O NATURALISMO (1881 - 1902)

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     Naturalismo (não confundir com naturismo ou com filosofia naturalista) é uma escola literária conhecida por ser a radicalização do Realismo, baseando-se na observação fiel da realidade e na experiência, mostrando que o indivíduo é determinado pelo ambiente e pela hereditariedade. A escola esboçou o que se pode declarar como os primeiros passos do pensamento teórico evolucionista de Charles Darwin.
    O naturalismo como forma de conceber o universo constitui um dos pilares da ciência moderna, sendo alvo de considerações também de ordem filosófica.
     Os romances naturalistas destacam-se pela abordagem extremamente aberta do sexo e pelo uso da linguagem falada. O resultado é um diálogo vivo e extraordinariamente verdadeiro, que na época foi considerado até chocante de tão inovador. Ao ler uma obra naturalista, tem-se a impressão de se estar a ler uma obra contemporânea, que acabou de ser escrita. Os naturalistas acreditavam que o indivíduo é um mero produto da hereditariedade e o seu comportamento é fruto do meio em que vive e sobre o qual age. A perspectiva evolucionista de Charles Darwin inspirava os naturalistas, que acreditavam ser a Selecção Natural impulsionadora da transformação das espécies. Assim, predomina nesse tipo de romance o instinto, o fisiológico e o natural, retratando a agressividade, a violência, o erotismo como elementos que compõem a personalidade humana.
    Ao lado de Darwin, Hippolyte Taine e Auguste Comte influenciaram de modo definitivo a estética naturalista. Os autores naturalistas criavam narradores omniscientes e impassíveis para dar apoio à teoria na qual acreditavam. Exploravam temas como a homossexualidade, o incesto, o desequilíbrio que leva à loucura, criando personagens que eram dominados pelos seus instintos e desejos, pois viam no comportamento do ser humano traços da sua natureza animal.
     No Brasil, a prosa naturalista foi influenciada por Aluísio Azevedo com a obra O mulato, publicado em 1881. Esta marcou o início do Naturalismo brasileiro e a obra O cortiço, também de sua autoria, marcou essa tendência.
ÉMILE ZOLA
    O francês Émile Zola foi o idealizador do naturalismo e o escritor que mais se identificou com ele. O romance experimental (1880) é considerado o manifesto literário do movimento. As leituras de Zola sobre a teoria evolucionista de Darwin (a Origem das espécies foi publicada em 1859), A filosofia da arte (1865), "um grande estudo fisiológico e psicológico". O que Claude Bernard tinha desvendado no corpo humano, Zola iria desvendar na sociedade. A título de curiosidade, conta-se que Zola pouco mais teve que fazer do que substituir as palavras médico por romancista do livro "Introduction a l'étude de la médicine experimentale" (Claude Bernard) para poder escrever a sua obra "Le Roman Expérimental", de 1880. Outras influências fortes sobre seu trabalho, nesse sentido, seriam a obra de Honoré de Balzac (que havia realizado uma verdadeira radiografia da sociedade francesa com a série de romances. A comédia humana, concluída em 1846) e as idéias socialistas em ascensão (O Manifesto Comunista de Karl Marx e Friederich Engels é de 1848). Em 1871, Zola dava início a seu grande projeto, a série Os Rougon-Macquart. A repercussão na imprensa do êxito de A taverna (1876) levou Zola a responder à crítica da seguinte forma: "Estou sendo considerado um escritor democrático, simpatizante do socialismo, mas não gosto de rótulos. Se quiserem me classificar, digam que sou naturalista. Vocês se espantam com as cores verdadeiras e tristes que uso para pintar a classe operária, mas elas expressam a realidade. Eu apenas traduzo em palavras o que vejo; deixo para os moralistas a necessidade de extrair lições. Minha obra não é publicitária nem representa um partido político. Minha obra representa a verdade". Em 1880, Nana é lançado e faz grande sucesso. Aborda um tema ousado: a prostituição de luxo.
       Em 1881 Zola lança sua obra-prima Germinal. Para escrevê-lo, o autor não se contentou com a pesquisa, foi direto à fonte. Passou dois meses trabalhando como mineiro na extração de carvão. Viveu com os mineiros, comeu e bebeu nas mesmas tavernas para se familiarizar com o meio. Sentiu na carne o trabalho sacrificado, a dificuldade em empurrar um vagonete cheio de carvão, o problema do calor e a umidade dentro da mina, o trabalho insano que era necessário para escavar o carvão, a promiscuidade das moradias, o baixo salário e a fome. Além do mais, acompanhou de perto a greve dos mineiros, por isso sua narração é tão impactante. A força de Germinal causou enorme repercussão, consagrando Émile Zola como um dos maiores escritores de todos os tempos.
TEATRO
     No teatro, o naturalismo exerceu mudanças marcantes, com o surgimento do diretor, do cenógrafo e do figurinista. Até então, o próprio ator escolhia suas roupas, um único cenário era usado para diversas montagens, e não estava definida a posição do diretor como coordenador de todas as funções. A iluminação passou a ser mais estudada e adotou-se a sonoplastia. É um radicalismo do Realismo.
PINTURA
  Na pintura, um exemplo naturalista é o famoso quadro de Van Gogh, Os Comedores de batatas (1885).
 NATURALISMO EM PORTUGAL E NO BRASIL
    No Brasil, as primeiras obras naturalistas são publicadas em 1880, sendo influenciadas pela leitura de Émile Zola.
    O primeiro romance é O mulato (1881) do maranhense Aluísio de Azevedo, o escritor que melhor representa a corrente literária do naturalismo brasileiro. Além dessa obra, foi o responsável pela criação de um dos maiores marcos da literatura brasileira: O cortiço.
    A recepção crítica da teoria naturalista de Zola fez-se em Portugal por intermédio de autores como Júlio Lourenço Pinto (1842-1907), José António dos Reis Dâmaso (1850-1895), António José da Silva Pinto (1848-1911), Alexandre da Conceição (1842-1889), Teixeira de Queirós (1848-1919), autor das séries Comédia do Campo e Comédia Burguesa, e o mais destacado deles, Abel Botelho, (1854-1917), criador da série Patologia Social, ou Carlos Malheiro Dias (1875-1941) tentariam a aplicação do Naturalismo ao conto e ao romance.
    Pela primeira vez, a literatura pôs em primeiro plano o pobre, o homossexual, os negros e os mulatos discriminados.
    Alguns representantes do Brasil foram Aluísio Azevedo, Horácio de Carvalho, Inglês de Souza, Julio Ribeiro, Emília Bandeira de Melo, Adolfo Caminha, Pápi Júnior, Rodolfo Teófilo, Carneiro Vilela, Faria Neves Sobrinho, Manoel Arão entre vários outros.


NATURALISMO - O "ROMANCE DE TESE"
    O naturalismo desenvolveu-se paralelamente ao movimento realista, sendo uma espécie de realismo que carrega nas tintas. Nem por isso deixou de dar origem a obras de grande valor, apesar de - no Brasil - primar pela mediocridade.
     Influenciado pelo desenvolvimento das ideias científicas na época, especialmente na área das ciências biológicas e sociais, o Naturalismo tentava explicar de forma materialista ou científica os fenômenos da vida e do comportamento humano.
    Em outras palavras, buscava as explicações dos fatos sociais e pessoais, por meio do determinismo, das relações de causa e efeito das ciências. Acreditava-se que os acontecimentos e atitudes eram decorrentes ou condicionados pelo meio físico, pelas circunstâncias vividas ou pela etnia, segundo as ideias do filósofo francês Hypolite Taine.
ROMANCES DE TESE
     Isso fica claro em romances e contos, nos quais as personagens são o resultado da sua descendência e das condições em que vivem. Condicionadas pela situação, seu livre arbítrio inexiste e não lhes resta a menor chance de evoluírem por si mesmas.
     As obras naturalistas são também chamadas de romances de tese: apresentam um ponto de vista e tentam demonstrá-lo através dos fatos narrados. Em geral, focalizam o lado patológico dos indivíduos ou da sociedade, ou seja, as piores situações sociais, como: traição, atentado ao pudor, exploração sexual etc.
     Em seguida, procuram os motivos de tais problemas, encontrando-os na etnia, nos costumes, no ambiente social, no temperamento, na falta de valores morais e na libertinagem. Enfim, dissecavam as taras humanas, vistas como consequências da hereditariedade, de doenças, vícios, má formação do caráter e das relações sociais.
DESCRIÇÃO E DISTANCIAMENTO
      As cenas, narradas com tantos detalhes, em descrições caudalosas, são verdadeiros retratos ou quadros da situação. Os personagens que a protagonizam são muito mais estereótipos do que seres humanos.
      Os autores procuram assumir a postura de cientistas que observam experimentos. Tentam ser o mais objetivos possíveis, demonstrando distanciamento e impessoalidade no trato dos fatos do romance, como se estivessem num laboratório, diante de cobaias.
    Os autores brasileiros estavam influenciados pelo português Eça de Queirós e pela produção francesa - mais especificamente pelos romances de Émile Zola, como "Thérèse Raquin" (1867), que introduziu o Naturalismo literário em seu país.
      Zola, por sua vez, tinha suas ideias moldadas no evolucionismo de Darwin e no positivismo religioso de Comte, os principais responsáveis pelos estudos e pesquisas que deram fôlego e material de trabalho à literatura.
AUTORES BRASILEIROS
    Os que mais se destacam neste universo fatalista são: Inglês de Sousa, com "O Missionário" (1888); Domingos Olímpio, com "Luzia-Homem" (1903); Adolfo Caminha, com "O Bom Crioulo" (1895); Júlio Ribeiro, "A Carne" (1888) e, principalmente, Aluísio Azevedo, com sua obra prima, "O Cortiço" (1890).
     A exceção deste último, que ocupa sem dúvida um lugar de destaque em nossa literatura, Inglês de Souza, Adolfo Caminha e Júlio Ribeiro excessivamente descritivos, preocupados em pintar detalhadamente um retrato físico dos personagens e dos cenários em que eles se movimentam, produziram antes de mais nada uma literatura chata, aborrecida, onde a narração é de tal forma entrecortada pelos caudalosos trechos descritivos que o leitor precisa ter paciência - e não pouca - para chegar da primeira à última página.
     O esquematismo não deixa de estar presente também nos referidos autores. Senão no invariável caráter trágico do enredo, ao menos na suposta análise científica que os romances naturalistas fazem de seus temas, reduzindo os personagens a criaturas determinadas pelo meio físico e por seus instintos sexuais mais animalescos ou, pior, animalizados pelos autores, com o intuito de demonstrar suas teses.
Denúncia vazia
   Ora, há limites óbvios entre a arte e a ciência e, quando se tenta desconsiderar esses limites, o resultado é inevitavelmente arte de má qualidade ou anticiência, como se vê em obras como "O Missionário" (1888), de Inglês de Souza, ou "A Normalista" (1893), de Adolfo Caminha, ou ainda "A Carne" (1888), de Júlio Ribeiro.
      Nas três obras, o que não faltam são preconceitos e chavões deterministas, difundidos em nome de uma suposta denúncia crítica da sociedade (burguesa). Sem falar que a trama abusa sempre de aspectos escabrosos do comportamento humano e de seus tipos mais mesquinhos, resvalando inevitavelmente para as cenas ou episódios de mau gosto.
     Nesse sentido, é plausível encerrar essa breve avaliação do naturalismo brasileiro com duas citações. O filósofo oitocentista Karl Marx, nas "Teses contra Feuerbach", disse que "a filosofia se limitou a explicar o mundo, cabe transformá-lo". Referindo-se ao próprio Marx e aos pensadores que seguiram sua filosofia, o cientista político francês Raymond Aron (1905-1983), mais percucientemente, disse que "os intelectuais não querem nem explicar nem transformar o mundo, mas somente denunciá-lo".
      Aqui no Brasil, os escritores naturalistas ocuparam-se, principalmente, com os temas mais obscuros da alma humana (patológicos) e, por causa disso, outros fatos importantes da nossa história como a Abolição da Escravatura e a República foram deixados de lado.
      O Naturalismo surgiu na França, em 1870, com a publicação da obra “Germinal” de Émile Zola. O livro fala das péssimas condições de vida dos trabalhadores das minas de carvão na França do século XIX.
      O naturalismo é uma ramificação do Realismo e uma das suas principais características é a retratação da sociedade de uma forma bem objetiva.
      Os naturalistas abordam a existência humana de forma materialista. O homem é encarado como produto biológico passando a agir de acordo com seus instintos, chegando a ser comparado com os animais (zoomorfização).
     Segundo o Naturalismo, o homem é desprovido do livre-arbítrio, ou seja, o homem é uma máquina guiada por vários fatores: leis físicas e químicas, hereditariedade e meio social, além de estar sempre à mercê de forças que nem sempre consegue controlar. Para os naturalistas, o homem é um brinquedo nas mãos do destino e deve ser estudado cientificamente.
CARACTERÍSTICAS
- A principal característica do Naturalismo é o cientificismo exagerado que transformou o homem e a sociedade em objetos de experiências.
- Descrições minuciosas e linguagem simples
- Preferência por temas como miséria, adultério, crimes, problemas sociais, taras sexuais e etc. A exploração de temas patológicos traduz a vontade de analisar todas as podridões sociais e humanas sem se preocupar com a reação do público.
- Ao analisar os problemas sociais, o naturalista mostra uma vontade de reformar a sociedade, ou seja, denunciar estes problemas, era uma forma de tentar reformar a sociedade.
PRINCIPAIS AUTORES
Aluísio Azevedo
    Com a publicação de O Mulato (1881), Aluísio Azevedo consagrou-se como um escritor naturalista. A publicação dessa obra marca o início do Naturalismo brasileiro.
    O livro (que não é a nossa obra naturalista mais marcante) causou impacto na sociedade, principalmente entre o clero e a alta sociedade de São Luís do Maranhão.
     O Mulato aborda temas como o puritanismo sexual, o anticlericalismo e o racismo.
     Em 1890, o Naturalismo atinge o seu ápice com a publicação de O cortiço (obra repleta de personagens marginalizados).
Inglês de Souza
    Em 1891, Inglês de Souza publicou O Missionário, obra que aborda a influência do meio sobre o individuo.
Adolfo Caminha
    Publicou as obras A Normalista, em 1892 e O bom crioulo, em 1895 que falam sobre desvios sexuais e mais especificamente, o homossexualismo em O bom crioulo.
     A ficção regionalista (iniciada no Romantismo) teve continuidade durante o naturalismo. As principais obras regionalistas são:
- Luzia-Homem, de Domingos Olímpio.
- Dona Guidinha do poço, de Manuel de Oliveira Paiva.

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DIFERENÇAS ENTRE NATURALISMO / REALISMO
Naturalismo
Realismo
Forte influencia da literatura de Emile Zola (França);
Forte influencia da literatura de Flaubert (França);
Romance experimental, apoiado na experimentação e observação cientifica;
Romance documental, apoiado na observação e na analise;
A investigação da sociedade e dos caracteres individuais ocorre “ de fora para dentro”, as personagens tendem a simplificar, pois são vistos como pacientes dos factores Biológicos, históricos e sociais que determinam as suas acções, pensamentos e sentimentos;
A investigação da sociedade e dos caracteres individuais é feita “ de dentro para fora”, por meio de análise psicológica, capaz de abranger sua complexidade, utilizando a ironia, que sugere e aponta, em vez de afirmar;
Volta-se para a Biologia e a patolo-gia, centrando-se mais no social;
Volta-se para a psicologia, centrando-se mais no indivíduo;
As obras retratam as camadas inferiores, marginalizadas e, normalmente, as personagens são oriundas dessas classes sociais mais baixas;
As obras retratam e criticam as classes dominantes, a alta burguesia urbana e, normalmente, as personagens pertencem a esta classe social;
O tratamento dos temas com base numa visão determinista conduz e direcciona as conclusões do leitor e empobrece literariamente os textos.
O tratamento imparcial e objectivo dos temas garantem ao leitor um espaço de interpretação, de elaboração das suas próprias conclusões a respeito das obras.

CARACTERÍSTICAS  DO  NATURALISMO
Cientificismo - Os autores expõem e comprovam as doutrinas científicas da época. É o determinismo hereditário, do meio ambiente e social. O realismo produziu os romances de tese documental, e o naturalismo, os de tese experimental.
Personagens patológicas - O naturalismo dava preferência à sociedade decadente, ao homem na sua parte mais animal: atos fisiológicos, instintos, apetites sexuais, personagens degenerados, com raras taras e vícios. As ações humanas são descritas e narradas como se fossem experiências científicas, como nas frequentes cenas de sexo.
Linguagem objetiva - A linguagem presente nos textos naturalistas é simplificada e comum, aproximando-se dos textos informativos. A ênfase é pela narração dos factos, e não pela descrição.
Combate ao Romantismo - O Naturalismo contrasta com o romantismo em vários aspectos. Aqui, destacam-se o adultério, a valorização do presente e da razão, a desmistificação das personagens (elas agora podem ser feias, pobres e comuns, por exemplo), a preferência pelo dia e pela realidade. O Naturalismo volta-se para as camadas populares de estatuto social mais baixo, o submundo do vício e do crime. Tanto o Realismo como o Naturalismo são anticlericais, antimonárquicos, anti-românticos e antiburgueses, têm como objectivo retratar a sociedade em que estão inseridos.

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