules foi estilizado por Monteiro Lobato, através de um levantamento das marcas inseridas na variante intertextual, apontando as semelhanças e as dessemelhanças em relação aos textos-base. Para tanto, promover-se-á o encontro dos conceitos sobre dialogismo de Mikhail Bakhtin e a teoria sobre intertextualidade desenvolvida por Julia Kristeva. Pretende-se ainda demonstrar de que maneira o escritor de Taubaté contribuiu para a formação da Literatura Infantil brasileira e as inovações por ele idealizadas nas mais diversas áreas de atuação.
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OLIVEIRA, Danielle C. S.      Antonio R. Belon               Ms      UFMGS  2007
Título: Os doze trabalhos de Hércules: uma leitura do herói em Monteiro Lobato
Sinopse: Este trabalho realiza uma interpretação de Os Doze Trabalhos de Hércules (1944), de Monteiro Lobato, a partir da atuação do herói representada nesta narrativa e do mecanismo de produção e revisão textual. Neste estudo, desenvolvemos, num primeiro momento, uma pesquisa de campo nos acervos da Biblioteca Infantil Monteiro Lobato, do Município de São Paulo, e do Centro de Documentação Cultural "Alexandre Eulálio", da Universidade de Campinas,SP, em que foram selecionadas e comparadas as várias edições do livro citado, desde a primeira em 1944 às atuais. Em um segundo momento, temos os princípios da recepção literária em que são analisados o conceito e função de herói, mito de Hércules e interpretado o enredo lobatiano. Com o desenvolvimento deste estudo, procuramos apontar Lobato como o herói de seus escritos, por meio do processo de produção e revisão textual em que elaborou para recontar um mito sob o viés do trabalho coletivo, da praticidade, da inteligência e da modernidade atrelado ao compromisso lobatiano da construção do saber e do desenvolvimento cultural da criança.
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OLIVEIRA, Diva de               Maria Luiza G. Atik         Ms.    Mackenzie  2006
Título: Os doze trabalhos de Hércules: a estilização do mito na obra Lobatiana
Sinopse: O objetivo deste trabalho é uma abordagem intertextual entre os textos-base Héracles de Eurípedes, As metamorfoses de Ovídio e Os doze Trabalhos de Hércules de Monteiro Lobato. Inicialmente, analisar-se-á como o mito do herói grego Hércules foi estilizado por Monteiro Lobato, através de um levantamento das marcas inseridas na variante intertextual, apontando as semelhanças e as dessemelhanças em relação aos textos-base. Para tanto, promover-se-á o encontro dos conceitos sobre dialogismo de Mikhail Bakhtin e a teoria sobre intertextualidade desenvolvida por Julia Kristeva. Pretende-se ainda demonstrar de que maneira o escritor de Taubaté contribuiu para a formação da Literatura Infantil brasileira e as inovações por ele idealizadas nas mais diversas áreas de atuação.
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BECKER Elizamari R.      Patricia Lessa F. Cunha             Dr.    UFRGS  2006
Título: Forças motrizes de uma contística pré-modernista : o papel da tradução na obra ficcional de Monteiro Lobato
Sinopse: Este estudo objetiva analisar três forças motrizes que muito influenciaram a escritura de Monteiro Lobato: o conto, a tradução e a ideologia humanista. Conhecido por sua literatura infantil, pouco se estudou sobre sua obra adulta e menos ainda sobre sua profícua atividade tradutória. Como contista, Lobato pode ser dito ¿ ao lado de Machado de Assis ¿ um dos grandes incentivadores do conto, resgatando-o de sua posição marginal e elevando-o à categoria de gênero literário em uma época geralmente negligenciada pela crítica ¿ sua produção anterior à Semana de Arte Moderna (1922) ¿, alcançando seu público através de estratégias de marketing inovadoras e, portanto, formando um novo público leitor brasileiro. Seus ideais nacionalistas e suas crenças ideológicas estão presentes em tudo o quanto escreveu, proporcionando ao leitor do século XXI um claro panorama de sua época. O humanismo é, se não a mais visível ideologia em sua obra, a que gerou maior conflito, sobretudo em contraste com sua formação cristã e seu refinado tom pessimista. Tendo traduzido mais de cem livros, Lobato contribuiu indiscutivelmente tanto para a circulação quanto para a edição de obras traduzidas ¿ inglesas e norteamericanas em sua maioria ¿, enriquecendo, dessa forma, nosso polissistema literário e promovendo uma sensível mudança no status da tradução, marginal e secundária na época. Ele consciente e cuidadosamente escolhia o que traduzia com o intuito de alcançar um objetivo: dar ao público leitor brasileiro ¿ especialmente ao infantil ¿ literatura estrangeira de qualidade. Segundo ele, Kipling estava arrolado entre os ¿sumos¿ contistas, o que o levou a traduzir e publicar suas obras, experiência que resultou tanto na apropriação quanto na expropriação daqueles textos, o que pode ser facilmente verificado por qualquer leitor atento tanto da contística quanto do epistolário de Lobato, nas muitas estratégias por ele empregadas: empréstimos, invocações de personagens, reconstrução de histórias e imagens das narrativas de Kipling.
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BRATSIOTIS, Ericka Sophie       Elisa G. Pinto            Ms.   Mackenzie   2006
Título: A mitologia grega na obra do minotauro de Monteiro Lobato
Sinopse: As histórias da mitologia tentam expressar uma verdade que não pode ser captada de outra maneira. Os mitos são a busca dessa verdade. Monteiro Lobato, ao contar histórias, buscava a verdade levando seus personagens em viagens através dos tempos. A presente dissertação tem por objetivo contrastar, à luz da intertextualidade, o texto de Monteiro Lobato em sua obra O Minotauro com textos da mitologia grega escritos por outros autores, ressaltando a maneira como a história é narrada e o conhecimento transmitido ao leitor. Para que isso seja possível, este trabalho alicerçará seus estudos em Monteiro Lobato, A. S. Franchini, André Gide, Carmen Seganfredo, Joseph Campbell, Junito Brandão, Odile Gandon, Thomas Bulfinch e Viktor D. Salis. Para a análise da intertextualidade, tomou-se como referência os autores Barros e Fiorin, Bakhtin, Kristeva, Koch e Travaglia. Lobato, em seu texto, utiliza-se de uma linguagem simples para contar a história da Grécia Antiga e, ao longo da narrativa, dá definições de vocábulos e deixa claro o quanto este país foi importante para o desenvolvimento da arte, da ciência e, a influência que a língua grega tem na língua portuguesa
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MORAES, Gabino Ribeiro            Nelson Rego                 Ms.  UFRGS   2006
Título: A Chave do tamanho" abre o conhecimento do espaço geográfico
Sinopse: A presente dissertação caracteriza-se por uma proposta de instrumentalização do ensino de Geografia na perspectiva da interdisciplinaridade. Uma experiência de simbiose entre Geografia e Literatura foi realizada com a participação dos alunos do Projeto Amora, da quinta série do Ensino Fundamental do Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A obra A chave do tamanho, de Monteiro Lobato, foi utilizada como subsídio para a percepção do conceito de escala geográfica, muitas vezes confundindo com escala cartográfica. Esse elo pretende possibilitar a construção de um aluno cidadão, com ênfase na leitura e na imaginação. O projeto foi desenvolvido na perspectiva da pesquisa-ação, que aborda os significados humanos presentes nos conteúdos escolares, refazendo as teias de relações das nossas tradições e raízes culturais, bem como da memória coletiva. As operações mentais que os alunos utilizam para estabelecer relações entre os objetivos, situações, fenômenos e pessoas ou personagens são modalidades estruturais de inteligência que se transformam em habilidades. Três níveis distintos de relações podem estabelecer-se entre o aluno e a obra literária. O nível básico de operações mentais torna presente o objeto do conhecimento para o sujeito por meio das ações de identificar, localizar, descrever, perceber e reconhecer. O nível operacional de relações com e entre os objetos reúne os procedimentos necessários de comparar, compor, medir, organizar, representar e transformar, entre outros. O nível global envolve as operações mais complexas de aplicação de conhecimento, as quais exigem as capacidades de analisar, explicar, abstrair e construir. O objetivo deste estudo é oportunizar condições que favoreçam ou interfiram na construção das relações espaciais no plano do ensino e da aprendizagem, analisar as orientações presentes nas propostas curriculares e visualizar novas hipóteses ou possibilidades para o entendimento das relações espaciais. Esta pesquisa está referenciada em uma abordagem qualitativa que tem por base um projeto desenvolvido em sala de aula. Para isso, as aulas foram ministradas por uma dupla de professores que realizaram leituras e reflexões sobre a temática, utilizando os seguintes recursos: desenhos, atividades escritas, mapas conceituais, leitura dos dez primeiros capítulos da obra literária, observações e participação dos alunos. Os dados levantados sugerem a viabilização da obra A chave do tamanho, de Monteiro Lobato, como recurso didático na prática do ensino de Geografia. Além de facilitar o entendimento da noção de escala geográfica, este projeto oferece também novas oportunidades para facilitar a compreensão da realidade local e global.
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BASTOS, Glaucia Soares     Renato Cordeiros Gomes   Dr.     PUC/RJ  2007
Título: MONTEIRO LOBATO: PERFIS E VERSÕES
Sinopse: Esta tese apresenta uma leitura de parte da obra de Monteiro Lobato,relacionando-a com momentos importantes da vida do autor e com o contextointelectual e social brasileiro. Procura-se apontar, através de sua correspondência,certos princípios e intenções recorrentes quando da elaboração tanto de contoscomo de textos jornalísticos. Estuda-se também sua fortuna crítica, observando-secomo as interpretações de sua obra variam de acordo com os pressupostosadotados pela crítica literária e como se constroem perfis biográficos que sãoutilizados para sustentá-las.
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DIAS, João José                       Fernando Gil                   Ms.      UFSC   2007
Título: Expandindo o olhar das páginas literárias ao cinema: a caricatura do Jeca na expressão de Lobato e Mazzaropi
Sinopse: A construção da imagem e do tipo caipiras, dentro da literatura e do cinema, foi elaborada à luz de imagens e conhecimentos pré-estabelecidos e estagnados no tempo. A representação de sua imagem está, ainda hoje, atrelada a um modo de ver externo a sua cultura e corresponde aos interesses de quem detém o poder. A contingênncia dessa caracterização guarda máculas desse embate cultural e de classe entre o caboclo e o senhor de terras, detentor dos meios de produção. Analisada devidamente a pluralidade de tipos caipiras em Monteiro Lobato, na literatura, e Amancio Mazzaropi, no cinema, o que se vê é a perpetuação dessa imagem e a instituição de uma identidade de certa forma anômala do caboclo, o que fez com que fosse pintado, nos dizeres de Antonio Candido, de maneira bela, injusta e caricatural. Mesmo buscando a verossimilhança, ambos os autores acentuaram e fizeram retumbar com mais força e amplitude a marca negativa desse estereótipo, imprimindo-lhe de novo apenas um olhar piedoso e/ou analítico acerca das condições paupérrimas de vida do caipira paulista, sem, entretanto, irem a fundo em aspectos pertinentes a sua cultura e modo de vida. Compreendendo os períodos entre 1914 e 1970, o trabalho apresentado faz um passeio pelo breve século XX, mostrando de que forma acontecimentos como as duas grandes guerras e a Revolução Soviética de 1917, e suas posteriores consequências, por exemplo, foram encaradas no país, não se esquivando, por certo, de uma pertinente leitura das adaptações da imagem do caipira nesse período.
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NICOLA, Janaina           Edgar Cezar N. dos Santos     Ms.     UFMGS  2007
Título: No escuro do discurso: uma revisita a Emília e Eulália.
Sinopse: Sob o crivo das asserções legadas aos estudos críticos da linguagem e, em especial, aos que concernem ao discurso, este texto propõe-se construir um espaço de "confronto" entre linguístas e gramáticos, a fim de analisar esse polêmico, inquieto e ainda novo relacionamento - que sustenta as implicações acerca dos estudos da língua -, além de aspectos do status da gramática normativa no ensino de língua portuguesa. Para alcançar a meta, esta pesquisa ocupa-se do exame pretensamente dialógico dos textos: Emília no País da Gramática, de Monteiro Lobato, A Língua de Eulália, de Marcos Bagno, e o documento Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998). Essa intencionalidade reclama, pois, a investigação dos caminhos que percorrem os textos em questão, para a absorção das possibilidades de sentidos com que essas obras trabalham, a produção dos discursos que veiculam, a fim de desvendar o como e o do quê eles se constituem. O empreendimento descrito alinha-se às contribuições teóricas e práticas providas pela Análise de discurso de orientação francesa, que encontra especialmente nas figuras de Michel Foucault e Michel Pacheux os centros de gravitação em torno dos quais se encaminham as propostas do estudo do discurso que hoje irrompem. Esta pesquisa classifica-se como bibliográfica quanto aos meios nos quais se apóia e exploratória quantos aos fins de que se compraz. Metodologicamente, não optamos por pesquisa de campo, uma vez que a intencionalidade de que nos acercamos reclama o exame dos discursos veiculados pelas obras, bem como sua implicância na construção do discurso propagado pelas políticas educacionais que, por sua vez, estendem-se à vida social e particular daqueles que se valem de seus apontamentos, espontaneamente ou não. Construímos nosso corpus por meio da seleção de enunciados comparados à luz do suporte teórico desenvolvido. Dentre alguns dos resultados a que este estudo pode remeter, importa destacar a evidência, o movimento e a extensão do poder instaurado na prática (e no relacionamento) dos personagens em confronto, a contradição dos seus discursos com relação ao que pregam e a corrida (a luta) pela preservação de suas posições, de seus lugares políticos nas "cadeias dos saberes", sobrepondo-se às necessidades afirmadas com relação ao progresso educacional, à expansão de conhecimentos em face do preconceito linguístico e a emancipação idealizada pelo governo com base nos apontamentos advindos da ciência que essas duas classes (linguistas e gramáticos) fabricam e disseminam no estudo da linguagem.
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ROCHA, Jaqueline N.               Marisa P. Lajolo             Ms.  UNICAMP  2006
Título: De caçada as caçadas : o processo de re-escritura lobatiano de Caçadas de Pedrinho a partir de A Caçada da Onça
Sinopse: A Caçada da Onça , obra que Monteiro Lobato publicou em 1924, não integrou, em 1931, Reinações de narizinho ? título que resulta da junção de vários livros publicados por Lobato durante a década de vinte e inicio de trinta. Foi ampliada e rebatizou pelo autor em 1933 passando, então, a intitular-se Caçadas de Pedrinho. Este trabalho se ocupa do processo de transição da obra de 1924 para a de 1933 cotejando suas edições, considerando os diferentes momentos em que foram escritas, articulando as versões tanto à vida de Lobato quanto ao contexto sócio-historico brasileiro. Propõe, finalmente, uma leitura do texto de 1933 a partir da análise de seus aspectos formais e temáticos
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TOPAN, Juliana de Souza      Joaquim Brasil F. Jr.         Ms.   UNICAMP  2007
Título: O "Sitio do Picapau Amarelo da Antiguidade": singularidades das Grecias lobatianas
Sinopse:As primeiras adaptações de mitos gregos em obras destinadas a crianças e jovens, escritas e publicadas no Brasil, datam do início do século XX, em que Monteiro Lobato, autor considerado como um dos fundadores de nossa literatura infanto-juvenil, teve uma importante contribuição. Com a publicação de "O Minoutauro" (1939) e "Os doze trabalhos de Hércules" (1944), Lobato apresenta uma imagem da Grécia Antiga (em especial, do século V a. C., conhecido como "século de Péricles") e da Grécia Arcaica (que ele chama de "Heróica", por ser onde localiza os grandes feitos de heróis guerreiros, como Hércules). Nessas obras, chamanos a atenção a maneira como o autor se apropria da chamada "mitologia grega" - subvertendo, muitas vezes, a versão canônica, re-inventando narrativas, adaptando-as ao público mirim e apresentando uma imagem idealizada da cultura grega antiga e arcaica. Nesse sentido, Lobato revela suas influências de autores franceses, como Ernest Renan e Anatole France, e do filósofo e historiador Will Durant, ao reforçar, em suas obras, a idéia do "milagre grego". Além disso, constrói singularmente a figura do herói Hércules, como um homem bruto em modos e inteligência, mas dotado de grande sentimentalidade. Isso nos faz refletir sobre os diversos modelos de narrativa heróica, em especial, dos heróis grego arcaico (típico da narrativa épica) e europeu moderno (típico da narrativa romanesca)
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OLIVEIRA, Luciana S.       Ana Maria H. Baptista            Ms.  PUC/SP  2006
Título: Monteiro Lobato e a formação da literatura infantil brasileira: um possível questionamento sobre a idéia de precursor
Sinopse:Esta dissertação tem como objeto de estudo a idéia de precursor atribuída a Monteiro Lobato no que diz respeito à literatura infantil brasileira Partimos do pressuposto de que Lobato não deve ser considerado precursor embora tenha contribuído de forma significativa para a formação da literatura infantil contemporânea O lançamento de seu primeiro livro A menina do nariz arrebitado aconteceu no momento em que os ideais modernistas fervilhavam no Brasil O Movimento Modernista que inicialmente propunha a atualização do país em relação à Europa acabou por negar o passado e toda a influência exercida por Portugal. As mudanças que ocorrem com o conceito de infância na virada do século exerceram uma profunda influência na concepção da obra lobatiana A criança do século XIX não será a mesma do século XX O avanço da medicina a preocupação em relação à higiene o surgimento da penicilina os estudos psicológicos e pedagógicos dão uma nova dimensão e um novo significado à infância A literatura destinada a elas também passa por uma transformação visto que elas deixarão de ser consideradas adultos pequenos para serem vistas apenas como crianças que necessitam de cuidados apropriados à sua condição Dessa maneira tomaremos como base para nosso estudo a idéia da valorização do contexto histórico para propor uma reflexão sobre o papel que Lobato vem ocupando ao longo de diversas gerações tomado como o criador da literatura infantil no Brasil Para isso partiremos principalmente da análise das correspondências de Lobato ao amigo Godofredo Rangel publicadas posteriormente em A Barca de Gleyre
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Autoria                     -               Orientação        -      Grau  -  Local - Data
COELHO, Maicol M.L.       Marcia Helena M. Ferraz         Ms.  PUC/SP 2005
Título: Forte e bonito como o barão: ciência e propaganda no Brasil, início do século XX
Sinopse: Inconformado com os problemas causados por agregados em sua fazenda, Monteiro Lobato criou em 1914 o Jeca Tatu, símbolo de uma raça brasileira arredia à civilização. Em épocas anteriores, clima e miscigenação racial já eram apontados como culpados pela preguiça e indolência de parte dos brasileiros, em particular do caboclo, do caipira. Expedições ao interior do Brasil realizadas pelo Instituto Oswaldo Cruz, em especial as realizadas em 1912, deram outra resposta àquela velha questão: a culpa é da doença. As análises e as conclusões dos cientistas não ficaram restritas ao relatório de viagem, dentro do Instituto; a iniciativa do médico Belisário Penna as colocou ao alcance de parte, ainda que pequena, da sociedade. Interessado no tema, Monteiro Lobato teve contato em 1918 com as idéias dos cientistas, encontrou a cura para o seu Jeca Tatu e fê-lo, ainda, divulgar algumas das conclusões formuladas após os estudos realizados durante a expedição científica. Revigorado Jeca se tornou, pouco depois, garoto-propaganda do laboratório Fontoura. Estes acontecimentos tiveram lugar em uma época em que a publicidade, em particular de medicamentos, descobriu a credibilidade que o termo ciência e seus agentes conferiam aos produtos anunciados. Esta dissertação de mestrado permite compreender o papel da ciência na formação dos conceitos e imagens aqui apresentados. Analisa um momento da publicidade brasileira em que os anúncios de remédio avolumam-se em páginas de revista, e um momento seguinte, em que esses anúncios se valem da ciência para obter credibilidade. Analisa a origem e a transformação do Jeca Tatu, sua apropriação pela publicidade e algumas etapas da divulgação de idéias e conceitos científicos
           
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COSTA, Nivaldete F. da       Maria Arisnete C. Morais      Dr.     UFRGN  2005
Título: A Boneca Emília: por uma pedagogia performática
Sinopse: A pesquisa parte de uma visão histórica da boneca Emília criação do escritor Monteiro Lobato , relacionando-a com a educação, enquanto pedagogia performática. Utiliza aportes teóricos de Renato Cohen, pesquisador brasileiro da linguagem performática, e do pensador e pedagogo alemão Nietzsche, aplicando-os às obras Emília no país da Gramática, Aritmética da Emília e A chave do tamanho. Mostra que o performático tem suas origens mais remotas no mito de Dioniso e que, à semelhança da arte performática, tida como arte de fronteira, a pedagogia performática constitui-se também como uma pedagogia de fronteira, em vista da hibridização pedagogia-e-arte em que se funda, colocando-se igualmente no espaço das pedagogias culturais ou não formais. Dentro do conceito de pedagogia performática, chegamos à construção de um pequeno sistema pedagógico que abrange tanto o existencial quanto o científico. A pedagogia performática representada pela boneca Emília responde à condição bidimensional do ser humano: razão e sensibilidade. Por se fazer mediante uma aliança com a arte - no caso, a literatura -, é mais sugestiva do que prescritiva; está apta a colaborar para o surgimento de um paradigma pedagógico não-centrado na hegemonia do racional; tem um caráter atemporal e universal, podendo ser aplicada em todos os níveis de ensino, não se restringindo, entretanto, ao espaço escolar
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HABIB, Paula A. B. B.            Maria C. P. Cunha            Ms.  UNICAMP   2003
Título: Eis o mundo encantado que Monteiro Lobato criou : raça, eugenia e nação
Sinopse: O objetivo deste estudo é abordar uma parte da vida e da obra de José Bento Monteiro Lobato (1882-1948) investigando como dialogou com teorias raciais e com a Eugenia. No contexto histórico das primeiras décadas do século XX discutir a nação significou discutir a constituição racial do povo brasileiro e suas possíveis conseqüências para o futuro do Brasil. Assim, pretendi analisar como o autor participou e divulgou o projeto de intervenção social, que em um sentido mais amplo, vinculava-se ao tema da re...

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JUSTO, Rosa Maria O.    Maria A. da Costa Vieira          Ms.     USP     2007
Título: Os moinhos de vento no Brasil: uma leitura da adaptação de \ Dom Quixote das crianças\ de Monteiro Lobato
Sinopse: O presente trabalho consiste no estudo da adaptação de Dom Quixote das crianças (1936), de Monteiro Lobato, tendo com base o diálogo intertextual que a referida obra mantém com o Dom Quixote de la Mancha de Miguel de Cervantes (1605). Apesar da distância temporal que separa as duas obras, muitos aspectos as unem, em particular a preocupação com a leitura e com o próprio leitor da obra. A partir, portanto, do estudo da leitura e da condição do leitor correspondente a cada um dos períodos históricos, pretende-se desenhar possíveis análises e interpretações da obra de Monteiro Lobato, focalizando, em especial, as eventuais contribuições do escritor brasileiro para a formação de jovens leitores.
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GOH, Simone Strelciunas      Hudinilson Urbano              Ms.     USP    2004
Título: Metalinguagem e oralidade em Monteiro Lobato
Sinopse:O objetivo deste trabalho é resgatar a metalinguagem de Monteiro Lobato apresentada em um corpus único e cronológico e demonstrar que ele registra marcas de oralidade, criando um discurso que o próprio autor denomina de "conversa em mangas de camisa". Elegemos como corpus A Barca de Gleyre por julgarmos ser uma obra especial, em que o próprio Lobato relata suas considerações lingüísticas ao longo de quarenta anos em correspondência mantida com o amigo e também escritor Godofredo Rangel. Uma visão diferenciada da vida do autor é retratada, enfocando concomitantemente a essa biografia as considerações de Monteiro Lobato sobre a língua numa perspectiva sincrônica. Faz-se a seguir um apanhado descritivo das modalidades falada e escrita da língua, que auxilia nas reflexões e posicionamentos lobatianos, uma vez que o autor já reconhecia a existência dessas duas modalidades. Em seguida, ampliamos os pressupostos teóricos relativos aos aspectos selecionados para a pesquisa. Procede-se à análise das ocorrências no discurso do autor, no que tange a sua própria metalinguagem, a presença das repetições , termos gíricos e construções fixas, que contribuem para tornar o texto epistolográfico "uma conversa com um amigo, um duo". Na conclusão, destaca-se a valiosa contribuição de Lobato, que, por meio da obra A Barca de Gleyre, traçou um panorama da língua e da literatura durante quatro décadas e que demonstra pela sua própria postura lingüística que é possível elaborar um discurso crítico com a presença de repetições , gírias e construções fixas que corroboram para a expressividade, interação e coesão textual. Vale dizer que A Barca foi um dos instrumentos que possibilitou Lobato a ser Lobato, pelo exercício lingüístico e disposição que os dois correspondentes mantiveram por tantos anos
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BRANCO, Thatty de A. Catello   Eliana Lucia M.Y. G.      Ms.     PUC/RJ   2007
Título: O MARAVILHOSO E O FANTÁSTICO NA LITERATURA INFANTIL DE MONTEIRO LOBATO
Sinopse: O objetivo deste trabalho é percorrer a construção das categorias deMaravilhoso e Fantástico em algumas obras infantis do mestre MonteiroLobato, destacando as formas de apropriação de histórias de outras tradições.
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ABREU, Tâmara M.C.S.N.       Lourival Holanda              Ms.      UFPE   2004
Título: Um Lobato educador: sob o prisma da fecundidade da obra infantil lobatiana
Sinopse: A literatura infantil de Monteiro Lobato teve, desde os anos vinte, um papel fundamental na formação da criança brasileira: educar para a liberdade e para a autonomia. Esta pesquisa trata das relações entre a Literatura e a Educação; tem por finalidade mostrar como a amizade do escritor com dois educadores, Anísio Teixeira e Fernando de Azevedo, somada ao contexto histórico da Primeira República (1889-1930) quando as palavras de ordem eram nacionalismo, entusiasmo pela educação e otimismo pedagógico influenciaram os seus textos a partir da década de trinta. Apóia-se em documentos originais como as cartas entre o escritor e os educadores, e também em dados biográficos que comprovam as relações inferidas. Feito o estudo da Filosofia da Educação de John Dewey, vê-se que seus desdobramentos no Brasil se refletem no pensamento de Anísio Teixeira, Monteiro Lobato e Paulo Freire, irmanados por uma concepção progressista e humanizadora da educação e da própria vida. A pedagogia de Paulo Freire se revela, de certa forma, uma continuação da filosofia de Anísio e, conseqüentemente, da literatura lobatiana. Os livros da série infantil da coleção Obras Completas de Monteiro Lobato foram analisados à luz dos preceitos escolanovistas e progressistas, buscando estabelecer os pontos de interseção entre a sua literatura e a educação praticada por Anísio e Freire.
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CORDEIRO, Mariana S.     Regina H.M.A. Corrêa             Ms.   UEL      2005
Título: Mark Twain na "vitrine" de Lobato
Sinopse: Monteiro Lobato, no período compreendido entre a segunda metade da década de 10 e meados dos anos 20 do século passado, foi uma personalidade destacada no processo de formação do campo literário nacional. É possível perceber sua atuação através do resgate de sua história como escritor e seu papel no contexto editorial brasileiro o que faz surgir mais uma de suas atividades: a de tradutor. Para investigar essa atividade o presente trabalho propõe-se trazer à tona a tradução de Huck Finn feita por ele. Para tal tarefa, a análise de seu trabalho segue as propostas da Teoria da Invisibilidade formulada por Lawrence Venuti que estabelece as diferenças entre tradução domesticadora e estrangeirizadora. Venuti se coloca em defesa desta última por acreditar que ela seria a forma ideal de tradução para que o trabalho do tradutor seja "visível". Os trechos escolhidos para serem analisados são os que representam na escrita a oralidade do dialeto do negro do Missouri na fala do personagem Jim, e também as inserções de expressões coloquiais feitas pelo tradutor quando estas não apareciam na língua-cultura de partida

Monteiro Lobato
www.tirodeletra.com.br/academia_autores/MonteiroLobato.htm

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