ANÁLISE
FOLKMIDIÁTICA EM REINAÇÕES DE NARIZINHO
Rosangela
Marçolla
Monteiro
Lobato e a fusão do real com o maravilhoso
Tal como Lewis Carroll fizera com Alice no
País das Maravilhas, na Inglaterra de cinquenta anos antes, Monteiro Lobato o
fazia no Brasil dos anos 20: fundia o Real e o Maravilhoso em uma única
realidade. - Nelly Novaes Coelho
No início, Monteiro Lobato não utilizou elementos do mundo maravilhoso,
as histórias de tradição oral, em sua obra infantil. Às voltas com seu
pensamento materialista, baseado nos princípios positivistas, seria difícil
compreender a união dessas partes tão distintas.
Na primeira publicação de A Menina do Narizinho Arrebitado, percebe-se a
ausência de liberdade de criação do autor, que limita mais às questões reais,
fato que já não ocorre na publicação de Reinações de Narizinho, época em que
suas qualidades de escritor estavam bem mais aprimoradas e sua segurança o
levou a buscar mais criatividade, definindo seu estilo.
A leveza que Lobato apresenta em seus livros, como resultado de um longo
período como escritor, é consequência da
utilização dos elementos mágicos, imaginários, que conseguem transportar os
leitores para o mundo do faz-de-conta.
Esses elementos a que Lobato recorre já passaram por transformações. Não
são mais as histórias de tradição oral retiradas “ao natural” das camadas
populares, mas as narrativas aprimoradas, reelaboradas, como fez Perrault e os
Irmãos Grimm, cujos textos foram recomendados para as crianças.
Esse pode ter sido o motivo para que Lobato empregasse os fragmentos do
maravilhoso mais abrandados, principalmente porque os seus livros foram
encaminhados às crianças pelas mãos de educadores, como parte de ensino
formal.
Para se entender esse maravilhoso na literatura, remete-se aos estudos
de Tzvetan Todorov (1975, p. 14), que alude ao assunto afirmando inicialmente
que “a literatura é criada a partir da literatura, não a partir da realidade,
quer seja esta material ou psíquica; toda obra literária é convencional”.
Seguindo esse caminho, Monteiro Lobato mostra a sua preocupação ao
entrar no mundo das crianças, através da literatura, pois a responsabilidade do
escritor seria redobrada ao discutir temas impróprios aos seus leitores,
disfarçados por elementos mágicos ou maravilhosos.
Esse mundo maravilhoso a que Monteiro Lobato busca inserir em sua obra
infantil engloba, justamente, as histórias de tradição oral, em forma de contos
maravilhosos, contos de fadas, fábulas, lendas e mitos.
Essa essência contida nessas narrativas está presente em seus livros, a
começar pelo primeiro que escreveu para as crianças, que levou mais tarde o
nome de Reinações de Narizinho, que servirá como base para o reconhecimento das
histórias de tradição oral na produção literária deMonteiro Lobato.
Contos
maravilhosos e contos de fadas
Se não me engano, é esta a tal Boneca -Falante
que está famosa no reino das Fadas..- Monteiro Lobato
Em Monteiro Lobato essa tendência ao maravilhoso pode ser comprovada com
alguns trechos de Reinações de Narizinho, exatamente quando Lúcia, a Narizinho,
vive o seu conto maravilhoso na história “No Reino das Águas Claras”.
A personagem deita-se com a sua boneca, Emília, que ainda não fala,
fecha os olhos e transporta-se como num sonho para um mundo sob as águas do
ribeirão que passa pelo Sítio. Vive a aventura de conhecer um príncipe entre
vários outros personagens e sente-se a própria princesa.
Não se pode afirmar que foi sonho ou que ela foi levada para um mundo
maravilhoso. Na primeira versão, de 1921, Monteiro Lobato utiliza-se mais de
seus conteúdos racionais e na outra versão, de 1934, que permanece em
todas as outras, o autor, mais solto de suas ideologias, reescreve de forma
diferente, mais voltado ao maravilhoso do que ao real.
Pode-se constatar essa alteração através dos seguintes textos:
... toda perturbada, ia responder, quando
uma voz conhecida a deslizar como sempre e lá na porteira a tia
velha de lenço amarrado na cabeça. Que pena! Tudo aquilo não passara dum lindo
sonho...
...Mas assim que entrou na sala de baile,
rompeu um grande estrondo lá fora – o estrondo duma voz que dizia:
- Narizinho, vovó está chamando!...
Tamanho susto causou aquele trovão entre os
personagens do reino marinho, que todos sumiram, como por encanto. Sobreveio
então uma ventania muito forte, que envolveu a menina e a boneca, arrastando-as
do fundo do oceano para a beira do ribeirãozinho do pomar.
Estavam
no sítio de Dona Benta outra vez!
“E a narrativa prossegue abrindo-se para uma nova ‘aventura’: a
anunciada chegada de Pedrinho. Não mais o sonho, mas o real penetrado de
magia”, com essas palavras Nelly Novaes Coelho (1991, p. 123-124) mostra a
desenvoltura com que Lobato adquire, com o passar do tempo, para escrever suas histórias. Essa
evolução, segundo a pesquisadora, leva o leitor a apreciar a obra de Lobato, a
partir das mudanças de textos, dando um novo sentido ao seu estilo literário,
firmando-se como um grande escritor.
Os livros que seguiram a primeira experiência literária de 1921
começaram a trazer muitos elementos da literatura fantástica, com a inserção do
maravilhoso em seu conteúdo, convivendo naturalmente com o real.
Enfim, as narrativas maravilhosas decorrem no mundo da magia, da
fantasia ou do sonho, onde tudo escapa às limitações ou contingências precárias
da vida humana e onde tudo se resolve por meio sobrenaturais. Castelos,
palácios, florestas ou bosques encantados; reis e rainhas bons ou maus;
princesas belas, venturosas ou infelizes; príncipes heroicos e salvadores;
‘tapetes voadores’; ‘botas de 7 léguas’, ‘lâmpadas maravilhosas’, anões e gigantes...
são elementos que povoam esse universo mágico que, desde os primórdios, vêm enchendo
de beleza, poesia e sonho o espírito dos homens e das crianças (COELHO, 1991,
p. 154).
Os elementos que compõem o elenco dos contos maravilhosos estão
presentes na obra infantil de Monteiro Lobato, dando às crianças a
possibilidade de viverem histórias com conteúdos sobrenaturais, mostrados com
naturalidade durante as aventuras, o que possibilita um maior envolvimento do
leitor com a obra, preocupação do autor-editor, inclusive quando realizou
várias alterações em seus livros, com o
intuito de deixá-los mais interessantes.
Como se sabe, a liberdade de Lobato em alterar os seus textos estava
subordinada ao fato de ser ele escritor e editor,
simultaneamente, o que lhe facilitava o trabalho de publicar os seus livros à medida
que os vendessem e mudar, significativamente, as suas histórias quando
decidisse.
Uma outra comparação pode ser feita com base nas primeiras páginas das
publicações de Reinações de Narizinho, 1921 e de 1934, com o objetivo de
mostrar as diferenças mais e as alterações, feitas pelo próprio autor, para dar
mais vida às suas histórias.
Na publicação do livro Reinações de Narizinho, datada de 1921, começa da
seguinte forma:
Naquela casinha branca – lá muito longe,
mora uma triste velha de mais de setenta anos. Coitada! Bem, no fim da vida que
está, e trêmula e catacega, sem um só dente na boca – jururu...
Todo o mundo tem dó dela:
- Que tristeza viver sozinha no meio do
mato...
Pois estão enganados. A velha vive feliz e
bem contente da vida, graças a uma netinha órfã de pai e mãe, que lá mora
des’que nasceu. Menina morena, de olhos pretos como duas jaboticabas – e
reinadeira até ali!... Chama-se Lúcia, mas ninguém a trata assim. Tem apelido.
Yayá? Nenê? Maricota? Nada disso. Seu apelido é “Narizinho Rebitado”, - não é dizer
porque.
Além de Lúcia, existe na casa a tia
Nastácia, uma excelente negra de estimação, e mais a Excelentíssima Senhora
Dona Emília, uma boneca de pano, fabricada pela preta e muito feiosa, a pobre,
com seus olhos de retrós preto e as sobrancelhas tão lá em cima que é ver uma
cara de bruxa.
Mas apesar disso, Narizinho quer muito bem
à Sra. Dona Emília, vive a conversar com ela e nunca se deita sem primeiro
acomodá-la numa redinha armada entre dois pés de cadeira.
Fora esta bruxa de pano, o outro encanto de
Narizinho é um ribeirão que passa ao fundo do pomar de águas tão claras que se
veem as pedras do fundo e toda a peixaria miúda.
A partir da publicação de 1934, cuja versão permanece até hoje, salvo
atualizações ortográficas, Lobato realiza algumas alterações em seus textos,
mostrando a sua intenção de acompanhar a evolução da sociedade e o interesse
das crianças pelos seus livros.
Começa assim:
Numa casinha branca, lá no sítio do Pica-pau
Amarelo, mora uma velha de mais de sessenta anos. Chama-se Dona Benta. Quem
passa pela estrada e a vê na varanda, de cestinha de costura ao colo e óculos
de ouro ponta do nariz, segue seu caminho pensando:
- Que tristeza viver assim tão sozinha
neste deserto...
Mas engana-se. Dona Benta é a mais feliz das
vovós, porque vive em companhia da mais encantadora das netas – Lúcia, a menina
do narizinho arrebitado, ou Narizinho como todos dizem. Narizinho tem sete anos,
é morena como jambo, gosta muito de pipoca e já sabe fazer uns bolinhos
de polvilho bem gostosos.
Na casa ainda existem duas pessoas – tia
Nastácia, negra de estimação que carregou Lúcia em pequena, e Emília, uma
boneca de pano bastante desajeitada de corpo. Emília foi feita por Tia
Nastácia, com olhos de retrós preto e sobrancelhas tão lá em cima que é ver uma
bruxa.
Apesar disso Narizinho gosta muito dela;
não almoça nem janta sem a ter ao lado, nem se deita sem primeiro acomodá-la
numa redinha de dois pés de cadeira.
Além da boneca, o outro encanto da menina é
o ribeirão que passa pelos fundos do pomar. Suas águas muito apressadinhas e
mexeriqueiras correm por entre pedras negras de limo, que Lúcia chama as ‘tias Nastácias
do rio’.
A análise comparativa dos primeiros textos publicados no livro Reinações
de Narizinho segue os estudos de Nelly Novaes Coelho, que se aprofundou nas
pesquisas sobre a literatura infantil, inclusive nas obras de Monteiro Lobato,
oferecendo aos pesquisadores posteriores ao seu trabalho, subsídios de muita
importância para a evolução do conhecimento científico.
Em um primeiro momento, percebe-se a presença dos elementos que
constituem a estrutura dos gêneros literários infantis, que
se classificam em contos, fábulas, lendas e mitos por toda a obra infantil lobatiana.
O início da história registra o estilo do “era uma vez”, escrito da
seguinte forma: “numa casinha branca”, “lá no Sítio do Pica-pau Amarelo”. A ideia
do livro corresponde à essência dos contos maravilhosos, remetendo o leitor ao
mundo das florestas, bosques que, por sua vez, indica um lugar distante, que não se sabe
exatamente a sua localização.
A pobre velhinha tinha a princípio setenta anos, em sua primeira
publicação. Sabe-se que Lobato escreveu vários livros, com histórias
independentes, mas que se completavam como um todo.
Com o desenrolar de novas histórias, que colocavam dona Benta como
participante ativa das aventuras das crianças, sua idade teve
que ser diminuída dez anos, na publicação de 1934.
A relação adulto/criança nas obras lobatianas torna-se cada vez mais
presente. Dona Benta, a triste velha na concepção das pessoas que a vêem de
longe, na verdade é uma pessoa feliz justamente porque cuida de sua neta.
Com a chegada de seu outro neto, Pedrinho, a avó fica ainda mais feliz e
participa de muitas aventuras na companhia dos dois, contradizendo a primeira
impressão que, porventura, os leitores pudessem ter dessa personagem. Na
publicação de 34, essas impressões sobre a tristeza de dona Benta são bem mais
atenuadas, dando um outro ritmo à história.
A sua felicidade gira em torno das crianças. Adora conviver com os seus
netos e com a boneca Emília, pela qual nutre simpatia e acha graça de tudo o
que ela fala, por mais bobagem que seja.
A importância de dona Benta ainda pode ser percebida posteriormente
durante toda a obra infantil de Lobato, pois o autor deu a ela o papel de
contadora de histórias, que liga as narrativas umas às outras, envolvendo as crianças
em muitas aventuras.
Em comparação com a primeira publicação, a segunda traz os personagens
mais próximos de seus leitores, através de adjetivos que mostram afetividade,
além de detalhes minuciosos, desenhando características específicas de cada um,
como os óculos de ouro de dona Benta, a feiúra de Emília, entre outras.
A própria boneca Emília, na primeira publicação, tinha uma participação
discreta. Não se mostrava importante para a história, mas com o tempo, ganhou
forças, inclusive superando Lúcia, tornando-se a personagem mais
conhecida no mundo literário infantil.
Na edição de 21, Lobato retrata o ribeirão com suas águas claras,
insinuando que o reino pudesse ser conhecido por todos. Na alteração feita em
34, o ribeirão é mostrado com águas escuras, decorrentes do limo, escurecendo-o
e evitando, assim, que o reino pudesse ser visto das margens do rio.
Como o “Reino das Águas Claras” refere-se a um mundo fantástico,
lembrando o cenário dos contos maravilhosos, deve ficar oculto e ser desvendado
aos poucos pelos personagens durante a história, transformando-se no centro das
atenções onde se desenvolve o enredo.
Durante os anos que distam de uma obra para outra, Lobato pôde revê-las
aos poucos e contemplá-las com alterações substanciais, fato difícil de ser
encontrado na literatura brasileira, pois se tratava do trabalho de escritor e
de editor, simultaneamente.
Apesar das mudanças, mostradas através dos textos iniciais de Reinações
de Narizinho, publicadas em épocas distintas, a essência das histórias não se
alterou em relação aos princípios da literatura oral, estudada neste
trabalho. Ao contrário, mesmo nas adaptações televisivas, percebe-se a sua
presença como fator de atração das crianças telespectadoras, o que se pode
perceber ao longo deste capítulo.
Essa é a mais rica estória-fábula de Monteiro Lobato, quanto ao seu
aspecto fantástico. E não pense que ele fez do livro um porto miraculoso de
absurdos e devaneios inócuos; não.
Sua fantasia é exatamente aquela de que não prescinde a criança, pois é
dentro dessa fantasia que ele tão sabiamente transmite verdades eternas, porque
são válidas, por estarem na essência humana. E ele sabia que, para intuir as
grandes mensagens, tinha de tornar-se criança, para chegar à criança. (...)
Sabia manipular seu reino encantado e conciliá-lo com a realidade... (CARVALHO,
s.d., p. 245).
Em Reinações de Narizinho, percebe-se a presença constante dos elementos
que compõem a estrutura dos contos clássicos. Em primeiro lugar, surgem,
durante toda a história, os efeitos de
metamorfose, o encantamento dos seres,
o que leva o leitor a entrar no mundo fantástico, vivendo os enredos
maravilhosos.
A metamorfose trata-se da transformação dos seres, como pessoas comuns,
pobres, ricas, príncipes, princesas, encantadas sempre por um ente maléfico,
uma bruxa, em animais, para cumprir um destino.
Na obra de Lobato, a história da dona Aranha (p. 17) é um exemplo de
metamorfose que ocorre com frequência nas histórias, provenientes da tradição
oral:
...quando nasci, uma fada rabugenta, que
detestava minha pobre mãe, virou-me em aranha, condenando-me a viver de
costuras a vida inteira. No mesmo instante, porém, uma fada boa surgiu, e me
deu esse espelho com estas palavras: ‘No dia em que fizeres o vestido mais
lindo do mundo, deixarás de ser aranha e serás o que quiseres.’
Sem dúvida, o vestido mais lindo do mundo seria o de Narizinho, feito
exclusivamente para o seu casamento com o Príncipe Escamado. A inserção desses
elementos clássicos às histórias criadas por Lobato, enriquecem a obra com uma
mistura de real e maravilhoso, mostrando a convivência de crianças com as
fadas, as bruxas, etc.
A presença da metamorfose auxilia na construção do enredo, pois são os
elementos maravilhosos que fazem a história ficar na memória das crianças. Para
entender melhor esses elementos, Nelly Novaes Coelho (1991, p. 159) explica:
a transformação dos seres e das coisas,
sem dúvida, está ligada à idéia de evolução da humanidade e do universo, e deve
ter preocupado o homem desde os primórdios, pois aparece nas mais antigas
fontes das narrativas que se conhecem. Liga-se, talvez, a antigas crenças de
que todos os seres anormais ou disformes (formas humanas misturadas a formas animais,
seres fabulosos) possuíam altos poderes de interferência na vida dos homens.
Nota-se ainda que, normalmente, são as mulheres que conseguem
desencantar os
encantados.
Os talismãs, também, fazem parte dos elementos que compõem os contos
universais. Conhecidos como objetos mágicos são presenças constantes das
histórias imaginativas: as três gotas de sangue no lenço, com o significado da
mãe dar proteção à filha; o espelho mágico, a vara de condão, o peixe
encantado, etc.
Nos livros infantis de Monteiro Lobato há o famoso pó de pirlimpimpim,
que conduz os personagens, transportando-os para muitas aventuras, em lugares e
tempos diferentes, como em um sonho. Além desses objetos, há, ainda, os seres
especiais que interferem no destino dos personagens, como os anões, os gnomos,
os duendes, as aves encantadas, entre outros.
Faz parte do maravilhoso a maneira instantânea, o ‘passe de mágica’ que
soluciona os problemas mais difíceis ou satisfaz os desejos mais impossíveis.
Tais soluções atendem, sem dúvida, a uma aspiração profunda da alma humana:
resolver, de maneira mágica ou por um golpe de sorte, os problemas insuperáveis
ou conquistar algo aparentemente inalcançável (COELHO, 1992, p. 159-160).
“Viveram felizes para sempre” também é o final conhecido em todos os
contos clássicos. A imagem da felicidade proveniente do casamento, significa,
na verdade, “a harmonia entre Consciente e Inconsciente...”(CARVALHO, s.d., p.
92).
A figura simbólica dos personagens possui um forte significado nas
histórias de tradição oral. Só para exemplificar, os casamentos de Emília com o
Marquês de Rabicó (futuro príncipe) e Narizinho com o Príncipe Escamado
(príncipe e rei do “Reino das Águas Claras”) convém salientar esses
significados, segundo CARVALHO (s.d., p. 92):
A princesa é o inconsciente amoroso; todas as suas potencialidades estão
adormecidas, para serem despertadas pelo amor. O príncipe simboliza o
consciente: jovem, idealista, apaixonado; empreendedor e ativo, é, portanto,
símbolo da força vital, do consciente impulsivo; pronto a viver, a lutar por
sua amada. Enfrentando obstáculos e empunhando armas, para merecê-la. Enquanto
a princesa, quase criança ainda, é apenas a virgem casadeira, a herdeira, a
quem cabe a responsabilidade da perpetuação do trono, para assegurar a
continuidade da hierarquia, garantindo a paz e a segurança.
Na verdade, essa situação não é o que ocorre nas histórias infantis de
Lobato. Há a busca do casamento e a sua importância para os
personagens mudarem as suas condições naturais da qual pertencem. Mas o significado de
príncipes e princesas, principalmente Narizinho e Emília, não é o mesmo dos contos de fadas.
As personagens de Lobato não vão assumir o papel clássico dessas
princesas, pois não se casam por amor, não são adultas, são apenas crianças
(inclusive a boneca) procurando aventuras. Os príncipes também não são exemplos de
homens altivos (nem homens são), pois referem-se a um peixe e a um porco! Casamentos
impossíveis, que se inserem no mundo do irreal, do fantástico.
Qualquer sacrifício seria válido para alcançar o seu objetivo de
tornar-se princesa, o sonho de todas as meninas, incutido pelos ideais das
histórias de tradição oral.
Nota-se neste trecho do livro, a vontade se de casar com um príncipe: “... Emília ficou pensativa. Ser princesa
era o seu sonho dourado e se para ser princesa fosse preciso casar-se com o
fogão ou a lata de lixo, ela o faria sem vacilar um momento...” (p. 47).
Faz parte do mundo do faz-de-conta a escolha de determinados números. O
três e o sete são os preferidos das histórias clássicas.
Basta lembrar dos três porquinhos, dos sete anões, entre outros.
No Sítio, os personagens principais também são sete: Dona Benta, Tia
Nastácia, Tio Barnabé, Narizinho, Pedrinho, Emília e Visconde de Sabugosa, além
dos três animais que falam: o rinoceronte Quindim, o porco Marquês de Rabicó e
Conselheiro, o burro falante.
A repetição dos números (principalmente 3 e 7) nas estórias maravilhosas
é bastante notória. Obviamente estarão ligados à simbologia esotérica dos
números que tanta influência tem nas Religiões e Filosofias antigas. É essa, com
certeza, uma área excelente para estudos ligados a um conhecimento mais
profundo das narrativas primordiais, hoje transformadas em folclóricas ou
infantis (COELHO, 1991, p. 160).
Os contos de fadas diferem dos contos maravilhosos justamente pela
presença das fadas, criaturas prontas para ajudar o seu escolhido. Monteiro
Lobato conhecia histórias e mais histórias clássicas de fadas e, sabendo que as
pessoas têm atração por elas, não as deixou fora de seus livros.
Se há personagem que apesar dos séculos e da mudança de costumes
continua mantendo seu poder de atração sobre homens e crianças, essa é a fada.
Pertence à área dos mitos, a Fada ocupa um lugar privilegiado na estrutura
vital que neles é representada: encarna a possível realização dos sonhos ou
ideais, inerentes à condição humana (COELHO, 1991, p. 155).
O destino como sinônimo de fado, remete à idéia contida nos contos de
fadas. Nas histórias de Monteiro Lobato esses destinos estavam submetidos à
ordem dos acontecimentos, sempre com a
presença do imponderável.
Nas viagens de que os personagens participam, sempre há o inesperado,
algo que pode acontecer e mudar o enredo, inclusive com a presença de pequenos
animais falantes, de seres mágicos, etc.
A visita das fadas no Sítio era uma constante. Não só frequente, como
também fato comum, que poderia acontecer em qualquer lugar. Bastava Narizinho,
Pedrinho e Emília organizarem uma festa e enviarem convites que todas as
famosas deusas das histórias clássicas apareceriam.
Os personagens do mundo do faz-de-conta que visitam o Sítio, cujos
convites foram enviados por Narizinho, por meio de um beija-flor, que disse que
sabia ler, chegam de longe: Cinderela, Branca de Neve, Pequeno Polegar, Capinha
Vermelha, Ali Babá, Gato de Botas, Peter Pan, Rosa Vermelha e Rosa Branca e até
o Barba Azul.
Histórias resgatadas do povo e recontadas por Charles Perrault e pelos
Irmãos Grimm, além das personagens criadas por Andersen, como o Soldadinho de Chumbo,
o Patinho Feio, Hansel e Gretel, os famosos João e Maria. Até Xeerazade (sic)
das Mil e Uma Noites também foi à festa!
Um fato interessante é a posição que Monteiro Lobato coloca os
personagens de suas histórias. Emília é a boneca mais conhecida no reino das
Fadas. Em uma das visitas de Cinderela ao Sítio do Pica-pau Amarelo, ao pegar
Emília em seu colo, diz: “já a conheço de fama!” (p. 91).
Narizinho também é muito famosa no reino dos contos. Todos os
personagens das histórias clássicas também a conhecem.
Dona Carochinha, a famosa baratinha dos livros infantis, em conversa com
Narizinho (p. 14), ao reclamar da fuga de seus personagens que já não suportam
mais ficar guardados em livros velhos e empoeirados, imputa a ela a
culpa de tamanha revolta:
Tudo isso – continuou dona Carochinha – por
causa do Pinóquio, do Gato Félix e sobretudo de uma tal menina do narizinho
arrebitado que todos desejam muito conhecer. Ando até desconfiada que foi essa
diabinha quem desencaminhou Polegar, aconselhando-o a fugir.
O coração de Narizinho bateu apressado.
- Mas a senhora conhece essa tal menina? –
perguntou, tapando a nariz com medo de ser reconhecida.
- Não a conheço – respondeu a velha – mas
sei que mora numa casinha branca, em companhia de duas velhas corocas...
É realmente muito interessante a importância que Monteiro Lobato dá a
seus personagens, igualando-os aos mais famosos do mundo clássico das histórias
infantis, imortalizados, mas vivos apesar dos tempos.
Em diálogos marcantes de seu livro, Lobato traz dona Carochinha e suas
famosas histórias, dos tempos remotos, com um forte sentido de crítica. Ao
falar dela, mostra o sentimento de repúdio que tinha das histórias antigas, mal
traduzidas para a língua portuguesa, sem nenhum conteúdo que despertasse o
interesse das crianças, o que se pode observar com este trecho do livro (p.
13):
- Quem é esta velha? – perguntou a menina
ao ouvido do príncipe. Parece que a conheço...
- Com certeza, pois não há menina que não
conheça a célebre dona Carochinha das histórias, a baratinha mais famosa do
mundo...
A falta de histórias novas e criativas era uma das questões mais
discutidas por Lobato, mesmo antes de começar a escrever para as crianças.
Dizia ele, em carta a Godofredo Rangel, escrita em 1921, que “a desgraça da
maior parte dos livros é sempre o excesso de ‘literatura’ ” (s.d, p. 419).
Esse excesso a que Lobato se referia era justamente o exagero das
expressões vernaculares, a dramatização das histórias, escritas com linguajar
arcaico e pouco compreensível pelas crianças, o
que denotava, na época, o parco
conhecimento do seu público infantil.
Ao falar das histórias de dona Carochinha, antigas e com pouco
significado, porque eram traduzidas “ao pé da letra”, sem a busca de adequação
à língua, Lobato apresenta essas críticas, mostrando a revolta dos personagens,
levando ao exagero, pois nem eles se suportam mais, guardados nos velhos
livros.
Em busca do paradeiro do Pequeno Polegar, dona Carochinha, em conversa
com Narizinho e o Príncipe Escamado (p. 13), confessa a sua angústia:
- Não sei – respondeu dona Carochinha – mas
tenho notado que muitos dos personagens das minhas histórias já andam
aborrecidos de viverem toda a vida presos dentro delas. Querem novidade. Falam
em correr mundo a fim de se meterem em novas aventuras.
Aladino queixa-se de que sua lâmpada maravilhosa está enferrujando. A
Bela Adormecida tem vontade de espetar o dedo noutra roca para dormir outros
cem anos. O Gato de Botas brigou com o marquês de Carabás e quer ir para os
Estados Unidos visitar o Gato Félix.
Branca de Neve vive falando em tingir os cabelos de preto e botar ruge
na cara. Andam todos revoltados, dando-me um trabalhão para contê-los. Mas o
pior é que ameaçam fugir, e o Pequeno Polegar já deu o exemplo.
Monteiro Lobato criou um mundo especial para suas histórias. Apesar dos
personagens estarem ambientados em um sítio, era a partir dele que as histórias
irreais aconteciam. O local era apenas um pretexto para as inúmeras aventuras.
Nesse Sítio há a forte presença dos contos maravilhosos e dos contos de
fadas, em todas as suas formas, através das aventuras dos personagens. Com o
uso do pó de pirlimpimpim, um elemento mágico, muitas histórias se desenrolam
em lugares distantes, além de muitas outras histórias também acontecerem no
próprio sítio, por meio da visita de personagens famosos das histórias de
tradição oral.
Os animais vivem muitas ações nesse mundo do faz-de-conta. Formigas com
seus reinos, que dão verdadeira lição de civilização, mostram um modelo de
governo ideal, através dos diálogos dos personagens de Reinações de Narizinho.
Abelhas, besouros e uma infinidade de insetos que falam e ajudam a compor o
cenário das histórias de Lobato.
Fábulas
Sirvo-me de animais para instruir os homens. La
Fontaine
Monteiro Lobato era um homem de
muitas idéias. Concepções novas para ideias velhas, entre reformulações de
muitos pensamentos ultrapassados. Um homem de visão intelectual, como era, não
permitiria que a lição de moral, em forma literária de fábula, como norma de comportamento,
fizesse parte de sua obra infantil.
O que fez, então, foi utilizar os personagens do Sítio para mostrar as
fábulas e, principalmente, através da fala de Emília, contestar a sua moralidade
para os leitores de suas histórias.
O encontro dos personagens com La Fontaine no “País das Fábulas”, também
chamado de “Terra dos Animais Falantes”, por meio do uso do pó de pirlimpimpim,
leva o leitor a conhecer a essência dessas histórias (p. 130):
- Mas será mesmo que os animais desta terra
são falantes, ou faz de conta que falam? – perguntou Narizinho.
- Falam pelos cotovelos! – respondeu
Peninha. Falam para que possa haver fábulas...
La Fontaine ganha vida, nesta história, ao mostrá-lo escrevendo as suas
fábulas, como se elas estivessem sendo escritas como retrato fiel da natureza.
Os animais, já muito falantes, neste reino, apenas alimentavam os diálogos que
o escritor, atentamente, colocava no papel. Observando esta passagem, percebe-se a atuação
dos animais nas fábulas, na versão de Lobato (p. 131):
- É o lobo! – cochichou Peninha. Vai
devorar o cordeirinho da fábula.
- Que judiação! – exclamou a menina com dó.
Não deixe, Pedrinho. Jogue uma pedra nele.
- Psiu! – fez Peninha. Não atrapalhem a
fábula. O senhor de La Fontaine lá está, de lápis na mão, tomando notas.
Monteiro Lobato, apesar de mostrar que as fábulas são histórias vivas,
que fazem parte do conhecimento humano, repletas de lição de moral e normas de
comportamento, ensinadas às crianças como princípios de conduta a serem
seguidos, não alterou seus conteúdos, preservando-os pelas mãos de famosos
fabulistas.
Mais um encontro no “País das Fábulas”: Esopo e La Fontaine, que os
apresentou às crianças, dizendo ser ele o precursor das fábulas no mundo. Os
maiores escritores de fábulas, que viveram em épocas tão distantes, estavam um
ao lado do outro, conversando e, como se não bastasse, discutindo a origem das fábulas!
Desse mundo encantado, surge mais um morador do Sítio, o Burro Falante,
um burro que foge de uma fábula, onde é acusado injustamente de disseminar uma
peste no reino dos animais e vai com as crianças participar de outras
aventuras.
Monteiro Lobato não inseriu animais, com suas características
primordiais, em sua obra infantil, a fim de discutir o comportamento humano.
Usou animais sem essas características conotativas: o burro é um animal que
participa das histórias fantásticas; o Marquês de Rabicó é um porco, que só
causa confusões e gosta muito de comer e o rinoceronte Quindim é um animal que domina
a língua portuguesa (talvez uma referência ao seu antigo professor de
português, o Dr. Quirino, e ao fato de ter sido reprovado nessa matéria).
Devemos ressaltar, ainda, outro aspecto interessante na adaptação da
fábula por Monteiro
Lobato. Como Dona Benta conta as
histórias às crianças e estas têm liberdade de opinião, as atitudes dos insetos
são questionadas pelas personagens e aí, justamente nessa recepção crítica,
reside o fator de maior responsabilidade pelo caráter emancipador da narrativa lobatiana...
(MARTHA, 2001, p. 7)
O autor mostra um novo sentido às fábulas, criticando o seu conteúdo
cheio de moralidade, levando o leitor a questionar o final das histórias, como
no caso da formiga e da cigarra, que morre por ser uma “artista” e viver cantando
e alegrando as laboriosas formigas que preparam seus alimentos para os dias de
inverno.
Apesar da história da formiga e da cigarra não ter seu enredo alterado
por Lobato (no final a cigarra também morre), pelo menos deu às crianças a
oportunidade para discutir os relacionamentos humanos, inserindo uma formiga
boa que ficou constrangida com a situação da cigarra, ao invés da dureza mostrada
pela formiga má que bate a porta diante da cigarra, permitindo que ele morresse
de frio, sem tempo de pedir ajuda.
Lobato, que carregou em suas produções literárias, uma certa ideologia
cientificista, não teria ficado ausente das conquistas da Ciência e dos avanços
da Zoologia que havia descoberto, por exemplo, que a cigarra “canta” por natureza.
Durante vinte séculos a humanidade viveu celebrando a morte da inútil
cantora. Um belo dia surge o naturalista Fabre, apaixonado por essas pequenas
criaturas. Descobre que, na seca, a cigarra fura as cascas das árvores, e
enquanto as suga e se alimenta, canta. Depois são numerosos os sedentos que
descobrem a fonte. Primeiro se aproveitam só da gota que escorreu; depois vão à
fonte: vespas, moscas e sobretudo formigas... Estas caminham sob a cigarra, que
se ergue nas patas e deixa passagem livre às inoportunas (GÓES, 1984, p. 147-148).
Ao resgatar as fábulas, Monteiro Lobato modernizou seus conceitos, não
alterando sua essência, mas permitindo ao leitor, com a ajuda dos personagens do
Sítio, que questionassem seu aspecto moral.
Dentre as formas literárias das histórias de tradição oral, as fábulas
estão presentes, juntamente com os contos maravilhosos e os contos de fadas,
dando vida à obra de Monteiro Lobato, assim como as lendas e os mitos, que
agora serão analisados.
Lendas
e Mitos
... e lá se vão Pedrinho e Narizinho, para
a caçada do Saci. E Pedrinho pega o Saci!... - Bárbara Vasconcelos de Carvalho
As lendas têm origem no povo de determinada região e são amplamente
estudadas pelo folclore. E, para definir folclore, recorre-se aos conhecimentos
de dona Benta que, com sua sabedoria de livros, define no livro Histórias de
Tia Nastácia:
- Emilinha do coração – disse ele – faça-me
o maravilhoso favor de ir perguntar à vovó que coisa significa a palavra
folclore, sim teteia?
Emília foi e voltou com a resposta.
- Dona Benta disse que folk quer dizer
gente, povo; e lore quer dizer sabedoria, ciência. Folclore são as coisas que o
povo sabe por boca, de um contar para o outro, de pais a filhos – os contos, as
histórias, as anedotas, as superstições, as bobagens, a sabedoria popular, etc
e tal. Por que pergunta isso, Pedrinho?
- Uma ideia que eu tive. Tia Nastácia é o
povo. Tudo o que o povo sabe e vai contando de um para o outro, ela deve saber.
Estou com o plano de espremer tia Nastácia para tirar o leite do folclore que
há nela.
Emília arregalou os olhos.
- Não está má a ideia, não, Pedrinho! Às
vezes, a gente tem uma coisa muito interessante em casa e nem percebe.
- As negras velhas – disse Pedrinho – são
sempre muito sabidas. Mamãe conta de uma que era
um verdadeiro dicionário de histórias folclóricas, uma de nome Esméria, que foi
escrava de meu avô. Todas as noites ela sentava-se na varanda e desfiava
histórias e mais histórias. Quem sabe se tia Nastácia não é uma segunda tia
Esméria?
As lendas e os mitos brasileiros estão retratados, na obra de Monteiro
Lobato, através dos personagens tia Nastácia e tio Barnabé, ambos com
características populares. A cozinheira e ex-escrava é a conhecedora de todas
as histórias de tradição popular, provenientes da região onde vivia, assim como
o ex-escravo, que é “especialista” em mitos como saci-pererê, entre outros que
habitam as matas.
Lembra Luís da Câmara Cascudo que o português emigrava para o Brasil
“com seu mundo de memória”. O mesmo ocorria com o negro escravo. Estas duas
correntes culturais, juntamente com a indígena local, criariam um processo de
interação que marcou a paisagem. À literatura impressa este fenômeno não foi
estranho, resultando daí o aproveitamento, na temática infantil, dos valores
recolhidos da tradição oral (ARROYO, 1990, p. 63).
Monteiro Lobato, quando criança, viveu certas experiências na fazenda de
seu avô, que parecem ter sido inesquecíveis e muito bem resgatadas ao escrever
o Sítio do Picapau Amarelo. Saía para pescar e para caçar e, durante o
caminho, sentia medo dos lugares mais ermos e imaginava seus mitos, vivendo
lendas contadas pela criada, negra, que também sabia contar muitas histórias,
que foram parar em seus livros.
E para contar as lendas do nosso folclore? ... Lobato nada esqueceu. É
lógico que seriam necessárias personagens que o fizessem com alma, com expressão
vivida e sentida. Aí está tia Nastácia, com suas estórias de negra velha, e,
perto, do ribeirão, onde os meninos iam pescar lambaris, está o tio Barnabé,
negro velho sabido, ‘que entende de todas as feitiçarias’. E as lendas se
sucedem. Tia Nastácia faz serão, com os mitos de ‘lobisomem’, ‘mula-sem-cabeça’,
‘negrinho do pastoreio’ e muitas outras. Eram eles próprios a representação
humana do folclore (CARVALHO, s.d., p. 236).
Em Reinações de Narizinho, as lendas e os mitos não aparecem ainda. Foi
a primeiro livro infantil de Monteiro Lobato e ele só inseriu as figuras
folclóricas em outras obras que compõem o Sítio do Pica-pau Amarelo.
Nas adaptações feitas para a televisão, esses elementos assumem uma
importância maior, desde o primeiro episódio. O Saci e a Cuca, primos na trama,
aparecem em muitas aventuras e situações vividas pelas personagens.
Ao criar o Saci, Lobato aproveitou o seu trabalho feito anteriormente,
através de uma pesquisa realizada pelo jornal O Estado de S. Paulo, que deu
origem ao livro, Saci: resultados de um inquérito, feito para leitores adultos.
Resolveu, tempos depois, levar ao conhecimento das crianças a figura
mitológica do Saci, através das lendas contadas pelos negros do Sítio do Pica-pau
Amarelo, tia Nastácia e tio Barnabé. Nas histórias de Lobato, o Saci vira
personagem e participa do enredo: “agora é o próprio Saci que vai revelar a
Pedrinho os segredos da mata e seus extraordinários mitos, numa encantada camaradagem...”
(CARVALHO, 1989, p. 164).
O Saci, na definição do folclorista Luís da Câmara Cascudo (s.d., p.
794), tem o seguinte significado:
Saci-Pererê, entidade maléfica em muitas,
graciosa e zombeteira noutras oportunidades, comuns nos Estados do Sul. Pequeno
negrinho, com uma só perna, carapuça vermelha na cabeça, que o faz encantado,
ágil, astuto, amigo de fumar cachimbo, de entrançar as crinas dos animais,
depois de extenuá-los em correrias, durante a noite, anuncia-se pelo assobio persistente
e misterioso, inlocalizável e assombrador...
A lenda do Saci teria surgido em fins do século XVIII, no período de
escravidão. As criadas negras e os caboclos contavam as travessuras desse mito,
com o intuito de assustar as crianças e evitar que elas adentrassem na mata e
se perdessem.
Monteiro Lobato tinha uma idéia própria do Saci, não que tivesse
conhecido ou visto algum, na época de infância, como se poderia pensar, tendo
em vista a propriedade com que escreveu sobre o assunto. Disse o escritor ao
seu amigo Rangel (s.d., p. 344):
Minha ideia de menino, segundo ouvi das
negras da fazenda de meu pai, é que o saci temolhos vermelhos como, como os dos beberrões; e que
faz mais molecagens do que maldades; monta e dispara os cavalos à noite;
chupa-lhes o sangue e embaraça-lhes a crina.
Consulte os negros velhos daí, porque já
notei que os negros têm melhores olhos que os brancos. Enxergam muito mais coisas.
No caso da Cuca, trata-se de um mito folclórico que habita o imaginário
das pessoas desde a sua infância, o que se nota na cantiga popular “Dorme,
nenê, que a Cuca vem pegar...”. Sua definição, segundo Câmara Cascudo (s.d., p.
324) , seria a de “papão feminino, fantasma informe, ente vago, ameaçador,
devorando as crianças...”.
Monteiro Lobato insere essas figuras lendárias, que compõem a mitologia
com os elementos da cultura brasileira, misturadas à cultura das histórias
clássicas. Essa valorização nacionalista é precursora do modernismo brasileiro,
que vem justamente preconizando esses ideais.
O nacionalismo já era uma preocupação de Monteiro Lobato em sua produção
literária e jornalística, assim como um ideal político e social, em prol da
população e da solução de seus problemas.
Essa atitude de trazer os elementos da cultura brasileira para os seus
livros infantis tinha, com certeza, a nítida intenção de oferecer às crianças
subsídios para a sua formação de cidadania.
O aproveitamento da tradição popular, de transmissão originalmente oral
e vinculada às populações dependentes da economia agrícola, vem sendo uma
constante da literatura infantil desde seu aparecimento na Europa dos séculos
XVIII e XIX. No Brasil, não acontece essa apropriação direta do material
folclórico, e sim o recurso ao acervo europeu, quando este já tinha assumido a
condição de literatura para crianças (LAJOLO; ZILBERMAN, 1985, p. 68).
Não só de mitos nacionais compõe-se a obra infantil de Monteiro Lobato.
Ele juntou a esses, os mitos clássicos. Hércules, por exemplo, é um herói que
protagoniza um livro, Os Doze Trabalhos de Hércules, mostrando aos leitores os
seus feitos, mitos lendários, retratados em tempos passados e numa cultura
distante.
Unindo as histórias clássicas, contadas pelo mundo todo, em suas versões
diferentes, com as de conteúdo nacional, alteradas pelas negras contadoras de
histórias, numa espécie de hibridismo cultural, Monteiro Lobato cria um
universo mágico, destinado às crianças, chamado de Sítio do Pica-pau Amarelo
As
histórias de tradição oral continuam...
O Sítio do Pica-pau Amarelo é o
local onde se desenrolam os feitos maravilhosos, para onde voltam as suas
personagens e para onde vêm as personagens de todas as outras estórias de todas
as outras partes do Mundo. - Bárbara Vasconcelos de Carvalho
As histórias de tradição oral continuam a sua viagem, hoje mais vivas do
que nunca, graças ao trabalho de Monteiro Lobato, que soube imortalizá-las e
guardá-las dentro de um mundo mágico que ele criou.
Ela (a obra de Lobato) percorre a seguinte trajetória: a realidade como
premissa, a fantasia como meio, a verdade como fim, para atingir o bem supremo,
que é a liberdade. Observa-se, ainda, que Lobato não se utilizou dos símbolos
míticos: eles povoam sua obra paralelamente, através dos velhos contos de Fadas
que transitam pelo “Sítio” e que ocasionam a superposição de dois planos
discursivos, onde se desenvolvem duas narrativas paralelas: a obra em si e a que
se movimenta dentro dela, fluindo ambas como duas correntes sobre o mesmo leito
(CARVALHO, 1989, p. 139-140).
Através dos personagens que “moram” no Sítio do Picapau Amarelo, que
participam de todas as aventuras de Reinações de Narizinho, as histórias de
tradição oral estão atuais, quer seja em seus livros, quer nas adaptações
feitas para a televisão ou outro meio de comunicação de massa, que resgata as
narrativas preservadas pela folkcomunicação e as divulga, através da folkmídia.
A produção literária de Monteiro Lobato foi decisiva para a continuidade
das histórias de tradição oral. Com um trabalho semelhante a de um ourives,
soube lapidar essas narrativas, transformando-as e adaptando de acordo com o
gosto de seu público infantil.
Eliminou o caráter instrutivo das fábulas, condenando a “moral da
história”, que implicava
em condicionar o comportamento
infantil. Inseriu a fantasia dos contos maravilhosos para dar vida às aventuras, levando todos para o
mundo do faz-de-conta. Trouxe as fadas para o Sítio, como velhas conhecidas das
crianças.
Uniu as narrativas clássicas, que circulavam em todo o mundo, ao seu
trabalho de criação literária. Esse resgate das histórias de tradição oral fez
de Monteiro Lobato um agente dentro do processo folkmidiático, um contador e
recontador de histórias de muitas gerações.
As histórias de tradição oral na
obra infantil de Monteiro Lobato ...
encipecom.metodista.br/.../As_histórias_de_tradição_oral_na_obra_i...
MONTEIRO
LOBATO E A EDUCAÇÃO: O IDEÁRIO PEDAGÓGICO EXPRESSO NA PERSONAGEM DONA BENTA
Laís
Pacifico Martineli – UEM
Maria
Cristina Gomes Machado - UEM
RESUMO: O
trabalho considera que a literatura brasileira, como fonte de pesquisa, tem
recursos infindáveis que possibilitam a apreensão do contexto cultural, social
e político nos quais as obras são criadas, bem como é possível estudar as suas
implicações na educação. Objetiva-se analisar o ideário pedagógico subjacente
às ações de cunho educacional da personagem Dona Benta, em particular nos
livros: História do mundo para as crianças, publicado em 1933, Geografia de
Dona Benta, publicado em 1935, e Serões de Dona Benta, publicado em 1937. A
análise evidenciou alguns aspectos sociais, políticos, culturais e educacionais
do período da produção da obra, que subsidiaram a compreensão do pensamento de
Monteiro Lobato acerca da educação e de uma tendência pedagógica. Os resultados
possibilitam afirmar que a literatura infantil de Monteiro Lobato se aproxima
da concepção pedagógica escolanovista, sobretudo, no que diz respeito às ações
educativas de Dona Benta.
Palavras-chave:
Monteiro Lobato; Educação; Ideário Pedagógico.
INTRODUÇÃO
O estudo
tem como objetivo analisar a literatura infantil de José Bento Monteiro Lobato
(1882-1948) e a concepção pedagógica subjacente aos seus escritos,
especialmente, nos livros Histórias do mundo para as crianças (1933), Geografia
de Dona Benta (1935) e Serões de Dona Benta (1937), por meio das ações
educativas de Dona Benta. Buscamos explicitar os elementos socioeconômicos,
políticos e culturais presentes no contexto da criação da obra Sítio do
Pica-Pau Amarelo, em particular nos livros selecionados, identificar nas ações
de cunho educacional de Dona Benta o ideário pedagógico subjacente, bem como,
suas características, elencando-as. Deste modo, enfatizamos em analisar a
existência de relações entre as ações educativas da personagem Dona Benta com
as discussões educacionais do período e com o modelo pedagógico escolanovista,
presente no pensamento dos intelectuais do período como Anísio Teixeira (1900-1971),
Fernando de Azevedo (1894-1974), entre outros.
Monteiro
Lobato é um dos mais importantes escritores brasileiros do século XX, tendo uma
vasta produção literária composta por livros, poemas, contos, crônicas e
artigos. A coleção Sítio do Pica-Pau Amarelo, escrita entre os anos de
1920-1944, composta de 15 volumes, foi a obra de maior repercussão do autor e
era direcionada ao público infantil.
Além de
escritor, Lobato exercia atividade editorial expressiva no período, por meio da
Companhia Editora Nacional e Editora Brasiliense (KOSHIYAMA, 1982). Por elas
foram publicados muitos de seus livros. Lobato considerava que a qualidade
gráfica dos livros era muito importante e, por isso atribuía a ela um fator
primordial. A aparência do produto, sua capa e qualidade, eram indispensáveis
para atrair a atenção dos leitores.
A intensa
e notável atividade literária e editorial de Monteiro Lobato somava-se a um
profundo engajamento social e político em seu tempo, especialmente, a partir
dos anos de 1920, momento em que a República estava fortalecendo as suas bases.
Embora a velha estrutura rural ainda fosse muito presente, o Brasil buscava a
sua modernização. Emergiu o nacionalismo que se manifestou na arte, na
literatura, na educação, enfim, disseminou-se pelo país nos mais diversos
âmbitos. Lobato promoveu campanhas pela saúde, defesa do meio-ambiente, reforma
agrária e petróleo. Isso fica expresso em suas obras, como por exemplo, O
escândalo do Petróleo (1936), e nas características de seus personagens, como o
Jeca Tatu.
A vida e
a obra deste célebre intelectual brasileiro é objeto de estudos e pesquisas,
materializados em forma de livros, artigos de natureza científica, teses,
dissertações, ensaios. O pensamento de Lobato gerou e prossegue gerando
polêmicas das mais diversas ordens sejam no âmbito das suas concepções
políticas (SANTOS, 2008), sociais (SOUZA, 2008), étnico-raciais (LAJOLO, 1998),
seja de seu pensamento sobre a educação e a pedagogia (MACHADO, 1993; LAJOLO,
2000, entre outros).
No que se
refere às questões educacionais e pedagógicas, a produção literária infantil de
Monteiro Lobato4, sobretudo, o Sítio do Pica-Pau Amarelo é considerado por
diversos autores como um "projeto literário e pedagógico sob medida para o
Brasil" (LAJOLO, 2000, p. 60). Isto está relacionado ao contexto histórico
do autor e pelas necessidades que se
Partimos
do entendimento de que a literatura brasileira tem recursos infindáveis que
possibilitam a apreensão do contexto histórico e cultural do período em que foi
produzido. A escolha dessa análise a partir da obra de Monteiro Lobato deve-se
ao fato de ter sido ele um escritor comprometido com as questões do seu tempo e
ter uma produção literária pedagógica. Consideramos que o estudo dessas
questões possa contribuir para a compreensão do ideário pedagógico dos anos de
1920-1940, as suas implicações para a educação brasileira, bem como para o
exercício da docência em um dado momento histórico.
O estudo
pode se materializar com avanços no campo acadêmico-científico, por meio da
produção de um conhecimento teórico que subsidie reflexões e análises para
compreensão da educação como processo histórico e, particularmente, do período
compreendido entre os anos de 1920 e 1940, de grande repercussão na educação brasileira.
Nestes anos, difundiram no país ideias de renovadores da educação, sobretudo as
norte-americanas.
Como
relata Koshiyama (1982), começavam a ser aceitas as ideias pedagógicas de
estudiosos norte-americanos ao lado de autores europeus:
Dewey,
Kilpatrick eram lidos e suas sugestões executadas nas reformulações feitas no
sistema educacional por Anísio Teixeira, na Bahia, em 1924. Mas, continuava-se
a editar e eram lidos: Pieron, Claparede, Durkheim, Binet e Simon, traduzidos
em 1927 e 1929, publicados na Biblioteca da Educação da Cia. Melhoramentos de
São Paulo, sob a direção de Lourenço Filho, Decroly e outros autores da
educação ativa apareceram na Coleção pedagógica, da Editora F. Briguiet &
Cia, digirida por Paulo Maranhão, em 1929 (KOSHIYAMA, 1982, p. 80).
Foi nesse
contexto que Monteiro Lobato tratou de cultivar o leitor infantil, introduzindo
a literatura nas escolas primárias. Nas narrativas de Lobato, especialmente na
série de aventuras no Sítio do Pica-Pau Amarelo, não falta a preocupação de
informar e educar.
Estabelecemos
como tema/eixo central de nosso estudo a literatura infantil de Monteiro Lobato
e a concepção pedagógica subjacente aos seus escritos. Questionamos se o
ideário pedagógico escolanovista, que se incorporava no pensamento educacional
brasileiro do período, e era a bandeira de importantes intelectuais como Anísio
Teixeira (1900-1971) e Fernando de Azevedo (1894-1974), ficava expresso nos
escritos infantis de Lobato, particularmente, nas ações de cunho educativo de
“Dona Benta”.
Para
tanto, tomaremos os livros Histórias do mundo para as crianças, publicado em
1933, Geografia da Dona Benta, de 1935, e Serões de Dona Benta, de 1937, livros
estes que compõem a obra literária infantil do autor como apontado inicialmente.
Estes livros de referência estão presentes na Coleção Sítio do Pica-Pau Amarelo
que foi escrita pelo autor no período de 1921 a 1947. A partir da obra, serão
analisados os aspectos sociais, econômicos e políticos subjacentes a ela,
traçando um panorama da época.
Os livros
selecionados da Coleção destacam a figura de Dona Benta como protagonista. No
contexto destes livros que tomamos como referência, os personagens Emília, Tia
Anastácia, Narizinho, Pedrinho, Visconde de Sabugosa, Dona Benta, figuram a
narrativa do texto. Dona Benta, a “[...] avó dos meninos, contadora de
histórias que aceita a imaginação das crianças e admite as novidades que mudam
o mundo”5, nos parece ser uma personagem que possibilita refletir sobre a
concepção pedagógica de Monteiro Lobato, por realizar ações de cunho educativo.
Considerando
que, nas últimas décadas, a produção científica brasileira sobre Monteiro
Lobato tornou-se expressiva, utilizamos fontes secundárias, tais como manuais,
artigos, livros, ensaios, teses e dissertações, que nos ajudaram na compreensão
dos propósitos da pesquisa. Deste modo, constituíram-se em fontes de estudos e
pesquisas para entender o momento histórico e o pensamento educacional vigente.
Utilizamos, ainda, outros instrumentos e referenciais que se fizerem
necessários para a investigação.
Portanto,
para conhecer a vida e obra e o possível pensamento pedagógico de Monteiro
Lobato, utilizamos, fundamentalmente, os livros Monteiro Lobato: um brasileiro
sob medida (2000), de Marisa Lajolo, O ficcionista Monteiro Lobato (1996), de
Alaor Barbosa e Monteiro Lobato: Furacão na Botocúndia (1997) de Carmen Lucia
de Azevedo, Marcia Camargos e Vladimir Sacchetta.
O
trabalho é desenvolvido a partir de análise bibliográfica, tomando como referência
fontes primárias e secundárias. A análise é, fundamentalmente, da obra Sítio do
Pica-Pau Amarelo, evidenciando os aspectos sócioeconômicos, políticos e
culturais subjacentes à produção. Tomamos, em particular, os livros Histórias
do mundo para as crianças, Geografia da Dona Benta e Serões da Dona Benta, por
entendermos que favorece a identificação das ações educativas de Dona Benta.
Para isso, buscaremos extrair as ações que apresentam uma regularidade no
decorrer dos três livros.
Iniciamos
o trabalhando fazendo um relato dos principais acontecimentos da vida de
Monteiro Lobato, destacando o momento em que ele iniciou sua produção literária
infantil. Em seguida, explicitamos a análise referente às três obras
selecionadas para esse trabalho com ênfase nas ações de cunho educativo da
personagem Dona Benta, para mostrar a possibilidade de Monteiro Lobato seguir a
perspectiva escolanovista de educação.
Monteiro
Lobato e a produção literária infantil
Explicitaremos
nesse breve tópico o momento em Lobato inicia sua produção literária infantil e
o contexto histórico em que o autor vivia, buscando razões que justifiquem a
sua produção literária infantil, considerada por muitos autores como
revolucionária para o período (LAJOLO, 2000). Literário infantil, pintor
frustrado, editor e empresário, jornalista engajado nas causas sociais,
econômicas e políticas de sua época, são expressões que resumem minimamente a
intensa e ativa vida de Monteiro Lobato. Seu objetivo é único: “[...] mudar o
Brasil e levá-lo a absorver a riqueza que a sociedade moderna produziu.”
(MACHADO, 1993, p. 8).
A vida do
autor foi marcada por etapas de muitas mudanças. Quando pequeno, Lobato vivia
em um ambiente rural. Grande parte de sua infância trouxe como cenário a
chácara de seu avô Visconde de Tremembé, que era fazendeiro cafeicultor,
empresário e político influente. Era um garoto de classe alta da época do final
do Império brasileiro e, por isso, freqüentou as escolas particulares da
região. Logo demonstrou sua vocação como escritor, pois escrevia crônicas,
poemas, contos e até desenhava para o jornalzinho colegial chamado “O Guarany”.
Fazia críticas em forma de crônicas aos acontecimentos da escola no jornal e
assinava como Josbem e Nhô Dito (LAJOLO, 2000). Mais tarde, matriculou-se no
Instituto de Ciências e Letras (AZEVEDO, CAMARGOS, SACCHETTA, 1997), em São
Paulo, curso que preparatório para o curso superior.
Uma das
grandes mudanças na vida do autor aconteceu nos dois últimos anos do século
XIX, quando ele ficou órfão e o Visconde de Tremembé responsabilizou-se pela
tutela do garoto de 16 anos e de suas irmãs. Seu grande sonho era cursar
Belas-Artes, mas o avô impôs que Monteiro Lobato se matriculasse na Faculdade
de Direito, como era tradição naquele momento.
Em obediência
à ordem de seu avô, na virada do século Lobato partiu para a Faculdade de
Direito no Largo de São Francisco a fim de tornar-se doutor. Encarava o curso
de direito com desinteresse, pois sua vocação pelas artes e pela literatura
ainda o perturbavam. Na faculdade, Lobato era fascinado pela cidade de São
Paulo e por seus amigos, pois eles aproximavam o futuro doutor do lado poético
e literário que tanto estimava. Nesse período, Lobato se formou, voltou a sua
cidade natal, casou-se, teve filhos e pleiteou o cargo de promotor efetivo da
comarca de uma cidade pequena. Sentia-se entediado e ocioso vivendo na pequena
cidade e se recordava constantemente do movimento frenético de São Paulo, onde
viveu cerca de dez anos, e do convívio com os amigos (AZEVEDO, CAMARGOS,
SACCHETTA, 1997).
A morte e
seu avô, em 1911, configurou-se como uma das mais drásticas mudanças na vida e
Monteiro Lobato. Lobato herdou as terras do avô e outras tantas de seu pai,
juntando mais de dois mil alqueires de terra (LAJOLO, 2000). Essa herança
transformou Monteiro Lobato em grande proprietário rural, e para suas terras se
mudou com toda a sua família. O principal objetivo de Lobato, no que dizia
respeito a suas terras, era torná-las rentáveis por meio de projetos atrevidos,
como a modernização da agricultura.
Lobato produzia literatura no meio rural em que
passara a viver e seu tema futuro seria a figura do caipira, do caboclo, do
homem da roça, sobretudo após desentender-se com seu administrador e se
enfurecer com o hábito econômico e ecologicamente inconveniente dos caboclos de
desrespeitarem a terra e as florestas, tocando-lhes fogo. A esse respeito,
publica em 12 de novembro de 1914 um protesto ao jornal O Estado de São Paulo
intitulado Velha Praga (1914), protesto este que ganha enorme repercussão e
torna Monteiro Lobato famoso. Neste protesto, Monteiro Lobato faz crítica aos
hábitos nocivos à terra e à produção e cria, a personagem-símbolo da obra
lobateana, o Jeca Tatu. Enorme foi a repercussão da personagem que tornou Monteiro
Lobato famoso e cada vez mais requisitado para escrever artigos, para colaborar
com revistas e jornais, aproximando o autor ainda mais da literatura.
Com a
crise cafeeira, Lobato vende suas terras e vai com sua família até São Paulo.
Inicia, nesse momento, sua vida como empresário, pois compra a famosa Revista
do Brasil. A frente da Revista, o autor ouviu de Hilário Tácito a aventura de
um peixe que morreu afogado, pois desaprendeu a nadar.
Este momento foi determinante para iniciar a
participação de Lobato no mundo das histórias infantis. “A história do peixe
que morreu afogado” foi um pequeno conto, mais tarde desenvolvido,
reestruturado e lançado em 1921 como A menina do nariz arrebitado. Suas
personagens com dimensões fantásticas são as que até hoje imprimem a face de
Monteiro
Lobato:
Dona Benta, que “[...] desempenha o papel de professora [...]” (LAJOLO, 2000,
p. 61), Narizinho e Emília, Tia Nastácia, Pedrinho e Visconde de Sabugosa,
compõem os participantes do Sítio do Pica-Pau Amarelo. O poder do faz-de-conta
garante o sucesso desta nova fase de Lobato com o gênero infantil.
Lobato estava instigado pelo interesse em produzir
obras puramente infantis impregnadas de conteúdos interessantes com linguagem
para crianças. Lajolo (2000, p. 61) afirma que, “particularmente nas obras
produzidas dos anos 30, o Sítio se transforma numa grande escola, onde os
leitores aprendem desde a gramática e aritmética até geologia e bê-á-bá de uma
política nacionalista de petróleo.” Neste sentido, mandou distribuir, gratuitamente,
quinhentos exemplares do livro, agora sob o título de Narizinho Arrebitado, e
confirmou, assim, a importância da escola para a difusão da leitura. Washington
Luís, presidente do Brasil, ao ver livros surrados de tanto uso pelas crianças,
fez uma compra grande para as escolas paulistas (LAJOLO, 2000).
Em seus
66 anos de vida, anos este de muitas transformações, Lobato permaneceu por 27
se dedicando a saga do Sítio do Pica-Pau Amarelo e aos seus personagens
fantásticos, paralelo a suas antigas lutas para produzir o ferro, extrair o
petróleo e levar o país ao progresso e à modernidade. Em 1948, sofreu seu
primeiro espasmo vascular e morreu em seu apartamento na editora, virando “gás
inteligente”, como costumava traduzir a morte (BARBOSA, 1996).
A produção
literária infantil de Monteiro Lobato: Pedagogia de Dona Benta
Neste
tópico do trabalho, elencamos e analisamos as principais ações de cunho
pedagógico da personagem Dona Benta, por entendermos que, por meio de suas
práticas e da contação de histórias às crianças, ela possa transparecer o
ideário pedagógico presente nos escritos de Monteiro Lobato nas décadas em que
História do mundo para as crianças, Geografia de Dona Benta e Serões de Dona
Benta foram escritos e publicados no Brasil. A análise foi realizada a partir
da leitura detalhada das obras, buscando identificar as ações que se repetem e
que são mais utilizadas por Dona Benta na contação de histórias.
Observamos
uma aproximação entre a produção literária infantil de Lobato e o movimento da
Escola Nova no Brasil. Esse movimento chegou ao Brasil no século final XIX, com
o intuito de “[...] transformar as normas tradicionais da organização escolar,
com isso ensaiando uma escola nova, no sentido de escola diferente das que
existem” (FILHO, 1978, p. 17). O movimento da Escola Nova se fixou no Brasil
por meio do documento Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova (1932), que
posicionava a criança no centro do processo de ensino, atribuía à educação o
papel de transformação do país e a institucionalização de uma escola pública,
laica, gratuita e para todos.
Sendo
assim, nos transportamos aos momentos finais do século XIX, que coincidiam com
o fim de Brasil Imperial e a proclamação de um novo regime político, o
republicano, pois ocorreram nesse período muitos acontecimentos que tangeram a
educação a um novo modelo. Foi também nesse período que viveu o autor Monteiro
Lobato, o que nos leva a crer ainda mais em uma relação das produções
literárias infantis do autor com os pressupostos do movimento escolanovista no
Brasil.
A
literatura infantil brasileira foi inaugurada com o Sítio do Pica-Pau Amarelo.
Lobato estava insatisfeito com as traduções de livros europeus para crianças, e
por isso criou aventuras com personagens bem brasileiras, recuperando costumes
da roça, onde passou sua infância, e lendas do folclore nacional (MACHADO,
1993). Lajolo (2000, p. 60) destaca a preocupação de Lobato em publicar livros
com uma linguagem especialmente destinada a crianças.
O
surgimento de livros para crianças pressupõe uma organização social moderna,
por onde circule uma imagem especial de infância: uma imagem da infância que
veja nas crianças um público que, arregimentado pela escola, precisa ser
iniciado em valores sociais e afetivos que a literatura torna sedutores. Em
resumo, um público específico, que precisa de uma literatura diferente da
destinada aos adultos.
Todas as
vezes que Tia Nastácia gritava “É hora!”, Pedrinho, Narizinho, Emília, Visconde
de Sabugosa e certas vezes até Rabicó e Quindim, dirigiam-se à sala da casa de
Dona Benta para ouvir as mais incríveis curiosidades sobre o mundo. Dona Benta
tinha um papel importante, pois era a principal transmissora dos conhecimentos
e aceitava as ideias fantásticas dos seus netos no sítio. Narizinho pedia à
avó: “― Leia da sua moda, vovó!” (LOBATO, 1986c, p. 194), pois, com a moda de
Dona Benta, todos entendiam. No livro Reinações de Narizinho, Lobato explica
que:
A moda de Dona Benta ler era boa. Lia
“diferente” dos livros. Como quase todos os livros para crianças que há no
Brasil são muito sem graça, cheios de termos do tempo da onça ou só usados em
Portugal, a boa velha ia traduzindo aquele português de defunto em língua do
Brasil de hoje. Onde estava por exemplo, “lume”, lia “fogo”; onde estava
“lareira” lia “varanda”. E sempre que dava com um “botou-o” ou “comeu-o”, lia
“botou ele”, “comeu ele” – e ficava o dobro mais interessante. Como naquele dia
os personagens eram da Itália, Dona Benta começou a arremedar a voz de um
italiano galinheiro que às vezes aparecia pelo sítio em procura de frangos; e para
Pinóquio inventou uma vozinha de taquara rachada que era direitinho como o
boneco devia falar (LOBATO, 1986c, p. 194).
A partir
dessa exposição, podemos considerar que Dona Benta tinha uma forma particular
de ler as histórias, que era chamada pelos meninos de à “moda” da Dona Benta.
Esta forma era atrativa para as crianças, porque ela traduzia, como Lobato
enfatizou, de uma linguagem do passado, usada em Portugal, para uma linguagem
mais atual, própria do Brasil. Além de prender a atenção daqueles que estavam
ouvindo, estes compreendiam melhor o significado do texto. Ela é uma “contadora
de histórias” e, como tal, utiliza da uma forma característica de leitura que
chama a atenção das crianças, ao mesmo tempo que garante o entendimento do
conteúdo que estava sendo abordado.
A
leitura, particularmente à moda de Dona Benta, se constituía em uma ação
pedagógica de importância, já que, em muitos momentos nos livros, foi possível
apreender que o autor recorria, frequentemente, a esse recurso, que era
imprescindível para o aprender. Uma das principais ações pedagógicas de Dona
Benta e, portanto, considerada importante para Lobato, foi conferir a leitura
um papel de destaque.
Dona
Benta estava sempre com livros à mão, pois fazia muita leitura6. Ela possuía em
sua casa uma vasta coleção de livros e “[...] ainda recebia, dum livreiro da
capital, as novidades mais interessantes do momento” (LOBATO, 1986b, p. 5). O
livro Child’s history of the world (História do mundo para as crianças) foi um
desses livros que chegou à porta do Sítio pelos correios. Como a avó dominava a
língua inglesa, logo se interessou pelo livro e pôs-se a lê-lo.
Ao
finalizar a leitura do livro, Dona Benta o considerou muito interessante,
concluindo que “Meninos assim da idade de Pedrinho e Narizinho estou certa de
que hão de gostar e aproveitar bastante” (LOBATO, 1986b, p. 5). Nesta
afirmação, a avó demonstra preocupação em selecionar um livro que se enquadre à
idade dos meninos, mas, sobretudo, um que atinja o interesse das crianças.
Pode-se notar que o interesse e a atração dos meninos por determinado assunto é
um elemento muito considerado para Dona Benta e é um dos principais pontos para
a escolha de um conteúdo.
Para
melhor nos aprofundarmos nesta preocupação de Dona Benta com o interesse da
criança, tomamos o livro Geografia de Dona Benta. A avó inicia no Sítio as
explicações sobre a geografia após um pedido de seu neto.
Depois
que Dona Benta concluiu a história do mundo contada à moda dela, os meninos
pediram mais.
― Mais, quê? ― perguntou a boa avó. ―
Poderei contar muitas histórias assim ― história da física, história da
química, história da geologia, história da geografia...
― Conte histórias da geografia ― pediu
Pedrinho, que andava sonhando com viagens pelos países estrangeiros.
E Dona Benta contou a geografia (LOBATO,
1986a, p. 7).
O fato de
Pedrinho ter sonhado com países estrangeiros e ter despertado uma curiosidade
sobre esse assunto fez com que o garoto pedisse à avó que contasse histórias da
geografia. Diante do interesse do neto, Dona Benta iniciou a contação de
história e nela podemos ressalvar que o interesse das crianças é o grande
condutor do caminho em que a explicação percorre.
Como
ocorreu em muitos momentos em que Dona Benta se dedicava a ensinar as pessoas
do Sítio, ela tinha como premissa o interesse dos ouvintes e essa é uma das
principais ações de cunho educativo de Dona Benta. A senhora demonstram-se
aberta a todas as informações, todas as perguntas, contribuições e a imaginação
das crianças. Essa imaginação está sempre cercando as redondezas do Sítio e de
seus personagens em cada volume da coleção Sítio do Pica-Pau Amarelo.
No livro
Geografia de Dona Benta, a imaginação é utilizada como fio condutor para
apresentar um conteúdo. Quando Dona Benta optou por atender ao pedido de
Pedrinho e iniciar as explicações sobre as histórias da Geografia, Emília logo
lhe sugeriu uma ideia para tornar o estudo da Geografia “Muito mais
interessante” (LOBATO, 1986a, 33). Assim, a boneca toma a palavra e sugere:
― Vamos estudar geografia de outro jeito ―
propôs. ― Tomamos um navio e saímos pelo mundo afora vendo o que há. Muito mais
interessante. ― Mas onde está o navio, boba? ― indagou Narizinho. ― Um navio
faz-de-conta. Acho ótima a lembrança, Emília ― disse Dona Benta. E eu sigo no
comando desse navio. Que nome vai ter?
―O Terror dos Mares! ― gritou a boneca. ―
Levamos toda gente de casa, Tia Nastácia, Quindim, o Visconde ― todos, menos
Rabicó (LOBATO, 1986a, p. 33).
Assim,
subindo a bordo de “O Terror dos Mares”, a tripulação do Sítio viajou todo o
mundo, fazendo incríveis paradas e vivendo a Geografia. Viver a Geografia só
foi possível graças à viagem de faz-de-conta que Emília propôs e Dona Benta
empregou como recurso para melhorar a forma de se contar essa história. Então,
a utilização da imaginação sugere uma forma de estudo que não a tradicional. A
imaginação foi atribuída como recurso para aproximar as crianças da realidade e
ter experiências reais com a Geografia.
Afirmar
que a imaginação aproxima a criança da realidade nos parece um tanto
contraditória, pois quando imaginamos, saímos da realidade. No entanto, podemos
afirmar que Monteiro Lobato propôs uma viagem de “faz-se conta”, mas ela, em
todo o livro, foi apresentada como uma viagem real. Em uma passagem pela Bahia,
todos os integrantes da Tripulação “[...] foram ver a cidade” (LOBATO, 1986a,
p.66). Tia Nastácia, em especial, “[...] tinha se aproveitado da passagem pela
Bahia para comprar garrafas de azeite-de-dendê, que as cozinheiras de lá usam
para tempero” (LOBATO, 1986a, p.66). Diante de uma experiência tão real e
material, podemos afirmar que a viagem de navio foi muito próxima ao real e que
ela foi utilizada por Monteiro Lobato como recurso para aproximar as crianças
de experiência concretas, mesmo que pela imaginação. Vale destacar que a
aceitação da imaginação das crianças, a priorização pelos seus interesses e a
utilização de uma linguagem atualizada que permita a compreensão dos conteúdos
pela criança, constituem recursos importantes utilizados por Dona Benta para
atrair a atenção das crianças. Permitir que elas participem, perguntem,
imaginem e entendam o conteúdo são formas de desviar a atenção das crianças de
qualquer outra atividade que seria mais divertida ou interessante.
Durante a
explicação, os netos sempre se envolviam, levantavam informações e
contribuições que muito auxiliar na construção do conteúdo em questão e em sua
compreensão. Tais informações por eles levantadas, em muitos momentos estão
relacionadas com as vivências ou com a realidade das crianças. Sendo assim, um
dos motivos pelo qual Dona Benta opta por estudar temáticas que estão próximos
à realidade da criança é permitir que elas visualizem melhor o assunto e,
assim, possam compreender melhor o conteúdo ou, então, dar mais contribuições
para a discussão.
Neste
sentido, em várias ocasiões Dona Benta exemplifica a temática abordada com
situações que as crianças já viveram, pois elas podem, assim, recordar e
compreender com mais facilidade o assunto familiar já vivido por elas. Por
isso, as ações educativas de Dona Benta buscam, acima de tudo, aproximar a
criança de sua realidade para que ela compreenda os fatos sociais e até os
fatos da natureza, como é mostrado em Serões de Dona Benta:
Nesse ponto um passarinho cantou no pomar.
Pedrinho pôs-se de ouvido alerta. ― Que passarinho será aquele? ― murmurou,
falando consigo mesmo. E saiu disparado para ver. ― Ora aí está como se forma a
ciência ― disse a boa senhora. ― Se o canto fosse de sabiá, Pedrinho não se
incomodaria, porque já conhece o sabiá. Mas como não reconheceu o canto, ficou
logo assanhado por saber ― e foi correndo ao pomar. A curiosidade diante dum
fenômeno que não conhecemos é a mãe da ciência. Logo depois Pedrinho voltou. ― Era
uma saíra das raras ― a segunda que vejo por aqui ― disse ele, e Dona Benta
continuou a desenvolver o seu tema: ― Muito bem; sua curiosidade, Pedrinho, fez
que você adquirisse um conhecimento novo. Ficou sabendo que esse canto é duma
saíra rara por aqui. Para chegar a essa conclusão, você teve de observar o
fenômeno ― de ir ver, porque só com o ouvido não podia identificar o passarinho
(LOBATO, 1986d, p. 12).
Para
explicar a origem da investigação científica, Dona Benta menciona a busca de
Pedrinho por uma resposta diante de um fato cotidiano. Sendo assim, um
acontecimento na vida das crianças permitiu que elas compreendessem a
investigação histórica e como ela se perpetua. Além disso, alguns novos
episódios no Sítio, fatos e acontecimento na vida das crianças e fenômenos são
aproveitados por ela para introduzir novos conceitos e conteúdos. Isso
evidência a busca de Dona Benta por explicações e pela aproximação à vida real.
Utilizamos como exemplo o dia em que Pedrinho e Emília tentaram mover uma pedra
do lugar:
Pedrinho e Emília apareceram. ― Puxa! ― exclamou o
menino ao entrar. ― Nunca pensei que aquela pedra pesasse tanto. Eu e Emília
pusemos toda a nossa força e a diaba nem gemeu... Dona Benta aproveitou-se do
tema. ― É por isso que o homem recorreu às forças da natureza e acabou
escravizando-as. Viu que só com os seus músculos podia muito pouco. Essa pedra
que resistiu à força dos músculos do meu neto e da Emília mover-se-á facilmente
por meio duma alavanca (LOBATO, 1986d, p. 63).
Para
introduzir um novo conteúdo, Dona Benta se aproveita desse acontecimento na
vida dos meninos para mostrá-los que a invenção de alavancas ajuda o homem e
facilita sua vida. Dona Benta afirma que a “[...] máquina é o próprio homem,
com seus braços, suas pernas e todos os seus sentidos, aumentando de eficiência
por meio de truques que a inteligência aumentou” (LOBATO, 1986d, p. 87, grifo
do autor). Nesse sentido, para a vida real das crianças, conhecer como funciona
a alavanca e outros tipos de “máquinas” torna-se essencial para melhorar a sua
vida. Em outras ocasiões, Pedrinho poeria agir conscientemente e procurar
formas eficazes de remover uma grande pedra ou obstáculo. Dessa forma, as
crianças poderão agir sobre a natureza de maneira consciente e, assim,
facilitar sua vida.
No final
do livro Geografia de Dona Benta, Dona Benta resume a importância de conhecer a
ciência para utilizá-la no dia-a-dia, filosofando “A riqueza material é areia
do deserto: ora se acumula aqui, ora ali, conforme sopram os ventos. Mas quem
tem a riqueza no miolo, ah, esse está garantido contra todos os azares da vida”
(LOBATO, 1986d, p. 204). Sendo assim, conhecer história, geografia e ciência,
nos ajuda a compreender a realidade e agir conscientemente sobre a natureza.
A
leitura a moda de Dona Benta, a priorização dos interesses das crianças, a
aceitação de perguntas e de participação, a utilização da imaginação das
crianças para viabilizar o ensino e torná-lo mais atraente e a busca de
compreensão dos fatos cotidianos são as principais ações de cunho educativo de
Dona Benta presentes nos três livros de Monteiro Lobato.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
O
trabalho nos permitiu visualizarmos alguns elementos do período em que o autor,
pioneiro na produção da literatura infantil brasileira, viveu, como elementos
socioeconômicos, político e cultural das décadas de 1920 a 1940, momento da
elaboração e publicação dos três livros selecionados para análise deste
trabalho, da obra Sítio do Pica-Pau Amarelo. Entre eles, citamos o período de
transição do regime imperial para o regime republicano, a efervescência da
modernização da arte com a Semana da Arte Moderna (1922), os debates para a
criação de uma cultura nacional e a contradição com referências culturais
europeias e americanas, a modernização do sistema produtivo, reformas e ideais
para a modernização do país por meio da educação.
Até mesmo
na sua obra infantil, em especial o livro Geografia de Dona Benta, encontramos
alguns elementos econômicos, políticos e sociais do Brasil, quando Dona Benta
explica as características socioeconômicas,
político e social de cada Estado do Brasil. Os ideais de modernização do país
do próprio autor, também estão presentes nesse livro.
Ao
analisarmos os principais livros em que Dona Benta assume o papel de professora
ou “contadora de história”, conseguimos identificar as ações educativas de Dona
Benta no momento em que estava “ensinando” as crianças do Sítio. Permitimo-nos
afirmar que Dona Benta ensinava, pois o próprio Monteiro Lobato, por meio de
uma fala de Pedrinho, utilizou esse termo para descrever o que Dona Benta fazia
no Sítio:
― Que pena! ― suspirou Pedrinho, quando
Dona Benta lhe trouxe a notícia. ― Anda mamãe muito iludida, pensando que
aprendo muita coisa na escola. Puro engano. Tudo quanto sei me foi ensinado por
vovó, durante as férias que passo aqui. Só vovó sabe ensinar. Não caceteia, não
diz coisas que não entendo. Apesar disso, tenho cada ano de passar oito meses
na escola. Aqui só passo quatro...(LOBATO, 1986d, p. 201).
Além de
visualizarmos o termo “ensinado”, identificamos nessa fala de Pedrinho uma
crítica feita por Monteiro Lobato com relação ao ensino oferecido nas escolas
do período. Nesse sentido, podemos inferir que somente a forma de ensinar de
Dona Benta, suas ações educativas e os seus recursos pedagógicos aplicados são
de fato convenientes para o ensino as crianças na perspectiva de Lobato.
As
principais ações de cunho pedagógico de Dona Benta, elencadas nos livros de
Lobato são: a leitura à “moda” de Dona Benta, com entonação e sem vocabulários
complicados; o encaminhamento das explicações de acordo com o interesse a
motivação das crianças; a aceitação da imaginação das crianças e sua utilização
como recurso pedagógico; o aprendizado em um local com muitas possibilidades
para observação dos fenômenos naturais, fatos e objetos; a busca de explicações
para os fatos inéditos que acontecem no cotidiano das crianças.
É
importante destacar que Monteiro Lobato não tinha o intuito em desenvolver uma
nova corrente ou um novo ideário pedagógico, mas repetir e divulgar as ações
pedagógicas do ideário subjacente no período. As ações de Dona Benta têm
estreita aproximação com o ideário pedagógico amplamente divulgado no período
da publicação do ideário da Escola Nova, presente no pensamento dos
intelectuais do período como Anísio Teixeira (1900-1971), Fernando de Azevedo
(1894-1974), entre outros.
Ao
analisar os aspectos metodológicos da Escola Nova expressas no Manifesto dos
Pioneiros e elencadas por estudiosos dessa corrente pedagógica, observamos a
existência de relações entre as ações educativas da personagem Dona Benta com
as discussões educacionais do período e com o modelo pedagógico escolanovista.
Destacamos o posicionamento central atribuído a criança no processo de ensino,
sobretudo no que dizia respeito à priorização do interesse da criança, por meio
de atividades que tornem o ensino mais atraente, com estímulo a imaginação,
linguagem mais acessível, abertura para a busca de conhecimentos, em locais que
possibilitem a observação de fenômenos e objetos (VIDAL, 2003), entre outros.
Esses elementos apresentaram-se com freqüência nos livros analisados e nos
fazem inferir que uma possível aproximação entre Lobato e o ideário
escolanovista.
Portanto,
concluímos que o estudo nos deu embasamento para afirmar que a literatura infantil
de Monteiro Lobato, sobretudo, no que se diz respeito às ações educativas de
Dona Benta expressas nos livros Histórias do mundo para as crianças (1933),
Geografia de Dona Benta (1935), e Serões de Dona Benta, se aproximam da
concepção pedagógica escolanovista em ascensão no período. Lobato se opunha as
antigas formas de ensinar e propôs novos encaminhamentos ao ensino, com
metodológias que se aproximavam da nova corrente pedagógica.
MONTEIRO LOBATO E A EDUCAÇÃO: O
IDEÁRIO PEDAGÓGICO ...
www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/anpedsul/9anpedsul/.../54
SE VOCÊ GOSTOU, LEIA TAMBÉM:
MONTEIRO LOBATO: O MUNDO E A LINGUAGEM DA CRIANÇA
sare.unianhanguera.edu.br/index.php/anuic/article/download/.../690
ZORZATO, Lucila Bassan Marisa Philbert Lajolo Ms.
UNICAMP 2007
Título: A cultura alemã na obra infantil Aventuras
de Hans Staden, de Monteiro Lobato
Sinopse: A pesquisa A Cultura alemã na obra
infantil Aventuras de Hans Staden, de Monteiro Lobato examina, a partir das
obras Meu cativeiro entre os selvagens do Brasil (1925) e Aventuras de Hans
Staden (1927), a relação de Monteiro Lobato com a cultura alemã. O estudo dessas
obras suscita indagações a respeito não só dos processos de tradução e
adaptação adotados por Lobato e da recepção da obra pelo público, como também
questões referentes à relação do autor com o universo alemão. Sob este aspecto,
a pesquisa investiga, através da análise de documentos e da correspondência
lobatiana, a representação da cultura alemã para Lobato, as propostas de versão
de sua obra para o alemão, sua recepção entre leitores de língua alemã e a
relação do autor com a própria língua
________________________________________________
GENOVA, Mariana Baldo Marisa P. Lajolo Ms. UNICAMP 2006
Título: As terras novas do sitio: uma nova leitura
da obra "O picapau amarelo" (1939)
Sinopse: Este trabalho é uma leitura da obra O
Picapau Amarelo (1939), de Monteiro Lobato, baseada na mudança de personagens
estrangeiros para o sítio de Dona Benta. Enquanto muitos estudos caracterizam O
Picapau Amarelo como exemplo de narrativa baseada na fantasia, essa dissertação
pretende apontar para a presença, na obra, de crítica social e da visão
pessimista do autor diante da sociedade moderna e urbanizada. Este trabalho
também insere O Picapau Amarelo em uma linha que inclui obras em que é possível
reconhecer as diferentes opiniões de Lobato acerca da modernidade. Nesse
sentido, sugere-se que as idéias de Lobato se apresentam em ?fases? - de
afirmação, dúvida e negação do progresso ? que talvez se relacionem à vida
(sucessos e fracassos) e a atividades de Lobato, acrescidas da situação social
e econômica do país
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ROCHA, Jaqueline N. Marisa P. Lajolo Ms. UNICAMP 2006
Título: De caçada as caçadas : o processo de
re-escritura lobatiano de Caçadas de Pedrinho a partir de A Caçada da Onça
Sinopse: A Caçada da Onça , obra que Monteiro
Lobato publicou em 1924, não integrou, em 1931, Reinações de narizinho ? título
que resulta da junção de vários livros publicados por Lobato durante a década
de vinte e inicio de trinta. Foi ampliada e rebatizou pelo autor em 1933
passando, então, a intitular-se Caçadas de Pedrinho. Este trabalho se ocupa do
processo de transição da obra de 1924 para a de 1933 cotejando suas edições,
considerando os diferentes momentos em que foram escritas, articulando as
versões tanto à vida de Lobato quanto ao contexto sócio-historico brasileiro.
Propõe, finalmente, uma leitura do texto de 1933 a partir da análise de seus
aspectos formais e temáticos
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MAXIMO, Gustavo Maria Augusta B. Mattos Ms.
UNICAMP 2004
Título: Duas personagens em uma Emilia nas
traduções de Monterio Lobato
Sinopse: Esta dissertação aborda, a partir de uma
análise de duas traduções realizadas por Monteiro Lobato - "Alice's
Adventures in Wonderland", de Lewis Carroll e "Pollyanna", de
Eleanor H. Porter - a contigüidade existente entre as personagens principais
Alice e Pollyanna com a boneca de pano criada por Lobato, a irreverente Emília.
Por esse motivo, localizamos nas traduções de Lobato uma tensão que se faz
presente pela descaracterização das personagens dos originais, o que provoca
questionamentos em função das falas das personagens em relação às atitudes e
aos procedimentos. Dentro desta perspectiva, observamos que Monteiro Lobato
traduziu as duas obras com os olhos de Emília o que descaracterizou a Alice
britânica e a Pollyanna norte-americana dos originais. Para nos auxiliar na
análise, trabalhamos com outras duas traduções das mesmas obras para
compará-Ias com as de Monteiro Lobato. Para "Alice's Adventures in
Wonderland", trabalhamos com a tradução de Ana Maria Machado e para
"Pollyanna" com a de Paulo Silveira o que acabou por nos oferecer
melhor embasamento para a defesa da hipótese. O resultado da pesquisa foi que
realmente as traduções lobatianas dessas duas obras traziam como personagens
principais uma "Emilice", isto é, uma Alice brasileira e uma outra
"Emilyanna", ou seja, uma Pollyanna brasileira
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TIN, Emerson Marisa P. Lajolo Dr. UNICAMP
2007
Título: Em busca do "Lobato das cartas" :
a construção da imagem de Monteiro Lobato diante de seus destinatarios
Sinopse: O objetivo desta tese é identificar e
analisar o ?Lobato das cartas?, ou seja, o processo de construção da imagem de
Monteiro Lobato em sua correspondência ativa. Há, assim, o Lobato familiar, o
escritor e o editor, o dos Estados Unidos, o do ferro e do petróleo, o da
prisão e o das crianças. Essa imagem, porém, varia não só segundo
circunstâncias de tempo e de lugar mas também em função do destinatário.
Palavras-chave: Lobato, Monteiro, 1882-1948 ? Correspondência ? Crítica e
interpretação, Cartas brasileiras ? Séc. XX ? História e crítica
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ALBIERI, Thais de Mattos Marisa P. Lajolo Ms.
UNICAMP 2004
Título: Lobato : a cultura gramatical em Emilia no
pais da gramatica
Sinopse: A pesquisa intitulada "Lobato: a
cultura gramatical em Emitia no pais da Gramática" visa a cruzar dois
universos: o do livro infantil - Emitia no pais da Gramática - publicado em
1934, com o de artigos, prefácios, entrevistas, fragmentos sobre língua
portuguesa escritos em diversas épocas e veículos de imprensa por Monteiro
Lobato (1882-1948), e que se encontram publicados em livros que fazem parte das
Obras Completas do autor, cuja primeira edição data de 1946.A partir deste
cruzamento, foi possível estabelecer em que medida as idéias dos textos
convergem ou divergem das noções de língua transmitidas na obra destinada ao
público infantil. Desta análise dos textos, pode-se extrair uma possível
concepção de língua, e de literatura, de Monteiro Lobato.
________________________________________________
SANTANA, Vanete Dutra Camen Zink Bolognini Dr.
UNICAMP 2007
Título: Lobato e os carrascos civilizados :
construção de brasilidade via reescritura de Warhaftige Historia, de Hans
Staden
Sinopse: Até recentemente, parece ter sido natural
a representação das culturas de regiões periféricas como um refletor das idéias
forjadas na cultura dominante, a européia. Assim, o que foi produzido pelos
europeus sobre a América Latina tem sido considerado verdade absoluta, como a
imagem criada por Hans Staden, aventureiro alemão do século XVI, sobre o Brasil
em seu livro Warhaftige Historia (Verdadeira história), e reforçada pelo
viajante alemão do século XIX Robert Avé-Lallemant em sua adaptação Hans Staden
von Homberg bei den brasilienischen Wilden oder die Macht des Glaubens und
Betens (Hans Staden, de Homberg, com os selvagens brasileiros ou o poder da fé
e da oração). Uma vez que Staden afirmou estar contando a verdadeira história
de um país de selvagens nus e canibais chamado Brasil, não só a região à qual
se referia, mas todo o país que ela viria a compor, passou a ser representado ?
inclusive no imaginário nacional atual ? como uma terra exótica, onde cobras e
selvagens enfeitados com penas se misturam pelas ruas, sem se questionar o
objeto das observações de Staden. O Brasil, ou o que podemos chamar Brasil, é
uma criação do século XIX, portanto o que Staden falou a respeito das terras
onde esteve na segunda metade do século XVI só pode servir para se referir
àquelas terras e naquela época, quando não havia nem unidade territorial, nem
cultural, nem autonomia política que pudesse caracterizar o que chamamos Brasil.
Porém, a despeito de a contestação do eurocentrismo ser um fenômeno
pós-moderno, já havia no Brasil do início do século XX uma intelligentisia
disposta a contestar o modelo eurocêntrico de representação de nosso país. Um
caso exemplar dessa contestação pode ser encontrado na adaptação que Monteiro
Lobato, intelectual e empreendedor, fez do livro de Staden ao desconstruir a
imagem do bom-europeu apresentando a verdadeira história de Staden a partir da
perspectiva de integrantes da tribo tupinambá (tribo de índios que habitava o
litoral da região sudeste do atual Brasil e da qual Staden foi prisioneiro). De
herói branco imagem auto-construída e reforçada ao longo de séculos, Staden
passa a ser apresentado por Lobato como um covarde que só escapou de ser devorado
em um ritual antropofágico por chorar e implorar a seu Deus que salvasse sua
vida. Considerando esse corpus e tendo como pano de fundo suas condições de
produção, procuramos demonstrar como as relações inter-culturais entre Brasil e
Europa foram re-contextualizadas pelo escritor brasileiro, abrindo espaço para
o questionamento das idéias eurocêntricas e para uma reflexão nacional
brasileira sobre si próprio o brasileiro e seu país o Brasil , no sentido de
construir uma identidade brasileira. Nosso objetivo específico foi mostrar como
o interesse de Lobato ao recontar a história de Staden a partir de sua
perspectiva não-eurocêntrica, desconstruindo a imagem do bom-europeu e
valorizando a cultura indígena, faria parte de um projeto maior, relacionado à
sua atuação no mercado editorial e na política, que teria por finalidade
construir uma certa brasilidade por meio da absorção não passiva (adaptação aos
interesses locais) da cultura universal ? algo semelhante ao que Goethe e os
românticos alemães fizeram visando à construção da germanidade (Deutschheit).
Como abordamos a construção de identidade a partir de uma perspectiva
lingüística e como a língua é um dos elementos fundamentais da cultura,
estendemo-nos a outros temas, tais como o processo de formação da língua
portuguesa falada no Brasil e da nação brasileira, considerando os grupos
raciais, culturais e lingüísticos que a compuseram, bem como alguns aspectos
históricos, políticos e econômicos envolvidos.
______________________________________________
GOUVEIA, Luzimar Goulart
Suzi Frank Sperber Ms. UNICAMP 2002
Título: O homem caipira nas obras de Lobato e de
Mazzaropi: a construção de um imaginario
Sinopse: Um confronto entre as obras de Monteiro
Lobato e de Mazzaropi leva a interessantes observações sobre os procedimentos
adotados na construção da figura do caipira presente na Literatura e no Cinema
Brasileiros. Enquanto Monteko Lobato, ao criar o Jeca Tatu, não considera o
processo histórico que criou um tipo de cultura específica dentro do corpo da
sociedade brasileira, a cultura caipra, Mazzaropi, ao aproveitar a personagem
de Lobato no cinema, traz contribuições importantes para que seja ouvida a voz
do caipra. Lobato não considerou particularidades da cultura caipra, ignorou a
expropriação das formas dessa cultura, além da expropriação das formas de
economia. Mais ainda, Lobato fala a partir de seu lugar de classe e silencia a
voz do caipka, por meio do procedimento de atribuição de voz, e, ao folclorizar
o caipira, faz revelar a visão que a área dos ocupantes tem dos ocupados. A voz
que prevalece, então, é a voz do outro, falando sobre o não ser. Numa perspectiva
que considera uma dialética do "não ser e do ser outro", de Paulo
Emílio Salles Gomes, a análise do filme Jeca Tatu, traz o caipka, na obra de
Mazzaropi, como pertencente à área do ocupado, ocupado esse criado pelo
ocupante. Mazzaropi dá voz ao caipka, propicia o encontro do representado com
sua representação, e se utiliza de alguns recursos sorrateiros e eficientes na
representação do caipra. A personagem filmica de Mazzaropi, Jeca Tatu, vai
insem-se na "dialética da malandragem", proposta por Antonio Candido.
Com a assunção da malandragem, o Jeca de Mazzaropi vai aparecer
desfolclorizado, porque vivo, dinâmico e não preso a um congelamento da imagem
do caipka, segundo interesses dos ocupantes. À malandragem, Mazzaropi carreia
outro recurso: na instância do discurso, o Jeca acaba por
"desconstruir" o lugar de fala do ocupante, com a recorrência ao
riso, com a reserva para si da última palavra. Assim, o Jeca de Mazzaropi
aparece com voz e pode promover um lugar de resistência dentro dojogo das forças
sociais.
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SANTOS, Vânia Luica C.M. Tânia Regina O. Ramos Mr.
UFSC 2002
Título: Um Sítio maior do que um site: Monteiro
Lobato, sempre
Sinopse: Esta dissertação, que passa por um
exercício de memória individual, objetiva, em um primeiro momento, uma retomada
à obra e ao papel histórico de Monteiro Lobato no que se refere à modernização
da prática editorial brasileira e à luta pela conquista de leitores infantis,
já no início do século XX. Em um segundo momento, objetivou-se ler uma
literatura de Monteiro Lobato para o século XXI: acompanhada da mais alta
tecnologia, a Rede Globo de Televisão trouxe, mais uma vez, a obra do autor
para o imaginário dos brasileiros. Trata-se especialmente da adaptação de No
Reino das Águas Claras para a qual, como em versões anteriores, houve o cuidado
de "alterar" pela tecnologia, mas resguardar a originalidade das
histórias originais. Esta versão, como toda a obra de Monteiro Lobato,
integra-se também em uma dinâmica pedagógica, motivando as crianças
telespectadoras ( ou os adultos) a interagirem cotidianamente com a obra,
recurso moderno e eficiente para a criação e manutenção de um leitor cativo.
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CASSAL, Sueli Tomazini B. Ana Maria L. Mello Dr. UFRGS
2003
Título: O Brasil visto verticalmente : uma
constelação chamada Monteiro Lobato
Sinopse Abordamos, nesta tese, quatro perfis do
escritor paulista Monteiro Lobato (1882-1948). Primeiro, seu lado visionário,
que redundou na criação de uma extensa obra voltada para a infância e,
paralelamente, em uma grande investida no mundo empresarial. É a utopia escrita
e passada ao ato. Para levar a cabo seu trabalho hercúleo, Lobato sorveu da
filosofia de Nietzsche o quantum satis para lhe redobrar a ímpeto intelectual.
Este é o segundo ponto discutido aqui. Fazendo tabula rasa dos ideais
educacionais de seu tempo, Lobato criou personagens paradigmáticos para povoar
sua Utopia, calcados no pensamento de Rousseau (Emílio x Emília) e nos ideais
do Iluminismo. É a matéria do terceiro capítulo. Para fechar o círculo, no
quarto capítulo, examinamos os vínculos do autor com a sociedade
norte-americana do início do século XX, que lhe forneceu o modelo de uma
comunidade próspera e feliz, que o escritor sonhava implantar no Brasil.
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FENSTERSEIFER, Cristiane Maria Lucia C.W. Ms UFRGS
2005
Título: Lições de natureza no Sítio do Picapau
Amarelo
Sinopse: Apresento nesta dissertação, que é
inspirada nos Estudos Culturais, análises discursivas sobre representações de
natureza, e outras que considero estarem a elas articuladas, na nova versão da
série televisiva (reproduzida em vídeos comercializados inclusive nos
supermercados brasileiros) o Sítio do Picapau Amarelo, produzida pela TV Globo.
Esta série, tal como as outras que a antecederam e que foram veiculadas pela TV
Tupi (1951), TV Cultura (1964), TV Bandeirantes (1967) e TV Globo (1977), é uma
adaptação das obras infanto-juvenis de mesmo nome, escritas por José Bento
Monteiro Lobato, na primeira metade do século XX. Neste estudo, considero tal
série, a partir de análises conduzidas por Kellner (2001 e 1995), Giroux (2003,
2001 e 1995), Steinberg (1997), como uma importante pedagogia cultural. Nele
detenho-me, especialmente, nos episódios: O Saci, As caçadas de Pedrinho e O
poço do Visconde, nos quais a mata, os arredores do sítio e outros cenários
¿naturais¿ são bastante destacados. A partir deles, discuto: os modos de
endereçamento da nova série televisiva; o modo como se lida na série com a
dicotomia tantas vezes assumida entre alta e baixa cultura, bem como com
situações que envolvem e colocam em oposição o urbano e o rural, o global e o
local; e com as representações de natureza, que a configuram ora como
ameaçadora, ora como ameaçada em muitos desses episódios. Destaco que, para o
desenvolvimento das análises, foram também considerados os textos das histórias
de Lobato e uma das antigas séries (veiculada pela TV Globo nos anos de 1977 a
1986), a qual se constituiu em um extenso (foi apresentada durante nove anos) e
muito apreciado programa televisivo para crianças.
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RODRIGUES Jr., Alvaro G.B Segio Bairon Ms. Mackenzie
2008
Título: O sítio-labirinto de Monteiro Lobato:
hipermídia e construção de conhecimento
Sinopse: A presente pesquisa pretende analisar a
obra infantil de Monteiro Lobato, O Sítio do Picapau Amarelo sob o viés da
linguagem hipermidiática, através da qual o seu potencial cognitivo e
intersemiótico da seriam amplificados para além do texto e, até mesmo do
conceito de uma narrativa ergódica. Valendo-se deste potencial, Lobato propõe
reflexões socio-culturais inseridas num contexto lúdico e fantasioso (ou
fantástico), as quais podem passar desapercebidas pelo público infantil, mas
que são extremamente significativas para o público jovem e adulto. O estudo
realizado analisa a linguagem hipermídiática e sua relação com a obra O Sítio
do Picapau Amarelo ao mesmo tempo que examina, as evidências e possibilidades
de um ambiente hipermídia. Desta forma, realizou-se um estudo que procurou
identificar, incialmente, as características, motivações e ideologias do autor,
sua relação com o público leitor e as peculiaridades da obra em questão e dos
personagens nela inseridos. Em seguida, buscou-se o enfoque na teoria
hipermidiática existente para, finalmente, unir o Sítio ao Labirinto em uma
nova dimensão narrativa, a qual possibilita uma construção reticular, modular e
não-linear do texto lobatiano, conectado a imagens, movimentos e sons, ao mesmo
tempo que reafirma o inquestionável senso cultural e cognitivo pertencente a
Lobato.
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Autoria - Orientação -
Grau - Local - Data
PRADO, Amaya O.M.A. José Batista de Sales Ms.
UFMGS 2007
Título: Adaptação, uma leitura possível: um estudo
de Dom Quixote das crianças, de Monteiro Lobato
Sinopse: Este trabalho analisa a obra Dom Quixote
das Crianças (1936), de Monteiro Lobato (1882-1948), a partir da identificação
dos recursos adaptativos utilizados. Deste modo, pretende evidenciar o projeto
de adaptação do autor e sua leitura do clássico Dom Quixote (1605;1615), de
Miguel de Cervantes Saavedra (1547-1616). Operando comparativamente, este
estudo desenvolveu-se em três etapas. A primeira delas explora o conceito de
adaptação e seu papel na literatura infantil brasileira, a partir de estudos de
Lauro Maia Amorim, Regina Zilberman, Marisa Lajolo e Nelly Novaes Coelho. Na
segunda, utiliza-se o aporte teórico indicado por Zilberman, na descrição dos
ângulos de adaptação, para identificar as alterações em relação ao texto
original. A última parte encerra uma reflexão acerca da apropriação da
estrutura narrativa cervantina, por parte de Lobato, além de apontar a preocupação
de ambos os autores com a recepção do texto. Estas consideraçõs resultam da
aproximação dos estudos de Maria Augusta da Costa Vieira e de Socorro Acioli,
sobre Dom Quixote das Crianças.
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CIELO, Andreia Vedoin Maria do Carmo Galiazzi Ms.
UFSM 2006
Título: EDUCAÇÃO AMBIENTAL, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
E FORMAÇÃO DE PROFESSORES(AS): de volta a escola com Monteiro Lobato
Sinopse: Esta pesquisa teve como principal
finalidade contribuir com a formação de professores em educação ambiental,
tendo como referência de estudo e pesquisa o diálogo com a obra literária de
Monteiro Lobato. A Teoria das Representações Sociais foi tomada, nesta
pesquisa, como alternativa de aproximação entre o texto lobatiano, as
professoras envolvidas e sua Representação de meio ambiente. Monteiro Lobato é
um clássico e por isso seus livros tornaram-se inesquecíveis. Ele reafirma o
prazer do encontro com um texto que fala-nos do humano. Seus leitores, crianças
e adultos, viajam em seus livros, sentem-se parte integrante da fantasia e de
seu reino imaginário. Procuro então tomar a leitura não como uma mera
ferramenta, como um mero recurso, mas como um lugar de produção conhecimentos e
de saberes necessários à docência e à prática educativa. Nesse sentido, a
Literatura, de uma maneira geral, e a literatura infantil, em particular,
surgem como uma alternativa possível para entrarmos em contato com a
subjetividade humana, com os excluídos sociais, com o diferente. Podemos,
então, entender a literatura como uma representação de mundo, dependente dos
valores, das vivências do autor e do leitor. Os estudos sobre representações
nos possibilitam uma aproximação com as construções imaginárias dos educadores.
Por isso, torna-se importante, na formação de professores, olhar para dentro de
si, buscando reconhecer nossas próprias representações. A reflexão e a
problematização sobre nossas representações permitem também modificar ações e
atitudes no mundo. Essa transformação de ações a atitudes torna-se importante
quando pensamos em Educação Ambiental, pois ela nos desafia a elaborar
alternativas para trabalhar as questões ambientais de uma forma mais ampla,
refletindo, por exemplo, sobre a questão da solidariedade, do respeito, da
cooperação, da tolerância. O trabalho com as questões ambientais no cotidiano
escolar, mais do que uma necessidade formal, se constitui em uma exigência do
mundo contemporâneo. Um mundo onde cada vez mais somos desafiados, o tempo
todo, a refletir sobre nossas representações sobre o outro. A partir das
discussões com as professoras participantes da pesquisa, pude concluir que,
apesar das representações de Meio Ambiente estarem muito relacionadas com os
aspectos físicos e biológicos, percebe-se uma busca de mudança, de
problematização dessas representações cristalizadas na sociedade. Aspectos como
o social, o cultural começam a ocupar espaço na fala e no imaginário das
professoras. Em suas falas percebi que elas entendem que todos nós somos seres
inconclusos e que aprendemos durante toda nossa vida, não importando a idade e
o tempo de profissão que temos. E isso é um excelente começo para buscar a
melhoria da prática pedagógica. Elas são professoras cientes de seu papel na
sociedade e na edificação de pessoas que reflitam sobre os fatos políticos,
econômicos e sociais que acontecem em sua cidade e no mundo.
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OLIVEIRA, Diva de Maria Luiza G. Atik Ms.
Mackenzie 2006
Título: Os doze trabalhos de Hércules: a
estilização do mito na obra Lobatiana
Sinopse: O objetivo deste trabalho é uma abordagem
intertextual entre os textos-base Héracles de Eurípedes, As metamorfoses de
Ovídio e Os doze Trabalhos de Hércules de Monteiro Lobato. Inicialmente,
analisar-se-á como o mito do herói grego Hércules foi estilizado por Monteiro
Lobato, através de um levantamento das marcas inseridas na variante
intertextual, apontando as semelhanças e as dessemelhanças em relação aos
textos-base. Para tanto, promover-se-á o encontro dos conceitos sobre
dialogismo de Mikhail Bakhtin e a teoria sobre intertextualidade desenvolvida
por Julia Kristeva. Pretende-se ainda demonstrar de que maneira o escritor de
Taubaté contribuiu para a formação da Literatura Infantil brasileira e as
inovações por ele idealizadas nas mais diversas áreas de atuação.
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OLIVEIRA, Danielle C. S. Antonio R. Belon
Ms UFMGS 2007
Título: Os doze trabalhos de Hércules: uma leitura
do herói em Monteiro Lobato
Sinopse: Este trabalho realiza uma interpretação de
Os Doze Trabalhos de Hércules (1944), de Monteiro Lobato, a partir da atuação
do herói representada nesta narrativa e do mecanismo de produção e revisão
textual. Neste estudo, desenvolvemos, num primeiro momento, uma pesquisa de
campo nos acervos da Biblioteca Infantil Monteiro Lobato, do Município de São
Paulo, e do Centro de Documentação Cultural "Alexandre Eulálio", da
Universidade de Campinas,SP, em que foram selecionadas e comparadas as várias
edições do livro citado, desde a primeira em 1944 às atuais. Em um segundo
momento, temos os princípios da recepção literária em que são analisados o
conceito e função de herói, mito de Hércules e interpretado o enredo lobatiano.
Com o desenvolvimento deste estudo, procuramos apontar Lobato como o herói de
seus escritos, por meio do processo de produção e revisão textual em que
elaborou para recontar um mito sob o viés do trabalho coletivo, da praticidade,
da inteligência e da modernidade atrelado ao compromisso lobatiano da
construção do saber e do desenvolvimento cultural da criança.
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OLIVEIRA, Diva de Maria Luiza G. Atik Ms.
Mackenzie 2006
Título: Os doze trabalhos de Hércules: a
estilização do mito na obra Lobatiana
Sinopse: O objetivo deste trabalho é uma abordagem
intertextual entre os textos-base Héracles de Eurípedes, As metamorfoses de
Ovídio e Os doze Trabalhos de Hércules de Monteiro Lobato. Inicialmente,
analisar-se-á como o mito do herói grego Hércules foi estilizado por Monteiro
Lobato, através de um levantamento das marcas inseridas na variante
intertextual, apontando as semelhanças e as dessemelhanças em relação aos
textos-base. Para tanto, promover-se-á o encontro dos conceitos sobre
dialogismo de Mikhail Bakhtin e a teoria sobre intertextualidade desenvolvida
por Julia Kristeva. Pretende-se ainda demonstrar de que maneira o escritor de
Taubaté contribuiu para a formação da Literatura Infantil brasileira e as
inovações por ele idealizadas nas mais diversas áreas de atuação.
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BECKER Elizamari R. Patricia Lessa F. Cunha Dr. UFRGS
2006
Título: Forças motrizes de uma contística
pré-modernista : o papel da tradução na obra ficcional de Monteiro Lobato
Sinopse: Este estudo objetiva analisar três forças
motrizes que muito influenciaram a escritura de Monteiro Lobato: o conto, a
tradução e a ideologia humanista. Conhecido por sua literatura infantil, pouco
se estudou sobre sua obra adulta e menos ainda sobre sua profícua atividade
tradutória. Como contista, Lobato pode ser dito ¿ ao lado de Machado de Assis ¿
um dos grandes incentivadores do conto, resgatando-o de sua posição marginal e
elevando-o à categoria de gênero literário em uma época geralmente
negligenciada pela crítica ¿ sua produção anterior à Semana de Arte Moderna
(1922) ¿, alcançando seu público através de estratégias de marketing inovadoras
e, portanto, formando um novo público leitor brasileiro. Seus ideais
nacionalistas e suas crenças ideológicas estão presentes em tudo o quanto
escreveu, proporcionando ao leitor do século XXI um claro panorama de sua
época. O humanismo é, se não a mais visível ideologia em sua obra, a que gerou
maior conflito, sobretudo em contraste com sua formação cristã e seu refinado
tom pessimista. Tendo traduzido mais de cem livros, Lobato contribuiu
indiscutivelmente tanto para a circulação quanto para a edição de obras
traduzidas ¿ inglesas e norteamericanas em sua maioria ¿, enriquecendo, dessa
forma, nosso polissistema literário e promovendo uma sensível mudança no status
da tradução, marginal e secundária na época. Ele consciente e cuidadosamente
escolhia o que traduzia com o intuito de alcançar um objetivo: dar ao público
leitor brasileiro ¿ especialmente ao infantil ¿ literatura estrangeira de
qualidade. Segundo ele, Kipling estava arrolado entre os ¿sumos¿ contistas, o
que o levou a traduzir e publicar suas obras, experiência que resultou tanto na
apropriação quanto na expropriação daqueles textos, o que pode ser facilmente
verificado por qualquer leitor atento tanto da contística quanto do epistolário
de Lobato, nas muitas estratégias por ele empregadas: empréstimos, invocações
de personagens, reconstrução de histórias e imagens das narrativas de Kipling.
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BRATSIOTIS, Ericka Sophie Elisa G. Pinto Ms. Mackenzie
2006
Título: A mitologia grega na obra do minotauro de
Monteiro Lobato
Sinopse: As histórias da mitologia tentam expressar
uma verdade que não pode ser captada de outra maneira. Os mitos são a busca
dessa verdade. Monteiro Lobato, ao contar histórias, buscava a verdade levando
seus personagens em viagens através dos tempos. A presente dissertação tem por
objetivo contrastar, à luz da intertextualidade, o texto de Monteiro Lobato em
sua obra O Minotauro com textos da mitologia grega escritos por outros autores,
ressaltando a maneira como a história é narrada e o conhecimento transmitido ao
leitor. Para que isso seja possível, este trabalho alicerçará seus estudos em
Monteiro Lobato, A. S. Franchini, André Gide, Carmen Seganfredo, Joseph
Campbell, Junito Brandão, Odile Gandon, Thomas Bulfinch e Viktor D. Salis. Para
a análise da intertextualidade, tomou-se como referência os autores Barros e
Fiorin, Bakhtin, Kristeva, Koch e Travaglia. Lobato, em seu texto, utiliza-se
de uma linguagem simples para contar a história da Grécia Antiga e, ao longo da
narrativa, dá definições de vocábulos e deixa claro o quanto este país foi importante
para o desenvolvimento da arte, da ciência e, a influência que a língua grega
tem na língua portuguesa
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MORAES, Gabino Ribeiro Nelson Rego Ms. UFRGS
2006
Título: A Chave do tamanho" abre o
conhecimento do espaço geográfico
Sinopse: A presente dissertação caracteriza-se por
uma proposta de instrumentalização do ensino de Geografia na perspectiva da
interdisciplinaridade. Uma experiência de simbiose entre Geografia e Literatura
foi realizada com a participação dos alunos do Projeto Amora, da quinta série
do Ensino Fundamental do Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul. A obra A chave do tamanho, de Monteiro Lobato, foi utilizada
como subsídio para a percepção do conceito de escala geográfica, muitas vezes
confundindo com escala cartográfica. Esse elo pretende possibilitar a
construção de um aluno cidadão, com ênfase na leitura e na imaginação. O
projeto foi desenvolvido na perspectiva da pesquisa-ação, que aborda os
significados humanos presentes nos conteúdos escolares, refazendo as teias de
relações das nossas tradições e raízes culturais, bem como da memória coletiva.
As operações mentais que os alunos utilizam para estabelecer relações entre os
objetivos, situações, fenômenos e pessoas ou personagens são modalidades
estruturais de inteligência que se transformam em habilidades. Três níveis
distintos de relações podem estabelecer-se entre o aluno e a obra literária. O
nível básico de operações mentais torna presente o objeto do conhecimento para
o sujeito por meio das ações de identificar, localizar, descrever, perceber e
reconhecer. O nível operacional de relações com e entre os objetos reúne os
procedimentos necessários de comparar, compor, medir, organizar, representar e
transformar, entre outros. O nível global envolve as operações mais complexas
de aplicação de conhecimento, as quais exigem as capacidades de analisar,
explicar, abstrair e construir. O objetivo deste estudo é oportunizar condições
que favoreçam ou interfiram na construção das relações espaciais no plano do
ensino e da aprendizagem, analisar as orientações presentes nas propostas curriculares
e visualizar novas hipóteses ou possibilidades para o entendimento das relações
espaciais. Esta pesquisa está referenciada em uma abordagem qualitativa que tem
por base um projeto desenvolvido em sala de aula. Para isso, as aulas foram
ministradas por uma dupla de professores que realizaram leituras e reflexões
sobre a temática, utilizando os seguintes recursos: desenhos, atividades
escritas, mapas conceituais, leitura dos dez primeiros capítulos da obra
literária, observações e participação dos alunos. Os dados levantados sugerem a
viabilização da obra A chave do tamanho, de Monteiro Lobato, como recurso
didático na prática do ensino de Geografia. Além de facilitar o entendimento da
noção de escala geográfica, este projeto oferece também novas oportunidades
para facilitar a compreensão da realidade local e global.
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BASTOS, Glaucia Soares Renato Cordeiros Gomes Dr.
PUC/RJ 2007
Título: MONTEIRO LOBATO: PERFIS E VERSÕES
Sinopse: Esta tese apresenta uma leitura de parte
da obra de Monteiro Lobato,relacionando-a com momentos importantes da vida do
autor e com o contextointelectual e social brasileiro. Procura-se apontar,
através de sua correspondência,certos princípios e intenções recorrentes quando
da elaboração tanto de contoscomo de textos jornalísticos. Estuda-se também sua
fortuna crítica, observando-secomo as interpretações de sua obra variam de
acordo com os pressupostosadotados pela crítica literária e como se constroem
perfis biográficos que sãoutilizados para sustentá-las.
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DIAS, João José Fernando Gil Ms. UFSC
2007
Título: Expandindo o olhar das páginas literárias
ao cinema: a caricatura do Jeca na expressão de Lobato e Mazzaropi
Sinopse: A construção da imagem e do tipo caipiras,
dentro da literatura e do cinema, foi elaborada à luz de imagens e
conhecimentos pré-estabelecidos e estagnados no tempo. A representação de sua
imagem está, ainda hoje, atrelada a um modo de ver externo a sua cultura e
corresponde aos interesses de quem detém o poder. A contingênncia dessa
caracterização guarda máculas desse embate cultural e de classe entre o caboclo
e o senhor de terras, detentor dos meios de produção. Analisada devidamente a
pluralidade de tipos caipiras em Monteiro Lobato, na literatura, e Amancio
Mazzaropi, no cinema, o que se vê é a perpetuação dessa imagem e a instituição
de uma identidade de certa forma anômala do caboclo, o que fez com que fosse
pintado, nos dizeres de Antonio Candido, de maneira bela, injusta e
caricatural. Mesmo buscando a verossimilhança, ambos os autores acentuaram e
fizeram retumbar com mais força e amplitude a marca negativa desse estereótipo,
imprimindo-lhe de novo apenas um olhar piedoso e/ou analítico acerca das
condições paupérrimas de vida do caipira paulista, sem, entretanto, irem a
fundo em aspectos pertinentes a sua cultura e modo de vida. Compreendendo os
períodos entre 1914 e 1970, o trabalho apresentado faz um passeio pelo breve
século XX, mostrando de que forma acontecimentos como as duas grandes guerras e
a Revolução Soviética de 1917, e suas posteriores consequências, por exemplo,
foram encaradas no país, não se esquivando, por certo, de uma pertinente
leitura das adaptações da imagem do caipira nesse período.
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NICOLA, Janaina Edgar Cezar N. dos Santos Ms.
UFMGS 2007
Título: No escuro do discurso: uma revisita a
Emília e Eulália.
Sinopse: Sob o crivo das asserções legadas aos
estudos críticos da linguagem e, em especial, aos que concernem ao discurso,
este texto propõe-se construir um espaço de "confronto" entre
linguístas e gramáticos, a fim de analisar esse polêmico, inquieto e ainda novo
relacionamento - que sustenta as implicações acerca dos estudos da língua -,
além de aspectos do status da gramática normativa no ensino de língua
portuguesa. Para alcançar a meta, esta pesquisa ocupa-se do exame pretensamente
dialógico dos textos: Emília no País da Gramática, de Monteiro Lobato, A Língua
de Eulália, de Marcos Bagno, e o documento Parâmetros Curriculares Nacionais
(BRASIL, 1998). Essa intencionalidade reclama, pois, a investigação dos
caminhos que percorrem os textos em questão, para a absorção das possibilidades
de sentidos com que essas obras trabalham, a produção dos discursos que
veiculam, a fim de desvendar o como e o do quê eles se constituem. O
empreendimento descrito alinha-se às contribuições teóricas e práticas providas
pela Análise de discurso de orientação francesa, que encontra especialmente nas
figuras de Michel Foucault e Michel Pacheux os centros de gravitação em torno
dos quais se encaminham as propostas do estudo do discurso que hoje irrompem.
Esta pesquisa classifica-se como bibliográfica quanto aos meios nos quais se
apóia e exploratória quantos aos fins de que se compraz. Metodologicamente, não
optamos por pesquisa de campo, uma vez que a intencionalidade de que nos
acercamos reclama o exame dos discursos veiculados pelas obras, bem como sua
implicância na construção do discurso propagado pelas políticas educacionais
que, por sua vez, estendem-se à vida social e particular daqueles que se valem
de seus apontamentos, espontaneamente ou não. Construímos nosso corpus por meio
da seleção de enunciados comparados à luz do suporte teórico desenvolvido.
Dentre alguns dos resultados a que este estudo pode remeter, importa destacar a
evidência, o movimento e a extensão do poder instaurado na prática (e no
relacionamento) dos personagens em confronto, a contradição dos seus discursos
com relação ao que pregam e a corrida (a luta) pela preservação de suas
posições, de seus lugares políticos nas "cadeias dos saberes",
sobrepondo-se às necessidades afirmadas com relação ao progresso educacional, à
expansão de conhecimentos em face do preconceito linguístico e a emancipação
idealizada pelo governo com base nos apontamentos advindos da ciência que essas
duas classes (linguistas e gramáticos) fabricam e disseminam no estudo da
linguagem.
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ROCHA, Jaqueline N. Marisa P. Lajolo Ms. UNICAMP
2006
Título: De caçada as caçadas : o processo de
re-escritura lobatiano de Caçadas de Pedrinho a partir de A Caçada da Onça
Sinopse: A Caçada da Onça , obra que Monteiro
Lobato publicou em 1924, não integrou, em 1931, Reinações de narizinho ? título
que resulta da junção de vários livros publicados por Lobato durante a década
de vinte e inicio de trinta. Foi ampliada e rebatizou pelo autor em 1933
passando, então, a intitular-se Caçadas de Pedrinho. Este trabalho se ocupa do
processo de transição da obra de 1924 para a de 1933 cotejando suas edições,
considerando os diferentes momentos em que foram escritas, articulando as
versões tanto à vida de Lobato quanto ao contexto sócio-historico brasileiro.
Propõe, finalmente, uma leitura do texto de 1933 a partir da análise de seus
aspectos formais e temáticos
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TOPAN, Juliana de Souza Joaquim Brasil F. Jr. Ms.
UNICAMP 2007
Título: O "Sitio do Picapau Amarelo da
Antiguidade": singularidades das Grecias lobatianas
Sinopse:As primeiras adaptações de mitos gregos em
obras destinadas a crianças e jovens, escritas e publicadas no Brasil, datam do
início do século XX, em que Monteiro Lobato, autor considerado como um dos
fundadores de nossa literatura infanto-juvenil, teve uma importante
contribuição. Com a publicação de "O Minoutauro" (1939) e "Os
doze trabalhos de Hércules" (1944), Lobato apresenta uma imagem da Grécia
Antiga (em especial, do século V a. C., conhecido como "século de Péricles")
e da Grécia Arcaica (que ele chama de "Heróica", por ser onde
localiza os grandes feitos de heróis guerreiros, como Hércules). Nessas obras,
chamanos a atenção a maneira como o autor se apropria da chamada
"mitologia grega" - subvertendo, muitas vezes, a versão canônica,
re-inventando narrativas, adaptando-as ao público mirim e apresentando uma
imagem idealizada da cultura grega antiga e arcaica. Nesse sentido, Lobato
revela suas influências de autores franceses, como Ernest Renan e Anatole France,
e do filósofo e historiador Will Durant, ao reforçar, em suas obras, a idéia do
"milagre grego". Além disso, constrói singularmente a figura do herói
Hércules, como um homem bruto em modos e inteligência, mas dotado de grande
sentimentalidade. Isso nos faz refletir sobre os diversos modelos de narrativa
heróica, em especial, dos heróis grego arcaico (típico da narrativa épica) e
europeu moderno (típico da narrativa romanesca)
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OLIVEIRA, Luciana S. Ana Maria H. Baptista Ms.
PUC/SP 2006
Título: Monteiro Lobato e a formação da literatura
infantil brasileira: um possível questionamento sobre a idéia de precursor
Sinopse:Esta dissertação tem como objeto de estudo
a idéia de precursor atribuída a Monteiro Lobato no que diz respeito à
literatura infantil brasileira Partimos do pressuposto de que Lobato não deve
ser considerado precursor embora tenha contribuído de forma significativa para
a formação da literatura infantil contemporânea O lançamento de seu primeiro
livro A menina do nariz arrebitado aconteceu no momento em que os ideais
modernistas fervilhavam no Brasil O Movimento Modernista que inicialmente
propunha a atualização do país em relação à Europa acabou por negar o passado e
toda a influência exercida por Portugal. As mudanças que ocorrem com o conceito
de infância na virada do século exerceram uma profunda influência na concepção
da obra lobatiana A criança do século XIX não será a mesma do século XX O
avanço da medicina a preocupação em relação à higiene o surgimento da penicilina
os estudos psicológicos e pedagógicos dão uma nova dimensão e um novo
significado à infância A literatura destinada a elas também passa por uma
transformação visto que elas deixarão de ser consideradas adultos pequenos para
serem vistas apenas como crianças que necessitam de cuidados apropriados à sua
condição Dessa maneira tomaremos como base para nosso estudo a idéia da
valorização do contexto histórico para propor uma reflexão sobre o papel que
Lobato vem ocupando ao longo de diversas gerações tomado como o criador da
literatura infantil no Brasil Para isso partiremos principalmente da análise
das correspondências de Lobato ao amigo Godofredo Rangel publicadas
posteriormente em A Barca de Gleyre
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Autoria - Orientação -
Grau - Local - Data
COELHO, Maicol M.L. Marcia Helena M. Ferraz Ms.
PUC/SP 2005
Título: Forte e bonito como o barão: ciência e
propaganda no Brasil, início do século XX
Sinopse: Inconformado com os problemas causados por
agregados em sua fazenda, Monteiro Lobato criou em 1914 o Jeca Tatu, símbolo de
uma raça brasileira arredia à civilização. Em épocas anteriores, clima e
miscigenação racial já eram apontados como culpados pela preguiça e indolência
de parte dos brasileiros, em particular do caboclo, do caipira. Expedições ao
interior do Brasil realizadas pelo Instituto Oswaldo Cruz, em especial as
realizadas em 1912, deram outra resposta àquela velha questão: a culpa é da
doença. As análises e as conclusões dos cientistas não ficaram restritas ao
relatório de viagem, dentro do Instituto; a iniciativa do médico Belisário
Penna as colocou ao alcance de parte, ainda que pequena, da sociedade.
Interessado no tema, Monteiro Lobato teve contato em 1918 com as idéias dos
cientistas, encontrou a cura para o seu Jeca Tatu e fê-lo, ainda, divulgar
algumas das conclusões formuladas após os estudos realizados durante a
expedição científica. Revigorado Jeca se tornou, pouco depois,
garoto-propaganda do laboratório Fontoura. Estes acontecimentos tiveram lugar
em uma época em que a publicidade, em particular de medicamentos, descobriu a
credibilidade que o termo ciência e seus agentes conferiam aos produtos
anunciados. Esta dissertação de mestrado permite compreender o papel da ciência
na formação dos conceitos e imagens aqui apresentados. Analisa um momento da
publicidade brasileira em que os anúncios de remédio avolumam-se em páginas de
revista, e um momento seguinte, em que esses anúncios se valem da ciência para
obter credibilidade. Analisa a origem e a transformação do Jeca Tatu, sua
apropriação pela publicidade e algumas etapas da divulgação de idéias e
conceitos científicos
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COSTA, Nivaldete F. da Maria Arisnete C. Morais Dr.
UFRGN 2005
Título: A Boneca Emília: por uma pedagogia
performática
Sinopse: A pesquisa parte de uma visão histórica da
boneca Emília criação do escritor Monteiro Lobato , relacionando-a com a educação,
enquanto pedagogia performática. Utiliza aportes teóricos de Renato Cohen,
pesquisador brasileiro da linguagem performática, e do pensador e pedagogo
alemão Nietzsche, aplicando-os às obras Emília no país da Gramática, Aritmética
da Emília e A chave do tamanho. Mostra que o performático tem suas origens mais
remotas no mito de Dioniso e que, à semelhança da arte performática, tida como
arte de fronteira, a pedagogia performática constitui-se também como uma
pedagogia de fronteira, em vista da hibridização pedagogia-e-arte em que se
funda, colocando-se igualmente no espaço das pedagogias culturais ou não
formais. Dentro do conceito de pedagogia performática, chegamos à construção de
um pequeno sistema pedagógico que abrange tanto o existencial quanto o
científico. A pedagogia performática representada pela boneca Emília responde à
condição bidimensional do ser humano: razão e sensibilidade. Por se fazer
mediante uma aliança com a arte - no caso, a literatura -, é mais sugestiva do
que prescritiva; está apta a colaborar para o surgimento de um paradigma
pedagógico não-centrado na hegemonia do racional; tem um caráter atemporal e
universal, podendo ser aplicada em todos os níveis de ensino, não se
restringindo, entretanto, ao espaço escolar
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HABIB, Paula A. B. B. Maria C. P. Cunha Ms.
UNICAMP 2003
Título: Eis o mundo encantado que Monteiro Lobato
criou : raça, eugenia e nação
Sinopse: O objetivo deste estudo é abordar uma
parte da vida e da obra de José Bento Monteiro Lobato (1882-1948) investigando
como dialogou com teorias raciais e com a Eugenia. No contexto histórico das
primeiras décadas do século XX discutir a nação significou discutir a
constituição racial do povo brasileiro e suas possíveis conseqüências para o
futuro do Brasil. Assim, pretendi analisar como o autor participou e divulgou o
projeto de intervenção social, que em um sentido mais amplo, vinculava-se ao
tema da re...
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JUSTO, Rosa Maria O. Maria A. da Costa Vieira Ms. USP
2007
Título: Os moinhos de vento no Brasil: uma leitura
da adaptação de \ Dom Quixote das crianças\ de Monteiro Lobato
Sinopse: O presente trabalho consiste no estudo da
adaptação de Dom Quixote das crianças (1936), de Monteiro Lobato, tendo com
base o diálogo intertextual que a referida obra mantém com o Dom Quixote de la
Mancha de Miguel de Cervantes (1605). Apesar da distância temporal que separa
as duas obras, muitos aspectos as unem, em particular a preocupação com a
leitura e com o próprio leitor da obra. A partir, portanto, do estudo da
leitura e da condição do leitor correspondente a cada um dos períodos
históricos, pretende-se desenhar possíveis análises e interpretações da obra de
Monteiro Lobato, focalizando, em especial, as eventuais contribuições do
escritor brasileiro para a formação de jovens leitores.
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GOH, Simone Strelciunas Hudinilson Urbano Ms. USP
2004
Título: Metalinguagem e oralidade em Monteiro
Lobato
Sinopse:O objetivo deste trabalho é resgatar a
metalinguagem de Monteiro Lobato apresentada em um corpus único e cronológico e
demonstrar que ele registra marcas de oralidade, criando um discurso que o
próprio autor denomina de "conversa em mangas de camisa". Elegemos
como corpus A Barca de Gleyre por julgarmos ser uma obra especial, em que o
próprio Lobato relata suas considerações lingüísticas ao longo de quarenta anos
em correspondência mantida com o amigo e também escritor Godofredo Rangel. Uma
visão diferenciada da vida do autor é retratada, enfocando concomitantemente a
essa biografia as considerações de Monteiro Lobato sobre a língua numa
perspectiva sincrônica. Faz-se a seguir um apanhado descritivo das modalidades
falada e escrita da língua, que auxilia nas reflexões e posicionamentos
lobatianos, uma vez que o autor já reconhecia a existência dessas duas
modalidades. Em seguida, ampliamos os pressupostos teóricos relativos aos
aspectos selecionados para a pesquisa. Procede-se à análise das ocorrências no discurso
do autor, no que tange a sua própria metalinguagem, a presença das repetições ,
termos gíricos e construções fixas, que contribuem para tornar o texto
epistolográfico "uma conversa com um amigo, um duo". Na conclusão,
destaca-se a valiosa contribuição de Lobato, que, por meio da obra A Barca de
Gleyre, traçou um panorama da língua e da literatura durante quatro décadas e
que demonstra pela sua própria postura lingüística que é possível elaborar um
discurso crítico com a presença de repetições , gírias e construções fixas que
corroboram para a expressividade, interação e coesão textual. Vale dizer que A
Barca foi um dos instrumentos que possibilitou Lobato a ser Lobato, pelo
exercício lingüístico e disposição que os dois correspondentes mantiveram por tantos
anos
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BRANCO, Thatty de A. Catello Eliana Lucia M.Y. G. Ms.
PUC/RJ 2007
Título: O MARAVILHOSO E O FANTÁSTICO NA LITERATURA
INFANTIL DE MONTEIRO LOBATO
Sinopse: O objetivo deste trabalho é percorrer a
construção das categorias deMaravilhoso e Fantástico em algumas obras infantis
do mestre MonteiroLobato, destacando as formas de apropriação de histórias de
outras tradições.
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ABREU, Tâmara M.C.S.N. Lourival Holanda Ms. UFPE
2004
Título: Um Lobato educador: sob o prisma da
fecundidade da obra infantil lobatiana
Sinopse: A literatura infantil de Monteiro Lobato
teve, desde os anos vinte, um papel fundamental na formação da criança
brasileira: educar para a liberdade e para a autonomia. Esta pesquisa trata das
relações entre a Literatura e a Educação; tem por finalidade mostrar como a
amizade do escritor com dois educadores, Anísio Teixeira e Fernando de Azevedo,
somada ao contexto histórico da Primeira República (1889-1930) quando as
palavras de ordem eram nacionalismo, entusiasmo pela educação e otimismo
pedagógico influenciaram os seus textos a partir da década de trinta. Apóia-se
em documentos originais como as cartas entre o escritor e os educadores, e
também em dados biográficos que comprovam as relações inferidas. Feito o estudo
da Filosofia da Educação de John Dewey, vê-se que seus desdobramentos no Brasil
se refletem no pensamento de Anísio Teixeira, Monteiro Lobato e Paulo Freire,
irmanados por uma concepção progressista e humanizadora da educação e da
própria vida. A pedagogia de Paulo Freire se revela, de certa forma, uma
continuação da filosofia de Anísio e, conseqüentemente, da literatura
lobatiana. Os livros da série infantil da coleção Obras Completas de Monteiro
Lobato foram analisados à luz dos preceitos escolanovistas e progressistas,
buscando estabelecer os pontos de interseção entre a sua literatura e a
educação praticada por Anísio e Freire.
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CORDEIRO, Mariana S. Regina H.M.A. Corrêa Ms. UEL
2005
Título: Mark Twain na "vitrine" de Lobato
Sinopse: Monteiro Lobato, no período compreendido
entre a segunda metade da década de 10 e meados dos anos 20 do século passado,
foi uma personalidade destacada no processo de formação do campo literário
nacional. É possível perceber sua atuação através do resgate de sua história
como escritor e seu papel no contexto editorial brasileiro o que faz surgir
mais uma de suas atividades: a de tradutor. Para investigar essa atividade o
presente trabalho propõe-se trazer à tona a tradução de Huck Finn feita por
ele. Para tal tarefa, a análise de seu trabalho segue as propostas da Teoria da
Invisibilidade formulada por Lawrence Venuti que estabelece as diferenças entre
tradução domesticadora e estrangeirizadora. Venuti se coloca em defesa desta
última por acreditar que ela seria a forma ideal de tradução para que o
trabalho do tradutor seja "visível". Os trechos escolhidos para serem
analisados são os que representam na escrita a oralidade do dialeto do negro do
Missouri na fala do personagem Jim, e também as inserções de expressões
coloquiais feitas pelo tradutor quando estas não apareciam na língua-cultura de
partida
Monteiro Lobato
www.tirodeletra.com.br/academia_autores/MonteiroLobato.htm
quero o resumo do minotauro de monteiro lobato é possivel?
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