Os autores impressionistas não mais se preocupavam
com os preceitos do Realismo ou da academia. A busca pelos elementos
fundamentais de cada arte levou os pintores impressionistas a pesquisar a
produção pictórica não mais interessados em temáticas nobres ou no retrato fiel
da realidade, mas em ver o quadro como obra em si mesma. A luz e o movimento
utilizando pinceladas soltas tornam-se o principal elemento da pintura, sendo
que geralmente as telas eram pintadas ao ar livre para que o pintor pudesse
capturar melhor as variações de cores da natureza.
A emergente arte
visual do impressionismo foi logo seguida por movimentos análogos em outros
meios quais ficaram conhecidos como, música impressionista e literatura
impressionista.
Características
Orientações gerais que caracterizam a
pintura impressionista:
. a pintura deve
mostrar as tonalidades que os objetos adquirem ao refletir a luz do sol num
determinado momento, pois as cores da natureza mudam constantemente, dependendo
da incidência da luz do sol;
. é também, com
isto, uma pintura instantânea (captação o momento), recorrendo, inclusivamente,
à fotografia;
. as figuras não
devem ter contornos nítidos pois o desenho deixa de ser o principal meio
estrutural do quadro, passando a ser a mancha/cor;
. as sombras
devem ser luminosas e coloridas, tal como é a impressão visual que nos causam.
O preto jamais é usado em uma obra impressionista plena;
. os contrastes
de luz e sombra devem ser obtidos de acordo com a lei das cores complementares.
Assim um amarelo próximo a um violeta produz
um efeito mais real do que um claro-escuro muito utilizado pelos academicistas
no passado. Essa orientação viria dar mais tarde origem ao pontilhismo;
. as cores e
tonalidades não devem ser obtidas pela mistura de pigmentos. Pelo
contrário,devem ser puras e dissociadas no quadro em pequenas pinceladas. É o
observador que, ao admirar a pintura, combina as várias cores, obtendo o
resultado final. A mistura deixa, portanto, de ser técnica para se tornar
óptica;
. preferência
pelos pintores em representar uma natureza morta do que um objeto;
. Uso de efeitos
de sombras coloridas e luminosas;
. Valorização de
decomposição das cores;
. As sombras
devem ser luminosas e coloridas;
Entre os principais expoentes do
Impressionismo estão Claude Monet, Edouard Manet, Edgar Degas, Auguste Renoir e
Camille Pissarro . Podemos dizer ainda que Claude Monet foi um dos maiores
artistas da pintura impressionista da época.
Orientações gerais que caracterizam o
impressionista:
. rompe
completamente com o passado;
. inicia
pesquisas sobre a óptica e os efeitos (ilusões) ópticos;
. é contra a
cultura tradicional;
. pertence a um
grupo individualizado;
. falam de arte,
sociedade, etc: não concordam com as mesmas coisas porém discordam do mesmo;
. vão pintar para
o exterior, algo bastante mais fácil com a evolução da indústria, nomeadamente,
telas com mais formatos, tubos com as tintas, entre outras coisas.
Os efeitos ópticos descobertos pela pesquisa
fotográfica, sobre a composição de cores e a formação de imagens na retina do
observador, influenciaram profundamente as técnicas de pintura dos
impressionistas.
Eles não mais misturavam as tintas na tela,
a fim de obter diferentes cores, mas utilizavam pinceladas de cores puras que
colocadas uma ao lado da outra, são misturadas pelos olhos do observador,
durante o processo de formação da imagem.
Origens
Édouard Manet não se considerava um
impressionista, mas foi em torno dele que se reuniram grande parte dos artistas
que viriam a ser chamados de Impressionistas. O Impressionismo possui a
característica de quebrar os laços com o passado e diversas obras de Manet são
inspiradas na tradição. Suas obras no entanto serviram de inspiração para os
novos pintores.
O termo impressionismo surgiu devido a um
dos primeiros quadros de Claude Monet (1840-1926) Impressão - Nascer do Sol,
por causa de uma crítica feita ao quadro pelo pintor e escritor Louis Leroy
"Impressão, Nascer do Sol -eu bem o sabia! Pensava eu, se estou
impressionado é porque lá há uma impressão. E que liberdade, que suavidade de
pincel! Um papel de parede é mais elaborado que esta cena marinha". A
expressão foi usada originalmente de forma pejorativa, mas Monet e seus colegas
adotaram o título, sabendo da revolução que estavam iniciando.
Impressionismo no Brasil
No início do século XX, Eliseu Visconti foi
sem dúvida o artista que melhor representou os postulados impressionistas no
Brasil. Sobre o impressionismo de Visconti, diz Flávio de Aquino:
"Visconti é, para nós, o precursor da arte dos nossos dias, o nosso mais
legítimo representante de uma das mais importantes etapas da pintura contemporânea:
o impressionismo. Trouxe-o da França ainda quente das discussões, vivo;
transformou-o, ante o motivo brasileiro, perante a cor e a atmosfera luminosa
do nosso País".
Principais pintores impressionistas
brasileiros: Eliseu Visconti, Almeida Júnior, Timótheo da Costa, Henrique
Cavaleiro e Vicente do Rego Monteiro.
Música e literatura
Música impressionista é o nome dado ao movimento da música clássica
europeia que surgiu no fim do Século XIX e continuou até o meio do Século XX.
Originando-se na França, música impressionista é caracterizada por sugestão e
atmosfera. Compositores impressionistas preferiam composições com formas mais
curtas, tais como o nocturne, arabesque, e o prelúdio; além disto,
frequentemente exploravam escalas, como a escala hexafônica ou também chamada
de tons inteiros.
A influência de impressionismo visual na sua
contraparte musical é bem discutida. Claude Debussy e Maurice Ravel são
considerados, em geral, os maiores compositores impressionistas. Mas, Debussy
não concordou com o termo, chamando-o de invenção dos críticos. Entre outros
músicos impressionistas fora da França incluem-se obras de Ralph Vaughan Williams
e Ottorino Respighi.
Com Clair de Lune
de Debussy e Bolero de Ravel, vemos que há ainda vestígios do Romantismo na
Música Impressionista.
Literatura
O termo Impressionismo também é usado para
descrever obras de literatura nas quais basta acrescentar poucos detalhes para
estabelecer as impressões sensoriais de um incidente ou cena. Literatura
impressionista é bem relacionada a simbolismo, entre os seus melhores
exemplares podemos encontrar: Baudelaire, Mallarmé, Rimbaud e Verlaine. Autores
tais como Virginia Woolf e Joseph Conrad escreveram trabalhos impressionistas
de modo que, em vez de interpretar, eles descrevem as impressões, sensações e
emoções que constituem uma vida mental de um caráte
Impressionismo – Wikipédia, a enciclopédia livre
pt.wikipedia.org/wiki/Impressionismo
IMPRESSIONISMO E LITERATURA.
O impressionismo passou a ser “engajado” na
Literatura a partir de dois irmãos, Edmond e Jules de Goncourt, para que fosse
designada a “escrita artística”, e que mostrava retratar a realidade cotidiana
com uma linguagem bastante exata baseada em pensamento científico, voltada para
o estado da alma dos personagens, buscava tentar “figurar” o estado que o
personagem estava e da mesma forma os estados sutis da atmosfera.
Nasce então, um novo tipo de linguagem em
que o autor procura mostrar a realidade com uma linguagem imperfeita, com uso
de metáforas, ritmos evocatórios, os autores que utilizavam dessa tecnica eram:
Eça de Queirós, Anton Tchecov entre outros.
Os principais temas que os autores
impressionistas retratavam, era sobre a vida do ser humano, ou seja, tudo o que
cotidianamente ele passa , frustração, falta de comunicação, cansaço da vida,
erotismo e também retratavam muito sobre a morte.
A
história é narrada segundo o ponto de vista do herói-autor a partir das
perpectivas de vários personagens , o tempo, a lembrança, a memória e “o tempo
perdido”; também são os temas
Segundo A. Hibbard, as características
impressionistas são:
• Emoções,
Sentimentos, Cenas, Incidentes, Caracteres, dando maior importância às
sensações que são causadas do que aquelas que somente são ditas.
• Valoriza-se a
cor, o efeito, os tons, ou seja, é passado somente a visão do instante.
• As emoções da
alma são passadas, como enredo ou ação da narrativa, importando mais a
narrativa do que a estrutura.
• Descrição da
paisagem (fantasia) a realidade não é de todo passada.
• Busca do tempo
perdido, através da impressão provocada pela realidade.
Impressionismo e literatura – Colégio Web
www.colegioweb.com.br › Colégio › Literatura ›
Impressionismo
Raul d'Ávila Pompeia (Angra dos Reis, 12 de
abril de 1863 — Rio de Janeiro, 25 de dezembro de 1895) foi um escritor
brasileiro.
Ainda menino, mudou-se com a família para o
Rio de Janeiro. Matriculado no colégio Abílio, distinguiu-se como aluno
estudioso, bom desenhista e caricaturista. Na época, redigia o jornalzinho
"O Archote". Prosseguiu seus estudos no Colégio Pedro II e publicou
em 1880 seu primeiro romance, Uma tragédia no Amazonas. Em 1881, matriculou-se
na Faculdade de Direito de São Paulo, participando das correntes de vanguarda,
materialistas e positivistas, que visavam fundamentalmente à abolição da
escravatura e à República.
Ligou-se a Luís Gama e participou
intensamente das agitações estudantis. Paralelamente, iniciou a publicação, no
Jornal do Commercio do Rio de Janeiro, dos poemas em prosa Canções sem Metro.
Termina o curso de Direito na Faculdade de Direito de Recife, para onde se
transferiu, juntamente com noventa colegas, provavelmente em conseqüência da
defesa dos ideais abolicionistas e republicanos. De volta ao Rio de Janeiro,
iniciou-se no jornalismo profissional escrevendo crônicas, folhetins, contos.
Integrava as rodas boêmias e intelectuais, e, aos poucos, impôs-se como
escritor.
Em 1888, deu início à publicação de um
folhetim na Gazeta de Notícias e no mesmo ano publicou o romance O Ateneu, uma "crônica de
saudades", que lhe deu a consagração definitiva como escritor.
Após a Lei Áurea e a Proclamação da
República, prosseguiu em suas atividades de jornalista político, engajando-se
no grupo dos chamados "florianistas". Entregou-se a um exaltado
nativismo. Tendo pronunciado um inflamado discurso junto à tumba de Floriano
Peixoto (1895), foi demitido do cargo que ocupava na Biblioteca Nacional.
Suicidou-se com um tiro no peito numa noite de natal, no escritório da casa
onde morava com a mãe, que assistiu à sua morte.
Obras
1880 - Uma tragédia no Amazonas (romance)
1888 - O Ateneu (romance)
1883 - Canções sem metro (prosa)
1882 - As joias da Coroa (panfleto satírico)
Raul Pompeia – Wikipédia, a enciclopédia livre
pt.wikipedia.org/wiki/Raul_Pompeia
O ATENEU
Resumo e análise da obra de Raul Pompéia
Sérgio, o protagonista, relembra os dois
anos em que viveu no internato chamado Ateneu, num texto marcado por características
do naturalismo, mas que não se limita a seguir os preceitos desse movimento
literário
O
Ateneu, livro de Raul
Pompéia que tem como subtítulo Crônica de Saudades, foi publicado em folhetins
em 1888. Considerada uma das grandes obras da literatura brasileira, narra os
dois anos em que Sérgio, o protagonista, vive no internato chamado Ateneu.
A primeira dificuldade na análise do livro é
enquadrá-lo numa categoria fixa, ou seja, fazer uma classificação rígida sobre
que tipo de romance ele representa. Pode ser considerado desde um relato
autobiográfico até um romance de formação, ou ainda uma típica narrativa de
cunho naturalista. Vistas isoladamente, no entanto, essas abordagens deixam a
dever no entendimento final da obra.
Naturalismo subvertido
De acordo com os preceitos do romance
naturalista, ao qual se pode associar o livro, depreende-se em O Ateneu uma
crítica feroz às instituições de ensino das elites do século XIX. O colégio é
visto como microcosmo da sociedade. Para isso, o narrador utiliza descrições de
toda ordem, físicas ou psicológicas, levadas a cabo com rigor e riqueza de
detalhes quase científicos.
A narrativa é assim apresentada num
movimento linear de fora para dentro, do macro para o micro. É como se o leitor
penetrasse em um organismo vivo. Inicialmente, a instituição educacional é
mostrada a partir de um foco externo: as festas, os discursos, os ginastas e
suas coreografias, a princesa imperial, que prestigiava os eventos, e,
principalmente, a figura central de Aristarco, pedagogo e dono do colégio.
Desse ponto de vista, o narrador encara o
Ateneu com certa perplexidade e maravilhamento. O colégio não se revela ainda
um mundo rebaixado, como se verá mais tarde. Nesse nível, a percepção do que é
a escola se situa no âmbito do discurso publicitário, “dos reclames”, no dizer
do narrador, o que é sublinhado, de forma irônica, por meio do personagem
Aristarco.
Esse primeiro exame dá conta do viés
naturalista. Há, porém, um aspecto que deixa a leitura mais complexa. A
estética naturalista concebe uma arte na qual o autor assume o papel de
observador, daí seu pretenso distanciamento em relação à matéria narrada, para
que possa criticar de forma mais adequada as doenças do mundo. Era a maneira –
que naquele momento tinha grande prestígio na Europa – de conceber as artes: o
artista se coloca como cientista e se isola do mundo por ele examinado.
Em O
Ateneu, no entanto, há um narrador-protagonista. O foco em primeira pessoa
subverte os preceitos naturalistas, de isenção e distanciamento. Sérgio narra e
comenta o mundo narrado. Desse modo, a compreensão sobre o que é o Ateneu se
estrutura na obra com as impressões do personagem principal. E, como elemento
complicador, isso se realiza pautado na perspectiva adulta. O romance é um
relato a posteriori das memórias de Sérgio a respeito dos dois anos em que
passou no internato.
Há, então, uma matéria narrada (o mundo do
Ateneu), impregnada da consciência, das impressões do narrador, e recuperada
por sua memória daquele tempo. Essa atitude literária afasta a obra do modelo
clássico de realismo/naturalismo. Por outro lado, o romance abriga vários
aspectos naturalistas, como o determinismo, a presença do homossexualismo e os
aspectos animalescos (comparações de personagens com animais).
Espaço
A obra é claramente dividida em dois
espaços: fora e dentro do colégio. O primeiro é visto como ambiência do mundo
natural. O segundo funciona como rito de iniciação, acontecimento traumático
por meio do qual ocorre a passagem do universo infantil para o adulto, espaço
para a formação do homem.
O
Ateneu, contudo, em vez de formar, deforma o homem. Trata-se de uma
formação às avessas, ou seja, o que se espera de uma instituição é subvertido
por uma educação bárbara. O ensino no colégio é determinado por um espaço no
qual impera o ideal da força sobre os mais fracos.
Tempo
O tempo é dividido em tempo psicológico e
tempo vivido. O primeiro é o da memória, manuseado pelo narrador da maneira que
lhe vem na consciência. Assim, na narração temos os episódios que ficaram na
memória narrativa do autor. Já o tempo vivido se circunscreve linearmente aos
dois anos de internato vividos pelo protagonista. Isso garante complexidade à
obra e confere maior densidade a sua leitura.
Enredo
Após a entrada de Sérgio no Ateneu, o local
é apresentado de forma minuciosa e estilizada. Há abundância descritiva de
detalhes. O narrador se atém a cada episódio, buscando na memória o fio
condutor da narrativa. Tudo isso amparado por metáforas e comparações, o que
garante uma prosa formalmente hiperbólica, com tom de grandeza, como se o
estilo elevasse aquele mundo por meio da linguagem. Assim, a cada episódio são
descritos os colegas, os desafetos, os baderneiros, os protetores, os
professores, Ema e, principalmente, Aristarco.
As relações entre esses personagens, no
relato de Sérgio, formam o Ateneu. Esse, por sua vez, como em O Cortiço, de
Aluísio de Azevedo, funciona na estrutura do livro como personagem. Essa é mais
uma das singularidades do romance em relação ao que prescrevia a estética
naturalista, para a qual o meio se sobrepunha sempre ao indivíduo,
determinando-o, como no caso do citado romance de Aluísio de Azevedo. Em O
Ateneu, isso quase sempre ocorre, mas, na caracterização formal que envolve
Aristarco e o Ateneu num mesmo grupo de características, o meio e o indivíduo
se identificam. Isso torna as forças de determinação do meio quase nulas,
colocando em ação a determinação estrutural edificada pelo poder – como
acontece na hierarquia institucional, nas relações de trabalho e nas relações
sociais.
Aristarco é construído no mesmo processo.
Ambos – a escola e seu diretor – são abordados de maneira grandiloqüente, nas
comparações com vultos da Antiguidade clássica, deuses e monumentos sacros. No
entanto, essa construção mascara um lado torpe. Por baixo da carapaça de uma
instituição educacional de renome, há o pior dos mundos, retratado em relações
homossexuais degradadas, nas quais os mais fortes subjugam os menores.
Aristarco é visto, inicialmente, como um
pedagogo-modelo. Essa imagem, no entanto, como a do próprio internato, não
passa de fachada. O diretor é conivente com o ambiente mórbido das relações
entre alunos e professores. Tome-se, por exemplo, o caso de Franco, um dos
internos, personagem que encarna o aspecto mais doentio do colégio. Abandonado
pela família, serve como bode expiatório para Aristarco.
Aristarco e o Ateneu se determinam um em
função do outro, tanto no processo de sua construção como na desconstrução,
quando tragicamente um interno ateia fogo ao colégio. Ema, esposa de Aristarco,
aproveita o momento para fugir e abandonar o marido.
O Ateneu - resumo e análise da obra de Raul Pompéia -
Guia do ...
guiadoestudante.abril.com.br/estude/literatura/materia_410610.shtml
COMENTÁRIOS SOBRE “O ATENEU”
Um livro fascinante. Sem uma linearidade ou
presença marcante dos clichês dos romances da época em que fora escrito.
É incrível a quantidade de símbolos e
significados que se pode extrair desse livro... Encerrei a obra fascinada pela
quantidade de coisas nas entrelinhas. Embora a leitura não seja tão fluida,vale
a pena lê-lo e estudá-lo.
Há uma crítica à aristocracia, ao sistema
educacional do século XIX, à hipocrisia da sociedade, há uma abordagem sobre a
religiosidade, sobre o homossexualidade, etc.
Raul Pompéia fez
uma obra prima, chegando a ser comparado com Machado... bom, isso divide
opiniões. Leia o livro e tire suas conclusões sobre.
O Ateneu é considerado um dos maiores
romances da literatura brasileira. Por abordar estruturas vivenciais típicas da
transição entre a infância e a adolescência, O Ateneu deve ser lido não apenas
como narrativa confessional, mas também como romance de formação, em que se
ficcionalizam os primeiros confrontos entre o indivíduo e a sociedade. Ao
primeiro contato, o leitor sensível perceberá a diferença desta edição da obra.
Antes de mais nada, ela resgata, em dimensões fiéis, as ilustrações que o
próprio Raul Pompéia executou para seu romance.
Devidamente relido para resenha aqui no
Skoob, a linguagem rebuscada do autor, que talvez fosse capricho de estrutura,
e sinal de qualidade em seu tempo, hoje é cansativa. Algumas vezes, chega a ser
bonito, poetizando momentos corriqueiros e enchendo-os de tintas e novas
percepções, por outras, o ritmo do livro é sacrificado, e as descrições (em
especial das matérias que Sérgio estuda no Ateneu) desafiam o autor.
"Tomava
cada período, cada oração, altamente, com o ademã sisudo do anatomista:
sujeito, verbo, complementos, orações subordinadas; depois o significado, zás!
um corte de escalpelo, e a frase rolava morta, repugnante, desentranhando-se em
podridões infectas".
A vida no internato. A construção da
personalidade dos garotos, nos embates entre as dificuldades da vida e a
convivência. O próprio autor mostra o que pretende por trás de tanta descrição,
na frase selecionada abaixo:
"É
uma organização imperfeita, aprendizagem de corrupção, ocasião de contato com
indivíduos de toda origem? O mestre é a tirania, a injustiça, o terror? O
merecimento não tem cotação, cobrejam as linhas sinuosas da indignidade,
aprova-se a espionagem, a adulação, a humilhação, campeia a intriga, a
maledicência, a calúnia, oprimem os prediletos do favoritismo, oprimem os maiores,
os mais fortes, abundam as seduções perversas, triunfam as audácias dos nulos?
A reclusão exacerba as tendências ingênitas?
Tanto melhor: é a escola da sociedade."
Nove anos depois relata o autor, Raul
D'Ávila Pompéia, o visto na personalidade de seu diretor, Dr Aristarco Argolo
de Ramos: A ética e a moral falha de um renomado pedagogo. De início, Sérgio,
imaginava o diretor como uma extensão do seu pai, porém percebera que Aristarco
não era nada do que demonstrara na sua política de "ensino com
afeto", seu principal "marketing chamariz". Afeto este,
divulgado pela afamada intituição.
Aristarco tratava o ensino como um comércio,
segundo o autor. - O Ateneu era o grande colégio da época. Afamado por um
sistema de nutrido réclame, mantido por um diretor que de tempos em tempos
reformava o estabelecimento...como os negociantes que liquidam para
recomeçar...O Ateneu desde muito tinha consolidado crédito na preferência dos
pais, sem levar em conta a simpatia da meninada...(p.8, 4ºparágrafo)
Aristarco, na expressão olímpica do
semblante transpirava a beatitude de um gozo superior. Gozava a sensação
prévia, no banho luminoso, da imortalidade a que se julgava consagrado. Devia
ser assim: - luz benigna e fria, sobre bustos eternos, o ambiente glorioso do
panteão. A contemplação da posteridade embaixo.- Neste trecho, Sérgio via em
Aristarco uma moralidade de realeza, porém também humanizado de forma
caricaturada, no que vem a seguir- Aristarco tinha momentos destes sinceros. O
anúncio confundia-se com ele, suprimia-o, substituía-o, e ele gozava como um
cartaz que experimentasse o entusiasmo de ser vermelho.(p.15)
Sérgio demonstra que Aristarco e o Ateneu
era um só personagem, como alguns críticos descrevem: Naquele momento, não era
simplesmente a alma de seu instituto, era a própria feição palpável, a síntese
grosseira do título, o rosto, a testada, o prestígio material de seu colégio,
idêntico com as letras que luziam em auréola sobre a cabeça. Sa letras, de
ouro; ele, imortal: única diferença. (p.15). - portanto, se o Ateneu era imoral
deviasse ao seu diretor.
Como agia o diretor, diante do cliente de
mais valia. - Aristarco levantou-se ao nosso encontro e nos conduziu à sala
especial das visitas. Saiu depois a mostrar o estabelecimento, as coleções, em
armários, dos objetos próprios para facilitar o ensino. (p.19)
Conduta mutável
diante doas alunos cujos pais atrasava o trimestre. Mudava o modo de
recepcionar, a ponto do aluno se perguntar o que haiva feito de errado. - Ele
tinha maneiras de todos os graus, segundo a condição social da pessoa. As
simpatias verdadeiras eram raras. No âmago de cada sorriso morava-lhe um
segredo de frieza que se percebia bem... Às vezes, uma criança sentia a
alfinetada no jeito da mão a beijar. Saía indagando consigo o motivo daquilo.
Que não achava em suas contas escolares...(p.19)
Registro da moral "pré-existente"
no Ateneu - Outro quadro vidraçado exibiam sonoramente regras morais e
conselhos muito meus conhecido de amor à verdade, aos pais e temor de
"deus" que estranhei como um código de redundância (p.19) - Ainda
neste período da estória o aluno vê em Aristarco a continuidade da família.
Ilustração de D. Ema, mulher do diretor, com
ênfase, nos trajes não adquados para uso dentro de uma escola. Reflexão para os
valores morais atemporal: Bela mulher em
plena prosperidade dos trinta anos; formas alongadas por graciosa magreza,
erigindo, porém, o tronco sobre quadris amplos, forte como a maternidade; olhos
negros, pupilas retintas, de uma cor só, ... Vestia cetim preto justo sobre as
formas, reluzente como pano molhado; o cetim vivia com ousada transparência a
vida oculta da carne. - (p.16)
Sérgio contra-ataca a imoralidade a ele
infligida até então, também de forma imoral, conseguênte do meio que vive.
Ataca no bigode de Aristarco, tanto descrito, imponetemente, nas primeiras
páginas. Uma mostra sem punição prática do atacado,a ver neste discurso direto (p.104):
- Fui primeiro tocado!
-Criança! feriste um velho!
-Fui vilmente injuriado,...
-Ah! meu filho, ferir um mestre é como ferir
ao próprio pai, e os parricidas serão malditos.
E o que mais imoral e realista que a narração
do assassinato no colégio e a descrição e remoção do corpo, de forma
naturalista, mostrado nesta parte da obra:
Caído no soalho, vi o cadáver sobre uma esteira de sangue. Guardava ainda o
contorno da esquerda da agonia; à boca fervia-lhe um crivo de espuma rosada;
trajava colete fechado, calças de casimira grossa. Os ferimentos não se viam.
Os olhos estavam-lhe inteiramente abertos e de tal maneira virados que me
fizeram estremecer. (p.62)
Alguns
minutos depois de minha entrada, chegaram dois sujeitos com uma rede. Os
copeiros ajudaram a apanhar o corpo. Os homens da rede os levaram. Cenas expressionistas.
Um pouco de parnasianismo para narrar o
imoralismo: Sanches estava feito.
Penetrou comigo até os últimos albergues da metrópole, até a coacla máxima dos
termos chulos. Descarnou-me em caricatura de esqueleto a circunspeção magistral
do Lexicon, como poluíra a elevação parnasiana do poema. (p.36)
O
professor Venâncio lecionava também inglês; escapei-lhe às garras, felizmente:
uma fera! chatinho sobre o diretor, terrível sobre os discípulos; a um deles
arremessou-o contra um registro de gás, quebrando-lhe os dentes.(p.112) -
conduta do professor, sem a justiça, a questão central das preocupações éticas.
A
degeneração em massa, para a bananada induzida pela corrupção: Era indústria secreta a goiabada de
bananas, segundo Aristarco... Os inspetores chegaram aterrados a procurar o
diretor, mostrando a cara salpicada de verrugas vermelhas. Adivinhei. Era a
revolução da goiabada! Uma velha queixa...disse Sérgio - moral Uma
amostragem do fio de Aristarco! Este veio ao motim e disse, para não vim a
falência econômica do estabelecimento, com a expulsão de todos: " Mas por que meus amigos, não
formularam uma representação? A representação é o motivo reduzido à expressão
ordeira e papeliforme! Qual a necessidade da representação por assuadas?
"Entrava-lhe a justiça pelos bolsos como um desastre 'moral' " Nesta
casa não há misérias!...Aqui tem as latas...Mais latas... leiam o rótulo...
Como podia eu suspeitar...Até hoje estava convencido que a goiabada era de
goiaba...Quando alguma coisa faltar, reclamem, que aqui estou eu para
providênciar, vosso mestre, vosso pai!... - disse Aristarco(p.107)
"Ah!
meus amigos, concluiu ofegante, não é o espírito que me custa, não é o estudo
dos rapazes a minha preocupação... É o caráter! Não é a preguiça o inimigo, é a
imoralidade!" (p.20) E assim se valia a boa imagem do Ateneu... Mesmo
com toda a imoralidade, Sérgio acredita que o internato é útil: a existência
agita-se como a peneira do garimpeiro: o que vale mais e o que vale menos
separam-se. Não é o internato que faz a
sociedade; o internato a reflete. (p.124) - Ou seja, o mundo não se resume
ao Aristarco e ao colégio Abilio, "O
Novo Mundo" já se fez imoral nos tempos da corte!
Resenhas - O Ateneu
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