João Franklin da Silveira Távora (Baturité,
13 de janeiro de 1842 — Rio de Janeiro, 18 de agosto de 1888) foi um advogado,
jornalista, político, romancista e teatrólogo brasileiro.
Em 1844 transferiu-se com os pais para
Pernambuco. Fez preparatórios em Goiana e Recife, em cuja Faculdade de Direito
matriculou-se em 1859, formando-se em 1863. Lá viveu até 1874, tendo sido
funcionário público, deputado provincial e advogado, com breve intervalo em 1873
no Pará, como secretário de governo. Em 1874, transferiu-se para o Rio de
Janeiro, onde foi funcionário da Secretaria do Império.
Iniciou o romantismo de caráter
regionalista no Nordeste. Uma de suas obras mais marcantes é O Cabeleira,
romance passado em Pernambuco do século XVIII. Foi crítico ferrenho de outros
grandes autores brasileiros, como José de Alencar.Foi de grande contribuição
para os contos literários brasileiros,pois em suas obras abordava lendas e
tradições populares ,em oposição a uma literatura do sul ,considerada cheia de
estrangeirismos e antinacionalismos. Possuia dois Pseudônimos: Semprônio e
Farisvest.
Homenageado
pela Academia Brasileira de Letras, é o patrono da cadeira 14, escolhido por
Clóvis Beviláqua.
1 Obras
Fase literária recifense
Trindade
maldita (contos, 1861);
Os índios do
Jaguaribe (romance, 1862);
A casa de palha
(romance, 1866);
Um casamento no
arrabalde (romance, 1869);
Um mistério de
família (drama, 1862);
Três lágrimas
(drama, 1870).
Fase carioca
Cartas de
Semprônio a Cincinato (crítica, 1871);
O Cabeleira
(romance, 1876); Considerado um de seus melhores livros.
O matuto
(crônica, 1878);
Lourenço
(romance, 1878);
Lendas e
tradições do norte (folclore, 1878);
O sacrifício
(romance, 1879).
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A IMPORTÂNCIA DE
FRNKLIN TÁVORA
Franklin Távora figura ao lado dos romancistas José de Alencar, Bernardo
Guimarães e Alfredo Taunay, entre outros, como um escritor que trouxe à
literatura brasileira o gosto pelo sentimento da natureza, evocando a paisagem
aliada ao enfoque de personagens que simbolizam os arquétipos do sertanejo. No
entanto, como a maioria de seus colegas de geração, escreveu também para o
teatro. E é justamente esse lado menos conhecido do artista, que o estudioso
Cláudio Aguiar está resgatando, com a obra Teatro de Franklin Távora. As obras
reunidas neste volume por Aguiar representam significativos exemplos de dramas
realistas aparecidos justamente no momento em que tal movimento ganhava força
no cenário da dramaturgia brasileira.
Franklin Távora é o patrono da Cadeira nº 14, da ABL, e formou-se pela Universidade de Direito do Recife, celeiro de grandes escritores no período. Um dos fundadores da Revista Brasileira, foi intérprete literário de um regionalismo que vinha se exprimindo ideologicamente desde o início do século. Távora defendeu o que chamava uma literatura do Norte, em oposição a uma literatura do Sul, considerada por ele cheia de estrangeirismos e antinacionalismo. Ficou conhecido, especialmente, pelas obras Três Lágrimas (1870), Cartas de Semprônio a Cincinato (1871), O Cabeleira (1876), O Matuto (1878) e Lendas e Tradições do Norte (1879). Nesta entrevista, Aguiar aborda a vida e a obra do dramaturgo nordestino.
Franklin Távora é o patrono da Cadeira nº 14, da ABL, e formou-se pela Universidade de Direito do Recife, celeiro de grandes escritores no período. Um dos fundadores da Revista Brasileira, foi intérprete literário de um regionalismo que vinha se exprimindo ideologicamente desde o início do século. Távora defendeu o que chamava uma literatura do Norte, em oposição a uma literatura do Sul, considerada por ele cheia de estrangeirismos e antinacionalismo. Ficou conhecido, especialmente, pelas obras Três Lágrimas (1870), Cartas de Semprônio a Cincinato (1871), O Cabeleira (1876), O Matuto (1878) e Lendas e Tradições do Norte (1879). Nesta entrevista, Aguiar aborda a vida e a obra do dramaturgo nordestino.
Como poderíamos classificar a presença de Franklin
Távora na literatura brasileira?
Ela acha-se bastante documentada nos mais importantes livros que tratam de nossa história literária, como os de Sílvio Romero, José Veríssimo, Lúcia Miguel-Pereira, Antonio Candido, para ficar apenas nos mais conhecidos. A marca fundamental aparece com o romance Um Casamento no Arrabalde, de 1869, que o situa como uma das principais obras que se caracterizam por abandonar o tom romântico então predominante. Por isso, boa parte da crítica viu nesta obra de Távora um momento precursor do realismo no contexto da literatura brasileira. O mesmo acontecia com sua estréia no Teatro de Santa Isabel, no Recife, com a peça Um Mistério de Família, de 1861, embora a primazia sempre tenha recaído para autores que então freqüentavam o eixo Rio-São Paulo. Sílvio Romero chegou a ver em Távora mais faro psicológico e firmeza das tintas do que em Alencar, no qual reconhecia, por outro lado, maior imaginação. José Veríssimo classificou Um Casamento no Arrabalde como um dos melhores da literatura brasileira. Lúcia Miguel-Pereira, apesar de propensa a destacar mais os defeitos do que os acertos da obra de Távora, chamou a atenção “para os novos rumos que delineia”, querendo dizer com isso que Távora naquele romance apontava para caminho nitidamente realista. Candido considerou Um Casamento no Arrabalde a obra-prima de Távora exatamente pelo “traço realista”. Então, em rápidas palavras, verificamos que Távora afirma-se desde os primeiros passos literários, quer no romance, quer no teatro, como um autor realista. Isso não significa que não tenha tentado, ainda muito jovem, obras com fortes laivos românticos, as quais não alcançaram nenhuma repercussão e logo foram abandonadas pelo próprio autor, como ocorreu a Os Índios do Jaguaribe, de 1862.
Ela acha-se bastante documentada nos mais importantes livros que tratam de nossa história literária, como os de Sílvio Romero, José Veríssimo, Lúcia Miguel-Pereira, Antonio Candido, para ficar apenas nos mais conhecidos. A marca fundamental aparece com o romance Um Casamento no Arrabalde, de 1869, que o situa como uma das principais obras que se caracterizam por abandonar o tom romântico então predominante. Por isso, boa parte da crítica viu nesta obra de Távora um momento precursor do realismo no contexto da literatura brasileira. O mesmo acontecia com sua estréia no Teatro de Santa Isabel, no Recife, com a peça Um Mistério de Família, de 1861, embora a primazia sempre tenha recaído para autores que então freqüentavam o eixo Rio-São Paulo. Sílvio Romero chegou a ver em Távora mais faro psicológico e firmeza das tintas do que em Alencar, no qual reconhecia, por outro lado, maior imaginação. José Veríssimo classificou Um Casamento no Arrabalde como um dos melhores da literatura brasileira. Lúcia Miguel-Pereira, apesar de propensa a destacar mais os defeitos do que os acertos da obra de Távora, chamou a atenção “para os novos rumos que delineia”, querendo dizer com isso que Távora naquele romance apontava para caminho nitidamente realista. Candido considerou Um Casamento no Arrabalde a obra-prima de Távora exatamente pelo “traço realista”. Então, em rápidas palavras, verificamos que Távora afirma-se desde os primeiros passos literários, quer no romance, quer no teatro, como um autor realista. Isso não significa que não tenha tentado, ainda muito jovem, obras com fortes laivos românticos, as quais não alcançaram nenhuma repercussão e logo foram abandonadas pelo próprio autor, como ocorreu a Os Índios do Jaguaribe, de 1862.
Qual a importância do teatro de Franklin Távora, onde
convivem num mesmo espaço o regionalismo, certa preocupação realista,
histórica, e enredos de teor folhetinesco?
A importância do teatro de Távora, segundo penso, não reside basicamente na possibilidade de conviver no mesmo espaço circunstâncias de gêneros, movimentos ou escolas. As peças selecionadas, a meu ver, fogem de esquemas regionalistas ou históricos e centram-se em questões fundamentais da própria vida humana: a honra e a desonra de pessoas que são feridas em seus sentimentos mais íntimos e sagrados, ainda que preponderem aspectos relevantes em determinada época. Creio que a importância do teatro de Távora está exatamente no elevado senso da condução do drama. Do ponto de vista da historiografia literária destaco, porém, fatores que influenciaram o surgimento de intensa fermentação dramática que apontavam para novos caminhos do teatro brasileiro. O principal deles era o enfoque realista que deixava para segundo plano o romantismo, também, à época, ocorrendo no Recife com as mesmas características do Rio de Janeiro e São Paulo. E mais: a novidade recifense surgia da pena do jovem Franklin Távora, com apenas 20 anos de idade, que conseguia levar à cena no Teatro de Santa Isabel um drama com o concurso de grandes companhias e renomados atores, circunstância que no mínimo chancelava a qualidade de seu texto.
A importância do teatro de Távora, segundo penso, não reside basicamente na possibilidade de conviver no mesmo espaço circunstâncias de gêneros, movimentos ou escolas. As peças selecionadas, a meu ver, fogem de esquemas regionalistas ou históricos e centram-se em questões fundamentais da própria vida humana: a honra e a desonra de pessoas que são feridas em seus sentimentos mais íntimos e sagrados, ainda que preponderem aspectos relevantes em determinada época. Creio que a importância do teatro de Távora está exatamente no elevado senso da condução do drama. Do ponto de vista da historiografia literária destaco, porém, fatores que influenciaram o surgimento de intensa fermentação dramática que apontavam para novos caminhos do teatro brasileiro. O principal deles era o enfoque realista que deixava para segundo plano o romantismo, também, à época, ocorrendo no Recife com as mesmas características do Rio de Janeiro e São Paulo. E mais: a novidade recifense surgia da pena do jovem Franklin Távora, com apenas 20 anos de idade, que conseguia levar à cena no Teatro de Santa Isabel um drama com o concurso de grandes companhias e renomados atores, circunstância que no mínimo chancelava a qualidade de seu texto.
Alguns críticos consideraram Franklin Távora o
primeiro romancista do Nordeste. Mas dizem que, no final da vida, mostrou-se
desgostoso com a literatura. Qual terá sido o motivo?
Távora realmente leva vantagem cronológica sobre o aparecimento do primeiro romance cearense, isto é, escrito por autor cearense, quando, em 1862, publicou Os Índios do Jaguaribe, no Recife, aliás, anterior a Iracema, de José de Alencar, que é de 1865. No entanto, não é um romance de regionalismo extremado, mas, sim, extremadamente romântico. Nele há um certo ufanismo mesclado a um saudosismo que só uma atitude romântica poderia justificar. Foi uma obra totalmente abortada. Tanto que ele prometia continuar a publicação do resto do romance e não se tem notícia da edição dos tomos seguintes. Quanto ao fato de revelar-se desgostoso no final da vida com a literatura, também não encontrei em sua trajetória nenhuma razão plausível para tal atitude. O que constatei foi justamente o contrário. Revelou-se um escritor bastante forte para não sucumbir diante das injunções adversas da vida, das ingratidões, do sofrimento com a atividade burocrática, das dificuldades financeiras. Ele, porém, teve momentos de realização pessoal em sua curta vida (morreu aos 46 anos), creio, decorrentes exatamente de atividades literárias, de jornalismo militante, polêmicas e campanhas ligadas a princípios dignificantes e construtivos, como a defesa da liberdade, da fraternidade e da igualdade entre os homens, tríade que, ao longo da história, tornou-se apanágio e obsessão daqueles que miram utopicamente o horizonte e nunca o próprio umbigo.
Távora realmente leva vantagem cronológica sobre o aparecimento do primeiro romance cearense, isto é, escrito por autor cearense, quando, em 1862, publicou Os Índios do Jaguaribe, no Recife, aliás, anterior a Iracema, de José de Alencar, que é de 1865. No entanto, não é um romance de regionalismo extremado, mas, sim, extremadamente romântico. Nele há um certo ufanismo mesclado a um saudosismo que só uma atitude romântica poderia justificar. Foi uma obra totalmente abortada. Tanto que ele prometia continuar a publicação do resto do romance e não se tem notícia da edição dos tomos seguintes. Quanto ao fato de revelar-se desgostoso no final da vida com a literatura, também não encontrei em sua trajetória nenhuma razão plausível para tal atitude. O que constatei foi justamente o contrário. Revelou-se um escritor bastante forte para não sucumbir diante das injunções adversas da vida, das ingratidões, do sofrimento com a atividade burocrática, das dificuldades financeiras. Ele, porém, teve momentos de realização pessoal em sua curta vida (morreu aos 46 anos), creio, decorrentes exatamente de atividades literárias, de jornalismo militante, polêmicas e campanhas ligadas a princípios dignificantes e construtivos, como a defesa da liberdade, da fraternidade e da igualdade entre os homens, tríade que, ao longo da história, tornou-se apanágio e obsessão daqueles que miram utopicamente o horizonte e nunca o próprio umbigo.
Quais as
características predominantes da obra O cabeleira de ...-
br.answers.yahoo.com
Maria Jarina Silva Aguiar
Sabe-se que,durante o século
XVIII, alguns autores manifestaram o desejo de produzir uma Literatura
nacional, essa que exaltasse as proezas da terra. Foi nesse contexto que surgiu
João Franklin Silveira Távora, cearense, nascido em Baturité, no ano de1842.
Franklin, estudou em Fortaleza. Anos depois foi para Pernambuco, cursou
advocacia, na cidade de Recife. Além de ser advogado, foi contista,
historiador, crítico e romancista. Como romancista , acreditava que, uma das
formas de produzir uma literatura própria, do povo brasileiro, seria exaltando
a cultura do norte do país, já que lá estavam o matuto, o sertanejo e a
natureza, todos com as peculiaridades, uma vez que permaneciam pouco
influenciados pela cultura européia, já que poderiam observar, que nos modos
matutos tinham muito de original,na natureza tinha elementos diferentes.
Agora, é interessante
mencionar o lado crítico de Távora, que se manifestou devido o desejo de ter
uma literatura brasileira. Acaba tecendo criticas graves ao escritor José de
Alencar, já que defendia que as escrituras de tal autor, não eram devidamente
nacional,uma vez que, estavam presentes nas obras, grandes características do
povo estrangeiro. Sendo interessante ressaltar que os leitores podem perceber
isso, quando lêem as obras, que retratam o índio,pois ficam muito
observáveis, as influencias estrangeiras, na apresentação da personagem, que
deveria representar a terra. È preciso dizer que não teceu as criticas sozinho,
pois contou com a ajuda de outros autores, como o José Feliciano de Castilho,
que unidos fizeram frente em campanha contra as idéias de Alencar.
As cartas escritas por
Távora, com o objetivo de ofender Alencar, eram redigidas sob um pseudônimo de
Semprônio. Tais textos, na época, fizeram muito sucesso, afinal eram
direcionadas a um renomado autor. No período aqui transcrito, nasce para o povo,
Franklin Távora, antes desconhecido, mas que agora ganhava espaço, devido as
cartas.
Faz-se necessário mencionar
que Távora foi visto, por alguns, como precursor da literatura nordestina, pois
nas palavras de Pontara e Abaurre “Franklin é considerado o “fundador” do
regionalismo do Nordeste, que no século XX, ressurgirá com força total na
ficção Modernista”. Mediante este trecho, percebe-se que, por mais que na
geração de 30, com os textos de Euclides, ou Raquel, tenham dado ênfase, aos
problemas da seca, da fome ,das desventuras do povo sertanejo e, de tal forma
ter voltado o mundo para as dificuldades no Nordeste, mesmo assim é preciso
ressaltar a importância de Távora, na literatura regionalista, afinal foi com o
ele que essa literatura deu os primeiros passos, já que em um dos seus livros
tenha falado de seca, fome, cangaço.
Agora, faz-se necessário
relatar um pouco a respeito do livro O Cabeleira, que é o romance mais
conhecido de Távora. No enredo tem dados históricos e trechos românticos,
ambientados em Pernambuco. Os fatos históricos são justificados, nos nomes de
algumas autoridades pernambucanas, enquanto as idéias românticas revelam-se no
amor, entre o protagonista José Gomes e a jovem Luisinha. Um sentimento capaz
de purificar a alma do mau caráter da personagem central, assim comovendo o
público leitor. Além de traços românticos, tem-se idéias naturalistas, já que o
autor revela que o livro trata-se de um romance de tese, afinal o objetivo era
a comprovação da influencia do meio social, na formação do caráter do
protagonista, pois J. Gomes é mau, devido a influencia do próprio pai. É
interessante mencionar que um outro fato discutido no livro é a pena de morte,
no enredo conclui-se que não é uma boa forma de fazer justiça.
É válido relatar que Távora,
no fim da vida encontrava-se em situação lamentável, já que viveu em estado de
miséria, além disso encontram-se relatos que, tão grande foi a frustração
vivida, que acabou rasgando alguns textos, além de vender o acervo bibliotecário.
Mediante as idéias aqui
colocadas, vê-se que, Franklin Távora, apesar das funções que exerceu, apesar
do reconhecimento, em decorrência das cartas escritas, mesmo assim morreu
esquecido e frustrado. Será uma atitude muito interessante, defender a importância
de Távora para construção da literatura nacional.
jornalcorreiodasemana.com
O CABELEIRA
O romance não se ocupa apenas de pura ficção, conta a vida de José
Gomes, O Cabeleira, cujo pai, Joaquim Gomes, foi um temeroso bandido. Pai e
filho, associados a outro delinquente, Teodósio, roubam e matam sem dó nem
piedade. As populações paupérrimas, com o pouco que tinham, eram forçadas a
lhes dar alimento, dinheiro e sangue. O grupo decide assaltar a vila de Recife
e a população, sabendo que os bandidos se aproximam, trata de fugir para o
mato. Os que não têm para onde ir, oferecem aos criminosos hospedagem.
Cabeleira, nessa época, tinha vinte e dois anos. Seus comparsas vão
armados de facas, bacamartes e pistolas em direção à vila de Recife. Mais
experiente, Teodósio é o primeiro a entrar no lugarejo, marcando a ingazeira da
ponte, como local de encontro. A vila era pouco desenvolvida, por isso os
esparsos moradores trancam-se cedo em suas casas, temendo roubos e assassinatos
tão comuns na região.
Pai e filho chegam ao bairro da Boa Vista ao anoitecer. Como não sabiam
que os habitantes, por ordem do governador, deviam colocar luminárias em suas
casas, festejando a abolição dos jesuítas, ficam alarmados, pensando que serão
descobertos. Mas logo se encontram com Teodósio, que rema uma canoa. Era 1º de
dezembro de 1773. O povo festejava, passeando pela ponte iluminada de Recife,
quando um deles reconhece o Cabeleira e se põe a gritar. A multidão começa a se
dispersar desordenadamente, gritando, atropelando-se.
Os dois malfeitores apanham suas facas, o Cabeleira grita que chegou e
vem acompanhado do pai que, sem pestanejar, dá com o facão sobre a cabeça de um
passante, espirrando sangue no rosto do matador. O filho não entende porque o
pai fez aquilo, mas o degenerado e infeliz lhe diz que ali são mal-queridos e,
portanto, é preciso fazer o trabalho bem feito. Incentivado, Cabeleira sai
ferindo a torto e a direito.
Os soldados da infantaria chegam e o povo preso na ponte, não tendo para
onde fugir, lança-se às águas e logo os malfeitores, também, encurralados,
fazem o mesmo. Um dos soldados é atingido pela vara de um canoeiro e desce
correnteza abaixo. Teodósio foi quem o assassinou, enquanto buscava os
comparsas. Em breve, estão todos na canoa com as armas na mão. Joaquim e o
filho se encontravam na ponte para dar cobertura a Teodósio, que estava
assaltando um armazém. Com a confusão, o velho assaltante teve tempo de
praticar o furto desejado e, ainda, salvar os dois amigos, lançados à escuridão
do Rio Capibaribe.
A violência do Cabeleira é incentivada pelo pai desde tenra idade. Aos
16 anos o menino demonstra extrema crueldade. Nessa época, mata de forma
violenta Chica, uma mameluca, companheira de Timóteo, dono de uma venda de
artigos roubados.
Chica, enfurecida, porque o cavalo do rapaz estava comendo sua horta, dá
uma forte pancada no animal que sai correndo desabaladamente. Não contente, a
mulher passa a dirigir insultos ao bandido, e este de raiva lhe dá uma surra
tão grande que ela acaba falecendo. Sua valentia fica sendo conhecida por
todos, pois nesse mesmo dia, tinha feito um roubo, assassinado um comerciante e
deixado, quase mortos, dois soldados.
Timóteo jamais brigou com o malfeitor, pois o temia. Seu estabelecimento
passa a ponto de encontro e venda dos produtos de roubo do trio. Nessa taberna,
na ponte dos Alagados, escondem-se os três, após a confusão na vila de Recife.
Mas, logo são sobressaltados pelo semblante desfigurado de Teodósio, que
descobre ter deixado o dinheiro roubado no camarote da canoa que tinha
desaparecido. Notam que dois meninos retornam com ela. Gritam para eles, mas os
garotos, amedrontados, abandonam o barco, carregado pela correnteza, e se põem
a correr. Cabeleira, pensa no dinheiro e atira certeiramente nas costas de um
deles, mata o segundo a tiros, enquanto, sorrateiramente, Teodósio oculta de
seus comparsas o fruto do roubo.
Segundo a tradição, o Cabeleira tinha boa índole, herdada da mãe, a
fraca Joana. Na infância, Joaquim ensina ao filho a matar os animaizinhos,
entregando-lhe uma pequena faca para ser usada contra todos aqueles que o
provocassem: fosse velho, moço, mulher ou criança. A mãe se esforça para
colocar o menino no caminho do bem e amor ao próximo. O marido decide partir
levando a criança. Cabeleira fica abatido com a notícia, mas despede-se da
querida amiga de infância, Luisinha, prometendo-lhe, quando voltar, não fazer
mal a mais ninguém.
Luisinha era uma órfã, criada pela viúva Florinda. A menina vai
crescendo, ao mesmo tempo em que a fama do Cabeleira e do pai se fortalece. A
cada novo terror, ela sente-se triste e angustiada, recordando a imagem do antigo
amigo. Até que, ao fim de uma tarde, quando vai buscar água, se encontra com o
Cabeleira, que mata Florinda, quando esta vem em defesa de Luisinha. O bandido,
não reconhecendo a moça, pretende levá-la consigo. Ela se apresenta e ele a
liberta, dizendo que logo retornará para uma conversa.
Liberato, um proprietário de terras, arrasadas pelos bandidos, reúne-se
com outros moradores queixosos e propõe atacarem o bando do Cabeleira, mas os
homens se negam. Liberato não desiste e acompanhado de seus dois filhos,
Ricardo e Sebastião, mais o genro, Vicente, parte à caça dos malfeitores. Um de
seus vizinhos conta o plano ao bando. Ao chegarem à clareira dos malfeitores,
estes já os esperam e os liquidam.
Dias mais tarde, quando o velho índio, Matias, conhecedor das matas, vai
em busca do grupo, encontra seus corpos. Retorna à casa do morto acompanhado
pelo pai do Cabeleira que, a qualquer custo, deseja entrar onde se encontram as
mulheres, esperando por seus familiares. Luísa, também, aí está, assistindo Florinda
a expirar, após tê-la encontrado ainda com vida. Matias é morto avisando às
mulheres sobre o ocorrido e sobre a presença dos bandidos.
As cinco mulheres entram em pânico, enquanto Joaquim esmurra a porta,
gritando para que elas saíssem. Percebendo que vão atear fogo a casa, elas
decidem ficar.
Morrem no incêndio, mas Luísa sai, carregando às costas a morta
Florinda. Joaquim quer a moça para si, mas o filho enfrenta ferozmente o pai
que decide perdoar seu desafio, enquanto o bando evita os policiais. Cabeleira
abraça e beija ternamente Luisinha, fugindo com ela para a mata.
Timóteo, forçado pelos policiais, leva-os até o esconderijo do bando,
deixando o Cabeleira e Luísa nas matas. As milícias volantes cercam a região da
província de Alagoas até a Paraíba, prendendo todos os ladrões, malfeitores e
aterrorizadores das populações há anos, inclusive Joaquim e Teodósio.
Entretanto, o povo ainda se sente ameaçado, porque o Cabeleira está livre.
O bandido busca água e comida para a amada que o impede de matar as
pessoas que cruzam seu caminho. O malfeitor deseja agradá-la , por isso joga
fora o bacamarte e a faca como prova de que jamais fará mal a ninguém, reza e
se arrepende de todo o mal causado. Uma manhã, ao despertar, encontra a
companheira morta, vítima de queimaduras no peito, por tentar salvar Florinda,
de febre e da longa caminhada.
Estupefato, o malfeitor descobre a ferida oculta com um lencinho, doido
de dor, chora amargamente.
Cabeleira ouve uma corneta e percebendo que a milícia está em seu
encalço, embrenha-se mata a dentro, largando o corpo de Luísa para trás. Marcolino,
um dos moradores, leva os soldados para o mato, mas não consegue localizar o
bandido.
Desapontado, resolve agir por conta própria; decidido a caçar o
delinquente a qualquer custo. Vai na direção de Pau D' alho, quando avista o
malfeitor penetrando no canavial. Este já sabe que está cercado e a saída
controlada. O cerco dura quase três dias, quando, finalmente, se entrega ao
chefe, o capitão-mor Cristóvão de Holanda Cavalcanti, que lhe dando voz de
prisão, leva-o para sua casa, antes de encaminhá-lo à prisão mais segura, em
Recife.
A esposa do capitão-mor fica comovida com a dor e a música que saem da
viola do Cabeleira e implora ao marido para deixar escapar a vítima da
violência paterna. Mas Cristóvão de Holanda cumpre seu dever. Decorrido um mês,
O Largo das Cinco Pontas, em Recife, ostenta a forca que fará justiça. Joana, a
mãe do Cabeleira, implora para vê-lo, mas não lhe permitem. Vai para a praça
aguardar o filho e chorar sua dor. Ele aparece pálido e diz arrepender-se do
que fez, despede-se, dando adeus à mãe, que morre do coração entre as mulheres
da praça.
A morte dos bandidos não inibe a manifestação de outros malfeitores. O
narrador pergunta: 'De que serviu pois a provisão régia?'. E, acrescenta: ' a
pena de morte, que as idades e as luzes têm demonstrado não ser mais que um
crime jurídico, de feito não corrige, nem moraliza'. Atribui aos crimes
cometidos por Cabeleira à pobreza e ignorância, reclamando da sociedade o dever
de dar a educação a todos e de organizar o trabalho. Aproveita, também, para
defender os escravos que, levados pelos açoites e condição servil, matam seu
senhor por serem vítimas da pobreza e degradação social.
O Cabeleira | Resumos Literarios
VISCONDE DE TAUNAY
Alfredo Maria Adriano d'Escragnolle Taunay,
primeiro e único visconde de Taunay, (Rio de Janeiro, 22 de fevereiro de 1843 —
Rio de Janeiro, 25 de janeiro de 1899) foi um nobre, escritor, músico, artista
plástico, professor, engenheiro militar, político, historiador e sociólogo
brasileiro.
Alfredo Taunay nasceu em uma família
aristocrática de origem francesa no Rio de Janeiro. Seu pai, Félix Émile Taunay,
era pintor, professor e diretor da Academia Imperial de Belas Artes e seu avô
paterno foi o conceituado Nicolas-Antoine Taunay. Sua mãe, Gabriela Hermínia
Robert d'Escragnolle Taunay, fora uma dama da alta sociedade brasileira e era
irmã do barão d'Escragnolle e filha do conde d'Escragnolle.
Após obter seu bacharelado em literatura
no Colégio Pedro II em 1858, aos quinze anos de idade, Taunay estudou Física e
Matemática no Colégio Militar do Rio de Janeiro, tornando-se bacharel em
Matemática e Ciências Naturais em 1863.
Casou-se com Cristina Teixeira Leite,
filha do barão de Vassouras, neta do primeiro barão de Itambé e sobrinha-neta
do barão de Aiuruoca. Seu filho foi o historiador Afonso d'Escragnolle Taunay,
membro-fundador da Academia Brasileira de Letras.
Guerra do Paraguai e carreira política
Taunay lutou na Guerra do Paraguai como
engenheiro militar, de 1864 a 1870. Desta experiência surgiu seu livro A
Retirada da Laguna, de 1869. Após seu retorno ao Rio de Janeiro, Taunay
lecionou no Colégio Militar e iniciou simultaneamente sua carreira como
político do Segundo Império. Atingiu o posto de major em 1875. Foi eleito para
a Câmara dos Deputados pela província de Goiás em 1872, cargo para o qual seria
reeleito três anos mais tarde.
O Conde d'Eu (com a mão na cintura no
centro a direita) e à sua esquerda, José Paranhos, futuro visconde do Rio
Branco, e entre ambos, o visconde de Taunay, cercados por oficiais brasileiros
durante a Guerra do Paraguai.
No dia 26 de abril de 1876, foi nomeado presidente
da província de Santa Catarina. Assumiu o cargo de 7 de junho de 1876 a 2 de
janeiro de 1877, quando o passou ao vice-presidente Hermínio Francisco do
Espírito Santo, que presidiu a província por apenas um dia. Em 1 de janeiro de
1877, durante seu mandato como presidente, ele havia inaugurado, no Largo do
Palácio, atual Praça Quinze de Novembro, o monumento aos heróis catarinenses da
Guerra do Paraguai.
Inconformado com a queda do Partido
Conservador, Taunay retirou-se da vida política em 1878, deixando o país para
estudar, durante dois anos, na Europa. Em 1881 é eleito deputado pela província
de Santa Catarina e, em 1885, nomeado presidente da província do Paraná. Em
Curitiba, foi um dos responsáveis pela criação do primeiro parque da cidade, o
Passeio Público, inaugurado em 2 de maio de 1886 (véspera do dia da entrega do
cargo).[1]. Exerceu tal cargo até 3 de maio de 1886. Neste ano, torna-se
senador por Santa Catarina, tendo sido escolhido de uma lista tríplice pelo
Imperador em 6 de setembro de 1886, sucedendo Jesuíno Lamego da Costa.
Recebeu o título nobiliárquico de visconde
de Taunay de D. Pedro II em 6 de setembro de 1889. Com a proclamação da
República naquele mesmo ano, Taunay deixou a política para sempre.
Carreira literária e artística
Crítico das influências da literatura
francesa, Taunay buscava promover a arte brasileira no exterior. No dia 21 de
agosto de 1883 propõe à câmara dos deputados a autorização de uma soma para a
realização de uma sinfonia por Leopoldo Miguez em Paris, nos Concerts-Collone.
Anteriormente fora responsável pela promoção de Carlos Gomes no exterior.
Taunay foi um autor prolífico, produzindo
ficção, sociologia, música (compondo e tocando) e história. Na ficção, a obra
Inocência é considerada pelos críticos como seu melhor livro. Faleceu diabético
no dia 25 de janeiro de 1899.
Foi oficial da Imperial Ordem da Rosa e
cavaleiro das imperiais ordens de São Bento de Avis e de Cristo.
Foi um dos fundadores da Academia
Brasileira de Letras, criou a Cadeira n.° 13, que tem como patrono Francisco
Otaviano.
Obras
Scenas de viagem:
Exploração entre os rios Taquary e Aquidauana no districto: de Miranda :
memoria descriptiva, 1868 (eBook)
A Campanha da
Cordilheira, 1869
La Retraite de
Laguna, 1871 (em francês, traduzido como "A retirada da Laguna")
Inocência, romance,
1872
Lágrimas do Coração.
Manuscrito de uma Mulher, romance, 1873
Ouro sobre Azul,
romance, 1875
Estudos críticos, 2
vols., 1881 e 1883
Amélia Smith, drama,
1886
No Declínio,
romance, 1889
O Encilhamento,
romance, 1894
Reminiscências,
memórias, 1908 (póstumo)
Alfredo
d'Escragnolle Taunay – Wikipédia, a enciclopédia livre
- pt.wikipedia.org
nocência, de Visconde de Taunay
INOCÊNCIA
Análise da obra
Taunay tinha um agudo senso de observação e
análise, aliado a uma vivência riquíssima da paisagem e da História do Brasil.
Foi um dos primeiros prosadores brasileiros a emprestar a linguagem coloquial
regional em suas obras.
Na época em que o autor se inspirava para
escrever Inocência, publicado em 1872, acontecia no país a aprovação da Lei do Ventre
Livre, onde todos os filhos de negros que nascessem à partir daquela data seria
livre da escravidão brasileira.
É notável como o narrador nos apresenta o
choque de duas concepções de mundo extremamente diversas. Pereira, homem do
sertão, preso a padrões estritos de comportamento, mantém sua bela filha
Inocência reclusa.
O autor conta com franqueza seu
relacionamento com uma jovem que conheceu no Mato Grosso, a partir dai
percebemos a origem mais íntima da personagem-título de Inocência, protótipo da
mulher sertaneja imaginada pelo autor.
Foi um autor além da maioria dos romancistas,
entre os quais se incluíam alguns que, embora também usassem temas sertanistas,
não tinham realmente muita experiência do interior brasileiro. Taunay, ao
contrário, escrevia sobre o que conhecera. Aliás o próprio Taunay se manifestou
sobre isso, embora não diminuísse de modo algum a importância e o valor dos
outros romancistas.
Nesse romance, o rigor do observador
militar que percorreu os sertões mistura-se à capacidade imaginativa do
ficcionista. O resultado é um belo equilíbrio entre a ficção e a realidade,
raramente alcançado na literatura brasileira até então.
São trinta capítulos e um epílogo, em que
poucos personagens se movem. Esses personagens podem ser agrupados de acordo
com a posição que lhes caberá no desenrolar da obra.
Inocência pode ser considerada a
obra-prima do romance regionalista (Sertão do Mato Grosso) do nosso Romantismo.
Seu autor, Visconde de Taunay, soube unir ao seu conhecimento prático do país,
adquirindo em inúmeras viagens na condição de militar, o seu agudo senso de
observação da natureza e da vida social do Sertão brasileiro.
A qualidade de Inocência resulta do
equilíbrio alcançado entre os aspectos ligados ao conceito de verossimilhança –
que muitas vezes chegava a comprometer a qualidade de obras regionalistas –,
como a tensão entre ficção e realidade, a linguagem culta e a linguagem
regional e a adequação dos valores românticos à realidade bruta do nosso
Sertão.
Ao lado dos acontecimentos, que constituem
a trama amorosa, há também o choque de valores entre Pereira e Meyer, um
naturalista alemão que se hospedara na casa de Pereira à procura de borboletas,
evidenciando as contradições entre o meio rural brasileiro e o meio urbano
europeu.
A atração pelo pitoresco e o desejo de
explorar e investigar o Brasil do interior fizeram o autor romântico se
interessar pela vida e hábitos das populações que viviam destante das cidades.
Abria-se assim, para o Romantismo, o campo fecundo do romance sertanejo, que
até hoje continua a fornecer matéria à nossa literatura.
ASPECTOS TEMÁTICOS
Sofrimento –
A caminhada do sertanejo em busca de seus objetivos através de longas
distâncias, sendo que no percurso, existe a dificuldade do abrigo.
Simplicidade
– É claramente observada através do comportamento e diálogos entre as personagens
típicas.
Contradições
– Comprava-se entre o jeito de ser do sertão e a forma avançada da Europa
(Pereira e Meyer).
Amor impossível
– Um amor tão puro e verdadeiro que por falta de condições de existência
preferiu a morte, ou pelo menos, foram levados a ela.
Honra –
Pereira para manter a honra familiar, sacrificava sua própria filha, já que sua
palavra estava acima de tudo.
Beleza – É
retratada através da paisagem do sertão e da jovem Inocência.
Escravidão –
é representada por Maria Conga e outros.
O romance é ambientado na confluência dos
Estados de Mato Grosso, Minas Gerais, Goiás e São Paulo.
FOCO NARRATIVO
O ponto de vista externo define o narrador
de Inocência como um narrador onisciente, que é tendência dominante na
narrativa romanesca do século XIX. É o modelo clássico, que confere plenos
poderes a uma só focalização: tudo é apresentado a partir de um único ponto,
com onisciência e onipresença. Esse é, sem dúvida, um modelo narrativo que
atende às necessidades do romance regionalista, que focaliza a vida, os
costumes, os valores sociais a partir de um único ponto de vista.
PERSONAGENS
Inocência:
Tem uma grande beleza e delicadeza de traços, nem parece moça do sertão. Isso
vai ser fundamental no despertar da paixão entre ela e Cirino e também na
compreensão da atitude que ela irá tomar posteriormente, afinal, de alguma
forma, ela não era uma típica moça do sertão. Essas características são
importantes para a compreensão do desenrolar da história. Inocência tem cabelos
longos e pretos, nariz fino, olhos matadores, beleza deslumbrante e
incomparável, faces mimosas, cílios sedosos, boca pequena e queixo
admiravelmente torneado. Enfim, uma jovem de beleza deslumbrante e
incomparável. Simples, humilde, meiga, carinhosa, indefesa e eternamente
apaixonada.
Cirino Ferreira de Campos: prático de farmácia, autopromovido a médico
ambulante. Tinha mais ou menos 25 anos, presença agradável, olhos negros e bem
rasgados, barbas e cabelos cortados quase à escovinha. Era tão inteligente
quanto decidido. "Doutor" Cirino era caridoso, bom doava a própria
vida em defesa do amor.
Manecão:
Homem rude, mas decente, trabalhador, sério e acumulou fortuna, era dotado
também de uma certa macheza. Alto, forte, pançudo e usava bigode. Enfim,
vaqueiro bruto do sertão. Pessoa fria que matava, se fosse preciso, em defesa
de sua honra.
Martinho dos Santos Pereira (Pereira): Homem de mais ou menos 45 anos, gordo, bem disposto,
cabelos brancos, rosto expressivo e franco. Pessoa honesta, hospitaleiro,
severo e não trocava a sua palavra nem pela vida. Condensa em si desconfiança e
ingenuidade, além de ser durão e conservador.
Tico: Anão
que vivia na fazenda, mudo, mas que foi capaz de entregar lnocência ao pai. Ele
a vigiava e detinha profundo respeito e admiração pela mesma. Guardião de
Inocência. Mudo, raquítico, esperto e fez por um momento, o papel de
fofoqueiro.
Meyer: Um
naturalista, que teve a sinceridade de elogiar Inocência, acabou por ser
vigiado por Pereira, mas era muito dedicado a profissão que exercia, portanto
viajava muito.
Maria Conga:
Escrava de Pereira que cuidava dos afazeres domésticos. Escura, idosa e
malvestida. Usava na cabeça um pano branco de algodão.
Major Martinho de Melo Taques: Homem que merecia influência na vila de Santana do
Parnaíba: Juiz de paz e servia de juiz municipal. Participou da Guerra dos
Farrapos no Rio Grande do Sul. Era comerciante e gostava de contar casos, ou
seja, "prosear".
Antônio Cesário: Padrinho de Inocência. Homem respeitado, de palavra, honesto e justo.
Fazendeiro do sertão.
Guilherme Tembel Meyer: Alto, rosto redondo, juvenil, olhos claros, nariz
pequeno e arrebitado, barbas compridas, escorrido bigode e cabelos muito
louros. Pessoa de boa índole, esperto em sua função e simples ao pronunciar as
sua palavras. Admirador da natureza e da beleza de Inocência.
José Pinho (Juque): Ajudante de Meyer. Era muito intrometido em conversas alheias. Pessoa
boa e de confiança de seu patrão.
ENREDO
O acaso no meio do caminho
Cirino não tinha um destino certo quando
enveredou pela estrada que ligava a vila de Santana do Parnaíba aos campos de
Camapuã, sul da província de Mato Grosso, fronteira de Goiás, Minas Gerais e
São Paulo. Sua única certeza é que devia seguir “curando maleitas e feridas
brabas”(p.22), em lugares esquecidos, no sertão. Era igualmente levado pelo
desejo de conhecer terras novas, lugares perdidos nos mais diversos pontos do
interior da província. Por isso, não hesitou em acompanhar o falante Sr.
Pereira, que, seguindo o mesmo caminho, voltava para casa depois da frustrada
tentativa de conseguir remédio para a filha doente. O encontro casual com
Cirino lhe trouxe não apenas um parceiro de prosa, mas também o remédio que
procurava.
Apesar da gravidade da doença, o Sr.
Pereira demorou-se em conduzir o médico até o quarto da filha. Hospitaleiro,
ofereceu a Cirino comida farta e pouso. Depois, com muita hesitação, dirigiu-se
ao médico em sinal de alerta:
- Sr.
Cirino, eu cá sou homem muito bom de gênio, muito amigo de todos, muito
acomodado e que tenho o coração perto da boca, como vosmecê deve ter visto...
- Por certo,
concordou o outro.
- Pois bem,
mas... tenho um grande defeito; sou muito desconfiado. Vai o doutor entrar no
interior da minha casa e... deve portar-se como... (p.35)
Martinho dos Santos Pereira vivia só, com
a filha, no mais calado sertão. Guardava a jovem dos olhos dos viajantes, pois
já havia dado sua palavra que Inocência seria mulher do tropeiro Manecão, que
viajava negociando gado e cuidado dos papéis para o casamento. Era grande a
responsabilidade de Pereira, já que, no seu entender, as mulheres eram frágeis,
inconstantes e incapazes de seguir leis da razão. Para ele, todos os homens
representavam um grande risco à sua doce e bela Nocência. Seus cuidados
faziam-se ainda maiores porque Inocência era dotada de beleza incomum. Por
isso, Pereira dividia com Tico, um anão mudo, a tarefa de guardar a filha. -
Orgulhava-se o homúnculo de ser “uma espécie de cachorro de Nocência” (p.41).
Contudo, quando Cirino entra no quarto
escuro para examinar Inocência e, com a ajuda de uma vela, vê a moça, fica
profundamente desconcertado. Mesmo doente, a jovem demonstrava uma beleza
impressionante.
Na mesma noite da chegada de Cirino, um
naturalista alemão, Meyer, e seu camarada, pedem abrigo na fazenda de Pereira.
O entomologista trazia uma coleção de insetos e muitas cartas de recomendação.
Entre elas, uma, assinada por Francisco dos Santos Pereira, irmão esquecido do
Sr. Pereira. Esse feliz acaso foi suficiente para o bom matuto perder a cabeça
de alegria e se colocar totalmente à disposição do alemão. “Esta carta vale,
para mim, mais que uma letra do Imperador que governa o Brasil” (p.59), diz,
emocionado, o matuto. Como prova de sua satisfação, promete apresentar-lhe a
filha Inocência assim que ela se recupere.
Os remédios de Cirino logo trazem a saúde
de volta ao corpo de Inocência e, com ela, os traços vitais de sua beleza.
Um
dia, após o almoço na casa de Pereira, Inocência é apresentada a Meyer.
Diferentemente de Cirino, Meyer não consegue se controlar e faz muitos elogios
a Inocência. Enquanto o alemão fala, enrolando a língua, Pereira e Cirino não
conseguem disfarçar o mal-estar causado pelo discurso de Meyer. Um momento
patético, que abala a todos.
Tornou-se Pereira pálido [...]; Inocência
enrubesceu quem nem uma romã; Cirino sentiu um movimento impetuoso, misturado
de estranheza e desespero, e, lá da sua pele de tamanduá-bandeira, ergueu-se
meio apavorado o anão. (p.65)
Sem poder voltar atrás com sua palavra,
Pereira enfiou na cabeça que Meyer queria se aproveitar de Inocência. Passa a
vigiar e a controlar os mínimos gestos e palavras de Meyer, deixando a filha
aos cuidados de Tico e do doutor.
Doutor
enfeitiçado sem remédio para seu mal
Cirino percebe rapidamente que, à medida
que cura Inocência, torna-se ele enfermo, acometido pelo mal grave e incurável
da paixão. Resolve retomar seu caminho, mas o bom Pereira protesta. É que,
quanto mais Pereira suspeitava de Meyer, mais confiava em Cirino. Em nenhum
momento percebe que o doutor está perdidamente apaixonado por sua filha, embora
o ache meio abatido às vezes. Para evitar que Cirino vá embora, Pereira
arranja-lhe muitos doentes. Quanto mais Cirino cura os males alheios, mais se
conscientiza de seu triste destino. Pereira jamais voltará atrás com a palavra
dada a Manecão e, para isso, gasta todo o seu tempo embrenhado na mata com o
naturalista, que vai aumentando, a cada dia, sua coleção de espécies raras de
insetos.
Num desses dias, como fosse sair muito
cedo com Meyer e Juca para a mata, Pereira encarrega Cirino de medicar
Inocência na hora certa. O doutor passa a manhã contando todos os segundo até a
hora de poder ver a moça.
Enquanto Tico vai chamar a criada para
preparar café, Cirino conversa apaixonadamente com Inocência. Ainda que não se
declare abertamente, dá mostras mais que evidentes de seu sentimento. Inocência
demonstra igualmente um certo envolvimento. Depois disso, torna-se cada vez
mais difícil para Cirino encontrar-se com ela.
Apesar do cerco fechado em que vive a
moça, Cirino, tomado pelo desespero, bate a sua janela numa noite de luar e dá
voz a sua paixão. Conversam os dois quase num sussurro e, sem muito esforço,
descobre que é amado por Inocência. A paixão já não é mais segredo para eles.
O perigo está muito perto
A ira de Pereira atinge o grau máximo no
dia em que Meyer, vasculhando a mata perto de seu roçado, cai em grande euforia
ao descobrir uma borboleta de uma espécie totalmente desconhecida. Pulando “como um cabrito” (p.103), anuncia que
dará o nome de Inocência a seu achado. Pereira recebe a notícia como uma grande
ofensa: “Vejam só... o nome de Nocência
numa bicharada!... Até parece mangação...” (p.104).
Depois do grande achado, Meyer, exultante e vitorioso,
decide partir, deixando Pereira duvidoso quanto ao excesso de suas
desconfianças:
-
[...] Quem sabe se tudo que eu parafusei não foi abusão cá da cachola? [...]
Hoje estou convencido que o tal alamão era bom e sincero... Olhou para a
menina... achou-a bonitinha... e disse aquele despotismo de asneiras sem ver a
mal... Em pessoa que não guarda o que pensa, é que os outros se podem fiar...
Às vezes o perigo vem donde nunca se esperou... (p.111-2).
E a vida de Pereira retoma seu curso.
Sem
nenhuma esperança, Inocência e Cirino se encontram mais uma vez às escondidas.
No laranjal, numa noite de luar, pensam numa solução para suas vidas. Cirino
propõe-lhe fuga. Inocência recusa com medo de tornar uma mulher perdida,
amaldiçoada pelo pai. Diante do pranto de Cirino, Inocência lembra de seu
padrinho Antônio Cesário. Seu pai lhe devia dinheiro e respeitava sua vontade;
se Cirino conseguisse convencê-lo a falar com Pereira, talvez eles estivessem
salvos. Enquanto se abraçavam felizes e esperançosos, ouvem um assobio seguido
de uma gargalhada. Cirino pega Inocência nos braços e a leva para casa. Ao
voltar ao laranjal, sente algo cair sobre seus pés, pensa ser assombração.
Aterrorizado, ouve um tiro disparado por ordem de Pereira, que vistoriava o
pomar junto com um escravo. Cirino corre de volta para seu alojamento, aonde
consegue chegar antes de Pereira. Finge não saber de nada. Nesse mesmo dia,
parte em busca da ajuda de Antônio Cesário. Manecão retorna com os documentos
prontos para o casamento. Inocência se assusta quando o encontra. Enfrenta o
pai e noivo, desafia a palavra que tinha força de lei.
- Eu?...
Casar com o senhor?! Antes uma boa morte!... Não quero... não quero... Nunca...
Nunca...
Manecão
bambaleou.
Pereira quis
pôr-se de pé, mas por instantes não pôde.
- Está
doida, balbuciou, está doida.
E
segurando-se à mesa, ergueu-se terrível - Então, você não quer? Perguntou com
os queixos a bater de raiva.
- Não,
disse a moça com desespero, quero antes...
- Não pode
terminar. (p.138)
Com a ajuda de Tico, que tudo sabia, o
grande equívoco de Pereira é desfeito. Fulminado, mas não liquidado. Pereira
autoriza Manecão a lavar a honra de sua casa. O tropeiro parte imediatamente.
Desfecho
Cirino, por sua vez, encontra Cesário e,
com muita dificuldade, expõe a ele sua situação. Cesário, desconfiado, lhe faz
muitas perguntas e, por fim, pede-lhe que faça um juramento. Cirino aceita
imediatamente, e Cesário, impressionado com o caráter e os sentimentos nobres
do moço, que jurara sem saber o quê, promete-lhe pensar durante oito dias. Se
resolvesse ajudá-los, apareceria até o final desse período; caso contrário,
valeria o juramento: Cirino deveria desaparecer de suas terras e da vida de
Inocência.
No último dia do prazo combinado, Cirino
espera ansiosamente ver Cesário quando depara com Manecão. Este lhe dirige
algumas palavras desaforadas e, em seguida, pega sua arma e atira
impiedosamente no rival. Cesário aparece. Cirino ainda tem tempo de perdoar seu
algoz e de agradecer Cesário. Morre murmurando o nome de Inocência.
O destino de Inocência é revelado no último
momento da história, quando Meyer apresenta sua coleção com a espécie rara de
borboleta à sociedade científica de seu país. Enquanto o naturalista alemão
fala euforicamente da jovem que dera o nome a seu achado, o narrador comenta
ironicamente que, havia dois anos, Inocência não existia mais.
O que se pode observar na obra
É o romance sertanista onde mais se percebe
a divisão entre o enredo central - folhetinesco e ultra-romântico - e as
histórias secundárias, quase todas realistas.
Este mesmo descompasso é visível entre o
tom trágico da intriga amorosa e as passagens hilariantes das tramas paralelas.
Apesar do excesso melodramático final, os
caracteres de Cirino e Inocência nos são mostrados de forma muito mais
verossímil que os personagens de outros romances românticos da época.
Há uma forte crítica de Taunay em relação
ao implacável patriarcalismo do mundo rural. O curioso é que durante quase toda
a narrativa, o autor ironiza a visão machista, como nesta cômica exposição de
Pereira sobre o comportamento das mulheres: Eu repito, isto de mulheres, não há
que fiar. Bem faziam os nossos do tempo antigo. As raparigas andavam
direitinhas que nem um fuso... Uma piscadela de olho mais duvidosa, era logo
pau. (...) Cá no meu modo de pensar, entendo que não se maltratem as
coitadinhas, mas também é preciso não dar asas às formigas...
No final do relato, contudo, esta crítica
amena e humorística transforma-se quase em um panfleto contra o domínio
absoluto que, dentro do código patriarcalista, os pais tinham sobre os filhos.
Importante ressaltar que o simplório
Pereira, além de possuir boa índole, ama desesperadamente a filha. Portanto,
também ele nos é mostrado como vítima dos costumes patriarcais.
Meyer, o naturalista alemão, sábio das
coisas da ciência, porém incapaz de perceber a estreiteza moral do mundo em que
está metido, é um dos protagonistas mais engraçados da ficção brasileira do
século XIX. Suas trapalhadas são impagáveis.
O romance apresenta uma curiosa mescla de
linguagem culta urbana e termos regionais (arcaísmos, corruptelas, provérbios,
expressões típicas). Estes "regionalismos", na sua maioria, são
explicados pelo próprio autor, em notas ao pé das páginas. O resultado dessa
junção é uma prosa bastante viva, colorida e com acentos humorísticos na sua
formulação.
Inocência, de Visconde
de Taunay - Passeiweb - www.passeiweb.com
O REGIONALISMO
DE VISCONDE DE TAUNAY
Foi um dos primeiros prosadores
brasileiros a emprestar a linguagem coloquial regional em suas obras. Taunay
tinha um agudo senso de observação e análise, aliado a uma vivência riquíssima
da paisagem e da História do Brasil.
Foi um ator não denominado pelo
sentimentalismo, que soube conjugar as ca-racterísticas fundamentais da
estética romântica com grande acuidade na construção de tipos e na descrição
das paisagens brasileiras. Focalizou os usos e costumes do interior do pais, em
narrativas pitorescas.
É notável como o narrador nos
apresenta o choque de duas concepções de mundo extremamente diversas. Pereira,
homem do sertão, preso a padrões estritos de comportamento, mantém sua bela
filha Inocência reclusa.
O REGIONALISMO EM INOCÊNCIA:
1. Taunay conta com franqueza seu
relacionamento com uma jovem que conheceu no Mato Grosso, a partir dai
percebemos a origem mais íntima da personagem-título de Inocência, protótipo da
mulher sertaneja imaginada pelo autor.
2. Taunay foi um autor além da maioria
dos romancistas, entre os quais se incluíam alguns que, embora também usassem
temas sertanistas, não tinham realmente muita experiência do interior
brasileiro. Taunay, ao contrário, escrevia sobre o que conhecera. Aliás o
próprio Taunay se manifestou sobre isso, embora não diminuísse de modo algum a
importância e o valor dos outros romancistas.
3. Nesse romance, o rigor do
observador militar que percorreu os sertões mistura-se à capacidade imaginativa
do ficcionista. O resultado é um belo equilíbrio entre a ficção e a realidade,
raramente alcançado na literatura brasileira até então.
4. Elabora diálogos com a
coloquialidade graciosa e natural do novo sertanejo "Nocência",
"Por que se tocou assim no quarto", "é bom não se canhar
as-sim", "sestiando", "Nhor-sim", "quer
mecê", mas também utiliza a linguagem culta.
5. Reforça-se uma das principais
características do Romantismo europeu: a concepção de um único e idealizado
amor, cuja impossibilidade de realização leva os protagonistas à morte.
(Inocência, era fiel ao seu princípio amoroso, foi capaz de morrer de tristeza
em face da ausência definitiva do amado.
6. Faz um retrato acurado de usos e
hábitos do sertão mato-grossensse, que são identificados desde elementos do
vocabulário até a indicação dos hábitos que o texto apresenta, na paisagem, nos
tipos humanos e na linguagem.
7. Deixa claro que considera
"injuriosa" a opinião que os sertanejos têm sobre as mulheres.
8. Deixa bem claro que Cirino não era
um homem do sertão, o que nos faz perceber a diferença marcante entre o noivo e
o homem por quem Inocência morre.
9. No período da obra, o romantismo
brasileiro entrava em declínio e o Realismo se aproximava, portanto, esta obra
é de transição para o Naturalismo por causa de uma grande e infalível
característica o homem é produto do meio ou seja, as pessoas agem de acordo com
o tipo de vida que levam.
10. Predomina a emoção sobre a razão,
além da supervalorização do amor.
ANÁLISE PSICOLÓGICA DOS PERSONAGENS
· INOCÊNCIA: Tem uma grande beleza e delicadeza de
traços, nem parece moça do sertão. Isso vai ser fundamental no despertar da
paixão entre ela e Cirino e também na compreensão da atitude que ela irá tomar
posteriormente, afinal, de alguma forma, ela não era uma típica moça do sertão.
Essas características são importantes para a compreensão do desenrolar da história.
· MANECÃO: Homem rude, mas decente, trabalhador,
sério e acumulou fortuna, era dotado também de uma certa macheza.
· PEREIRA: Condensa em si desconfiança e
ingenuidade, além de ser durão e conservador.
· TICO: Anão que vivia na fazenda, mudo, mas
que foi capaz de entregar Inocência ao pai. Ele a vigiava e detinha profundo
respeito e admiração pela mesma.
· MEYER: Um naturalista, que teve a sinceridade
de elogiar Inocência, acabou por ser vigiado por Pereira, mas era muito dedicado
a profissão que exercia, portanto viajava muito.
· PADRINHO: Aparece no romance com a desculpa de
ajudar, mas não chega a tempo de sal-var Cirino, era a única pessoa que poderia
ter feito algo para ajudar o casal de apaixonados.
RESUMO
O romance é ambientado na confluência dos
Estados de Mato Grosso, Minas Gerais, Goiás e São Paulo. Órfã de mãe desde o
nascimento, Inocência é criada pelo pai, Pereira, um mineiro afetuoso, um
sujeito conservador, durão, para quem os valores da palavra, da honra estão
acima de tudo, até da felicidade da filha que ele ama.
Pereira decide casar Inocência com
Manecão Doca, homem honrado, trabalha-dor, rude e que acumulou fortuna.
A história conta sobre Cirino, um
prático de enfermagem que se apresentava como médico (curandeiro) que errava
pelo sertão e acaba na casa de Pereira. Ele cura Inocência, filha deste, de
malária e apaixona-se. Cirino foi o primeiro homem a despertar realmente as
emoções do amor, criando nela uma grande perturbação íntima, pois estava
prometida a Manecão. Aparece depois Meyer, um naturalista alemão, que viajava
em busca de insetos, que após inocentemente elogiar a beleza de Inocência,
passa a ser vigiado incessantemente por Pereira, dando oportunidade a Cirino de
comunicar-se mais facilmente com a moça.
Meyer fica por lá por que trazia uma
carta de recomendação de Francisco (Chico) irmão de Pereira e sai mais tarde de
volta a Saxônia para apresentar uma nova espécie de rara beleza que encontrou,
à qual dá o nome de Papilio Innocentia (uma borboleta). Tinha também o anão
Tico, espécie de cão de guarda de Inocência.
Com a partida de Meyer, as coisas se
complicam, aumentando o medo de Inocência, que teme uma reação violenta do pai
caso venha a saber do romance. A jovem instrui Cirino a procurar seu padrinho
para que ele convença Pereira a concordar com o rompimento do compromisso com
Manecão.
Inocência herdeira da teimosia do pai,
não abre mão de seu amor, então comunica ao pai a intenção de não se casar,
inventa que sonhou com a mãe e esta lhe disse que o casamento não deveria se
realizar. A jovem quase consegue atingir seus objetivos, quando derruba sua
história. Ela, não conheceu a mãe, portanto não sabia que ela tinha um sinal no
rosto, então ela pede desculpas ao pai, que declara que prefere vê-la morta a
vê-la desonrada.
Na ausência de Cirino, porém, o
romance é descoberto através de Tico.
Enquanto Cirino está fora Inocência e
Manecão, se encontram e ela se recusa a viver com ele. A suposta desonra leva
Manecão a perseguir e matar Cirino, que morrendo encontra o padrinho de
Inocência que vinha lhe ajudar. Inocência também morre, só que de tristeza em
face da ausência definitiva do amado.
Resumo de Jussara
Flores de Oliveira
Inocência - Visconde
de Taunay - www.jayrus.art.br
O REGIONALISMO ROMÂNTICO E NATURALISTA NA PROSA DE
FICÇÃO:
IMPORTÂNCIA PARA A HISTÓRIA DA LITERATURA BRASILEIRA
Márcia Edlene Mauriz Viana
Para se entender a História da Literatura
Brasileira sob o foco do regionalismo na prosa de ficção brasileira, é
essencial considerar dois períodos literários:
o Romantismo e o Naturalismo, tendo em vista que foram esses os períodos
literários que legitimaram o surgimento da literatura regionalista no Brasil.
Com o objetivo de construir o texto historiográfico, recorreu-se aos historiadores
Afrânio Coutinho, Antonio Candido, Nelson Werneck Sodré e Alfredo Bosi. A escolha desse corpus
teve como critério o fato de esses autores serem alusivos à importância do regionalismo
romântico e naturalista no processo de discussão da questão nacional.
Ao propor-se um estudo sobre o
regionalismo, como vertente literária, faz-se necessário a delimitação desse
termo, visto que se encontra eivado de vários
significados. Afrânio Coutinho, em A
literatura no Brasil (1986), em consonância com Georg Stewart, define regionalismo de duas
maneiras. Em sentido amplo, “toda obra de arte é regional quando tem por pano
de fundo alguma região em particular ou parece germinar intimamente desse fundo
[...].
Mais estritamente, para ser regional, uma
obra de arte não somente tem que ser localizada numa região, senão também deve retirar sua substância real
desse local”
Os românticos, ao revelarem o Brasil,
assim como o sertanejo, buscavam uma identidade nacional que se encontrava
atrelada à literatura portuguesa, cuja “dependência” a literatura brasileira
necessitava libertar-se.
A História do Regionalismo, na visão do
historiador, continuou no Realismo-Naturalismo com a mesma concepção do Romantismo, fugindo, apenas, do
saudosismo e dos escapismos românticos, para considerar a existência verossímil
do homem em sua região. O regionalismo, na prosa de ficção brasileira, diz
Coutinho, “nasceu, sem dúvida, sob o signo do Romantismo para, depois,misturar-se
às receitas naturalistas e realistas, sob a influência de Zola e Eça de
Queiroz”
Logo, o Romantismo proporcionou a valorização
dos elementos locais, análise e
interpretação da realidade brasileira.
Nesse contexto, o historiador defende o estudo
do regionalismo baseado nas regiões culturais e na importância da produção
literária e não na divisão geográfica do país. Para tanto, ele estabelece seis
regiões: grupo nortista, grupo nordestino, grupo baiano, grupo central, grupo
paulista e grupo
gaúcho.
No Romantismo estão alguns pioneiros dessas
regiões. No grupo central, Bernardo Guimarães representa o cerrado
mato-grossense em O ermitão de Muquém
(1865), O garimpeiro (1872) e A escrava Isaura (1875). Visconde de Taunay, a
região centro-leste em Inocência (1872).
No grupo
nordestino, o
cearense Franklin Távora em O Cabeleira
(1876), O matuto(1878) e Lourenço
(1881). José de Alencar, o pai fundador de nossa prosa de ficção, em O gaúcho
(1870), Til (1872) e O sertanejo (1875).
No período do Realismo-Naturalismo, o
regionalismo apresenta-se de forma mais documental sobre as diversidades
regionais, revelando novos dados da realidade nacional. Alguns autores se
destacam em suas respectivas regiões como, por exemplo: no grupo nortista, Inglês de Sousa, com Omissionário
(1888) e Contos amazônicos (1893). No ciclo nordestino, Afonso Arinos escolheu
o sertão nos contos de Pelo Sertão (1898) e, no romance, Os jagunços, do mesmo
ano, sobre a Guerra de Canudos. No Ceará, formaram-se vários grupos de
escritores ideologicamente ligados ao naturalismo e às causas da Abolição e da
República. A seca do Nordeste é um tema constante, através de vários
intérpretes, como Domingos Olímpio em
Luzia-homem(1903), narrando a história de uma retirante da seca de 1877;
Rodolfo Teófilo, em A fome (1890),
abordando o drama da seca e da migração; Manuel de Oliveira Paiva, em Dona
Guidinha do poço (1952), que reúne a língua literária à riqueza da fala
sertaneja como forma de apresentação da realidade entre o homem, o meio social
e o sertão.
Ademais, a proposição de regionalismo,
pensada por Coutinho, é sustentada nas fontes documentais de dois grupos
teóricos distintos. O primeiro é constituído pelos ingleses Georg Stewart,
Howard W. Odum e outros, com suas obras gerais sobre regionalismo. O segundo é
formado pelos textos dos seguintes brasileiros: Gilberto Freire, Machado de Assis, José Veríssimo, Augusto Meyer,
Franklin Távora, Sílvio Romero, Lúcia Miguel, dentre outros, e tem como fonte
principal a obra Introdução ao estudo da literatura brasileira de Brito Broca e
J. Galante de Sousa. Assim, a organização teórica da obra de Afrânio Coutinho
sofre influência do pensamento europeu e do brasileiro acerca do tema
regionalismo.
É relevante dizer, então, que o estudo do
regionalismo, apresentado pelo autor em foco, traz como contribuição os seguintes
aspectos: o conceito de regionalismo, mesmo sendo este atrelado ao pensamento
do inglês George Stewart; o levantamento dos autores e das obras regionais da
ficção brasileira, divididos pelas regiões culturais.
Antonio Candido, em Formação da literatura brasileira: momentos decisivos 2000,
reconhece que um dos aspectos formadores do Romantismo foi o nacionalismo, já
evidente em José de Alencar, que lança as bases do romance brasileiro com um
dos seus filões, o regionalismo, proporcionando um caminho que leva ao
Naturalismo e às obras de Franklin Távora e de Visconde
de Taunay.
O historiador acentua que a literatura do
Naturalismo busca, como definiu Viana
Moog, “um regional autônomo e diferente, caracterizado pelo seu genius loci particular”que, na opinião de
Antônio Candido, encontra-se no Nordeste,
ilustrado nos romances de Franklin Távora. Antônio Candido afirma, ainda, que o regionalismo de Távora funda-se em três elementos que se constituem, em
proporções variáveis, na principal argamassa
do regionalismo do Nordeste:
Primeiro o senso da terra, da paisagem
que condiciona tão estreitamente a vida
de toda a região, marcando o ritmo da sua história pela famosa “intercadência”
de Euclides da Cunha. Em seguida, o que se poderia chamar patriotismo regional,
orgulhoso das guerras holandesas, do velho patriarcado açucareiro, das
rebeliões nativistas. Finalmente, a disposição polêmica de reivindicar a
preeminência do Norte, reputado mais brasileiro [...]
Conforme Antônio Candido, “Távora foi o
primeiro ‘romancista do Nordeste’, no sentido em que hoje entendemos a
expressão; e, deste modo, abriu caminho a uma linhagem ilustre, culminada pela
geração de 1930, mais de meio século depois das suas tentativas, reforçadas a
meio caminho pelo baiano fluminense d’ Os sertões”.
O historiador sublinha, entretanto,
que: a virtude maior de Távora foi
sentir a importância literária de um levantamento regional; sentir como a ficção é beneficiada pelo contacto de
uma realidade, concretamente demarcada no espaço e no tempo, que serviria de
limite e em certos casos, no Romantismo, de corretivo à fantasia.
Em uma explanação densa e rápida, Antônio
Candido gerou uma História da Literatura
Regional, pautada basicamente em obras e autores que considerava
expressivos. Mas, para construir o
texto, foram utilizados como fontes, os escritos Viana Moog, João Ribeiro e
José Veríssimo.
Nelson Werneck Sodré, em História da literatura brasileira: seus fundamentos
econômicos (1995), tece comentários acerca do regionalismo romântico e do
naturalista (intitulando o romântico de “sertanismo” e o realista de
“regionalismo”) estabelecendo, em toda a sua obra, as diferenças entre ambos e
defendendo a tese de que o “regionalismo, a rigor, começa a existir quando se
aprofundam e se generalizam, a ponto de
surgirem em zonas as mais diversas manifestações, a que o romantismo não
poderia fornecer os elementos característicos”
. Dentre as
manifestações, cita-se a de conteúdo, na
visão do crítico, Augusto Meyer: “As paisagens, como os textos, só falam quando
são interrogados. Tudo é mudo nas formas a que não sabemos insuflar um verbo”
Uma outra diferença crucial, entre o
regionalismo romântico e o realista, pontuada por Nelson Werneck, é a
transplantação da cultura européia sobre a dos povos de formação colonial, como
é o caso do Brasil. Esta transplantação, recebida no período romântico
brasileiro, provocou um sentimento de exílio - o de sermos estrangeiros em
nossa própria terra. Daí a deformação do regionalismo “sertanista” que, segundo
Werneck, se despoja, assim, de qualquer
sentido local ou zonal. Porém, com o “regionalismo”, como assevera o autor,
isso não acontece. Existem nele deformações e fraquezas, mas este já se
aproxima do ambiente que o romancista pretende retratar.
Diz o historiador que a prosa do
Romantismo peca também por excesso, além de pecar por falta, pois coloca o
ambiente acima da criatura. Todavia, o “regionalismo”, ao contrário, entende o
indivíduo apenas como síntese do meio a que pertence. Peca, também, por
excesso, ao conferir às exterioridades, ou seja, à conduta social, à linguagem,
etc, uma importância exclusiva. Além disso, procura ostentação, o exótico e o
estranho. Para o autor, esse pecado não inutiliza a sua contribuição, porque,
em casos numerosos, a ficção regionalista se enriquece com os traços que o
naturalismo acolheu, peculiares à vida coletiva, principalmente, o quadro
físico.
Segundo
Nelson Werneck Sodré, ‘o regionalismo’
revelou o Brasil aos brasileiros, apesar de seus quadros pejados de natureza ou
dos entraves da erudição verbalista que proporcionou em muitos casos. Procurou
dar à cor local um sentido mais profundo do que o trazido pelo sertanismo
Assim, fica claro para o leitor a posição
teórica de Nelson Werneck Sodré sobre o regionalismo romântico e naturalista no
Brasil, ao construir a sua História da Literatura Brasileira. Por ser o
primeiro historiador nacional a ter escrito uma História da Literatura na visão
marxista, é natural que ele assuma uma postura comprometida com a busca de uma
identidade nacional que, para
o teórico, encontra-se
no período Naturalista.
O historiador, ao elencar, em sua História da Literatura, as obras e os autores
regionalistas, a partir da produção naturalista, concede um espaço significativo
ao grupo do Sul, especificamente ao Simões Lopes Neto – maior expressão do
regionalismo do Sul. Notadamente, Nelson Werneck, ao encerrar o seu texto,
reconhece que:
[...] o regionalismo
correspondia, inequivocamente, a um grande avanço no sentido da criação de uma literatura nacional. Os primeiros traços
desta encontram-se, sem dúvida alguma, nos melhores
regionalistas, naqueles que conseguiram superar as
deficiências ligadas principalmente ao geografismo e ao linguajar. Eles nos
deram, dentro do regional mais genuíno, o sentido universal que denuncia a presença
da qualidade literária, quando esta é alguma coisa mais do que simples
virtuosismo formal
Enfim, Nelson Werneck, para
elaborar a sua História da Literatura Brasileira, no capítulo Regionalismo,
recolheu material nas fontes documentais de Augusto Meyer, de Afrânio Coutinho,
de Sílvio Romero, de Lúcia Miguel Pereira e de Alcides Maia, procurando
esboçar, ou melhor, capturar informações que se aproximassem do texto
regionalista brasileiro.
Alfredo Bosi, em História concisa da
literatura brasileira (1989), ratifica que um dos aspectos formadores do
Romantismo foi o nacionalismo, presente em José de Alencar.
Todavia, o historiador acrescenta que
“as várias formas de “sertanismo” (romântico, naturalista, acadêmico e até modernista) que têm sulcado as nossas
letras, desde os meados do século passado, nasceram do contato de uma cultura
citadina e letrada com a matéria bruta do Brasil rural, provinciano e arcaico”
Desta feita, segundo Bosi, o fazer
“sertanismo” (romântico e naturalista), no século XIX, estava subjugado ao fato
de o escritor “projetar os próprios interesses
ou frustrações na sua viagem literária à roda do campo”
O resultado
para o historiador é que o regionalismo está fadado a ser literatura de segundo
plano.
Contudo, Bosi ressalta três nomes na prosa de ficção romântica e realista, em condições de representar o
regionalismo desses períodos literários: Bernardo Guimarães, Visconde de Taunay
e Franklin Távora.
Portanto, a preocupação de Alfredo Bosi, ao
escrever a sua História da Literatura Regional, é, acima de tudo, chamar a
atenção para o fazer literário do texto romântico e realista, que, na sua
concepção, aparece sem um modelo ideológico e estético, apresentando,
igualmente, deformação mimética. Para concretizar o objetivo de sua escritura,
Alfredo Bosi utilizou, como fontes, as teorias de Nelson
Werneck Sodré, de José Aderaldo Castelo, de Hugo de Carvalho Ramos, entre
outros.
Em suma, diante da posição dos autores
escolhidos, para compor o corpus dessa
História da Literatura de foco regionalista romântico e naturalista, chega-se à
conclusão que, no sulco do Romantismo, nasceu o regionalismo que mostrou o
Brasil, o homem do sertão e as várias
regiões culturais aos brasileiros. Em um formato de descoberta do próprio país,
através da literatura, o Romantismo revelou as diferenças de cada região,
presentes no clima, na paisagem, na
cultura, na sociedade e na língua.
Assim, o trabalho do Naturalismo foi manter os valores conquistados pelo
Romantismo e acrescentar os seus que estão pautados no cientificismo e na
descrição desapaixonada dos fatos. Uma contribuição que equilibra a caminhada
do regionalismo rumo ao Modernismo
O REGIONALISMO
ROMÂNTICO E NATURALISTA NA PROSA DE ...- www.pucrs.br
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