Cláudio
Manuel da Costa é o inconfidente sobre o qual pairam dúvidas a respeito
do que realmente aconteceu com ele após ser preso. Assim, resolvi postar
aqui algumas observações sobre ele, resultantes de uma pesquisa para um
trabalho.
Considerado
um dos maiores poetas brasileiros do período colonial, Cláudio Manuel da Costa
cursou Filosofia no Rio de Janeiro e Cânones em Coimbra (Portugal). Foi lá que
entrou em contato com as ideias iluministas e compôs seus primeiros poemas,
todos de influência ainda do Barroco seiscentista
.Foi influenciado pela Arcádia
Lusitana, fundada em 1757, na cidade de Lisboa. Os seus membros propunham-se combater
o espírito barroco e orientar a produção poética para uma estética neoclássica,
com fundo na razão e no culto do natural.
O objetivo da criação desta Academia era, fundamentalmente, combater o
"mau gosto" que imperava no século XVII relativamente à obra
literária poética e implantar um novo gosto estético. Os seus impulsionadores -
os Árcades - eram defensores da ideia de que a razão deveria ser colocada em
primeiro plano relativamente ao sentimento.
A Arcádia Lusitana viria a extinguir-se em 1764, mas continuaria a influenciar gerações
posteriores de artistas, porque foi através da ação dos Árcades que Portugal se
preparou para entrar no Romantismo, principalmente no âmbito da obra literária,
cujo mais importante discípulo foi Almeida Garrett.
Regressando ao Brasil, Cláudio Manuel da Costa passou a trabalhar como
advogado, depois juiz e chegou a ser secretário do governo de Minas Gerais. Mas
continuou sua ligação com a literatura, sua grande paixão, chegando a criar uma
academia, a Colônia Ultramarina.
Foi um poeta de técnica apurada, procurou equilibrar a sua forte vocação
barroca com o estilo neoclássico (arcadismo), introduzindo nos seus textos
elementos locais, descrevendo paisagens e expressando um forte sentimento
nacionalista.
Acumulou fortuna, tinha uma fazenda e uma bela casa em Vila Rica.
Talvez por ser o mais velho do grupo dos intelectuais do lugar, por sua
credibilidade de doutor e autor com obras já publicadas, exercia uma espécie de
liderança entre os seus companheiros, pois todos liam para ele suas obras e
escutavam seus conselhos. Era uma das principais figuras da Capitania.
Até que sobreveio a rebelião, a chamada Inconfidência Mineira, que destruiu
o grupo dos árcades mineiros.
Nesta época, compôs o clássico
poema "Vila Rica", pronto em 1773, mas publicado somente em 1839, em
Ouro Preto, 50 anos após a sua morte. A poesia descreve a saga dos bandeirantes
paulistas no desbravamento dos sertões e suas lutas com os emboabas indígenas,
até a fundação da cidade de Vila Rica.
Cláudio Manuel foi preso como os outros, interrogado e acusado de ser um
dos líderes do movimento, pois em sua casa havia reuniões das quais
participavam todos os envolvidos. Muito nervoso e apavorado, dizem que
comprometeu alguns amigos em seu depoimento.
Morreu na prisão, em 4 de julho de 1789. Segundo as declarações
oficiais, cometeu suicídio por enforcamento. Mas ainda hoje há suspeitas de que
tenha sido assassinado.
Sua memória ficou prejudicada porque ainda paira sobre ele a suspeita de
ter sido um delator covarde e que, por isso, teria se suicidado. Existem até os
que negam a importância da sua participação na Inconfidência, dizendo que teria
sido apenas um expectador privilegiado.
Morte:
assassinato ou suicídio? *
Isso está estampado no seu próprio depoimento, registrado na Devassa.
Além disso, seu padre confessor teria confirmando seu estado depressivo a um
frade que trouxe o registro à luz. Os partidários da tese de que Claudio tenha
sido assassinado, contestam a autenticidade do depoimento anexado aos autos da
Devassa, quanto à honestidade do registro do frade.
Quem acredita na tese do assassinato se baseia em um argumento
principal: o próprio laudo pericial que concluiu pelo suicídio. Pelo laudo, o
poeta teria se enforcado usando os cadarços do calção, amarrados numa
prateleira, contra a qual ele teria apertado o laço, forçando com um braço e um
joelho. Muitos acreditam ser impossível alguém conseguir se enforcar em tais
circunstâncias.
O historiador Ivo Porto de Menezes relata que ao organizar antigos
documentos relativos à Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar de Ouro Preto,
em 1957 ou 1958, encontrou no livro de assentos dos integrantes da Irmandade de
São Miguel e Almas, a anotação da admissão de Cláudio Manuel e à margem a
observação de que havia "sufragado com 30 missas" a alma do falecido,
e "pago tudo pela fazenda real". De igual forma procedera a Irmandade
de Santo Antônio, que lançou em seu livro: "Falecido em julho de 1789. E
feitos os sufrágios.” Por que, se na época havia a proibição de rezar missas
pelos suicidas?
Também Jarbas Sertório de Carvalho, em ensaio publicado na Revista do Instituto
Histórico e Geográfico de São Paulo, defende com boa documentação a tese
do assassinato.
Há ainda quem acredite que o próprio governador, Visconde de Barbacena,
esteve envolvido na conspiração e Cláudio teria sido eliminado por estar
disposto a revelar isso. Mas o fato é que somente a tese do suicídio pode se
lastrear em documentos, ainda que duvidosos quanto à sua honestidade e
veracidade, como bem salientam os adeptos da tese de assassinato.
Ainda noutro ensaio "Inconfidência Mineira – As várias faces",
Júlio José Chiavenato lança um dado que reforça a tese da farsa montada do
suicídio de Cláudio Manuel da Costa. Na tarde do mesmo dia em que o advogado
foi preso, foram assassinados, no sítio da Vargem, a filha, o genro e outros
familiares do poeta, bem como alguns
escravos, e roubados todos as seus bens. O Visconde de Barbacena só informou
Lisboa da morte de Cláudio Manuel da Costa em 15 de julho, onze dias depois de
ter ocorrido. E quando dera conhecimento a Lisboa do seu interrogatório em 11
de Julho não comunicou a sua morte. Por quê? Possivelmente porque, se a morte
do alferes Tiradentes não causaria embaraços em Lisboa, a de Cláudio e da sua
família poderia causar. Daí a necessidade da farsa ser montada.
(*In Wikipédia, a enciclopédia livre
<pt.wikipedia.org/wiki/>)
0 comentários
Postar um comentário