A PROSA ROMÂNTICA

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     A Prosa Romântica surgiu na Alemanha no século XIX, com “Os sofrimentos do jovem Werther”, de Goethe.
    Apesar de iniciada na Alemanha, a maior divulgação da prosa romântica partiu da França (detalhe: a França era o país na Europa que tinha se livrado do Absolutismo, colocando a burguesia no poder político e econômico. Sendo o Romantismo uma arte DA burguesia, feita PELA burguesia e feita PARA a burguesia, a França foi onde mais obteve sucesso a linguagem romântica).
    A divulgação das prosas românticas se dava periodicamente, juntamente com os jornais, nos chamados folhetins. Tais folhetins podem ser comparados, hoje, às novelas televisivas, por atrair a atenção e a expectativa do público para a continuação da trama, que era pouco complexa, satisfazendo a vontade do pouco exigente público leitor.
     Romance, apesar do nome, não é uma história de amor (pode ser em torno de uma história de amor, mas nem sempre): romance é uma narrativa (o romance consolidou o gênero narrativo) longa que apresenta vários personagens envolvidos entre si por uma trama, composta de conflitos. Nos romances românticos, certas características estão sempre presentes:
. complicação sentimental ou conflito amoroso envolvendo uma ou várias personagens;
. tensão bem versus mal, numa forma bem maniqueísta de se ver a vida (o maniqueísmo diz que o mundo é composto de coisas boas e coisas más, sem meio-termo). O mal pode ser representado em pessoas ou em . situações que criem um impedimento ao herói da narrativa;
. personagens lineares (planas) ou idealizadas, que não entram em conflito interno, não apresentam profundidade psicológica, sendo previsíveis e não alterando seu comportamento ao longo da trama. (O oposto de personagem linear é personagem esférica – não tem nada a ver com seu peso, que é a personagem que muda seu comportamento durante a trama. Poucos romances românticos apresentam personagens esféricas).
triunfo do bem sobre o mal (geralmente um final feliz, podendo ser um final trágico – poucas ocorrências).

Prosa Romântica
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A PROSA ROMÂNTICA NO BRASIL
     O romance romântico aparece no Brasil como um gênero de fácil aceitação, principalmente para o público burguês, abordando temas comuns da vida cotidiana. Sua produção inicia-se apenas em meados do século XIX, a partir do contato com outras nações decorrente do processo de independência, em 1822, quando países como França, Inglaterra e Alemanha já tinham a tradição da ficção.
     O romance pioneiro surge dotado de algumas peculiaridades, como o episodismo (sobreposição dos episódios à análise dos fatos), o oralismo (o narrador é um contador de histórias), a linearidade (segue-se a ordem cronológica normal dos fatos da vida), a idealização (no ambiente, no enredo e nos personagens - homem, herói autêntico e generoso e mulher, feminina, ingênua e fiel).
    Inicialmente, não só no Brasil, mas também na Europa, o romance apresenta-se na forma de flolhetins, em publicações periódicas nos jornais de capítulos de obras literárias, atraindo a leitura de mulheres, estudantes, comerciantes e funcionários públicos. Estas publicações desapareceram no século XX, enquanto o romance em si prosseguiu evoluido e se modificando ao longo dos tempos na literatura nacional.

Linhas temáticas do romance:
      Durante o período colonial, a prosa inexistiu. Nessa ausência de tradição, os autores românticos partiram do nada e fizeram suas primeiras tentativas mais consistentes.
      O primeiro romance brasileiro é “O filho do pescador”, de Teixeira e Souza, de 1843. Porém o nosso primeiro romance de qualidade é “A Moreninha” , de Joaquim Manuel de Macedo, lançado em 1844, e considerado como romance urbano. O romance urbano é aquele que apresenta a cidade como cenário e o comportamento dos citadinos são incorporados nos personagens da narrativa.
    Nas décadas de 50 e 60 verifica-se o florescimento da prosa de ficção.
     Os prosadores românticos procuraram cobrir diversos aspectos da vida brasileira, além das indefectíveis histórias de amor.  
      No Brasil, o romance nasce em meio a uma busca pela identidade nacional e, mais do que a produção poética, busca fornecer as respotas sobre as tradições, o passado histórico e os costumes do país em uma verdadeira investigação sobre os espaços nacionais. A identificação destes espaços caracteriza a formação de quatro linhas temáticas: o espaço da selva é retratado pelos Romances Indianista e Histórico; o campo aparece no Romance Regionalista; a vida na cidade é trazida pelo Romance Urbano.Vejamos cada uma destas linhas:
 1. Romance Indianista:Caracterizado pela idealização do Índio, que não é visto em sua realidade sócio-antropológica, mas sim de uma maneira lírica e poética, figurando como o protótipo de uma raça ideal. Materializa-se no índio o “mito do bom selvagem” de Rousseau (o homem é bom por natureza e o mundo é que o corrompe).
      Há harmonização das diferenças entre as culturas europeia e americana. O índio é mostrado em diversas condições, como é possível notar nas obras de José de Alencar: em “Ubirajara”, aparece o índio primordial, sem o contato urbano; em “O Guarani”, é mostrado o contato o branco e em “Iracema”, aborda-se a miscigenação.

2. Romance Histórico:bRevela o resgate da nacionalidade a partir da criação de uma visão poética e heróica das origens nacionais. É comum ocorrer a mistura de mito e realidade. Destacam-se as obras ”As Minas de Prata” e “A guerra dos Mascates”, de José de Alencar.

3. Romance Regionalista: Também conhecido como Sertanista, é marcado pela idealização do homem do campo. O sertanejo é mostrado, não diante dos seus verdadeiros conflitos, mas de uma maneira mitificada, como um protótipo de bravura, honra e lealdade. Trata-se aqui de um regionalismo sem tensão crítica. Destacam-se obras de José de Alencar (“O Sertanejo”, “O Tronco do Ipê”, “Til”, “O Gaúcho”), Visconde de Taunay (“Inocência”), Bernardo Guimarães (“O Garimpeiro”) e Franklin Távora, que com “O Cabeleira” diferencia-se dos demais apresentando certa tensão social que pode ser enquadrada como pré-realista.

4. Romance Social Urbano: Retrata o ambiente da aristocracia burguesa, seus hábitos e costumes refinados, seus padrões de comportamento, sendo raro interesse pela periferia. Os enredos são em geral triviais, tratando das tramas amorosas e mexericos da sociedade. Os perfis femininos são temas comuns, como em “Diva”, “Lucíola” e “Senhora”, de José de Alencar e em “Helena”, “A Mão e a Luva” e “Iaiá Garcia”, de Machado de Assis.
      É importante perceber que alguns desses romances, tratando do ciclo social urbano, já revelavam características realistas em seus enredos, como algumas análises psicológicas e sintomas de degradação social.

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JOAQUIM MANUEL DE MACEDO
    Joaquim Manuel de Macedo, nasceu no Rio de Janeiro em 1820. Em 1844 formou-se em Medicina no Rio de Janeiro, e no mesmo ano estreou na literatura com a publicação daquele que viria a ser seu romance mais conhecido, "A Moreninha", que lhe deu fama e fortuna imediata. Além de médico, Macedo foi jornalista, professor de Geografia e História do Brasil no Colégio Pedro II, e sócio fundador, secretário e orador do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, desde 1845. Em 1849 fundou, juntamente com Gonçalves Dias e Manuel de Araújo Porto-Alegre, a revista Guanabara, que publicou grande parte do seu poema-romance A nebulosa — considerado por críticos como um dos melhores do Romantismo. Foi membro do Conselho Diretor da Instrução Pública da Corte (1866).
      Joaquim Manuel de Macedo abandonou a medicina e criou uma forte ligação com Dom Pedro II e com a Família Imperial Brasileira, chegando a ser preceptor e professor dos filhos da Princesa Isabel. Era amigo íntimo e confidente de uma celebridade da Corte, Manuel José de Araújo Porto-Alegre, Cônsul do Brasil na Alemanha, de quem recebeu uma longa e histórica correspondência pela qual o remetente se declara um espírita convicto e apaixonado pelo credo que na metade do século XIX fora codificado por Allan Kardec, na França.
       Macedo também atuou decisivamente na política, tendo militado no Partido Liberal, servindo-o com lealdade e firmeza de princípios, como o provam seus discursos parlamentares, conforme relatos da época. Durante a sua militância política foi deputado provincial (1850, 1853, 1854-59) e deputado geral (1864-1868 e 1873-1881). Nos últimos anos de vida padeceu de problemas mentais, morrendo pouco antes de completar 62 anos.
Obra
     Além de escritor foi fundador da Revista "Guanabara", secretário, orador do Instituto Histórico, político, professor e preceptor dos filhos da princesa Isabel.
     Macedo, que faleceu no Rio de Janeiro em 11 de abril de 1882, foi o escritor mais lido durante o final da década de 40 e início da de 50.
      Isso se deu devido ao esquema usado por ele na composição dos romances. Ele atendia à expectativa do leitor burguês pois descrevia em uma linguagem simples, os costumes da sociedade carioca. Eram tramas fáceis, pequenas intrigas de amor, que sempre tinham finais felizes.
      Sua obra é extensa e fez grande sucesso na época. Havia, entre os críticos, o argumento de que ele abusou sentimentalismo muito ao gosto popular, daí seu enorme sucesso de público. Os críticos, entretanto, não negam que Macedo foi cronista aberto e analítico do Rio de Janeiro do final do Império.
      Sua grande importância literária está no fato de ser considerado um dos fundadores do romance no Brasil e, certamente, um dos principais responsáveis pela criação do teatro no Brasil. A Moreninha certamente foi considerada a primeira obra da Literatura Brasileira a alcançar êxito de público e é um dos marcos do Romantismo no Brasil.
      Lançado em 1844, A Moreninha é tido como o primeiro romance publicado no país, embora tenha sido precedido por O Filho do Pescador, de Teixeira e Sousa, que, entretanto, é tido como uma obra menor, desenvolvida a partir de um enredo pouco articulado e confuso.
       A Moreninha constituiu-se numa pequena revolução literária no Brasil imperial, inaugurando o romance brasileiro, e é até hoje é reeditado com relativo sucesso e ainda é lido com prazer. Estudiosos da obra macediana observam que a protagonista do romance, Carolina, é uma clara alusão à personalidade e ao comportamento de Maria Catarina de Abreu Sodré, sua esposa e prima-irmã do poeta Álvares de Azevedo.
       Em sua obra, Joaquim Manuel de Macedo descreve com linguagem simples e raro senso de observação os usos e costumes da sociedade carioca de seu tempo, e a vida familiar e privada daquela época, quando o país ainda estava nas primeiras décadas de sua independência: as cenas triviais da rua, os preconceitos sociais, as festas, a economia doméstica, os saraus familiares, as conversas de comadre, as pequenas e grandes intrigas, os ciúmes mesquinhos, os namoros até certo ponto ingênuos de estudantes e donzelas, que quase sempre acabavam em casamento feliz.
       Na sua obra teatral, Macedo preocupou-se antes com a pintura realista do ambiente social, cultural, político e econômico da sua época do que com o universo psicológico dos seus personagens. Seus dramas, escritos em verso, são artificiais e afetados, suas comédias, porém, são importantes documentos dos costumes da sociedade carioca da época.
       Além de A Moreninha, Macedo escreveu ainda outros dezessete romances, dezesseis peças de teatro e um livro de contos. Entre essas obras destacam-se:
      Livros
Romances
A Moreninha (1844)      O Moço Loiro (1845)      Os Dois Amores (1848)
Rosa (1849)                  Vicentina (1853)             O Forasteiro (1855)
Os Romances da Semana (1861)                        O Rio do Quarto (1869)
A Luneta Mágica (1869)                            As Vítimas-Algozes (1869)    
As Mulheres de Mantilha (1870-1871)
Sátiras políticas
A Carteira do Meu Tio (1855)                       
Memórias do Sobrinho do Meu Tio (1867-1868)
Crônicas sobre a cidade do Rio de Janeiro
Memórias da Rua do Ouvidor
Um Passeio pela Cidade do Rio de Janeiro 
Labirinto
Teatro
Dramas                                               O Cego (1845)
Cobé (1849)                                       Lusbela (1863)
O Fantasma Branco (1856)              O Primo da Califórnia (1858)
Luxo e Vaidade (1860)                      A Torre em Concurso (1863)
Cincinato Quebra-Louças (1873)     Cigarro e seu Sucesso (1880)
Poesia
A Nebulosa (1857)
Biografias
Ano Biográfico Brasileiro (1876)       Mulheres Célebres (1878)
Geográfica
Noções de corographia do Brasil (1873), traduzido a língua alemão por M. P. Alves Nogueira e Guilherme Henrique Theodoro Schiefler, Leipzig, F. A. Brockhaus, 1873
Medicina
Considerações sobre a Nostalgia (tese apresentada na faculdade de Medicina)
Academia Brasileira de Letras
      Joaquim Manuel de Macedo é o patrono da cadeira 20 da Academia Brasileira de Letras, por escolha do fundador Salvador de Mendonça.

Joaquim Manuel de Macedo – Wikipédia, a enciclopédia livre
pt.wikipedia.org/wiki/Joaquim_Manuel_de_Macedo

ANÁLISE DE "A MORENINHA", de Joaquim Manoel de Macedo
     “A Moreninha”, de Joaquim Manoel de Macedo, foi considerado o primeiro romance do Romantismo brasileiro, garantindo a Macedo o pioneirismo de fato nesse gênero literário.
      O título do livro foi dado pelo próprio protagonista da história, o personagem Augusto, em homenagem a D. Carolina. Durante toda a história, evidenciam-se os traços da protagonista, principalmente a cor do rosto: pele morena. Por isso, as pessoas mais íntimas chamavam-na de Moreninha.
      O sucesso de “A Moreninha” está vinculado à capacidade do autor de amarrar o leitor na atmosfera de romance, aguçando a curiosidade do leitor com pequenos enigmas, simples conflitos e uma leitura fácil e agradável. Tais características se organizam numa narrativa fixada entre a lenda e o romance para formar uma obra de gosto popular.
     Esta análise irá abordar os elementos estruturais da narrativa: enredo, personagens, narrador, tempo e linguagem
1- ENREDO
      A história de “A Moreninha” gira em torno de uma aposta feita por quatro estudantes de Medicina da cidade do Rio de Janeiro do fim da primeira metade do século XIX. Um deles, Augusto, é tido pelos amigos como namorador inconstante. Ele próprio garante aos colegas ser incapaz de amar uma mulher por mais de três dias. Um de seus amigos, Filipe, o convida juntamente com mais dois companheiros, Fabrício e Leopoldo, a passarem o fim de semana em uma ilha, na casa de sua avó, D. Ana. Ali também estarão duas primas e a irmã de Filipe, Carolina, mais conhecida como "Moreninha". Por causa da fama de namorador do colega, Filipe propõe-lhe um desafio: se a partir daquele final de semana Augusto se envolver sentimentalmente com alguma (e só uma!) mulher por no mínimo 15 dias, deverá escrever um romance no qual contará a história de seu primeiro amor duradouro. Apesar de Augusto garantir que não correrá esse risco, no final do livro ele está de casamento marcado com Carolina e o romance que deveria escrever já está pronto. Nas linhas finais da obra, o próprio Augusto nos informa seu título: "A Moreninha".
Clímax
     O clímax do romance ocorre quando D.Carolina revela a Augusto, ao deixar cair um breve contendo um camafeu, que é a mulher a quem ele tinha prometido se casar na sua infância, no final do Capítulo XXXIII:
Desfecho
      Como todo bom romance romântico, o desfecho dá-se no final da história quando Augusto e Carolina já estão de casamento marcado e Augusto perde a aposto que havia feito com Filipe.
2- PERSONAGENS
     A Moreninha apresenta dois personagens principais planos, simples, construídos superficialmente, embora essa caracterização funcione de modo a destacá-los do grupo a que pertencem. Eles são sempre compostos de modo a tornar viável o que mais interessa nesse tipo de romance: a ação. São eles: Augusto e D. Carolina, a Moreninha. A figura de Augusto resume um certo tipo de estudante alegre, jovial, inteligente e namorador. Dotado de sólidos princípios morais, fez no início da adolescência um juramento amoroso que retardará a concretização de seu amor por Carolina. Esse impedimento de ordem moral permitirá o desenvolvimento de várias ações até que, ao final da história, Carolina revelará ser ela mesma a menina a quem o jovem Augusto jurara amor eterno. É muito jovem e "moreninha" e também travessa, inteligente, astuta e persistente na obtenção de seus intentos. Carolina encarna a jovem índia Ahy, que espera incansavelmente por seu amado Aoitin – uma antiga história da ilha que D. Ana conta a Augusto. No final ela revela para Augusto que era a menina para quem lhe prometera casamento.
     Os personagens secundários compõem o quadro social necessário para colocar a história em movimento ou propiciar informações de certos dados essenciais à trama e representam, por meio de alguns tipos característicos, a sociedade burguesa da capital do Império.
Rafael: Escravo, criado de Augusto, espécie de pajem ou moleque de recados. É quem lhe prepara os chás e quem lhe atura o mau humor, levando castigos corporais (bolos) por quase nada.
Tobias: Escravo, criado de D. Joana, prima de Filipe. O negro tem dezesseis anos, é bem-apessoado, falante, muito vivo quanto à questão de dinheiro.
Paula:bAma-de-leite de Carolina; incentivada por Keblerc, bebeu vinho e ficou bêbada.
D. Ana: Avó de Filipe, é uma senhora de espírito e alguma instrução. Tem sessenta anos, cheia de bondade. Seu coração é o templo da amizade cujo mais nobre altar é exclusivamente consagrado à querida neta, Carolina, irmã de Filipe.
Filipe:  Irmão de Carolina, neto de D. Ana. Amigo de Augusto, Fabrício e Leopoldo. Também estudante de Medicina.
D. Violante: "D. Violante era horrivelmente horrenda, e com sessenta anos de idade apresentava um carão capaz de desmamar a mais emperrada criança." Meio estabanada, ela quebra a harmonia reinante no ambiente burguês, sem causar transtornos graves.
Keblerc: Alemão que, diante das garrafas de vinho, prefere ficar com elas a tomar parte na festa que se desenrola na ilha. Embriaga-se, mas não perturba o clima de harmonia em que se desenvolve a história.
Fabrício: Amigo de Augusto, também estudante de Medicina. Está apaixonado por Joaninha, mas dela quer livrar-se por causa das exigências extravagantes da moça. Chega a pedir a ajuda de Augusto para livrar-se da namorada exigente.
Leopoldo: Amigo de Augusto, Filipe e Fabrício; também estudante de Medicina.
D. Joaninha: Prima de Filipe, namorada de Fabrício. Exigia que o estudante lhe escrevesse cartas de amor quatro vezes por semana; que passasse por defronte da casa dela quatro vezes por dia; que fosse a miúdo ao teatro e aos bailes que frequentava; que não fumasse charutos de Havana nem de Manilha, por ser falta de patriotismo.
D. Quinquina: Moça volúvel, namoradeira. Namorava um tenente Gusmão da Guarda Nacional. Na festa da ilha, recebeu um cravo de um velho militar e ia passá-lo adiante, a um jovem de nome Lúcio. O cravo terminou, por acaso, nas mãos de Augusto.
D. Clementina: Moça que cortou uma madeixa dos cabelos fez um embrulho e deixou-o sob uma roseira para ser apanhado por Filipe. Augusto antecipou-se ao colega e guardou o pacotinho.
D. Gabriela: Moça que, por cartas, se correspondia com cinco mancebos. Certo dia, a senhora encarregada de distribuir as correspondências enganou-se na entrega de duas; trocou-as e deu a de lacre azul ao Sr. Juca e a de lacre verde ao Sr. Joãozinho.
    O romance é narrado na terceira pessoa, por um narrador onisciente. O narrador está presente em todos lugares da história, característica essa que pode ser facilmente observada no romance: no banco de relva perto da gruta, enquanto Augusto conta para Sra. D. Ana à história de seus amores (Cap. VII); no gabinete das moças, relatando a situação de Augusto debaixo de uma cama que se achava no fundo do gabinete (Cap. XII); No gabinete dos rapazes, enquanto os quatros estudantes dormem (Cap. XV); Fora da Ilha, gabinete de Augusto e na Ilha relatando as modificações do comportamento de D. Carolina (Cap. XIX), dentre outros.
     Em toda a narrativa, podemos observar que o narrador se dirige a uma outra pessoa, que o Cap. XV nos faz acreditar ser o próprio autor do romance, convidando-o para participar na narrativa como observador dos acontecimentos, não chegando, porém, a ser caracterizado como um narrador onisciente-intruso.
   Vejamos alguns trechos da narrativa que poderão nos dar uma melhor visão da onipresença do narrador:
“Quanto aos homens ... Não vale a pena!... vamos adiante. (Cap. III)
“Um autor pode entrar em toda parte e, pois ... não. Não, alto lá! No gabinete das moças ... não senhor; no dos rapazes, ainda bem.” (Cap. XV)
“Sobre ela estão conversando agora mesmo Fabrício e Leopoldo. Vamos ouvi-los.” (Cap. XVI)
“Devemos fazer-lhe uma visita; ele está em seu gabinete ...” (Cap. XIX)
4- TEMPO
     No romance “A Moreninha”, o tempo é linear, ou seja, os acontecimentos vão sendo incorporados à história em ordem cronológica, sem recuos nem avanços.
     Os eventos narrados desenrolam-se durante os trinta dias pelos quais a aposta entre os estudantes Filipe e Augusto era válida. A aposta foi feita em 20 de julho de 18...:
Quando a história se inicia, Augusto já estava no quinto ano de Medicina e conquistara, entre os amigos, a fama de inconstante. Nos capítulos VII e VIII, o autor conta-nos a origem da instabilidade amorosa do herói. Tudo começara há oito anos, quando Augusto contava 13, e Carolina 7 anos de idade, utilizando a técnica chamada de flashback, que consiste em voltar no tempo.
5- LINGUAGEM
    O romance de Joaquim Manuel de Macedo é escrito numa linguagem ágil e viva, introduzindo o leitor diretamente no centro da ação. Ao longo do texto, o narrador limita-se a conduzir o leitor pelos ambientes e pelo interior dos personagens, como no caso do Capítulo XIX – "Entremos nos Corações". Desse modo, faz o leitor acompanhar todas as ações. Algumas vezes comenta irônica e metalingüisticamente essa atitude, como o exemplo abaixo, retirado do Capítulo XV – "Um Dia em Quatro Palavras":
    "São seis horas da manhã e todos dormem ainda a sono solto. Um autor pode entrar em toda parte e, pois...  não. Não, alto lá! No gabinete das moças... não senhor; no dos rapazes ainda bem. A porta está aberta."
     Fiel à época romântica, Macedo exagera no uso dos adjetivos, tornando a linguagem derramada. Os rodeios excessivos fazem par com descrições exaustivas, principalmente quando se refere a Moreninha.
CONCLUSÃO
    A obra nos mostra porque continua sendo um dos romances mais lidos, com uma leitura interessante e agradável, vem provar mais uma vez a importância da redescoberta dos valores mais puros, honestos e genuínos presentes na alma do ser humana. Sua importância dentro do Romantismo foi ter sido a primeira obra expressiva deste movimento literário no Brasil. O tema é a fidelidade a um amor de infância. Tem valor para o nosso tempo pois resgata sentimentos como honra, fidelidade e amor , valores esses que vêm sendo esquecidos na atualidade.

Análise de "A Moreninha" de Joaquim Manoel de Macedo
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O MOÇO LOIRO, de Joaquim Manuel de Macedo
     O moço loiro, romance urbano, foi lançado em 1845, ano em que Joaquim Manuel de Macedo aceitaria o cargo de professor no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, onde passaria a ter contato direto com poetas como Gonçalves Dias e Gonçalves de Magalhães, os quais o aproximariam de questões sociais que o fariam ingressar, posteriormente, na vida política.
      O livro mostra um enredo claro e bem construído, e realiza uma reportagem de época ainda útil para    estudiosos e curiosos do imaginário da elite carioca do século XIX.
      O livro é um sensível retrato da sociedade burguesa da antiga capital federal, no século XIX, criticada discretamente pelo autor, que faz do romance um discurso sobre o amor idealizado e, portanto, livre do contato com a realidade, representado nas figuras de Honorina e do herói que dá nome ao livro. Daí segue toda a trama, que, mesmo sendo um retrato social, não se aprofunda em questões políticas ou psicológicas. Apesar dos conflitos existenciais, seus personagens são superficiais, pouco complexos, restringindo-se a pequenos dilemas éticos, com exceção talvez da viúva Lucrécia, metáfora da hipocrisia social de seu tempo. As reflexões encontradas na narrativa são ingênuas, expostas em linguagem simples e, por vezes, demasiadamente explicativas.
    A sentimentalidade, típica dos escritores românticos de sua época, é bastante exacerbada, passando a ser força motora sobre a razão, fazendo com que os personagens se mostrem propensos a viver fora do tempo, sempre fugindo do real em devaneios intermináveis.
       Assim, a intriga se desenrola em tom de encantamento, numa tênue linha entre realidade e puro delírio.
       Sua leitura se faz valiosa até hoje, tanto por seu tema atemporal - o amor adolescente, as dúvidas e os conflitos interiores que simbolizam tanto esta fase da vida, o sonho do primeiro e verdadeiro amor - quanto pela revelação de alguns aspectos de um Rio antigo, com saraus, pequenas embarcações de transporte com remadores e mansões localizadas no bairro da Glória, frente ao mar.
Enredo
       Uma cruz de ouro, relíquia de família desde o século XIII, é roubada aos Mendonças, recaindo a culpa sobre um deles, o jovem Lauro, que abandona os seus e desaparece, amaldiçoado pela avó. Sua prima Honorina, anos depois, é cortejada misteriosamente, através de bilhetes, por um desconhecido - que assume os mais estranhos disfarces, intervém, nos mais vários acontecimentos, está em toda parte, sabe tudo, como convém aos heróis folhetinescos.
        Ele é o Moço Loiro, que acaba por salvar o pai da moça da ruína (a que o ia levando o empregado infiel, o verdadeiro ladrão da jóia), além de punir os maus, amparar os bons etc.
        No final, o óbvio fica evidente: ele é Lauro e casa com a priminha, deixando em conformada melancolia a maior amiga desta, Raquel, que, para variar, também o amava em segredo.

O moço loiro, de Joaquim Manuel de Macedo - Passeiweb
www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/.../o/o_moco_loiro

A LUNETA MÁGICA, de Joaquim Maniel de Macedo
I- O romance
      A ascensão da burguesia ao poder, e o surgimento do jornal [ o primeiro aparece em 1808, no RJ] vieram modificar o gosto do público pela literatura. A nova mentalidade, menos refinada, menos educada e mais pragmática - voltada para os problemas do dia a dia - requer um gênero literário que possa estar à altura do seu entendimento e do seu gosto. E o romance, que há mais tempo vinha tomando forma [na Espanha, na Inglaterra e na França, sobretudo], começou a ensaiar seus primeiros passos no Brasil. Dos primeiros folhetins, publicados em jornais, por autores agora completamente esquecidos, passamos às primeiras manifestações mais apropriadas e logo festejadas pelo grande público. Atentos, sempre, ao anseio do novo público, surgiram os primeiros romancistas. E, com eles, os primeiros folhetins, entre estes está A Luneta Mágica, de Joaquim Manuel de Macedo.
II - Enredo
      No romance A Luneta Mágica, Macedo nos conta a história de Simplício, um rapaz que padece de um mal terrível: uma dupla miopia.
      Miopia física: que o impede de ver ou distinguir qualquer coisa a duas polegadas de distância dos seus olhos.
      Miopia moral: o impede de entender ou distinguir as ideias alheias ou de ajustar suas próprias ideias. [trata-se de um parvo, ingênuo,...]
      Simplício ficou órfão aos 12 anos de idade e, desde então, vive com o mano Américo, que administra sua herança, com a devota tia Domingas e com a prima Anica. Certo dia, apesar de sua miopia, foi convidado para fazer parte de um júri. Lá conhece o Sr. Nunes que lhe fala do Reis, um gravador de vidros, capaz de resolver seu problema de miopia.
      Depois de muitas tentativas, de lentes do mais alto grau, Reis reconhece que não pode ajudar Simplício, sua miopia é muito forte. Condoído, no entanto, com a dor do rapaz fala-lhe do Armênio - um artista de habilidades mágicas trazido da Europa pelo próprio Reis para trabalhar em sua oficina.
      O desejo de Simplício de ver era tão grande que ele acaba aceitando ir visitar o Armênio. Este promete-lhe uma luneta mágica, mas avisa-lhe também que em pouco tempo o rapaz vai ter a convicção de que é melhor ser cego do que ver demais.
      Assim, depois de pensar muito sobre tudo o que o Armênio havia lhe falado e consultar sua família, Simplício vai ao encontro do mágico no horário marcado, a meia-noite. Lá presencia o ritual de construção da luneta. Depois de muitas luzes, fogos e palavras mágicas, finalmente o mago entrega-lhe o objeto mágico, mas não antes de lhe avisar sobre os poderes e perigos da luneta: Simplício não deveria fixá-la mais de 3 minutos sobre qualquer objeto ou ser humano, pois assim passaria a ter a visão do mal [vingança da salamandra presa no vidro] e, além disso, não deveria também fixá-la em nada além de 13 minutos, pois esta seria a visão do futuro e, neste caso, para própria proteção do rapaz, a luneta se quebraria.
       Ansioso com a possibilidade de enxergar, Simplício volta para casa e espera o amanhecer para experimentar a luneta. Maravilhado com a visão da aurora, acredita que será impossível ver qualquer coisa má nesta cena e decide, portanto, fixar sua luneta por mais de 3 minutos. De repente, fica horrorizado com o que vê: '-Meu Deus!...como a aurora é enganadora e falsa!...e como o sol é feio, terrível e mau!!!'. Concorda com o Armênio e diz que basta a visão da superfície e das aparências, a felicidade do homem está nas ilusões dos sentidos, nos enganos da alma, quer ser feliz e, portanto, não fará mais uso da visão do mal. No entanto, nosso jovem ingênuo, acaba por não resistir à visão do mal e começa a fixar sua luneta sobre tudo e todos.
       A visão do mal permite-lhe ver a 'verdade' sobre: prima Anica, moça fria, sem sentimentos, mulher-cálculo, incapaz de amizade, interessada em casar Américo ou com Simplício por causa da fortuna; mano Américo, ambicioso avarento, rouba a família na administração dos bens; tia Domingas, invejosa, fofoqueira, sovina, deseja o casamento da filha com Américo pela fortuna,...
      Estas descobertas deixam Simplício horrorizado e decepcionado fazendo-o decidir procurar um advogado para administrar seus bens e uma esposa para formar uma nova família. Procura o Nunes para que este o ajude com seus planos. No entanto, ao fixar sua luneta sobre o velho, descobre um farsante e interesseiro.
      Passa-se um mês e ele só encontra decepções, ninguém em quem confiar, nada em que acreditar. Os amigos são todos interesseiros, exploradores, as moças são todas falsas e impuras.
      De repente, a cidade inteira comenta sua loucura e ele passa a ser perseguido e execrado em todos os locais. A família decide que ele está doente, tranca-o em casa e quer destruir sua luneta. A visita de um médico, no entanto, impede que ele seja declarado louco. Todos concordam que ele foi iludido pela magia e que com amor e carinho conseguirá superar tudo.
      Ainda assim, Simplício não entrega a luneta e sabe que, embora não seja considerado louco será visto como um maníaco, portanto não há salvação. Decide, então, que a única coisa que poderá salvá-lo será a visão do futuro. Ele quer saber qual o seu futuro e por isso decide fixar a luneta nele mesmo [no espelho] por mais de 13 minutos. Entretanto, antes de chegar na visão do futuro, chega à visão do mal e se descobre um infame, caluniador, um inimigo da família, um homem capaz de maldizer todas as criações de Deus, um maldito...Antes de chegar na visão do futuro, a luneta quebra-se em suas mãos.
      De novo, Simplício acha-se na escuridão, arrependido de ultrapassar a visão da superfície e das aparências, descobre-se, agora, sem nada, sem qualquer possibilidade de ver.
      Depois de 8 dias enclausurado em casa, decide que já pode sair, as pessoas não lembrarão de mais nada - 'Não há atividade de opinião que resista à extensão, à eternidade de oito dias na nossa capital'.
      Durante o passeio, reencontra o Reis que lhe conta sobre as fofocas do Nunes e o convence a, novamente, procurar o Armênio. Assim, fica combinado um novo encontro, a meioa-noite, no gabinete do mágico.
      Mais uma vez Simplício presencia todo o ritual de construção da nova luneta e ouve os alertas do Armênio sobre o uso correto da lente. Dessa vez, se fixada por mais de três minutos, ela lhe dará a visão do bem.
      Ao voltar para casa, esperançoso e feliz com a possibilidade de ver novamente, Simplício decide que escreverá a todos os jornais e falará sobre as maravilhas de que o Armênio é capaz. Ele não entende a descrença do Reis nas potencialidades mágicas. Acredita que o Armênio poderá ajudar muitas outras pessoas e que, portanto, não faz sentido manter tudo isso em segredo.
      Depois de se questionar sobre que mal poderia haver na visão do bem, mais uma vez Simplício desobedece o mágico e fixa sua luneta por mais de três minutos. Começa por enxergar a prima Anica, um anjo de inocência e de candura; tia Domingas, a devoção e a piedade personalizada; o mano Américo, a pura dedicação fraternal.
“-Eu tinha a febre da felicidade. O mundo e a vida me festejavam o coração; eu desejava rir, divertir-me, folgar”.
      Maravilhado com a visão do bem, apaixona-se pela prima Anica e por mais trinta e tantas outras moças, inclusive por Esmeralda, uma conhecida prostituta do 'Alcasar Lírico'. Reconhece a bondade e a pureza de coração em todos que dele se aproximam, ajuda a todos, paga jantares, dá esmolas, contribui para fundos de caridades através dos 'amigos', que são cada vez em maior número. Reencontra o Nunes, visita-lhe a família, apaixona-se por sua filha, salda suas dívidas. Enfim, passa a ser explorado e ridicularizado por todos sem perceber. Quando alguns tentam lhe avisar sobre o que está acontecendo, fica confuso, pois descobre a verdade na boca destas almas boas, mas não entende como isso pode ser possível.
      Mais uma vez desesperado e angustiado, descobre que a visão do bem é um martírio.
      Com a alma atormentada, presencia um funeral e percebe a beleza, a felicidade da morte. Decide, portanto, que o melhor que tem a fazer é morrer. Como não tem armas ou veneno, nem meios para consegui-los, sobe até o alto do Corcovado para se jogar de lá de cima. Antes, porém, pensa uma vez na visão do futuro, dá uma última olhada através da luneta mágica para cidade, a capital do Império do Brasil. Passa-se os treze minutos e a luneta se quebra em suas mãos. Mais uma vez nas trevas, Simplício não hesita e se joga do para peito...Duas mãos possantes, no entanto, suspenderam-lhe pelas orelhas - era o Armênio.
      Depois de conversarem sobre tudo o que havia acontecido, o mágico fala-lhe sobre as lições das lunetas:
'Exagerar é mentir.'
'No mundo há o bem e o mal, como há na vida o prazer e a dor.'
'Mas o bem é o bem, o mal é o mal como são e não podem deixar de ser para humanidade que é imperfeita: perfeito bem, absoluto mal não há para ela.'
'A imperfeição e a contingência da humanidade são as únicas ideias que podem fundamentar um juízo certo sobre todos os homens...Cada qual é o que é e cada qual tem as suas qualidades, e seus defeitos.'
        Depois desta conversa, o Armênio decidiu dar-lhe uma última luneta mágica - A Luneta do Bom Senso. Desta vez, no entanto, Reis faz Simplício prometer segredo sobre o assunto.

A Luneta Mágica | Resumos Literarios
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3 comentários

  1. Li esse livro em minha fase de adolescência, e ainda hoje, já ingressando na terceira idade ele ainda me é útil, bem como tenho repassado esta bela mensagem para muitos, fiquei feliz em ler este resumo pois tem detalhes que havia esquecido. Em resumo, foi um dos melhores livros que já li.

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  2. Eu gostaria de saber no livro o moço loiro de Joaquim Manuel de Macedo qual é o tempo psicológico, o que se pode aprender com este livro e qual foi a importância e contribuição da obra e do autor à nossa literatura?

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  3. Se puderem responder ficarei extremamente grata, pois estou precisando dessas informações para um trabalho de escola de português!

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