José Martiniano de Alencar (Messejana, 1 de maio de 1829 — Rio de Janeiro, 12 de dezembro de 1877) foi um jornalista, político, advogado, orador, crítico, cronista, dramaturgo e polemista brasileiro. Formou-se em Direito, iniciando-se na atividade literária no Correio Mercantil e Diário do Rio de Janeiro. Foi casado com Ana Cochrane. Filho do senador José Martiniano Pereira de Alencar, irmão do diplomata Leonel Martiniano de Alencar, barão de Alencar, e pai de Augusto Cochrane de Alencar.
Nasceu em Messejana, na época um município vizinho
a Fortaleza.
A família transferiu-se para a capital do Império do Brasil, Rio de Janeiro, e José de Alencar, então
com onze anos, foi matriculado no Colégio de Instrução Elementar. Em 1844, matriculou-se nos
cursos preparatórios à Faculdade de Direito de São Paulo,
começando o curso de Direito em 1846. Fundou, na época, a revista Ensaios Literários,
onde publicou o artigo questões de estilo. Formou-se em direito,
em 1850,
e, em 1854,
estreou como folhetinista no Correio Mercantil. Em 1856 publica o
primeiro romance, Cinco Minutos, seguido de A Viuvinha em1857. Mas é com O Guarani em
(1857) que
alcançará notoriedade. Estes romances foram publicados todos em jornais e só
depois em livros.
José de Alencar foi mais longe nos romances que completam a trilogia
indigenista: Iracema(1865) e Ubirajara (1874). O primeiro, epopeia
sobre a origem do Ceará, tem como personagem principal a índia Iracema,
a "virgem dos lábios de mel" e "cabelos tão escuros como a asa
da graúna". O segundo tem por
personagem Ubirajara, valente guerreiro indígena que durante a
história cresce em direção à maturidade.
Em 1859,
tornou-se chefe da Secretaria do Ministério da Justiça, sendo depois consultor
do mesmo. Em 1860 ingressou
na política, como deputado estadual no Ceará, sempre militando pelo Partido Conservador (Brasil Império).
Em 1868,
tornou-se ministro da Justiça, ocupando o cargo até
janeiro de 1870. Em 1869, candidatou-se ao senado do Império, tendo o
Imperador D. Pedro II do Brasil não o escolhido
por ser muito jovem ainda.
Em 1872 se
tornou pai de Mário de Alencar, o qual, segundo uma história
nunca totalmente confirmada, seria na verdade filho deMachado de
Assis, dando respaldo para o romance Dom Casmurro.[2] Viajou
para a Europa em 1877, para tentar um
tratamento médico, porém não teve sucesso. Faleceu no Rio de Janeiro no mesmo
ano, vitimado pela tuberculose. Machado de Assis, que esteve no velório de
Alencar, impressionou-se com a pobreza em que a família Alencar vivia.
Produziu também romances urbanos (Senhora, 1875; Encarnação, escrito
em 1877, ano de sua morte e divulgado em 1893), regionalistas (O Gaúcho, 1870; O Sertanejo,
1875) e históricos (Guerra dos Mascates, 1873), além de peças para
o teatro.
Uma característica marcante de sua obra é o nacionalismo,
tanto nos temas quanto nas inovações no uso da língua portuguesa. Em um momento
de consolidação da Independência, Alencar representou um dos
mais sinceros esforços patrióticos em povoar o Brasil com conhecimento e
cultura próprios, em construir novos caminhos para a literatura no país. Em sua
homenagem foi erguida uma estátua no Rio de
Janeiro e um teatro em Fortaleza chamado
"Teatro José de Alencar".
Características
da obra de Alencar
A obra de José de Alencar pode ser dividida em dois grupos distintos
Quanto ao Espaço Geográfico
§ O
sertão do Nordeste - O Sertanejo
§ O
litoral cearense - Iracema
§ Fogo
na babilonia
§ O
pampa gaúcho - O Gaúcho
§ A
zona rural - Til (interior paulista), O Tronco do
Ipê (zona da mata fluminense)
§ A
cidade, a sociedade burguesa do Segundo
Reinado - Diva, Lucíola, Senhora e os demais romances urbanos.
Quanto a Evoluçao Historica
§ O
período pré-cabralino - Ubirajara.
§ A
ocupação do território, a colonização e o sentimento nativista - As Minas de
Prata (o bandeirantismo) e Guerra dos Mascates(rebelião colonial).
§ O
presente, a vida urbana de seu tempo, a burguesia fluminense do século XIX - os
romances urbanos Diva, Lucíola, Senhora e
outros.
Obras
Cinco Minutos, 1856 MeuKior, 1856 A viuvinha, 1857
O guarani, 1857 Lucíola, 1862 Diva, 1864
Iracema, 1865 As minas de prata -1865
O gaúcho, 1870 A pata da gazela, 1870 O tronco do ipê, 1871
Guerra dos mascates - 1871 Til, 1871 Sonhos d'ouro, 1872
Alfarrábios, 1873 Ubirajara, 1874 O sertanejo, 1875
Senhora, 1875 Encarnação, 1877
Teatro
O crédito, 1857 Verso e reverso, 1857
O Demônio Familiar, 1857 As asas de um anjo, 1858
Mãe, 1860 A expiação, 1867
O jesuíta, 1875
Crônica
Ao correr da pena, 1874
Autobiografia
Como e por que sou romancista, 1873
Crítica e polêmica
Cartas sobre a confederação dos tamoios, 1856
Ao imperador:cartas políticas de Erasmo e Novas cartas políticas de Erasmo, 1865
Ao povo:cartas políticas de Erasmo, 1866
O sistema representativo, 1866
Academia Brasileira de Letras
A IMPORTÂNCIA DE JOSÉ DE ALENCAR
A prosa de ficção surgiu no Brasil por meio de um gênero literário, o romance, e nosso primeiro romancista foi o fluminense Joaquim Manuel de Macedo, com o best-seller "A Moreninha". No entanto, o romance brasileiro ganharia consistência e orientação a partir da entrada de José de Alencar em nossa cena literária.
Para compreender a importância de Alencar, é necessário entender o papel que a literatura ocupava na sociedade da época. É preciso ter em vista que não existia televisão e que, nesse sentido, o romance cumpre o papel hoje cumprido pelas telenovelas. Mas note que a novela de TV não visa apenas dar vazão à imaginação e à fantasia, que se expressam através das aventuras e peripécias vividas pelas personagens. A novela também se dedica a registrar a realidade em que a narrativa se ambienta (evidentemente, não nos referimos às novelas de época, como "Bang Bang").
Novelas e jornalismoAssim como as telenovelas documentam hoje a vida dos habitantes ou de grupos sociais da cidade do Rio de Janeiro e de São Paulo (principalmente), o romance também tinha essa função no século 19. E pode-se dizer que de maneira ainda mais intensa, uma vez que o romance surge nas páginas da imprensa, publicado como folhetim, o que aumentava os laços entre a literatura e o jornalismo. Da mesma forma que o jornalismo, também, o romance expressa ideias, opiniões e juízos de valor, ajudando o leitor a formar a seu modo de ver e compreender a realidade. Pois bem, se o romance é um instrumento para se documentar a realidade e transmitir ideias, foi José de Alencar quem resolveu se aproveitar ao máximo dessas qualidades do "veículo" e com ele estabelecer um amplo panorama da vida no Brasil, da nacionalidade brasileira. Não se pode deixar de dizer, que esse projeto de Alencar tem início em meados do século 19, durante o Segundo Reinado, o momento histórico em que nosso país está se consolidando enquanto nação independente, com características próprias.
Identidade nacional
Trata-se de um momento em que é necessário estabelecer e afirmar a identidade brasileira. José de Alencar toma para si a tarefa de fazer isso no âmbito literário. Seus romances pretendem apresentar os aspectos que o autor distingue em nossa realidade e exaltar as virtudes do país e de seu povo. De fato, Alencar vai se encarregar da tarefa com tamanho empenho que não se contentará em usar a língua portuguesa "clássica", aquela que o colonizador português nos legou, mas procurará abrasileirar o português em seus textos, o que é talvez uma de suas mais importantes características de estilO.
Cabe agora fazer uma breve apreciação de cada uma dessas categorias, seguindo a ordem acima exposta.
Romances indianistas
Afirmar a identidade brasileira, significava em primeiro lugar valorizar nossos traços autóctones, isto é, aqueles que aqui já existiam antes da chegada dos colonizadores. O índio é quem irá representar esse papel, de vez que ele é o homem da terra brasileira em estado puro. Assim, o índio assumirá o papel de herói de símbolo da raça, papel que nos dias de hoje têm sido assumido principalmente por jogadores de futebol e atletas de um modo geral.Nesse sentido, destaca-se Peri, o personagem principal de "O Guarani", romance em que Alencar, de modo épico, faz uma alegoria das origens do Brasil. Peri tem todas as características heroicas que você possa imaginar: ele surge no romance caçando, "no braço", uma onça. Logo mais, ele descobre as maquinações que o vilão, Loredano, trama contra seu senhor, dom Antonio de Mariz, e trata de frustrar seus planos. Além disso, nutre pela filha de dom Antônio, a jovem Ceci, o mais puro e dedicado dos amores. Esse par amoroso Peri-Ceci tem características de um simbolismo evidente: da união do índio com o branco é que se origina o "mestiço" brasileiro.
"O Guarani" é "a epopeia da formação da nacionalidade". Esse caráter nacionalista e grandioso levou-o a ser adaptado para o canto lírico, dando origem à ópera de mesmo nome, composta por seu contemporâneo Carlos Gomes, bem como a algumas adaptações cinematográficas, das quais a mais recente data de 1988, dirigida pela atriz e diretora Norma Bengell e não faz jus à obra de Alencar. No entanto, vale destacar também "Iracema" que também apresenta uma alegoria do surgimento do homem brasileiro, a partir da união da índia Iracema e do colonizador Martim, porém de modo lírico e poético.
Romances urbanosNessas obras, Alencar se dedica a traçar um painel da vida na Corte, ou seja, a cidade do Rio de Janeiro, sede da monarquia brasileira. Os enredos basicamente tratam de aventuras amorosas e procuram traçar os perfis das mulheres que os protagonizam. Nesse sentido, Alencar avança numa característica que se tornará importante ao gênero romance: a observação psicológica das personagens. Ao mesmo tempo, faz crítica de costumes sociais de sua época.
Esse é particularmente o caso de "Senhora", em que o autor faz uma crítica ao casamento por interesse e ao arrivismo social, narrando a história de Fernando Seixas que é "comprado" para ser marido de Aurélia Camargo. Aurélia havia herdado uma providencial fortuna com a qual se vinga de Fernando, que a desprezou quando ela era pobre. Como se vê, contudo, trata-se de questões superficiais. Alencar não consegue perceber nem tematizar as grandes mazelas da sociedade brasileira de seu tempo. Por outro lado, sua literatura urbana abriu caminho para o surgimento de uma obra genial como a de Machado de Assis.
Romances regionalistasO maior mérito de Alencar, aqui, é o de ter inaugurado um caminho que se revelaria muito proveitoso para a literatura brasileira. Ao colocar o foco sobre as realidades regionais do Brasil - no Rio Grande do Sul, em "O Gaúcho"; no interior de São Paulo, em "O Tronco de Ipê", no Nordeste em "O Sertanejo" -, Alencar logo conquista seguidores, que também fariam literatura regionalista, como o Visconde de Taunay e Bernardo Guimarães, ainda no século 19.
Contudo, é no século 20 que o regionalismo vai se manifestar com grande vigor na literatura brasileira, gerando grandes autores a partir da década de 30. São muitos os autores regionalistas que podemos destacar e que produziram obras-primas para a literatura brasileira de um modo geral. Entre eles, é impossível deixar de citar José Lins do Rego, Graciliano Ramos,Jorge Amado, Érico Veríssimo e João Guimarães Rosa.
Romances históricosO romance histórico é um subgênero do romance que não deu muito certo no Brasil, mas não se pode acusar Alencar por isso. Em seus romances dessa categoria, ele procurou mostrar que o Brasil independente tinha raízes na Colônia. De resto, convém lembrar que se debruçar sobre o passado "brasileiro" propriamente dito seria se debruçar sobre o Brasil pré-cabralino e aí entramos na seara do romance indianista. O romance histórico faz mais sentido na Europa onde as tradições medievais de cada nação forneciam matéria narrativa e efetivamente refletiam as origens de cada país.
Uma breve avaliaçãoO projeto alencariano de retratar a realidade brasileira pelo romance talvez peque pelo fato de os modelos do autor serem europeus e por ele se ater demais aos seus modelos. Mas o que se pode esperar de um autor brasileiro daquela época? Os romancistas europeus do século 19 contavam com uma tradição narrativa que datava no mínimo do século 14, para não falarmos da literatura greco-romana. A literatura brasileira não contava com nada disso e nenhum homem pode criar qualquer coisa a partir do nada.
Isso atenua Alencar da acusação de simplesmente transpor os padrões europeus para nossa realidade. Além disso, o mérito de Alencar é o do pioneiro, o daquele que procura e desbrava caminhos. Finalmente, o crítico Roberto Schwartz aponta um mérito a mais na obra de Alencar que não deve ser desprezado: ao transpor os modelos europeus para a realidade brasileira tão distante da realidade europeia, a obra de Alencar tem involuntariamente um quê de paródia, que prenuncia a maneira satírica com que os modernistas e os tropicalistas vão olhar para os valores estrangeiros e tentar criar valores genuinamente nacionais.
(*Antonio Carlos Olivieri é escritor, jornalista e diretor da Página 3 Pedagogia & Comunicação.)
Crônica
Ao correr da pena, 1874
Autobiografia
Como e por que sou romancista, 1873
Crítica e polêmica
Cartas sobre a confederação dos tamoios, 1856
Ao imperador:cartas políticas de Erasmo e Novas cartas políticas de Erasmo, 1865
Ao povo:cartas políticas de Erasmo, 1866
O sistema representativo, 1866
Academia Brasileira de Letras
Grande expoente da literatura brasileira do século XIX, não alcançou a fundação do Silogeu
Brasileiro. Coube-lhe, entretanto, a homenagem de ser patrono da cadeira 23 da
academia.
Nas discussões que antecederam a fundação da
academia, seu nome foi defendido por Machado de Assis para
ser o primeiro patrono, ou seja, nominar a cadeira 1. Mas não poderia haver
hierarquia nessa escolha, e resultou que Adelino Fontoura, um autor quase desconhecido, veio a
ser o patrono efetivo. Sobre esta escolha, registrou Afrânio Peixoto:
"Novidade de
nossa Academia foi, em falta de antecedentes, criarem-nos, espiritualmente, nos
patronos. Machado de Assis, o primeiro da companhia, por vários títulos, quis
dar a José de Alencar a primazia que tem, e deve ter, na literatura nacional. A
justiça não guiou a vários dos seus companheiros. Luís Murat, por sentimento
exclusivamente, entendeu honrar um amigo morto, infeliz poeta, menos poeta que
infeliz, Adelino Fontoura."
José de Alencar –
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Considerado o maior romancista do Romantismo
brasileiro, Alencar criou uma literatura
nacionalista, empregando um vocabulário e uma sintaxe típicos do Brasil e
evitando o estilo lusitano, que até então prevalecia na literatura aqui
produzida.
Sua obra traça um perfil da cultura e dos
costumes de sua época, bem como da História do Brasil, tendo como preocupação
essencial a busca de uma identidade nacional, seja quando descreve a sociedade
burguesa do Rio de Janeiro, seja quando se volta para os temas ligados ao índio
ou ao sertanejo. Seus romances costumam ser classificados em quatro categorias:
urbanos, históricos, indianistas, e regionalistas.
A obra urbana de Alencar segue o padrão do típico romance de folhetim,
retratando a alta sociedade fluminense do Segundo reinado, com tramas que
envolvem amor, segredos e suspense. Mas por trás da futilidade dos namoricos da
Corte está a crítica à hipocrisia, à ambição e à desigualdade social.
José de Alencar também chega a analisar o caráter psicológico de suas
personagens femininas, revelando seus conflitos interiores e antecipando as
características da escola realista, que sucedeu o Romantismo. Seus romances
urbanos são: Cinco minutos (1860), A viuvinha (1860), Lucíola (1862), Diva
(1864), A pata da gazela (1870), Sonhos d'ouro (1872), Senhora (1875) e
Encarnação (1877). Senhora é considerado o mais importante deste grupo.
Os livros
indianistas buscam transportar as tradições indígenas
para a ficção, relatando mitos, lendas, festas, usos e costumes, muitas vezes
observados pessoalmente pelo autor. Mesmo assim, o índio é visto de maneira
idealizada, que representa, em nível simbólico, a origem do povo brasileiro.
Nesse sentido, seus textos trazem a imagem do homem branco (europeu) como
corrompido pelo mundo civilizado e apresenta o índio com ares de "bom
selvagem", destacando seu caráter bom, valente e puro. Seus romances
indianistas são: O Guarani (1857), Iracema (1865) e Ubirajara (1874).
José de Alencar também buscou inspiração em nosso passado para escrever romances históricos, propondo uma nova interpretação literária para fatos marcantes da colonização, como a busca por ouro e as lutas pela expansão territorial. Seus enredos denotam em vários momentos um nacionalismo exaltado e o orgulho pela construção da pátria. Obras históricas: As Minas de prata (1865), Alfarrábios (1873), A guerra dos mascates (1873).
José de Alencar também buscou inspiração em nosso passado para escrever romances históricos, propondo uma nova interpretação literária para fatos marcantes da colonização, como a busca por ouro e as lutas pela expansão territorial. Seus enredos denotam em vários momentos um nacionalismo exaltado e o orgulho pela construção da pátria. Obras históricas: As Minas de prata (1865), Alfarrábios (1873), A guerra dos mascates (1873).
Já os romances
regionalistas denotam o interesse do autor pelas
regiões mais afastadas do Brasil, alheias à influência européia que predomina
na Corte fluminense. Assim, ele alia os hábitos da vida no campo e a cultura
popular à beleza natural e exótica das terras brasileiras. Se nos romances
urbanos as mulheres são sempre enfatizadas, nas obras de cunho regional os
homens recebem o destaque, com toda a sua rudeza, enfrentando os desafios da
vida, enquanto que as mulheres assumem papéis secundários. Seus romances
regionalistas são: O gaúcho (1870), O tronco do Ipê (1871), Til (1872), O
sertanejo (1876). Com eles o autor focalizou, respectivamente, os pampas, o
interior paulista e o sertão nordestino, procurando dar conta de nossa
diversidade regional.
Ao lado da literatura, não se pode esquecer de que José de Alencar foi um político atuante, vindo a ser deputado provincial do Ceará e a ocupar o cargo de ministro da Justiça. Deixou a política após ter seu nome vetado pelo imperador D. Pedro 2° para o cargo de senador. Deprimido e debilitado pela tuberculose, de que sofria desde a juventude, foi para a Europa para se tratar. Sem obter resultados, voltou ao Brasil em estado grave, morrendo pouco tempo depois, aos 48 anos.
Ao lado da literatura, não se pode esquecer de que José de Alencar foi um político atuante, vindo a ser deputado provincial do Ceará e a ocupar o cargo de ministro da Justiça. Deixou a política após ter seu nome vetado pelo imperador D. Pedro 2° para o cargo de senador. Deprimido e debilitado pela tuberculose, de que sofria desde a juventude, foi para a Europa para se tratar. Sem obter resultados, voltou ao Brasil em estado grave, morrendo pouco tempo depois, aos 48 anos.
José de Alencar - Biografia - UOL Educação -educacao.uol.com.br
A OBRA DO MESTRE DO ROMANTISMO
Por
Antonio Carlos Olivieri*
A prosa de ficção surgiu no Brasil por meio de um gênero literário, o romance, e nosso primeiro romancista foi o fluminense Joaquim Manuel de Macedo, com o best-seller "A Moreninha". No entanto, o romance brasileiro ganharia consistência e orientação a partir da entrada de José de Alencar em nossa cena literária.
Para compreender a importância de Alencar, é necessário entender o papel que a literatura ocupava na sociedade da época. É preciso ter em vista que não existia televisão e que, nesse sentido, o romance cumpre o papel hoje cumprido pelas telenovelas. Mas note que a novela de TV não visa apenas dar vazão à imaginação e à fantasia, que se expressam através das aventuras e peripécias vividas pelas personagens. A novela também se dedica a registrar a realidade em que a narrativa se ambienta (evidentemente, não nos referimos às novelas de época, como "Bang Bang").
Novelas e jornalismoAssim como as telenovelas documentam hoje a vida dos habitantes ou de grupos sociais da cidade do Rio de Janeiro e de São Paulo (principalmente), o romance também tinha essa função no século 19. E pode-se dizer que de maneira ainda mais intensa, uma vez que o romance surge nas páginas da imprensa, publicado como folhetim, o que aumentava os laços entre a literatura e o jornalismo. Da mesma forma que o jornalismo, também, o romance expressa ideias, opiniões e juízos de valor, ajudando o leitor a formar a seu modo de ver e compreender a realidade. Pois bem, se o romance é um instrumento para se documentar a realidade e transmitir ideias, foi José de Alencar quem resolveu se aproveitar ao máximo dessas qualidades do "veículo" e com ele estabelecer um amplo panorama da vida no Brasil, da nacionalidade brasileira. Não se pode deixar de dizer, que esse projeto de Alencar tem início em meados do século 19, durante o Segundo Reinado, o momento histórico em que nosso país está se consolidando enquanto nação independente, com características próprias.
Identidade nacional
Trata-se de um momento em que é necessário estabelecer e afirmar a identidade brasileira. José de Alencar toma para si a tarefa de fazer isso no âmbito literário. Seus romances pretendem apresentar os aspectos que o autor distingue em nossa realidade e exaltar as virtudes do país e de seu povo. De fato, Alencar vai se encarregar da tarefa com tamanho empenho que não se contentará em usar a língua portuguesa "clássica", aquela que o colonizador português nos legou, mas procurará abrasileirar o português em seus textos, o que é talvez uma de suas mais importantes características de estilO.
Cabe agora fazer uma breve apreciação de cada uma dessas categorias, seguindo a ordem acima exposta.
Romances indianistas
Afirmar a identidade brasileira, significava em primeiro lugar valorizar nossos traços autóctones, isto é, aqueles que aqui já existiam antes da chegada dos colonizadores. O índio é quem irá representar esse papel, de vez que ele é o homem da terra brasileira em estado puro. Assim, o índio assumirá o papel de herói de símbolo da raça, papel que nos dias de hoje têm sido assumido principalmente por jogadores de futebol e atletas de um modo geral.Nesse sentido, destaca-se Peri, o personagem principal de "O Guarani", romance em que Alencar, de modo épico, faz uma alegoria das origens do Brasil. Peri tem todas as características heroicas que você possa imaginar: ele surge no romance caçando, "no braço", uma onça. Logo mais, ele descobre as maquinações que o vilão, Loredano, trama contra seu senhor, dom Antonio de Mariz, e trata de frustrar seus planos. Além disso, nutre pela filha de dom Antônio, a jovem Ceci, o mais puro e dedicado dos amores. Esse par amoroso Peri-Ceci tem características de um simbolismo evidente: da união do índio com o branco é que se origina o "mestiço" brasileiro.
"O Guarani" é "a epopeia da formação da nacionalidade". Esse caráter nacionalista e grandioso levou-o a ser adaptado para o canto lírico, dando origem à ópera de mesmo nome, composta por seu contemporâneo Carlos Gomes, bem como a algumas adaptações cinematográficas, das quais a mais recente data de 1988, dirigida pela atriz e diretora Norma Bengell e não faz jus à obra de Alencar. No entanto, vale destacar também "Iracema" que também apresenta uma alegoria do surgimento do homem brasileiro, a partir da união da índia Iracema e do colonizador Martim, porém de modo lírico e poético.
Romances urbanosNessas obras, Alencar se dedica a traçar um painel da vida na Corte, ou seja, a cidade do Rio de Janeiro, sede da monarquia brasileira. Os enredos basicamente tratam de aventuras amorosas e procuram traçar os perfis das mulheres que os protagonizam. Nesse sentido, Alencar avança numa característica que se tornará importante ao gênero romance: a observação psicológica das personagens. Ao mesmo tempo, faz crítica de costumes sociais de sua época.
Esse é particularmente o caso de "Senhora", em que o autor faz uma crítica ao casamento por interesse e ao arrivismo social, narrando a história de Fernando Seixas que é "comprado" para ser marido de Aurélia Camargo. Aurélia havia herdado uma providencial fortuna com a qual se vinga de Fernando, que a desprezou quando ela era pobre. Como se vê, contudo, trata-se de questões superficiais. Alencar não consegue perceber nem tematizar as grandes mazelas da sociedade brasileira de seu tempo. Por outro lado, sua literatura urbana abriu caminho para o surgimento de uma obra genial como a de Machado de Assis.
Romances regionalistasO maior mérito de Alencar, aqui, é o de ter inaugurado um caminho que se revelaria muito proveitoso para a literatura brasileira. Ao colocar o foco sobre as realidades regionais do Brasil - no Rio Grande do Sul, em "O Gaúcho"; no interior de São Paulo, em "O Tronco de Ipê", no Nordeste em "O Sertanejo" -, Alencar logo conquista seguidores, que também fariam literatura regionalista, como o Visconde de Taunay e Bernardo Guimarães, ainda no século 19.
Contudo, é no século 20 que o regionalismo vai se manifestar com grande vigor na literatura brasileira, gerando grandes autores a partir da década de 30. São muitos os autores regionalistas que podemos destacar e que produziram obras-primas para a literatura brasileira de um modo geral. Entre eles, é impossível deixar de citar José Lins do Rego, Graciliano Ramos,Jorge Amado, Érico Veríssimo e João Guimarães Rosa.
Romances históricosO romance histórico é um subgênero do romance que não deu muito certo no Brasil, mas não se pode acusar Alencar por isso. Em seus romances dessa categoria, ele procurou mostrar que o Brasil independente tinha raízes na Colônia. De resto, convém lembrar que se debruçar sobre o passado "brasileiro" propriamente dito seria se debruçar sobre o Brasil pré-cabralino e aí entramos na seara do romance indianista. O romance histórico faz mais sentido na Europa onde as tradições medievais de cada nação forneciam matéria narrativa e efetivamente refletiam as origens de cada país.
Uma breve avaliaçãoO projeto alencariano de retratar a realidade brasileira pelo romance talvez peque pelo fato de os modelos do autor serem europeus e por ele se ater demais aos seus modelos. Mas o que se pode esperar de um autor brasileiro daquela época? Os romancistas europeus do século 19 contavam com uma tradição narrativa que datava no mínimo do século 14, para não falarmos da literatura greco-romana. A literatura brasileira não contava com nada disso e nenhum homem pode criar qualquer coisa a partir do nada.
Isso atenua Alencar da acusação de simplesmente transpor os padrões europeus para nossa realidade. Além disso, o mérito de Alencar é o do pioneiro, o daquele que procura e desbrava caminhos. Finalmente, o crítico Roberto Schwartz aponta um mérito a mais na obra de Alencar que não deve ser desprezado: ao transpor os modelos europeus para a realidade brasileira tão distante da realidade europeia, a obra de Alencar tem involuntariamente um quê de paródia, que prenuncia a maneira satírica com que os modernistas e os tropicalistas vão olhar para os valores estrangeiros e tentar criar valores genuinamente nacionais.
(*Antonio Carlos Olivieri é escritor, jornalista e diretor da Página 3 Pedagogia & Comunicação.)
José de Alencar - Português - UOL Educação - educacao.uol.com.br
ALGUMAS OBRAS DE JOSÉ DE ALENCAR
Romances urbanos
A PATA DA GAZELA
Conta sobre Horácio, Leopoldo, Laura e Amélia. Laura e Amélia são duas primas com pés exatamente opostos. Laura os têm disformes, Amélia os têm pequeninos. Quando passando em uma rua cai um pé de sapato de Amélia, Horácio o recolhe e se apaixona pela dona do pé de sapato a quem desconhece. Leopoldo se apaixona pelo sorriso de Amélia, cujo nome não conhece. Ao vê-la com a prima outra vez, ilude-se achando Amélia têm os pés disformes. Horácio, o leão da moda carioca, passa a galantear Amélia, que vai se apaixonando por ele enquanto Leopoldo, também apaixonado por Amélia torna-se seu amigo apesar de ter declarado amá-la, bela ou não. Horácio propõe casamento e Amélia diz que vai pensar no assunto.
Quando Horácio finalmente vê o pé de Amélia se horroriza (ela estava com um sapato de Laura) e arranja uma desculpa para romper o noivado que ela tinha aceitado. Ele então procura Laura, declara-se a ela e, quando descobre que ela tem os pés horríveis, afasta-se. Tenta procurar Amélia de novo, mas falha. Amélia então percebe o quão puro é o amor de Leopoldo e casa-se com ele. Na noite de núpcias ela revela ter os pés lindos que ele pensava ser de outra. Eficiente em mostrar a moda da época, com vestidos longuíssimos que escondiam os pés da moça, o livro é a tentativa de José de Alencar de mostrar como o amor deve ser, não pela plástica como o de Horácio, mas pela alma como o de Leopoldo. O autor também usa sempre expressões galicizadas (adaptações do francês), ao invés de usar palavras francesas, uso comum da época, nacionalizando assim a linguagem.
A VIUVINHA
A Viuvinha foi "escrita pelo mesmo autor" de Cinco Minutos a mesma "prima", contando a história de "Jorge" e "Carolina"( O autor diz que esses não são os nomes verdadeiros). Eles são namorados e casam-se, mas no dia do casamento Almeida, antigo tutor de Jorge, revela-lhe que ele está falido e endividado.
Ele finge suicídio e passa a se dedicar a recuperar a fortuna e o bom nome da família (usando o nome falso de Carlos) após uma viagem aos EUA. Ele o faz e depois retorna a Carolina (que havia, mesmo que sempre de luto, se tornado a sensação dos bailes), após um breve interlúdio de mistério para descobrir se Carolina ainda o queria (o mistério antecedendo a resolução é uma característica dos românticos).
CINCO MINUTOS
Cinco Minutos, assim como "A Viuvinha", foram escritos no início da carreira do autor. Assim como os outros romances caracterizados pelo romantismo ingênuo de Alencar, esses dois não fogem à regra, são feitos aos moldes de folhetim, curtos, quase infantis. Têm como pano de fundo o Rio de Janeiro. Cinco Minutos faz parte da fase urbana do escritor. Cinco Minutos conta a hstória do casamento do autor com Carlota. No entanto, para o leitor, parece que está escutando uma história que não é para ele, já que Alencar dirige seu texto a uma prima. O leitor aqui é uma terceira pessoa, um "voyer" que fica entre José de Alencar e sua prima.
Ao mesmo tempo em que tenta levar o leitor a pensar que tudo é imaginário e faz parte das fantasias do autor, José de Alencar faz questão de narrar fatos verídicos da época, acontecimentos reais que marcaram o Rio de Janeiro no início do século. É tão minucioso nesse aspecto que até narra datas e horários etc. Atualmente as histórias do autor romântico passam como que quase infantis e ingênuas para o leitor moderno. São narrações em que o amor sempre vence, decisões passionais de amantes, amor e amor e amor. À época, os folhetins eram lidos pelas senhoras burgueses. Exagerando-se um pouco na dose, poderíamos dizer que Alencar lembra remotamente, os livrinhos que embalam os sonhos de moças solteiras, no entanto não se pode deixar de dizer que sua escrita, linguagem, e modo estilísco são de extrema qualidade.
Foi Alencar quem dissociou-se do modelo português da escrita para definitivamente inaugurar o texto nosso, brasileiro. Os livros Cinco Minutos e A Viuvinha falam sobre a vida burguesa. Suas personagens são personagens que, no fundo, representam o ideal acabado da vida burguesa, tropicalmente reproduzida na Corte brasileira. Em Cinco Minutos, o narrador-personagem está disponível, da primeira à última página, para satisfazer a todos os caprichos de sua imaginação. Sem compromisso profissional algum, o aspecto financeiro de suas peregrinações atrás de Carlota não chegam jamais a preocupá-lo.
DIVA
Diva é um romance urbano. Nele a heroína Emília, bela e rica filha mimada de um capitalista carioca fica dividida e confusa frente ao amor de Augusto. Augusto (que, médico, salvou sua vida quando ela era só uma pré-adolescente feia) e Emília ficam assim presos em jogos de amor, amizade e desprezo que são por vezes infantis e outras humilhantes. Augusto se declara, Emília diz não o amar.
Por fim Augusto renega seu amor, Emília declara também amar, Augusto percebe ainda amar e eles vivem felizes para sempre, num romance que segue ao pé da letra o estilo folhetim: heróis perfeitos, um obstáculo para o amor (a dúvida de Emília) e um final feliz no último instante. (Meio que desimportante dizer isto, mas a declaração final de amor de Emília deve ser a epígrafe do Manifesto Machista.
LUCÍOLA
Na melhor tradição romântica, Lucíola é um livro onde se debatem paixões tórridas e contraditórias. O amor que não resiste às barreiras sociais e morais. Assim é o romance da bela Lúcia, a mais rica e cobiçada cortesã do Rio de Janeiro, e Paulo, um jovem modesto e frágil. Um romance que sacode a corte e provoca um excitado burburinho na sociedade. De um lado a mulher que, sendo de todos, jurava não prender-se a nenhum homem, de outro o homem em dúvida entre o amor e o preconceito. José de Alencar utiliza este instigante argumento para descrever a enorme atração física entre um homem e uma mulher. A pena moralizadora do escritor busca a idealização espiritual da prostituta que quer se modificar e a alma pura de Paulo cuja amor arrebatador supera todas as barreiras. Lucíola é um dos mais curiosos trabalhos de José de Alencar. Há nele um clima de sensualidade constante combinado com o ardor e sofrimento, bem no clima da literatura romântica que predominava na segunda metade do século passado quando foi escrito este romance.
SENHORA
O romance SENHORA, é da autoria de José de Alencar, considerado a primeira figura das nossas letras e chamado "o patriarca da literatura brasileira". Advogado, jornalista, político, orador, romancista e teatrólogo, nascido em Mecejana, Ceará, é o patrono da Cadeira nº 23, por escolha de Machado de Assis, que sempre o teve na mais alta conta e, ao fundar-se a Academia Brasileira de Letras, em 1897, escolheu-o como patrono da referida Cadeira.
A obra SENHORA é mais um dos romances urbanos em que Alencar coloca como principal personagem a figura de uma mulher, como fez em outras (DIVA, LUCÍOLA, A VIUVINHA, A PATA DA GAZELA),em que procurou traçar o perfil de mulheres da sua época, geralmente de maneira romântica e idealizadora.
1.Análise da obra
O romance SENHORA, do escritor José de Alencar foi um dos últimos publicados por ele (1875). A história não é narrada de forma linear, mas em idas e vindas entre passado e presente que se dividem em três capítulos: O Preço, Quitação, Posse e Resgate.
Neste livro o autor faz uma crítica à decadência dos valores na época, que é a do Segundo Império, levando os leitores, através do romance entre Aurélia Camago e Fernando Seixas, a refletir sobre a influência do dinheiro nas relações amorosas e nos casamentos da época, principalmente. Alencar classifica esta obra dentro dos seus chamados “perfis de mulher”, já que se concentra na mulher o papel mais importante dentro da sociedade do seu tempo.
Segundo os críticos de literatura, este romance pode ser visto como uma das obras-primas de José de Alencar e uma das principais da literatura brasileira. Mesmo sendo basicamente romântico, muitos o consideram como um precursor do Realismo, porque trata do casamento baseado no interesse financeiro, nas conveniências pessoais e sociais dos personagens principais, Aurélia e Fernando.O conflito amoroso entre os protagonistas nasce do choque entre os sentimentos e o interesse econômico
Os desentendimentos entre os protagonistas da história proporcionam momentos emocionantes e de sofrimento, refletindo o universo romântico presente na obra, através da idealização das personagens, o que atraía o interesse dos leitores da época.
O final da obra evidencia a vitória do romantismo sobre a possibilidade realista, já que o autor mostra sua crença nos sentimentos humanitários como força vital de suas personagens: no momento em que ficam divididos entre ódio e perdão, necessidade financeira e desejos do coração, os segundos sempre vencem. O vilão , o antegonista, é a sociedade e seus hábitos e costumes imorais. Assim, o autor manda um recado para a sociedade do seu tempo, transformando sua história num romance de costumes. E o fato de ela ter como cenário o Rio de Janeiro da segunda metade do século XIX, também leva a considerá-lo como um romance urbano, com traços de crítica social e de psicologismo.
Embora a obra tenha ideais românticos, tanto o herói (Fernando) quanto a heroína (Aurélia) apresentam-se um pouco distantes do que se espera de personagens típicos do Romantismo, pois o autor reflete na história as mazelas morais que resultaram do capitalismo. Entretanto, como homem de seu tempo, Alencar não dá a Seixas nem a Aurélia as dimensões profundamente imorais dos personagens que seriam típicos mais tarde no Realismo, acentuando-lhes os desvios de comportamento. Ao contrário, acaba por redimi-los: Aurélia retorna à sua condição submissa e dócil de heroína romântica e Seixas é redimido pelo "trabalho que enobrece".
Alencar, como bom romântico que é, procura, na realidade, preservar a altivez e a pureza de seus heróis e, no caso de Fernando Seixas, usa o subterfúgio do amor
Sinopse da obra: Aurélia Camargo é filha de uma pobre costureira e órfã de pai. Apaixona-se por Fernando Seixas – homem ambicioso - a quem namora. Este, porém, desfaz a relação, movido pela vontade de se casar com uma moça rica, Adelaide Amaral, e pelo dote que teria direito de receber.Passado algum tempo, Aurélia, já órfã de mãe também, recebe uma grande herança do avô e ascende socialmente.Passa, assim, a ser figura de destaque nos eventos da sociedade da época.Dividida entre o amor e o orgulho ferido, ela encarrega seu tutor e tio, Lemos, de negociar seu casamento com Fernando por um dote de cem contos de réis. O acordo realizado inclui, como uma de suas cláusulas, o desconhecimento da identidade da noiva por parte do contratado até as vésperas do casamento.Ao descobrir que sua noiva é Aurélia, Fernando se sente um felizardo, pois, na verdade, nunca deixara de amá-la. E abre seu coração para ela.A jovem, porém, na noite de núpcias, deixa claro: "comprou-o" para representar o papel do marido que uma mulher na sua posição social deve ter. Dormiriam em quartos separados. Aurélia não só não pretende entregar-se a ele, como aproveita as oportunidades que o cotidiano lhe oferece para criticá-lo com ironia. Durante meses, uma relação conjugal marcada pelas ofensas e o sarcasmo se desenvolve entre os dois.Fernando, todavia, trabalha e realiza um negócio que lhe permite levantar o dinheiro que devia a Aurélia. Desse modo, propõe-se a restituir-lhe a quantia em troca da separação. Considerando o gesto uma prova da regeneração de Fernando, Aurélia, que nunca deixara de amá-lo, é vencida pelo amor. Ao receber o dinheiro, entrega-lhe a chave de seu quarto e o casamento se consuma, afinal
A obra José de Alencar é da mais alta significação nas letras brasileiras, não só pela seriedade, ciência e consciência técnica e artesanal com que a escreveu, mas também pelas sugestões e soluções que ofereceu, facilitando a tarefa da nacionalização da literatura no Brasil e da consolidação do romance brasileiro, do qual foi o verdadeiro criador.
Sua imensa obra causa admiração não só pela qualidade, como pelo volume, se considerarmos o pouco tempo que pôde dedicar-lhe numa vida curta, pois faleceu no Rio de Janeiro, de tuberculose, aos 48 anos de idade.
Alencar, dos prosadores românticos da literatura brasileira, sem dúvida avulta como o mais importante dentre eles, não só pelo seu nacionalismo, dando prioridade à temática brasileira como pelo seu estilo vigoroso, elegante e pomposo, que sobressai dentre seus contemporâneos.
Sua obra de ficção é vasta e fecunda, onde avulta o romance como seu principal melo de expressão.
Os romances urbanos, que nos interessam mais de perto por ser o caso de SENHORA, têm corno cenário a corte, ou seja a cidade do Rio de Janeiro do Segundo Reinado. É neles que se mostram com maior evidência os ingredientes amorosos românticos, como atesta o ferrenho alencariano, Oscar Mendes:
"Como no período romântico não se compreendesse um romance que não tivesse uma intriga amorosa, todos os romances urbanos deste autor são romances de amor, do amor, como entendia a mentalidade romântica da época, um amor, sublimado, idealizado, capaz de renúncias, de sacrifícios, de heroísmos e até de crimes, mas redimindo-se pela própria força de sua intensidade e de sua paixão”.
Como em todos os romances românticos, SENHORA, em torno das duas personagens típicas do Brasil de ontem e de hoje, traça um perfil social amargo e romântico, que diz respeito a qualquer leitor capaz de reconhecer seus pares na história. Não estaria de fora dela quem já se casou, quem pensa um dia casar-se, ou mesmo quem se sente melhor em distância crítica desses impasses, que a vida e seus textos costumam reservar a leitores e a outras entidades.
Nesta obra, José de Alencar critica em muitos trechos o modo como o dinheiro influía na sociedade da época ( e ainda influi ), utilizando para fazê-la, a sua personagem principal : Aurélia. O autor procurou mostrar como o dinheiro elevava as pessoas por entre a alta sociedade, se o possuíam, e como as rebaixava, se não o tinham, como mostra ao relatar a vida de Aurélia, a sua fase pobre e a sua ascendência após receber a herança de seu avô.A narração da história cita por várias vezes como Aurélia recorre ao pensamento de que todos rodeavam-na por causa do dinheiro que possuía.
Romances indianistas
UBIRAJARA
Personagens
Ubirajara:
Protagonista. No início do romance seu nome é Jaguarê.Herói romântico, forte,
corajoso e bonito.
Jandira: Virgem
araguaia, prometida para Jaguarê, em casamento, e desprezada por
ele.
Araci: Virgem
filha do chefe dos Tocantins.
Pojucã:
Guerreiro tocantim, filho de Itaquê.
Itaquê: Chefe da
nação tocantim e pai de Pojucã e Araci.
Jacamim: Mulher
de Itaquê.
Camacã: Pai de
Ubirajara.
Canicram:
terrível chefe dos tapuias.
Pahã: Filho mais
moço de Canicram, chefe dos tapuias.
Resumo:
Jaguarê, jovem caçador araguaia, procura em outras terras um inimigo com quem
possa lutar,
Ubirajara
é um romance que narra a história de um índio guerreiro, que por sua força e
garra conquistava tudo que queria. O autor começa a narração falando das nações
indígenas existentes na época, e que Ubirajara era irmão de Iracema. Sua
primeira atividade foi a caça, e como obtinha muito sucesso nesta atividade,
recebeu o nome de Jaguaré, tipo de onça feroz que não deixava escapar suas
presas.
Era
admirado por todos, e as virgens disputavam o seu amor, mas havia uma moça que
se chamava Jandira, que fora prometida para ele seu nome Jandira, tinha o
significado "Jandaíra" relativo a um tipo de abelha.
Um
dia, Jaguaré, estava caçando e encontrou outra virgem muito bela, que pertencia
a tribo Tupi, e logo apaixonou-se por ela, seu nome era Araci, que significa
estrela do dia. Ela também gostou dele e lançou um desafio para a sua
conquista: aquele que fosse melhor guerreiro teria o seu amor. Jaguaré, aceitou
o desafio, e quando se preparava para a luta, encontrou um guerreiro da tribo
tupi e travou com ele uma luta que durou muitas horas, porém Jaguaré, saiu
vencedor e levou seu inimigo preso para ser morto no tempo certo. Todos da
tribo Araguaia, festejaram a vitória de Jaguaré.
Depois
ele voltou para lutar pela Araci, na tribo dos Tocantins. Lá foi recebido com
honras, como qualquer hóspede, os anciões deram-lhe o nome de Jurandi, que
significa “aquele que veio da luz ou trazer luz”.
Logo
ele viu Araci, e ambos ficaram encantados; Jurandi revelou a seu pai que queria
a virgem por esposa, e foi lançado as provas de coragem entre todos os
pretendentes e Jurandi venceu todas e obteve o consentimento do pai, mas quando
Jurandi, revelou sua verdadeira identidade, tudo ficou complicado, porque o
guerreiro inimigo que era seu prisioneiro, era o irmão de Araci. Foi aí que a
luta seria maior. Ubirajara voltou à sua tribo, libertou o prisioneiro, e
convocou a todos os guerreiros de seu povo para atacar os Tocantins, mas quando
eles se preparavam para a batalha, souberam que os tapuias, estavam em guerra
com os Tocantins e ofereceram ajuda aos araguaias, porém Ubirajara mandou um
recado que não precisava de nenhum aliado para vencer aos dois grupos.
Na
guerra dos tapuias com os Tocantins, resultou na morte do maior guerreiro dos
tapuias e o chefe dos Tocantins perdeu a visão. Quando os araguaias chegaram na
tribo tupi, Ubirajara pediu ao guerreiro cego que lançasse seu arco e duas
setas se cruzaram no espaço e a paz foi feita entre as duas tribos, e assim
Araci, foi com o seu marido para as núpcias em sua cabana, ela rompeu a liga da
virgindade e colocou-a no braço do marido. Estendeu a rede nupcial e foi buscar
Jandira, que fora dada a ela por escrava pelo Ubirajara, e deu ao marido como
esposa, as duas se tornaram esposas do maior guerreiro Araguaia Tocantins.
A
união dessas duas nações resultou no surgimento de uma nova nação que recebeu o
nome de Ubirajara, eles dominaram o deserto, por muito tempo.
IRACEMA
A obra conta a história de amor vivida por
Martin, um português, e Iracema uma índia tabajara. Eles apaixonaram-se quase
que à primeira vista. Devido a diferença etnica, por Iracema ser filha do pajé
da tribo e por Irapuã gostar dela, a única solução para ficarem juntos, é a
fuga. Ajudados por Poti, Iracema e Martim, fogem do campo dos tabajaras, e
passam a morar na tribo de Poti (Pitiguara). Isso faz com que Iracema sofra,
mas seu amor por Martim é tão mais forte, que logo ela se acostuma, ou pelo
menos, não deixa transparecer. A fuga de Iracema faz com que uma nova batalha
seja travada entre os tabjaras e os pituguaras. Pois Arapuã quer se vingar de
Martin, que "roubou" Iracema, mas Mertim é amigo de Poti, índio
pitiguara, que irá protegê-lo.
Além disso, a tribo tabajara alia-se com
os franceses que lutam contra os portugueses, que são aliados dos pitiguaras,
pela posse do território brasileiro. Com o passar do tempo, Martim começa a
sentir falta das pessoas que deixou em sua pátria, e acaba distanciando-se de
Iracema. Esta, por sua vez, já grávida, sofre muito percebendo a tristeza do
amado. Sabendo que é o motivo do sofrimento de Martim, ela resolve morrer
depois que der à luz ao filho. Sabendo da ausência de Martim, Caubí, irmão de
Iracema, vai visitá-la e dia que já a perdoou por ter fugido e dado às costas à
sua tribo. Acaba conhecendo o sobrinho, e promete fazer visistas regulares aos
dois.
Conta que Araquém, pai de Iracema, está
muito velho e mal de saúde, devido à fuga de Iracema. Justo no período que
Martim não está na aldeia, Iracema dá luz ao filho, ao qual dá o nome de
Moacir. Sofrendo muito, não se alimentando, e por ter dado à luz recentemente,
Iracema não suporta mais viver e acaba morrendo logo após entregar o filho à
Martim. Iracema é enterrada ao pé de um coqueiro, na borda de um rio, o qual
mais tarde seria batizzado de Ceará, e que daria também nome à região banhada
por este rio. Ao meio desta bela história de amor, estão os conflitos tribais,
intensificados pela intervenção dos brancos, peocupados apenas em conquistar
mais territórios e dominar os indígenas.
O GUARANI
Na primeira metade do século XVII,
Portugal ainda dependia politicamente da Espanha, fato que, se por um lado
exasperava os sentimentos patrióticos de um frei Antão, como mostrou Gonçalves
Dias, por outro lado a ele se acomodavam os conservadoristas e os portugueses
de pouco brio. D. Antônio de Mariz, fidalgo dos mais insignes da nobreza de
Portugal, leva adiante no Brasil uma colonização dentro mais rigoroso espírito
de obediência à sua pátria. Representa, com sua casa-forte, elevada na Serra
dos Órgãos, um baluarte na Colônia, a desafiar o poderio espanhol. Sua
casa-forte, às margens do Pequequer, afluente do Paraíba, é abrigo de ilustres
portugueses, afinados no mesmo espírito patriótico e colonizador, mas acolhe
inicialmente, com ingênua cordialidade, bandos de mercenários, homens sedentos
de ouro e prata, como o aventureiro Loredano, ex-padre que assassinara um homem
desarmado, a troco do mapa das famosas minas de prata. Dentro da respeitável
casa de D. Antônio de Mariz, Loredano vai pacientemente urdindo seu plano de
destruição de toda a família e dos agregados.
Em seus planos, contudo, está o rapto da
bela Cecília, filha de D. Antônio, mas que é constantemente vigiada por um
índio forte e corajoso, Peri, que em recompensa por tê-la salvo certa vez de
uma avalancha de pedras, recebeu a mais alta gratidão de D. Antônio e mesmo o
afeto espontâneo da moça, que o trata como a um irmão. A narrativa inicia seus
momentos épicos logo após o incidente em que Diogo, filho de D. Antônio,
inadvertidamente, mata uma indiazinha aimoré, durante uma caçada. Indignados,
os aimorés procuram vingança: surpreendidos por Peri, enquanto espreitavam o
banho de Ceci, para logo após assassiná-la, dois aimorés caem transpassados por
certeiras flechas; o fato é relatado à tribo aimoré por uma índia que
conseguira ver o ocorrido.
A luta que se irá travar não diminui a
ambição de Loredano, que continua a tramar a destruição de todos os que não o
acompanhem. Pela bravura demonstrada do homem português, têm importância ainda
dois personagens: Álvaro, jovem enamorado de Ceci e não retribuído nesse amor,
senão numa fraterna simpatia; Aires Gomes, espécie de comandante de armas, leal
defensor da casa de D. Antônio. Durante todos os momentos da luta, Peri,
vigilante, não descura dos passos de Loredano, frustrando todas suas tentativas
de traição ou de rapto de Ceci. Muito mais numerosos, os aimorés vão ganhando a
luta passo a passo.
Num momento, dos mais heróicos por sinal,
Peri, conhecendo que estavam quase perdidos, tenta uma solução tipicamente
indígena: tomando veneno, pois sabe que os aimorés são antropófagos, desce a
montanha e vai lutar "in loco" contra os aimorés: sabe que, morrendo,
seria sua carne devorada pelos antropófagos e aí estaria a salvação da casa de
D. Antônio: eles morreriam, pois seu organismo já estaria de todo envenenado.
Depois de encarniçada luta, onde morreram muitos inimigos, Peri é subjugado e,
já sem forças, espera, armado, o sacrifício que lhe irão impingir. Álvaro (a
esta altura enamorado de Isabel, irmã adotiva de Cecília) consegue heroicamente
salvar Peri. Peri volta e diz a Ceci que havia tomado veneno. Ante o desespero
da moça com essa revelação, Peri volta à floresta em busca de um antídoto,
espécie de erva que neutraliza o poder letal do veneno. De volta, traz o
cadáver de Álvaro morto em combate com os aimorés.
Dá-se então o momento trágico da
narrativa: Isabel, inconformada com a desgraça ocorrida ao amado, suicida-se
sobre seu corpo. Loredano continua agindo. Crendo-se completamente seguro, trama
agora a morte de D. Antônio e parte para a ação. Quando menos supõe, é preso e
condenado a morrer na fogueira, como traidor. O cerco dos selvagens é cada vez
maior. Peri, a pedido do pai de Cecília, se faz cristão, única maneira possível
para que D. Antônio concordasse, na fuga dos dois, os únicos que se poderiam
salvar. Descendo por uma corda através do abismo, carregando Cecília
entorpecida pelo vinho que o pai lhe dera para que dormisse, Peri, consegue
afinal chegar ao rio Paquequer. Numa frágil canoa, vai descendo rio abaixo, até
que ouve o grande estampido provocado por D. Antônio, que, vendo entrarem os
aimorés em sua fortaleza, ateia fogo aos barris de pólvora, destruindo índios e
portugueses.
Testemunhas únicas do ocorrido, Peri e
Ceci caminham agora por uma natureza revolta em águas, enfrentando a fúria dos
elementos da tempestade. Cecília acorda e Peri lhe relata o sucedido.
Transtornada, a moça se vê sozinha no mundo. Prefere não mais voltar ao Rio de
Janeiro, para onde iria. Prefere ficar com Peri, morando nas selvas. A
tempestade faz as águas subirem ainda mais. Por segurança, Peri sobe ao alto de
uma palmeira, protegendo fielmente a moça. Como as águas fossem subindo
perigosamente, Peri, com força descomunal, arranca a palmeira do solo, improvisando
uma canoa. O romance termina com a palmeira perdendo-se no horizonte, não sem
antes Alencar ter sugerido, nas últimas linhas do romance, uma bela união
amorosa, semente de onde brotaria mais tarde a raça brasileira...
Romances históricos
A GUERRA DOS MASCATES
Reporta-se um episódio da História do Brasil : a luta travada entre as cidades de Olinda e Recife, nos anos de 1710 e 1711, pelos pernambucanos proprietários de engenhos que viam com desconfiança a prosperidade de Recife, onde residiam os mascates, como eram designados os comerciantes portugueses, resultando forte animosidade.
Para fugir à autoridade de Olinda, então
sede da capitania, os recifenses solicitaram e obtiveram do reino a jurisdição
propria da sua vila. Rebelaram-se os de Olinda, que, armados, se apoderaram de
Recife , depondo o governador e nomeando para o cargo o bispo de Olinda. Depois
de várias lutas, os ânimos serão serenados, conservado Recife, sua autonomia.
Romances
regionalistas
O SERTANEJO
Um dos romances bastantes brasileiros em que
Alencar dá expansão ao seu gênero de pincelador retratando com belas e
radiantes cores a paisagem do sertão um destemido vaqueiro a serviço
capitão-mor Arnaldo Campelo que enfrenta os mais sérios riscos na esperança de
constar a simpatia da filha do fazendeiro. Arnaldo tem destaque nas cavalhadas
a maneira medieval de Ivone famosas liças. Marcos Fragoso se faz seu único
rival. Afinal Dona Flor é prometida a Leandro Barbilho. No instante casamento,
surge os inimigos de Campelo. Encerra o tiroteio, morre Leandro Barbalho, Dona
Flor lamente enquanto Arnaldo tenta consolá-la. O trecho selecionado permitirá
a análise do relacionamento exixtente entre Arnaldo e D. Flôr.
Possibilitando-nos a comparação com o trecho de Inocência. "Já tinham
soado no sino da capela as últimas badaladas do toque de recolher.
Por toda a fazenda da Oiticica , sujeita a
um certo regime militar, apagavam-se os fogos e cessava o burburinho da
labutação quotidiana. Só nas noites de festa dispensava o capitão-mor essa
rigorosa disciplina, e dava licença oara is sanbasm que então por desforra
atravessavam de sol a sol. Era uma noite de escuro; mas como o são as noites do
sertão, recamadas de estrelas rutilantes, cujas centelhas se cruzam e urdem
como a finíssima teia de uma lhama acetinada. A casa principal acabava de
fechar-se e das portas e janelas apenas escapavam-se pelos interstícios uma
réstias de luz, que iam a pouco extinguindo-se . Nesse momento um vulto oscilou
na sombra, e coseu-se à parece que olhava para o nascente. Era Arnaldo.
Resvalando ao longo do outão, chegara à janela do camarim de D. Flôr, e uma
força irresistível o deteve ali.
No gradil das rótulas recendia um breve
perfume, como se por ali tivesse coado a brisa carregada das exalações da
baunilha. Arnaldo adivinhou que a donzela antes de recolher-se, viera respirar
a frescura da noite e encostara a gentil cabeça na gelosia , onde ficara a
fraguância de seus cabelos e de sua cútis acetinada. Então o sertanejo, que não
se animaria nunca a tocar esses cabelos e essa cútis, beijou as grades para
colher aquela emanação de D. Flôr, e não trocaria decerto a delícia daquela
adoração pelas voluptuosas carícias da mulher mais formosa. Aplicando o ouvido
percebeu o sertanejo no interior do aposento um frolico de roupas, acompanhado
pelo rumor de um passo breve e sutil. D. Flôr volvia pelo aposento.
Naturalmente ocupada nos vários aprestos do repouso da noite. Um doce
sussuro,como da abelha ao seio do rosal, advertiu a Arnaldo que a donzela
rezava antes de deitar-se e involuntariamente também ajoelhou-se para rogar a
Deus por ela.
Mas acabou suplicando a flôr perdão para a
sua ternura. Terminada a prece a donzela aproximou-se do leito. O amarrotar das
cambraias a atulharem-se indicou ao sertanejo que Flor despia as suas vestes e
ia trocá-las pela roupa de dormir. Atraves das abas da janela, que lhe
escondiam o aposento, enxergou com os olhos d'álma a donzela, naquele instante
em que os castos véus a abandonavam; porém seu puro o céu azul ao deslize de
uma nuvem branca de jaspe surgisse uma estrela. A trepidação da luz cega; e
tece um véu cintilante, porém mais espesso do que a seda e o linho. Cessaram de
todo os rumores do aposento, sinal de que D.Flôr se havia deitado/ Ouvindo um
respiro brando e sutil como de um passarinho, conheceu Arnaldo que a donzela
dormia o sono plácido e feliz. Só então afastou-se para acudir ao emprazamento
que recebera".
Resumos e Obras de José de Alencar - Resumos de Livros www.resumosdelivros.com.br
TIL
Personagens
* Berta, Inhá ou
Til é a personagem central do livro, filha bastarda do
fazendeiro Luis Galvão com uma pobre moça da vila (Besita que foi
morta por vingança) foi criada por nhá Tudinha. Berta é uma
adolescente muito bonita, graciosa, com movimentos espontâneos e
encantadores, atrai para si o amor e carinho de todos, é caridosa
e não se afasta das criaturas mais repulsivas e desprezadas
da região (como Jão Fera, o louco Brás, e Zana). E’
chamada de Inhá por Miguel, e de Til por Brás durante uma
aula que dava a ele, já no fim do livro ela própria se
intitula TIL, mostrando uma escolha que fará no romance.
* Miguel é irmão de criação de
Berta, filho de nhá Tudinha, jovem que se mostra desde o principio
apaixonado por Inhá. Esta porém não percebe que o ama e faz de
tudo para aproxima-lo se dua amiga Linda, que gosta de Miguel. Sendo pobre,
Miguel nao poderia casar-se com Linda, mas por fim ele acaba estudando para
ascender socialmente e poder unir-se a Linda (o carinho que por ela “descobre”
sentir foi pintado por Berta que colocou seu encanto na faces serenas da
amiga).
* Luis Galvão é
o dono da Fazenda Palmas, muito jovial e alegre, que na juventude foi homem de
muitas aventuras amorosas e enrascadas – numa dessas desonrou Besita recém
casada com Barroso a qual ficou gravida de Berta – sempre protegido por seu
camarada (“especie de capanga”) Jão Fera.
* Linda é
filha de Luis Galvão e D. Ermelinda, menina educada aos moldes da
corte, mas que junto ao irmão Afonso faz amizade com os jovens
simples Berta e Miguel.
* Afonso, irmão de
Linda, possui o mesmo espirito alegre e conquistador do pai Luis, acaba
gostando de Berta (sem saber ser esta sua irmão de sangue).
* Jão Fera ou Bugre - terrível homem,
de feições assustadoras e fama de matador (que na verdade é), segundo
uma interpretação do livro podemos considerar que a vida o tornou
assim (foi cheio de desilusões e sofrimentos). Era apaixonado por
Besita, porém apesar de seu desejo a tinha como “santa” e queria apenas sua
felicidade pois sabia que ela não o amaria como ele. Assim quando
Luis Galvao se recusou a casar com ela, ele rompeu a “amizade” que os unia,
protegia Besita de tudo, porém ela foi assassinada e ele passou a cuidar de
Berta e prometeu vingança a sua amada.
* Brás - um
sobrinho de Luis Galvão, sofria de ataques epiléticos e era
retardado mental, na casa grande sua presença era desprezada. Ele
apaixonou-se por Berta que nunca o distratara e propôs-se a ensinar-lhe
o abecedário e rezas. Numa das lições ele se encantara pelo
acento til porque o compara à sobrancelha de Berta e conseguiu
memoriza-lo. Assim Berta teve uma resolução seu apelido para
Brás seria Til e a partir dai foi ensinando as letras com associações a
coisas ou pessoas que o idiota conhecia.
* Zana –
negra que trabalhava para Besita e presenciou toda a historia de Berta e do
assassinato de sua mãe, por isso enlouquecera e todos os dias repetia
suas ações no dia da morte de Besita (reproduzindo os fatos
daquele fatídico dia).
* Barroso ou Ribeiro –
casou-se com Besita, mas na noite de nupcias a abandonou para
resolver negócios relacionados a uma herança que recebera.
Partiu e ficou anos longe, quando voltou a sua casa viu sua esposa com um bebe,
planejou sua vingança (que incluía a morte de Luis, Berta e
sua filha), matou a esposa, mas foi impedido de matar o bebe
por Jão Fera.
* D. Ermelinda –
esposa de Luis Galvão, muito elegante e educada, mas não muito
bela. Ao descobrir sobre o passado de seu marido se entristece, mas quando ele
confessa (no final do romance) ela o apoia a reconhecer Berta como filha.
Características da Obra
* Trata-se de um romance Regionalista
da escola literária do Romantismo, seu autor, Jose de Alencar busca
mostrar a vida do Caipira do interior de São Paulo do seculo
XIX, vocabulário e costumes
da região, as diferenças sociais
da época (escravos, capangas, pobres e ricos donos de terras).
* O
Romance é ambientalizado em Campinas, interior de SP, onde ha’ o
contraste entre aspectos sociais, marginalização que sofrem
personagens pobres como Miguel (que para casar-se com Linda teve de ir estudar
na capital). Mostra-se também um pouco do namoro da época e
festas como a de São João.
* Mostra-se o ambiente dos escravos e
senzala e seus conflitos como a rivalidade entre duas
negras, além da marginalização consciente dos escravos como
Faustino e Monjolo, os quais conspiram para a morte de Galvão.
* O Romance, publicado em
1872, segue o clima do Folhetim em que
os capítulos são curtos e terminam num momento de climax. Além disso,
a temática do suspense e do soturno são marcas registrados
da obra, que é repleta de aventuras, momentos de tensão como
quando Berta corre perigo fugindo de Porcos selvagens furiosos.
* No Livro, Berta é sempre
comparada a Flor, no capitulo inicial surge uma imagem de flor bela, mas
imatura; já no fim do livro (no poente do sol) a imagem da flor se
repete mostrando a “Flor Interior” cheia de caridade e abnegação. O autor
cria assim uma ideia nítida de desabrochar, pelos trechos:
[ Manhã: "Eram dois, ele e ela,
ambos na flor da beleza e mocidade" e no Poente: "Era a flor da
caridade, alma soror" ]
* Berta sacrifica-se para que todos
vivem em paz e felizes, faz com que Miguel e Linda fiquem juntos, e se resigna
a cuidar dos que mais sofrem como Zana, Brás, Jão Fera (a quem
ela reconhece como o seu verdadeiro Pai), a galinha sem pernas, etc, e continua
morando com nhá Tudinha.
[“Como as flores que nascem
nos despenhadeiros e algares, onde não penetram os esplendores
da natureza, a alma de Berta fora criada para perfumar os abismos da miséria,
que se cavam nas almas, subvertidas pela desgraça.”]
Til de José de Alencar - Resumo, Características da Obra ... www.abcdamedicina.com.br
O GAÚCHO
O Gaúcho, de José de Alencar, é um romance narrado em terceira pessoa. Nesta
obra, José de Alencar retrata o Brasil, principalmente os Pampas, focaliza
ambientes brasileiros, afastados das riquezas. No capítulo II do livro I,
podemos contemplar a paisagem do sul do Brasil: o gaúcho a cavalo correndo
pelos pampas. Este romance, publicado em 1870, foi o primeiro da série com qual
Alencar tentou um "retrato do Brasil", focalizando ambientes brasileiros
afastados do bulício da corte.
Enredo
Conta a vida de um menino de 9 anos, Manuel Canho, que admirava muito seu pai, João Canho, grande conhecedor de cavalos. Presenciou o seu assassinato de forma covarde por Barreda. Manuel Canho jurou vingar-se e por muitos anos seguiu os passos do assassino. Seu pai morreu confundido por outra pessoa, que teria namorado a mulher de Barreda. Loureiro era o homem que deveria morrer.
Enredo
Conta a vida de um menino de 9 anos, Manuel Canho, que admirava muito seu pai, João Canho, grande conhecedor de cavalos. Presenciou o seu assassinato de forma covarde por Barreda. Manuel Canho jurou vingar-se e por muitos anos seguiu os passos do assassino. Seu pai morreu confundido por outra pessoa, que teria namorado a mulher de Barreda. Loureiro era o homem que deveria morrer.
Loureiro, por sua vez, quando soube do ocorrido veio visitar a viúva de
Jaoão Canho e apaixonou-se por ela e com ela se casou. O filho de João Canho,
Manuel, nunca aceitou o Loureiro, que tentando montar no cavalo do defunto,
este o matou, como se quisesse vingar seu dono.
Após a morte do padrasto Manuel juntou dinheiro para não deixar sua mãe
desamparada e à sua irmã, filha de Loureiro, a qual o menino nunca aceitou. Foi
falar com o padrinho coronel Bento Gonçalves sobre a sua vingança e neste
trajeto viveu peripécias ligadas à guerra dos farrapos, mas particularmente a
seu padrinho.
Quando chegou à cidade de Entre-Rios, onde morava o assassino, é
desafiado a domar uma égua, aceita o desafio e fica com ela. Como achassem
impossível montá-la, começaram a dizer que ela tinha parte com o diabo. Para
ele o cavalo era muito importante, aprendeu com seu pai, seu ídolo a gostar e
respeitar os animais. Pensava se o homem é o rei da criação o cavalo serve de
trono, como o peixe precisa da água, o gaúcho precisa do cavalo para existir.
Percebeu que a égua havia parido a pouco tempo e tinha sido afastada de seu
filho, resolveu encontrá-lo. Achou-o em uma caverna e a mãe começou a acariciar
e alimentar seu filho, o animal sobreviveu.
Provando que não é só amor, paixão e culto à maternidade, é principalmente uma reprodução da existência. À noite depois de quatro dias chegou à pousada com os dois. No dia seguinte foi a casa onde o assassino estava e o encontrou moribundo e abandonado, porque estava com uma doença chamada “bexiga” que era contagiosa. Quando este lhe pediu água, ele deu e cuidou dele até melhorar. Por ironia do destino salvou seu inimigo. Ainda poderia ver a mulher que foi a culpada da morte de seu pai.
Provando que não é só amor, paixão e culto à maternidade, é principalmente uma reprodução da existência. À noite depois de quatro dias chegou à pousada com os dois. No dia seguinte foi a casa onde o assassino estava e o encontrou moribundo e abandonado, porque estava com uma doença chamada “bexiga” que era contagiosa. Quando este lhe pediu água, ele deu e cuidou dele até melhorar. Por ironia do destino salvou seu inimigo. Ainda poderia ver a mulher que foi a culpada da morte de seu pai.
Voltou para sua casa sem ter cumprido a promessa de vingar seu pai. Lá
encontrou sua mãe e a sua irmã, que lembrava o homem que tinha causado a morte
de seu pai. Por mais que ela gostasse dele, ele não se aproximava. Um dia esta
aproximação aconteceu por causa de um potrinho, de nome Juca, como seu irmão
que havia falecido. Um dia ela brincava com o potrinho e Manuel a viu e a abraçou,
e uma nova família surgiu. Mas a vingança não o abandonava e um mês depois
voltou à cidade e três meses depois encontrou com o assassino, falou quem ele
era e porque estava ali. Travaram uma luta, foi uma batalha honrada e no final
ele fincou a lança no peito do desgraçado, mesmo com a mulher implorando que
não fizesse. Só ficou com pena do cavalo, pois para este Barreta seria sempre o
dono.
Depois de ter se vingado, se aproximou de Catita, uma moça que na
primeira viagem tinha conhecido. Durante a outra viagem ela tinha se envolvido
com outro homem, mas quando ele regressou ela pediu perdão, jurando amor e
fidelidade. Manuel afastou-se no seu cavalo, mas ela lançou-se a garupa. A
história termina com os dois cavalgando numa louca carreira em meio a uma
tempestade e ventos zunindo.
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